A notícia corre por aí - nasceu em Espanha, em Maiorca, um bebé com duas mães. Olhamos para ela, para a notícia, e não ficamos surpreendidos. O que não deve faltar nos tempos que correm é crianças com duas mães. Ou dois pais.
Depois, olhamos melhor, e damos conta que refere tratar-se do primeiro caso na Europa. E aí ... alto lá. Deixa ver melhor.
Vamos ver melhor e, afinal, a notícia é que é o primeiro a ser concebido por duas mulheres. Isso mesmo: um óvulo fertilizado foi implantado no útero de uma mulher e, depois de desenvolvido o embrião, transferido para o útero de outra, que completou a gestação e e se fez parturiente.
O que à primeira vista parecia uma coisa é afinal outra, completamente diferente. E o que é mesmo notícia é que esta é uma técnica nova que permite substituir a fertilização in vitro. O que não é notícia é que novos problemas se levantam. E não devem ser poucos. Nem pequenos.
O pai também não é notícia. O bebé chama-se Derek. E também não é notícia que tantas notícias sejam mal lidas...
A detenção, em Lisboa, de dois iraquianos que viviam em Portugal como refugiados desde 2017, suspeitos de terrorismo, é a notícia do dia, não podendo ser mais (in)oportuna, quando na ordem do dia está o acolhimento a afegãos que procuram fugir do inferno que é hoje o Afeganistão. A primeira página do Correio da Manhã, bem na linha do que é a imagem de marca do tabloide, é disso elucidativa.
A possibilidade de serem recebidos terroristas islâmicos disfarçados de refugiados é, evidentemente, muito grande. Até porque infiltrar membros nas colunas de refugiados é uma solução Win-Win para o Daesh, ou ISIS, ou lá o que em cada momento se chame: ganham porque aproveitam uma espécie de boleia com escolta para os transportar; e ganham porque minar a disponibilidade dos países em receber aqueles que deles fogem funciona como factor de dissuasão dos que lá ficam.
Por isso, cabendo aos países do Ocidente assumir as suas responsabilidades - civilizacionais, mas também históricas - e, nesse sentido, tudo dever fazer para receber e integrar refugiados cabe-lhes, especialmente através da articulação do seus serviços de inteligência, criar os filtros que permitam identificar a maior parte das infiltrações. A nós, cidadãos desses países, cabe-nos compreender que, por mais apurados que sejam esses filtros, nunca todos lá ficarão retidos. Que haverá sempre, é inevitável, terroristas a passar por refugiados, e que esse é um preço que temos que aceitar pagar.
E cabe-nos denunciar títulos como o do Correio da Manhã. A notícia terá que ser que a polícia portuguesa identificou dois dos que passaram no filtro. Antes de por cá nos terem causado problemas, e de cá conseguirem sair para os causar a outros. E essa é uma boa notícia!
A França foi de novo vítima de mais um ataque do terrorismo islâmico, agora numa nova onda de ataques solitários a alvos indiscriminados, mas simbólicos.
Este de ontem, na Basílica de Notre-Dame, em Nice - e entre mais duas tentativas, uma em Avignon e outra na própria embaixada francesa na Arábia Saudita -, matando três pessoas, entre as quais uma mulher degolada, é carregado de simbologia. E não é por, numa casa de um Deus, se matar em nome de outro. É pela própria notícia do acto terrorista praticado por um jovem tunisino de 21 anos. Nuns jornais, chegado a França no início do mês. Sem mais. Noutros, aportado em Lampedusa, em mais uma onda de refugiados, antes de entrar em França.
Não faz diferença nenhuma, mas é flagrantemente simbólico.
A notícia da suspensão dos testes na vacina contra a covid-19, de que a Europa tinha já encomendado 400 milhões de unidades, ontem tornada pública pela farmacêutica AstraZeneca, que a desenvolve em parceria com a Universidade de Oxford, desencadeou duas reacções absolutamente opostas que nos devem merecer alguma reflexão.
Enquanto o primeiro-ministro, António Costa, a classificava de péssima notícia, os especialistas davam a suspensão como normal e até desejável. É um passo normal no processo científico, garantem!
