No entanto o "pantomineiro-mor" do país troca esta realidade pela narrativa que lhe alimenta a pantominice, e marca uma grande manifestação para Lisboa contra a imigração. Freta autocarros por todo o país, e arregimenta todas as estruturas para este objectivo principal do partido. Disse-se por aí que quem não apresentasse resultados ficaria com contas para ajustar.
E ontem lá se encontraram todos - gente que não sabia o que ali estava a fazer, gente que também tinha sido emigrante, "mas dos bons, nada destes que para cá vêm", e gente que sabia bem ao que vinha, como um tal Mário Machado com o "seu" 1143 - percorrendo precisamente o eixo da capital mais marcado pelas mais degradantes imagens da exploração associada à imigração.
O pantomineiro tinha à sua volta câmaras e microfones que bastassem. Para elas dizia que não, que não era nada contra a imigração, enquanto descia pela Almirante Reis debaixo da gritaria "nem mais um, nem mais um". Novo microfone à frente e, de novo, não, aquilo era apenas contra a desregulação, contra a "bandalheira" das portas abertas.
As tais que, dizem os empresários deste país, a fecharem-se, seria devastador!
Pantominice é isto. Também lhe chamam populismo, mas isto é mais propriamente pantominice!
Li e ouvi que, finalmente, Montenegro entusiasmou as hostes. E vi por todo o lado comentadores a salientarem a prestação discursiva do tipo a que faltava sempre o "click".
Notei tanto entusiasmo que, não tendo tido nem tempo nem paciência para assistir "à festa", fui procurar saber o que de tão relevante, inovador e mobilizador teria Montenegro dito para merecer tantos elogios. Até de muitos que nunca lhe tinham encontrado uma pontinha de virtude, sempre só, e apenas, defeitos.
Admito que não tenha procurado o suficiente. Mas até me cansar apenas encontrei a fórmula de André Ventura do "tudo para todos". Tudo para os jovens, tudo para os velhos, "vouchers" para a saúde, um décimo quinto mês - sem impostos, evidentemente - creches... Tudo para todos, como André Ventura. Mas sem as contas do outro à economia paralela e à corrupção, como milagre de financiamento. E, não fossem tomá-lo pelo mesmo, negando-o: "não vamos mesmo prometer tudo a todos ..."
- "As pessoas estão fartas de promessas não cumpridas. É preciso uma nova forma de fazer política" - rematou, a concluir. como se não andássemos a ouvir isto há 50 anos.
Afinal o "tudo para todos", e a conversa fiada velha de 50 anos, bem embrulhadinho, continua a passar. E a pantominice continua a única forma de fazer política que esta gente aprecia. Também aprecia a palhaçada mas, sem pantominice, não!
É um altar. Mas como custa 5,3 milhões de euros - curioso como a generalidade das notícias referem 4 milhões, deixando de fora as fundações; se o altar fosse obra de outros seria de 7 milhões, o valor com IVA convenientemente arredondado - não é só um altar, garante Moedas. É um altar que fica para o futuro, e que vai servir para outras coisas.
Quais? Isso agora não interessa nada!
Por ajuste directo com a empresa onde pontifica Paulo Portas. Mas isso para Moedas não importa nada, porque "não podemos como cidade, como país, não acolher o papa, respeitando aquilo que é a regra de um evento que nunca se fez em Portugal". Ah... e este foi o melhor preço encontrado. Metade do que chegaram poraí a pedir...
Com o aproximar do cheiro a eleições a pantominice solta-se e invade-nos os dias. E nisto de pantominice António Costa, apesar de Carlos César, não é gajo para se encolher:
Já tínhamos percebido que a pantomineira Assunção Cristas não fica a dever nada ao pantomineiro Paulo Portas, acentuando a ideia que a mensagem política do CDS se esgota na pantominice.
O pantomineiro quer estar sempre lá, mesmo quando nem sequer é ali o seu lugar. O pantomineiro é como o emplastro, quer aparecer sempre na televisão. Só que em vez de se colar às costas de quem quer que seja cola-se à estridência.
