Ao que se vai sabendo, à medida que o que se lá passou vai sendo trazido cá para fora – porque há gente que lá está que faz disso modo de vida -, a reunião do Conselho de Estado esteve quentinha, e não correu nada ao jeito do Presidente, que só estava interessado no pós-troika. Bom, convergência e consenso também davam jeito…
De resto, se percebemos muito bem por que Marques Mendes convocou o Conselho de Estado - obviamente para alimentar três ou quatro dos seus programas televisivos: um a anunciá-lo e dois ou três a chibar-se sobre o que lá se passou – ainda não conseguimos perceber por que é que Cavaco confirmou essa convocatória. Para pagar dívidas, provavelmente…
A coisa foi de tal ordem que só faltaram cadeiras pelo ar, porque de resto houve de tudo. Até um comunicado final imposto pelo Presidente, que nada tinha a ver com o que lá se passara. Bonito… Sem dúvida. E bem demonstrativo do Presidente que temos …
Houve naturalmente quem não gostasse e tivesse liderado uma rebelião. E o Comunicado esteve por um fio…até que lá veio Marcelo Rebelo de Sousa, sempre conciliador, a pôr água na fervura. E a cozinhar aquela coisa do “adequado equilíbrio entre disciplina financeira, solidariedade e estímulo à actividade económica”. Ou do “enfrentem, com êxito, o flagelo do desemprego que os atinge e reconquistem a confiança dos cidadãos”. Sem dizer nada do que lá se tivesse passado: isso ficaria para si próprio e para o seu colega de partido e de ofício…
Não tenho grandes dúvidas que, por muito que Marques Mendes insista, Cavaco não voltará tão depressa a convocar o Conselho de Estado. Tenho é dificuldade em perceber por que é que toda aquela gente se aguentou lá aquelas horas todas sem bater com a porta e deixar o Presidente a falar sozinho, mesmo que sozinho nunca ficasse: dois deles ficariam sempre até ao fim, para poder contar tudo…
Não fiquem já a pensar que foi isso que fez Mário Soares. Esse apenas tinha que se deitar cedo…
Quando o desafio é escolher o melhor primeiro-ministro sabemos que a tarefa não é fácil. Se o desafio fosse, pelo contrário, escolher o pior, também não o seria!
Talvez por isso mesmo, por ser deveras desafiante, o Económico pôs mãos à obra e colocou o assunto à votação no seu site. O resultado foi este: Sócrates!
À primeira vista ficamos estupefactos. Mas logo recuperamos o fôlego e deixamos cair o ar de espanto. Nem sequer precisamos de recorrer ao tradicional beliscão para confirmar que é mesmo aquilo que estamos embasbacados a ver. É que, logo a seguir, a votação deu Pedro Passos Coelho.
Querem mais? Pois aí vai: a seguir - em terceiro lugar – deu Santana Lopes!
Sei que muitos dirão que isto é para rir. Mas não é!
Continua a haver gente que acha que tudo serve para ser apresentado como resultado de votação. Uns tipos vão a um site e descarregam lá um click qualquer, e chamam-lhe voto. Outros ligam para um número de telefone e pagam chamadas de valor acrescentado, e chamam-lhe voto. No fim apresentam os resultados da votação: Salazar é o maior português da História, isto e aquilo é a maior maravilha do país e arredores, este ou aquele e esta ou aquela é o ídolo do não sei quê, o gordo ou o magro, o que ganha ou o que perde. E Sócrates o melhor primeiro-ministro… E Passos Coelho logo a seguir… E Santana Lopes…
Já era tempo de alguma decência. E de se darem ao respeito, se é que querem ser respeitados…
Já nos basta o Otelo a dizer, no Jornal de Negócios (será também isto a concorrência?), que precisamos de um primeiro-ministro como o Salazar. Não precisamos de mais palhaçada!
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