Isto quer dizer que uma péssima notícia para a política é uma notícia desejável para a ciência, o que é preocupante. Que a política tem um tempo e a ciência outro. Por isso temos visto políticos a anunciar vacinas como banha da cobra, para já. Putin, já anunciou a sua. Trump quer anunciá-la em Outubro, antes das eleições, pois claro. E mesmo sem recorrer a estes dois exemplos extremos, vimos por todo o lado a política a garantir que a vacina estaria disponível já no final do ano, ou o mais tardar no primeiro semestre do próximo. No entanto, da ciência sempre ouvimos falar em dois a três anos como a melhor das hipóteses para o desenvolvimento da vacina.
Os cientistas não dizem que esta suspensão é uma boa notícia por atrasar a vacina. É uma boa notícia porque significa que o processo científico não se deixou contaminar pelo político. Aconteceu um problema, como tantos acontecem nestes processos, e a decisão científica não pode ser outra: pára tudo até que tudo se esclareça. Mau, era mesmo se a pressão política se sobrepusesse, e tudo seguisse em frente como se nada se tivesse passado.
Neste caso foi assim. Em Inglaterra, com a Universidade de Oxford, e com a AstraZeneca, o tempo da ciência prevalece sobre o da política. Nada nos garante, antes pelo contrário, tudo nos leva a desconfiar, que assim seja na Rússia de Putin. Ou na América de Trump. Ainda mais de Trump a precisar de tudo para ser reeleito.
Talvez a esta hora António Costa já tenha percebido que a notícia não era assim tão má...
Ora aqui está um dia cheio de notícias. São notícias do país a arder às mãos de criminosos incendiários. É a do início do julgamento de oito portugueses acusados de terrorismo ao serviço do Daesh - mesmo que apenas se saiba do paradeiro de dois, e que apenas um compareça em tribunal -, no primeiro caso de terrorismo islâmico julgado em Portugal. É a da retoma das chamadas "reuniões do Infarmed", para avaliação do estado da pandemia que não abranda, relegando expressões como primeira e segunda vaga para meras questões de semântica, agora que o regresso às aulas agita ainda mais as consciências de cientistas, políticos e autoridades sanitárias. É a notícia da confirmação da candidatura de Ana Gomes ás presidenciais de Janeiro...
Seria esta certamente a notícia do dia, não fosse a notícia de Marcelo Rebelo de Sousa não ser notícia. Pode ser sintomático, ou até premonitório (não sei de quê), que Marcelo, que está sempre à frente de microfones e de câmaras de filmar, não seja notícia no dia em que Ana Gomes diz que vai a jogo.
Marcelo, como se sabe, é o candidato que ainda não é candidato. E por isso não podia reagir. Já Ventura, o candidato que já é candidato, reagiu de imediato e bem à sua maneira: se tiver menos votos que a depravada Ana Gomes, o símbolo (do mal) das minorias, corta os... Nada, demite-se do partido. Outra vez.
A candidatura de Ana Gomes vai mexer com muita coisa, não fosse ela um elefante numa loja de cristais... Atravessa todo o cenário eleitoral das presidenciais. Atinge e divide universo eleitoral do PS, e com isso o de Marcelo. Mas também o de Marisa Matias, já confirmada, de novo como candidata do BE, e o do ainda desconhecido, mas garantido, candidato do PCP. E o do próprio Ventura, na medida em que também representa uma alternativa ao voto de protesto.
Não admira que tenha saltado logo. O que pode surpreender é que a fanfarronice com que antes falava em ser o próximo Presidente da República, se tenha transformado na modéstia de ganhar à Ana Gomes.
Na sequência deste meu texto recebi da British American Tabacco (BAT) uma nota informativa em que confirma que "no passado mês de abril ... anunciou que a sua filial de biotecnologia Kentucky BioProcessing (KBP) estava a desenvolver uma possível vacina para a COVID-19". Que "após a conclusão dos testes pré-clínicos, a potencial vacina demonstrou produzir uma resposta imunológica positiva". Que "já disponibilizou a documentação preliminar sobre o novo medicamento à Food and Drug Administration (FDA)", e que "está pronta para testes clínicos em humanos", já a partir de Junho, se para tal obtiver autorização das entidades supervisoras.