O que importa é passar nas televisões com uns sound bytes: "O senhor acabou de mentir a esta câmara, o senhor mentiu. Começamos por ficar habituados, o senhor mente sempre que aqui vem e acabou de mentir objectivamente. O acordo não está ainda assinado". E que, para a imprensa, pantominice não seja pantominice, mas tão só o momento mais quente do debate...
A coligação PàF, com Paulo Portas, como sempre, a não poupar nas palavras, espalhou aos sete ventos durante a campanha não só a saúde de ferro da nossa economia, mas que os empresários estavam todos carregados de decisões de investimento prontas a avançar. Só estavam à espera dos resultados das eleições, a confiança no país era tanta que, apurados os resultados e confirmada a sua vitória eleitoral, era só carregar no botão para que investimentos brotassem que nem cogumelos.
Também aqui a realidade é bem diferente. Afinal, pelo contrário, os empresários estavam à espera das eleições para anunciar despedimentos e encerramentos. Era - e foi - só carregar no botão. Só que em vez de investimentos começaram a sair mais encerramentos. E em vez de novos postos de trabalho, mais despedimentos.
Não se sabe se há empresas que não quiseram perturbar o bom andamento da campanha, ou se foram mesmo Portas e Pires de Lima a pedir-lhes que não a (os) perturbassem. Mas também não importa muito... A pantominice seria apenas um poucochinho maior!
A pantominice também é como o azeite: também vem ao de cima. Não costuma é ser tão depressa!
Quando aqui me referi ao programa do BCE conhecido por QE (Quantitative Easing), chamando-lhe euromilhões, deixava em nota de graça - não era das notas de graça que o BCE vai imprimir - um alerta para as condições de rating que eram exigidas para acesso ao programa.
São tantas as pantominices que ouvimos do lado da propaganda oficial do governo, a começar na patética pirueta de Passos Coelho, e passando pelos saltos mortais de Portas e pelos passes de mágica de deputados, comunicadores e opinadores que constituem o spin governamental, que não poderia deixar de regressar a essa peqeuenina nota.
Uns dizem que isto só é possível pelos sacrifícios todos por que passamos, e que esta é a recompensa por esse esforço. Outros, que é possível porque reconquistamos a credibilidade externa. Outros ainda porque já cá não está a troika. Há ainda os que vêm dizer que só é possível porque atingimos um défice de 3%, o que nem sequer é verdade. Esse é o objectivo para este ano, não está atingido.
Pantominices à parte, Portugal só não ficou de fora deste programa do BCE porque há uma agência de rating, a canadiana DBRS que, ao contrário de todas as outras que contam (Fitch, Moddy´s, Standard & Poors...) classifica o rating da República Portuguesa acima de lixo, condição de acesso ao programa. Diz-se por aí que este rating desta agência canadiana já tem uns anos, e nunca foi mexido. Que é até anterior à tomada de posse deste governo!
Já eram pantomineiros. Agora ainda são excêntricos...
Nunca se mentiu tanto em Portugal, nunca nenhum outro governo manipulou tanto a realidade, nunca em Portugal um primeiro-ministro foi tão pouco sério… E não sou dos que têm memória curta, lembro-me bem de Sócrates, mesmo que muitos já o tenham esquecido e outros o queiram fazer esquecer.
Passos Coelho mente a propósito de tudo. Pensões, salários, impostos… Tudo lhe serve para a pantominice!
Então este último acórdão do Tribunal Constitucional (TC) é um filão inesgotável. A trapalhada faz parte integrante da pantominice e hoje, em plena Feita Nacional da Agricultura, em Santarém, as trapalhadas sobre o noticiado pedido de extensão do programa de resgate ao FMI eram pegadas que nem cerejas. Que não, que simplesmente o Tribunal Constitucional não esperou que o FMI fechasse o programa...
- Mas o programa de assistência não está fechado? - Perguntavam os – que eram as – jornalistas. Que sim, “minha senhora” – sempre a minha senhora a iniciar a frase de resposta – “o programa foi fechado a 17 de Maio”, mas o FMI não o fechou, o Tribunal Constitucional não esperou…
- “Um problema técnico”? – Rematava a jornalista.
