Afinal o francês L´Equipe segue as ordens do francês Platini. Desde que a FIFA passou também a a atrbuir o prémio, e a designá-lo para o melhor do mundo, a escolha tem praticamente sido a mesma.
Não tem grande jeito, dois melhores do mundo... Mas quando se deixa um francês daqueles de mão estendida, com todo o mundo a ver... o melhor que pode acontecer é isso!
Não têm faltado reacções à coroação – sim, perdemos um rei precisamos de outro – de Cristiano Ronaldo, ontem em Zurique, como melhor do mundo. Reacções para todos os gostos.
Que puxa pela auto-estima do país, pelo exemplo que deve constituir para os portugueses, pelo exemplo de perseverança, de vontade, de capacidade de trabalho e de profissionalismo. Ou pelo que representa para a imagem do país, contrariando justamente tudo o que de pior, mais nós próprios que mesmo os outros, achamos que o país tem.
Para exemplo disso, do pior que temos, lá esteve Carlos Queirós na berlinda. Rapidamente se soube que no resultado da votação do seleccionador do Irão, Messi figurava em primeiro lugar, à frente de Ronaldo. E logo toda a gente se atirou a ele, sem dó nem piedade. O país do futebol, que não morre de amores por Queirós, longe disso, não lhe perdoou a traição à pátria. Nas televisões, nas redes sociais, em tudo o que viesse à mão, impiedosamente... Mesmo que se viesse a saber – o que parece que ele teria já explicado – que a votação do seleccionador do Irão não é o voto do seleccionador himself, mas do colectivo da equipa técnica da selecção. E que votara vencido em Cristiano!
Mas também houve quem desvalorizasse o feito de Cristiano Ronaldo, a começar pelos que desvalorizam o próprio futebol, recusando ver nesta actividade, nesta indústria, a excelência que no país não tem paralelo. Ou como Platini que, pelo chauvinismo que toda a gente pode condenar menos a maioria de nós, que lhe não fica atrás, preferia que tivesse sido Ribery a ganhar!
No entanto, se teremos que achar natural que quem não vai à bola com a bola desvalorize a proeza do melhor do mundo; se, porque também nesta matéria somos chauvinistas – não somos é presidentes da UEFA -, ainda teremos que engolir o mau perder de Platini; já teremos muita dificuldade em perceber a capa do Record de hoje, onde a única referência ao melhor do mundo aparece no rodapé. Mas num anúncio da Sport TV!
Nunca numa gala da FIFA tanto se falou português. Se calhar nunca se falou tanto em português numa gala internacional de dimensão planetária…
Cristiano Ronaldo conquistou a bola de ouro, foi declarado o melhor do mundo, como todos desejávamos. Mas não foi por isso que tanto se falou em português. Nem por isso nem por ele, até porque falou pouco: chorou mais do que falou. Nem por Eusébio, que a FIFA num acto falhado pretensamente homenageou: uma vergonha! Nem por Matic, que ainda joga no Benfica, ao serviço de quem marcou - ao Porto, pois claro – um dos três melhores golos do ano, ao lado dos golos de Neymar e Ibrahimovic (que, com o seu fabuloso pontapé de bicicleta, ganhou) pelas respectivas selecções. Nem pela bola de ouro de prestígio de Pelé, tipo prémio de carreira ou honoris causa, que falou em inglês.
Foi apenas pela mega promoção do mundial do Brasil em que a FIFA transformou aquela gala. Por isso por lá desfilaram muitos brasileiros e brasileiras que, ao contrário de Pelé, falaram em português!
Mas esta gala da FIFA não fica na minha memória apenas por se ter falado muito em português. Nem pela lástima que constituiu a suposta homenagem a Eusébio. Nem pela segunda bola de ouro do fenómeno português. Nem pela cara bonita da Irina, a contrastar com a do Cristiano lavada em lágrimas. Fica na minha memória porque disse que o melhor treinador do mundo é um tipo que, há pouco mais de uma dúzia de anos, achava que o João Pinto não era jogador da bola, que já não prestava para o Benfica…
O treinador que foi cúmplice de Vale e Azevedo é o melhor do mundo. Não me conformo com isso!
Somos os primeiros. Os primeiros a entrar às portas das meias-finais!