Informou ainda que está disponível "para investir em equipamentos adicionais para aumentar a capacidade de produção da vacina".
Há boas notícias. Más notícias. E notícias assim-assim…
E há notícias inacreditáveis, daquelas de primeiro de Abril, mesmo que dadas noutro dia qualquer. Hoje mesmo. Fresquinha, nada requentada.
Apenas requintada. Com muito requinte … nem que seja de malvadez…
Vamos a ela, à notícia inacreditável que diz que uma tabaqueira americana, proprietária de duas das principais marcas de cigarros do planeta, tem a cura que falta e que cientistas de todo o mundo procuram desenfreadamente noite e dia. Isso: tem nas mãos a vacina para a Covid 19.
E diz que está já na fase de "testes pré-clínicos", e que estará em condições de produzir até 3 milhões de vacinas por semana já no próximo mês de Junho, e que não tem quaisquer objectivos de lucro.
A notícia diz ainda que a tabaqueira usa as folhas de tabaco e a tecnologia utilizada para o seu crescimento rápido, e dá conta de uma série de vantagens associadas. À tecnologia e às plantas do tabaco. Muitas. Tantas que nem dá para enumerar…
Parecia uma notícia vinda directamente do twitter de Trump.
Fui investigar e lá encontrei o COMUNICADO da British American Tobacco, proprietária das marcas Camel e Lucky Strike, a confirmar tudo o que a notícia que corre em alguns meios de comunicação adiantava.
Pronto. Não vinha de facto do twitter de Trump. Se calhar porque ainda não teve tempo de chegar à Casa Branca. É tudo muito recente. Afinal o COMUNICADO, tem a data de 1 de Abril...
Se passam hoje 75 anos sobre a libertação de Auschwitz, a maior vergonha e o maior pesadelo da humanidade, de ontem saltaram duas notícias para o topo da actualidade: a trágica morte de Kobe Bryant e o congresso do CDS, com outra morte, mesmo que menos dramática - a do portismo.
A morte em todas elas, o que faz delas notícias de morte.
O maior campo de concentração e de extermínio do regime nazi de Hitler foi libertado há precisamente 75 anos, e a data é hoje assinalada com uma cerimónia no local a que, para além de chefes de Estado e embaixadores de todo o mundo, conta ainda com a presença de 200 sobreviventes daquele terrível espaço de morte.
Tivemos conhecimento da morte de Kobe Bryant ontem à noite, e surgiu-nos como aquelas notícias em que não queremos acreditar. É assim que sempre reagimos às notícias da morte de uma lenda, daqueles que temos por imortais, como era o caso desta estrela maior da NBA.
Do congresso do CDS saiu o anúncio do nascimento um novo partido por morte de outro, do velho CDS. Dizem que é um novo CDS a renascer das cinzas do velho CDS. Pode ser, mas a mim parece-me que o novo é mais velho que o velho!
Poderão ter morrido alguns "ismos", já a cair de maduros. Mas morreu também o CDS que desempenhou um papel histórico na democracia portuguesa enquanto tampão da extrema-direita anti-democrática. O que aí vem agora é um partido com ar de muito à frente virado muito para trás. Um partido com um presente acantonado no passado, articulando pensamento retrógrado com linguagem actual, e altamente centrado no culto ao líder.
No final do ano, no preciso espaço de uma semana, dois jovens, um cabo-verdeano e outro português, foram assassinados na rua.
O português, de 24 anos, a 28 de Dezembro, no Campo Grande, em Lisboa, por um grupo de três jovens guineenses, com idades entre os 16 e os 20 anos, apunhalado nas costas depois de ter reagido ao assalto que esteve na origem do crime. Perdeu a vida no local e foi logo notícia nos jornais e televisões.