- “Não minha senhora, um problema de dinheiro. É mesmo um problema de dinheiro…” Como para o FMI o programa não estava fechado…
- “Mas o programa não foi fechado a 17 de Maio”?
- “ Foi, minha senhora, mas o Tribunal Constitucional…” “... E agora temos que lhe dizer o que é que vamos fazer, porque Portugal não cumpriu com o que estava acordado…” “… E é o dinheiro, minha senhora, a última tranche não vem…”
Pois é. Já saímos do programa de assistência. Saída limpa, lembram-se? Mas para a pantominice isso não conta para nada.
Dentro de dois dias o Tesouro regressa ao mercado – onde as taxas de juro, perfeitamente indiferentes à decisão do TC, continuam a cair, porque o que conta é que o BCE na semana passada fixou um novo mínimo histórico – com bem melhores condições que as da troika. Se o país tem acesso a financiamento mais barato que o do FMI, que interesse há nessa última tranche?
Ficamos ontem a saber, já sem qualquer dúvida, pela própria boca do Sr Mario Drahgi, que as pantominices e o relógio de count down de Portas não são mais que isso mesmo: pantominices.
A troika não vai embora coisíssima nenhuma e o segundo resgate aí está, travestido de uma coisa qualquer, chame-se-lhe programa cautelar - como o governo gosta -, contrato de seguro - como a ministra das finanças acabou de inventar – ou programa de assistência para a transição, como o número 1 do BCE lhe chamou.
Não há nisto qualquer novidade, há muito que se sabe que assim teria de ser. Vale simplesmente a pena salientar que, ao dizer o que disse agora, Mario Draghi, dilui o álibi do Tribunal Constitucional. O governo – e a troika e tutti quanti, incluindo as últimas imbecilidades e pantominices de Braga de Macedo – tudo tem feito para pressionar e culpar o Tribunal Constitucional. Se ainda há pouco o responsabilizava por um ameaçado segundo resgate, melhor agora o responsabilizaria.
O governo da Irlanda recusou assinar qualquer espécie de programa de transição porque, estando em condições de arriscar directamente os mercados, entendeu que não poderia aceitar as exigências da troika. Não recusou esse programa apenas porque pôde, mas também porque quis. Mas esse é o governo que já negociara um programa com um ajustamento orçamental bem menos exigente e um bem menor poder de destruição social e económica.
Andaram sempre a dizer-nos que Portugal não era a Grécia. Que nos colaríamos à Irlanda para, na carruagem de trás, seguir o mesmo percurso e atingir o mesmo destino. Tretas!
A Irlanda tem, agora que justamente concluiu o programa, acesso aos mercados financeiros a taxas de juro sustentáveis, que rondam os 3%.
Para Portugal as taxas de juro não baixam do dobro disso, e são evidentemente incomportáveis. E não é nem por especulação dos mercados, nem por nenhum Tribunal Constitucional. É porque os mercados perceberam, quando Vítor Gaspar desistiu e reconheceu que falhara, que falhara ele e tudo o que representava, ele e o programa em que acreditara. Porque, ao contrário da Irlanda, a economia foi destruída e não tem condições de crescimento. E porque ninguém consegue pagar uma dívida que, mesmo privatizando tudo o que havia para privatizar – as receitas das privatizações são para abate directo na dívida -, não tem parado de crescer, e já ultrapassa os 130% do PIB. E porque só nestas condições de austeridade, à custa da procura interna - reduzindo importações e aumentando exportações à custa do excesso de produção (face à redução do consumo) de combustíveis - Portugal consegue controlar o défice externo. E porque o país está a envelhecer, sem natalidade e com os jovens a emigrar. E porque o país empobreceu dramaticamente, e perdeu a massa crítica da classe média. E porque tem uma política de redistribuição de rendimento terceiro-mundista…
António José Seguro, passa ao lado de tudo isto, e protesta que o governo está a negociar o programa nas costas e à revelia do PS. Programa que Passos, voltando a mentir, garante ser para um ano … Para que sinta dispensado de tudo e mais alguma coisa. Até de negociar, o que quer que seja, com quem quer que seja… Mesmo que seja o novo programa. E mesmo que seja com a troika, com os técnicos ou com o topo da hierarquia!
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