Palavrões novos. Ou nem por isso...
Por Eduardo Louro
Palavrões antes reservados a elites especializadas são hoje cada vez mais comuns. Quase todos os dias há novos palavrões a entrarem-nos pela porta dentro.
Hoje é de impostos diferidos que se fala. Qualquer coisa que ainda há pouco tempo só se conseguia ouvir da boca de gestores, auditores e contabilistas mais evoluídos, enche hoje as páginas dos jornais, como uma nova nuvem negra que ameaça os bancos. E já se sabe para quem sobram as ameaças sobre os bancos…
Impostos diferidos referem-se a tributações que no futuro deixam de se pagar em consequência de ocorrências presentes. É o que se passa quando, para efeitos de impostos sobre lucros, prejuízos de agora são abatíveis a lucros futuros. Quem, por via do prejuízo neste ano, vai pagar menos de impostos sobre os lucros nos próximos pode, de acordo com as práticas e os princípios contabilísticos, reflectir isso no seu activo.
Para os bancos, o governo decidiu o ano passado ir um pouco mais além – o que também não surpreende – e permitir-lhes que reflectissem isso nas contas de capital. Os prejuízos por que a banca tem passado comeram-lhe muito capital; com essa medida o governo “devolvia-lhe” boa parte dele, reduzindo-lhes assim as necessidades de reforço de capital para cumprir com os rácios (core tier 1) exigidos pelas normas de regulamentação bancária (Basileia III).
A União Europeia – curiosamente a medida (também utilizada nos outros países do sul) foi aprovada pelo governo em Junho passado, logo depois da saída da troika – pretende agora saber se isso configura, ou não, ajuda do Estado á banca.
Não sei se configura ajuda. Mas sei que configura chico-espertismo, e isso já não é palavrão novo. A esse já estamos habituados!