O cabo-verdeano, de 21 anos, a 21 de Dezembro, em Bragança, brutalmente agredido na cabeça à saída de um local de diversão nocturna, numa rixa em que, com mais dois amigos e compatriotas, se viu envolvido com um grupo de portugueses. No alarme dado aos bombeiros o jovem caído inanimado no chão foi referenciado como profundamente embriagado. Estava sim às portas da morte, já tapadas para a saída. Morreu a 31 de Dezembro, e foi então notícia nos jornais e nas televisões.
As duas lamentáveis ocorrências, bem como os crimes praticados, não têm qualquer relação entre si. As circunstâncias em que ocorreram são tão distintas como a geografia em que aconteceram. Em Lisboa, aconteceu um assalto numa zona em que acontecem todas as noites. Ao que se sabe, o jovem assaltado era praticante de karaté, e isso não deve ter ajudado nada... Em Bragança, os contornos do crime não estão ainda bem definidos, mas o que se conhece aponta para a futilidade de um simples encosto numa rapariga provocado por uma escorregadela na fila para a caixa, com uma "espera" na saída.
O que não impediu que rapidamente os activistas do costume corressem a rotular o crime de Bragança de racismo, em mais um "tiro no pé", ajudado também pelas autoridades de Cabo Verde que, esquecendo-se que o crime de Bragança só se tornou crime, e depois notícia, com a morte do jovem, a 31 de Dezembro, vieram apresentar críticas ao tratamento mediático do tema, em evidente contraponto com a relevância informativa dada ao crime do Campo Grande.
A luta contra o racismo não é isto. Este tipo de reacções apenas contribuem para extremar posições, tornar mais difícil o combate ao preconceito, e engrossar as correntes xenófobas e racistas. Que - já se está a ver - ficam com mais uma "pérola" para usar: "há racismo quando brancos matam um preto, mas já não há quando são pretos a matar um branco".
De repente, e sem nada que o fizesse esperar, o futebol cá do concelho saltou esta semana para as primeiras páginas dos jornais. Perdoem-me se exagero um bocadinho, se não foi exactamente para as primeiras páginas… Mas que saltou para as páginas dos jornais, saltou. Se não foi nas primeiras também não andou lá muito longe.
Não que algum dos nossos principais emblemas tenha cometido qualquer façanha, nem nada que tenha a ver com o seu desempenho desportivo, bem modesto por sinal. Ambos no primeiro escalão do futebol distrital, onde as coisas não ocorrem nada de feição.
Correm mesmo mal ao nosso Beneditense, que atravessa o pior registo da História, já não ganha há nove jogos – o nosso Ginásio também não se pode rir, não vai muito melhor – e, a cinco jornadas do fim, tem praticamente o destino da despromoção traçado. Quando assim é, sabe-se o que acontece no futebol, seja lá onde for: vai o treinador embora e vem outro!
A notícia é que não veio outro. Veio outra. Exactamente, o comando técnico da equipa foi entregue a Catarina Lopes, uma mocinha de 24 anos que, liderando uma equipa com mais três mocinhas, se propõe pôr aqueles matulões a jogar à bola e ao milagre de salvar o Beneditense da descida de divisão.
Não sei se é a primeira mulher com a responsabilidade máxima no comando técnico de uma equipa de futebol, como o estamos habituados a ver. Poderá nem ser, mas que é notícia para pôr o futebol do concelho nos jornais do país, é!
Já agora convém dizer que a Catarina Lopes, do alto dos seus 24 anos, tem uma vida dedicada ao futebol. Começou a jogar aos seis anos, e chegou internacional nas selecções jovens. Foi campeã nacional e venceu uma Taça de Portugal. E é licenciada em Treino Desportivo, com o mestrado em Educação Física, atributos que certamente justificam a oportunidade que lhe foi dada.
Que o presidente do clube seja o pai, não tem importância nenhuma. Deixemos essas coisas familiares lá para o governo…
Por mim, fico a torcer pela Catarina. E hei-de ver se num destes domingos à tarde consigo passar lá pelo campo de jogos da Benedita …
* A minha crónica de hoje na Cister FM
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