A selecção nacional até voltou a entrar mal. Entrar mal é um eufemismo, porque esteve mal durante toda a primeira parte, apenas disfarçando nos últimos minutos da primeira parte, quando podia até ter marcado naquele remate ao poste de Cristiano Ronaldo. Que, com mais um na segunda parte, à sua conta, já leva quatro. Esse título já ninguém certamente lhe tira!
A equipa não esteve bem, nem perto disso. Quer colectiva quer individualmente, onde apenas Coentrão e Pepe – sempre ele – estiveram em bom nível, apesar de os minutos finais terem dito que Cristiano Ronaldo não estava ali para passar ao lado do jogo. Mal Raul Meireles e, muito mal, João Pereira. E não foi apenas durante os primeiros vinte minutos, como diria Paulo Bento. É certo que é aos 25 minutos que a equipa nacional constrói a sua primeira jogada de ataque, mas logo a seguir surgem os amarelos a Nani e a Veloso. E a única jogada de perigo da equipa checa, através da também única corrida dos 100 metros de Selassie, o tal lateral direito de que aqui falara.
A equipa não conseguia ter bola – apesar de, mesmo assim a equipa ter, pela primeira vez, mais posse de bola (53%) que o adversário – nem criar espaços. A selecção checa tapava todos os caminhos, fechava o jogo e, em pressão alta, tornava o campo bem mais curto. Sem espaço, e falhando mesmo os passes curtos, a equipa portuguesa optava pelo passe longo, mais difícil e invariavelmente condenado ao insucesso.
Na segunda parte tudo foi diferente: como da noite para o dia!
A selecção nacional produziu uma das melhores – se não a melhor – das exibições que alguma equipa realizou neste europeu. Logo no primeiro minuto, Hugo Almeida – que entrara aos 39 minutos da primeira parte para o lugar do lesionado Postiga (talvez a lesão mais oportuna, para não dizer mais desejada – porque isso não faria sentido – pelos adeptos) – teve tudo para fazer golo. E pouco depois era Cristiano Ronaldo a acertar - pela segunda vez no jogo e pela quarta em dois jogos – no poste.
As ocasiões de golo sucediam-se a um ritmo inusitado. Anotei-as, mas seria fastidioso enumerá-las, tantas foram! O golo, esse e como sempre, é que tardava. Aos 58 minutos Hugo Almeida introduziu a bola na baliza de Petr Cech – que, não tendo feito uma exibição do outro mundo, à sua conta negou dois ou três golos – mas em fora de jogo. Ficou a ideia que poderia ter tido essa noção e ter deixado a bola para Ronaldo, em boa posição – e legal – para fazer golo. Surgiria finalmente aos 79 minutos, numa cabeça espectacular do melhor do mundo, antecipando-se ao etíope - que de corredor de fundo passou a polícia – para dar a melhor sequência à excelente jogada de João Moutinho.
A selecção checa, completamente dominada nesta segunda parte – apenas fez uma jogada de contra ataque (59 minutos), por Pilar, em bom estilo, batendo João Pereira e Pepe, que morreria nos pés de Veloso, e fez apenas dois remates em todo o jogo, nenhum deles à baliza – não tinha qualquer capacidade de reacção, e foi Portugal que teve ainda mais três oportunidades para colocar o marcador em números mais próximos daquilo que a exibição justificava, para além de um penalti que, aos 87 minutos, o senhor Webb deveria ter assinalado quando o pobre polícia Selassie, depois de mais um nó do seu fugitivo, o empurrou pelas costas dentro da área.
A qualidade da exibição de Portugal mudou, como disse, do dia para a noite. Como mudaram as de todos os jogadores, mas, especialmente, as de Raul Meireles e João Pereira que, mesmo no fim, não se lembrou que Cech estava na área portuguesa, e não foi expedito a colocar a bola á frente de Ronaldo, na linha de meio campo. Mas também a de João Moutinho, que fez uma segunda parte memorável, ao nível do que de melhor se pode ver. Para a UEFA o homem do jogo voltou a ser Cristiano Ronaldo mas, para mim, foi João Moutinho!
Claro que, quando a equipa joga como o fez na segunda metade deste jogo, Ronaldo brilha ainda mais. E, com a equipa a jogar assim e o melhor do mundo a brilhar desta maneira, não sei se, agora, será mais difícil vencer os espanhóis – se lá chegarem – se os desejos do Sr Platini!
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