Pedro Nuno Santos anunciou a viabilização do Orçamento para o próximo ano. Dissertou sobre tudo o que justificava que não o fizesse, com clarividência. Mas acabou por justificar a decisão inversa da que justificara com as condições objectivas do momento político.
Só que as que apresentou não são conhecidas de agora. São conhecidas há seis meses. As que foram agora conhecidas, e que Pedro Nuno Santos não apresentou, foi a catrefada de gente grande do seu partido que, mesmo depois de os ter mandado calar, continuou a dizer publicamente que ele não podia fazer outra coisa.
Pedro Nuno Santos foi calado pelos que tinha mandado calar. E eram muitos. De mais. Tantos que fica em muito maus lençóis!
Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos têm andado entretidos a "encanar a perna à rã" do Orçamento. Nos intervalos dessa "nobre" tarefa tratam-se mal. Achincalham-se e andam à pedrada. E nem sequer escondem a mão.
Enquanto, depois de bombardear Beirute, Netanyahu manda invadir o Líbano, e chama o Irão para a guerra; e Putin reforça o orçamento e o recrutamento para a guerra para fazer capitular a Ucrânica, por cá brinca-se ao braço de ferro num jogo de palavras à volta do orçamento.
Evidentemente que o Orçamento reflecte opções políticas, e que essas variam em função de muita coisa. Às vezes - e nem tem sido raro - até só de estar no governo ou na oposição. E que serve para muita coisa, até para forçar eleições.
Foi assim há três anos, em Outubro de 2021, quando António Costa forçou o chumbo do Orçamento para 2022, para ir procurar a maioria absoluta - que lhe fugira em dois anos antes - que lhe permitisse descartar-se da antes utilitária geringonça. E volta a ser assim agora, para o dois em um de Montenegro.
De uma só assentada Montenegro - em campanha eleitoral desde que empossado primeiro-ministro - empurra o PS para mais longe e o Chega mais para baixo. Os dois movimentos bem podem até abrir espaço para a maioria absoluta. Se não der, mas ficar lá perto é, ainda assim, muito melhor do que o que há.
Tal como há três anos ninguém se importou muito com a falácia justificativa de Costa para rejeitar qualquer negociação, também desta vez ninguém se importará nada com a de Montenegro. Que também não é melhor engendrada: as virtudes da "sua" redução de IRC ainda estão por provar; e "o IRS Jovem" tem tudo para ser inconstitucional e, portanto, impossível de levar à prática.
Fica-se a saber que Montenegro vai forçar o chumbo do Orçamento por duas medidas inócuas: uma que ainda em lado nenhum provou funcionar; e outra que nunca poderá entrar em funcionamento. Mas isso pouco conta. O que vai contar é que Montenegro virá dizer que quem lhe chumbou o orçamento é que atirou o país outra vez para eleições. E o eleitorado, tal como em Janeiro de 2022, nem vai pestanejar para punir os "culpados".