Rituais
Ontem lá se cumpriu mais um ritual do Orçamento. A meia hora de acabar o último dia para a sua apresentação ao Parlamento, meia dúzia de carros sairam do Terreiro do Paço para S.Bento, para entregarem qualquer coisa ao Presidente da Assembleia da República, na presença de dezenas de jornalistas, fotógrafos e operadores de câmara.
Captadas as imagens, sempre centradas naquela qualquer coisa, o ministro das finanças falou qualquer coisa, e respondeu qualquer coisa ao que os jornalistas lhe perguntaram. Para hoje de manhã ficava o resto.
Se se percebe por que a entrega do orçamento tenha sempre de ficar, não para a última da hora, mas para o último minuto - é essa a nossa maneira de funcionar, não há volta a dar-lhe - já não se percebe por que, podendo seguir por via electrónica, num simples e-mail, qualquer coisa tem de ser entregue em mão, à meia-noite, numa caravana de 5 ou 6 carros e numa festa com largas dezenas de pessoas. Até porque, certamente, o orçamento seguiu por mesmo por e-mail, e que naquela festa está apenas aquela qualquer coisa em figura de envelope.
É na realidade apenas mais um ritual num orçamento cheio de ritualidade. Começa com um autêntico ritual de acasalamento, com o macho a procurar seduzir fêmeas insinuantes a fazerem-se de difíceis, passa por este ritual de pompa e acaba num outro de suspense que se prolonga até ao Natal. Ou acabava, dantes. Porque agora só acaba no ano seguinte, no ritual da cativação introduzido por Mário Centeno, de que João Leão não abre mão, para enterrar juras, promessas e deslumbramentos da quente e excitante época de acasalamento.