Começa a ser demasiado frequente e comum que, mais cedo ou mais tarde no ciclo da legislatura, os governos comecem a embrulhar-se em trapalhadas.
Nunca ninguém está livre de cair em trapalhadas, e por isso a trapalhada não está em cair numa trapalhada. Está em não sair dela depressa. Está em criar uma nova para esconder a anterior, criando um ciclo de trapalhadas.
O actual governo, que parecia capaz de romper com tanta coisa que atrapalhava, não está a conseguir fugir a este fatalismo da trapalhada, com dois pontos altos nestes dias: o primeiro, ainda no já longo ciclo de trapalhadas à volta da nova administração da CGD é, depois do salário milionário e da legislação especial à revelia do estatuto de gestor público, a dispensa de apresentação da declaração de rendimentos e interesses às entidades competentes; o segundo é a inexplicável falta de dados que fazem normalmente parte do relatório de um Orçamento.
Com tanta e tão grossa trapalhada na nomeação da equipa de António Domingues, o mais elementar bom senso aconselharia a evitar mais esta. Ninguém consegue apresentar uma boa razão para esta isenção declarativa, e teria sido muito fácil emendar a mão. Mas o governo preferiu, como de costume, insistir na trapalhada.
No meio desta trapalhada, bem que o governo devia fugir como o diabo da cruz de tudo o que lhe pudesse cheirar a mais trapalhada. Tinha de preocupar-se em canalizar as energias para defender o seu orçamento e, se faltavam dados, reconhecê-lo e entregá-los. De preferência com um pedido de desculpas. Mas não. Começou por negar ("o que faltam é os números que a oposição quer" - chegou a dizer o ministro das finanças) e, depois de instalada a confusão, acabou ainda ontem por entregar novos dados e prometer os restantes para a próxima sexta-feira.
É uma espécie da atracção fatal. Com Mário Centeno sempre bem no centro da fotografia ...
Seria provavelmente muito difícil encontrar duas pessoas que casassem tão bem incompetência e charlatanismo como Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque. As suas reacções ao Orçamento constituem as mais evidentes provas de incompetência técnica e política. Mas também põem exuberantemente a nu o charlatão que há em cada um deles.
A "tentativa de ilusão" de Maria Luís Albuquerque com as "pensões mínimas" casa perfeitamente com os "truqes" de Passos Coelho! Um embuste, é o que é!
Hoje é dia de conhecermos o Nobel da Literatura. Mas também de aprovação em Conselho de Ministros da proposta de Orçamento de Estado para 2017.
Certamente já um dos mais discutidos de sempre. Mas também o de maiores expectativas de sempre: todos nos lembramos de, ainda há bem pouco tempo, a propósito de tudo e de nada se dizer que "com o Orçamento de 2017 é que vai ser ". É que seria o golpe final de Bruxelas... É que seria o inevitável rompimento do precário acordo que segura o governo... É que seria a revolta dos números, com as contas a deixarem definitivamente de bater certas... É que se seria enfim o colapso decisivo da geringonça...
Afinal, aqui chegados, são muitas as dúvidas sobre o que aí vem do Orçamento. Mas há duas certezas: nem a geringonça engasga, nem há razões para golpes de Bruxelas. Ou três, porque falta talvez a mais decisiva de todas: pode vir aí muita coisa, mas não vem aí o diabo. O tal!
Em entrevista ao Jornal de Negócios, Maria Luís Albuquerque, induzida a responder que as actuais circunstâncias da situação económica e financeira do país estariam a abrir as portas a um novo resgate, foi peremptória a demarcar-se da resposta armadilhada: "não colocaria a questão nesses termos".
Mais que a ingenuidade política de Mário Centeno, que explica por que é que Costa lhe dá tão pouca importãncia e não raras vezes o deixa mesmo em situações embaraçosas, o que salta à vista é a pressão á volta do Orçamento de Estado para opróximo ano.
Sabe-se que era aí, no Orçamento, que todos apostavam. Passados que foram os primeiros meses do governo, ultrapassado o fogo do Orçamento (tardio, como sabemos) para este ano, logos as baterias apontaram para o do próximo ano. No próximo é que seria. A geringonça não resistiria aos contornos incontornáveis do próximo orçamento. Em Setembro ou Outubro a coisa sucumbiria de morte natural. E se não fosse assim lá estaria a Europa pronta a deitar tudo a baixo, o que iria dar no mesmo.
Setembro ainda nem a meio vai, mas as indicações que vai dando não apontam para nada disso. A geringonça, mesmo revelando aqui e ali a eventual falta de uma pontinha de óleo, vai-se aguentando bem. Da Europa já se dá conta até de convergência, e aquela reunião dos países do Sul, no final da passada semana, altera por completo o cenário da ameaça europeia.
Perante tudo isso é preciso inventar novos fantasmas, e nada melhor que o fantasma de um novo resgate. Daí a pressa em trazer o tema para a actualidade. E daí razões acrescidas para António Costa ficar zangado com Centeno. Mas zangado a sério, mesmo que - e bem - não o mostre!
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