Se dizemos que a pantominice, e a sucessão de pantomineiros ao longo de muitos anos, são os responsáveis pelo crescimento da extrema direita, como é que se pode compreender que ela cresça com mais pantomineiros ainda?
André Ventura é o maior pantomineiro da História política portuguesa. Se alguém tinha dúvidas, a encenação destes últimos dias de campanha, acaba com elas: nunca uma personagem política portuguesa foi tão despudoradamente pantomineira. Nunca ninguém gozou tanto com a inteligência dos portugueses.
E no entanto, dizem as sondagens, depois de um ano de escândalos no Parlamento, André Ventura continua a crescer na votação e irá ultrapassar o milhão e cem mil votos de há um ano.
No entanto o "pantomineiro-mor" do país troca esta realidade pela narrativa que lhe alimenta a pantominice, e marca uma grande manifestação para Lisboa contra a imigração. Freta autocarros por todo o país, e arregimenta todas as estruturas para este objectivo principal do partido. Disse-se por aí que quem não apresentasse resultados ficaria com contas para ajustar.
E ontem lá se encontraram todos - gente que não sabia o que ali estava a fazer, gente que também tinha sido emigrante, "mas dos bons, nada destes que para cá vêm", e gente que sabia bem ao que vinha, como um tal Mário Machado com o "seu" 1143 - percorrendo precisamente o eixo da capital mais marcado pelas mais degradantes imagens da exploração associada à imigração.
O pantomineiro tinha à sua volta câmaras e microfones que bastassem. Para elas dizia que não, que não era nada contra a imigração, enquanto descia pela Almirante Reis debaixo da gritaria "nem mais um, nem mais um". Novo microfone à frente e, de novo, não, aquilo era apenas contra a desregulação, contra a "bandalheira" das portas abertas.
As tais que, dizem os empresários deste país, a fecharem-se, seria devastador!
Pantominice é isto. Também lhe chamam populismo, mas isto é mais propriamente pantominice!
Li e ouvi que, finalmente, Montenegro entusiasmou as hostes. E vi por todo o lado comentadores a salientarem a prestação discursiva do tipo a que faltava sempre o "click".
Notei tanto entusiasmo que, não tendo tido nem tempo nem paciência para assistir "à festa", fui procurar saber o que de tão relevante, inovador e mobilizador teria Montenegro dito para merecer tantos elogios. Até de muitos que nunca lhe tinham encontrado uma pontinha de virtude, sempre só, e apenas, defeitos.
Admito que não tenha procurado o suficiente. Mas até me cansar apenas encontrei a fórmula de André Ventura do "tudo para todos". Tudo para os jovens, tudo para os velhos, "vouchers" para a saúde, um décimo quinto mês - sem impostos, evidentemente - creches... Tudo para todos, como André Ventura. Mas sem as contas do outro à economia paralela e à corrupção, como milagre de financiamento. E, não fossem tomá-lo pelo mesmo, negando-o: "não vamos mesmo prometer tudo a todos ..."
- "As pessoas estão fartas de promessas não cumpridas. É preciso uma nova forma de fazer política" - rematou, a concluir. como se não andássemos a ouvir isto há 50 anos.
Afinal o "tudo para todos", e a conversa fiada velha de 50 anos, bem embrulhadinho, continua a passar. E a pantominice continua a única forma de fazer política que esta gente aprecia. Também aprecia a palhaçada mas, sem pantominice, não!
É um altar. Mas como custa 5,3 milhões de euros - curioso como a generalidade das notícias referem 4 milhões, deixando de fora as fundações; se o altar fosse obra de outros seria de 7 milhões, o valor com IVA convenientemente arredondado - não é só um altar, garante Moedas. É um altar que fica para o futuro, e que vai servir para outras coisas.
Quais? Isso agora não interessa nada!
Por ajuste directo com a empresa onde pontifica Paulo Portas. Mas isso para Moedas não importa nada, porque "não podemos como cidade, como país, não acolher o papa, respeitando aquilo que é a regra de um evento que nunca se fez em Portugal". Ah... e este foi o melhor preço encontrado. Metade do que chegaram poraí a pedir...
Com o aproximar do cheiro a eleições a pantominice solta-se e invade-nos os dias. E nisto de pantominice António Costa, apesar de Carlos César, não é gajo para se encolher:
Já tínhamos percebido que a pantomineira Assunção Cristas não fica a dever nada ao pantomineiro Paulo Portas, acentuando a ideia que a mensagem política do CDS se esgota na pantominice.
O pantomineiro quer estar sempre lá, mesmo quando nem sequer é ali o seu lugar. O pantomineiro é como o emplastro, quer aparecer sempre na televisão. Só que em vez de se colar às costas de quem quer que seja cola-se à estridência.
O que importa é passar nas televisões com uns sound bytes: "O senhor acabou de mentir a esta câmara, o senhor mentiu. Começamos por ficar habituados, o senhor mente sempre que aqui vem e acabou de mentir objectivamente. O acordo não está ainda assinado". E que, para a imprensa, pantominice não seja pantominice, mas tão só o momento mais quente do debate...
A coligação PàF, com Paulo Portas, como sempre, a não poupar nas palavras, espalhou aos sete ventos durante a campanha não só a saúde de ferro da nossa economia, mas que os empresários estavam todos carregados de decisões de investimento prontas a avançar. Só estavam à espera dos resultados das eleições, a confiança no país era tanta que, apurados os resultados e confirmada a sua vitória eleitoral, era só carregar no botão para que investimentos brotassem que nem cogumelos.
Também aqui a realidade é bem diferente. Afinal, pelo contrário, os empresários estavam à espera das eleições para anunciar despedimentos e encerramentos. Era - e foi - só carregar no botão. Só que em vez de investimentos começaram a sair mais encerramentos. E em vez de novos postos de trabalho, mais despedimentos.
Não se sabe se há empresas que não quiseram perturbar o bom andamento da campanha, ou se foram mesmo Portas e Pires de Lima a pedir-lhes que não a (os) perturbassem. Mas também não importa muito... A pantominice seria apenas um poucochinho maior!
A pantominice também é como o azeite: também vem ao de cima. Não costuma é ser tão depressa!
Quando aqui me referi ao programa do BCE conhecido por QE (Quantitative Easing), chamando-lhe euromilhões, deixava em nota de graça - não era das notas de graça que o BCE vai imprimir - um alerta para as condições de rating que eram exigidas para acesso ao programa.
São tantas as pantominices que ouvimos do lado da propaganda oficial do governo, a começar na patética pirueta de Passos Coelho, e passando pelos saltos mortais de Portas e pelos passes de mágica de deputados, comunicadores e opinadores que constituem o spin governamental, que não poderia deixar de regressar a essa peqeuenina nota.
Uns dizem que isto só é possível pelos sacrifícios todos por que passamos, e que esta é a recompensa por esse esforço. Outros, que é possível porque reconquistamos a credibilidade externa. Outros ainda porque já cá não está a troika. Há ainda os que vêm dizer que só é possível porque atingimos um défice de 3%, o que nem sequer é verdade. Esse é o objectivo para este ano, não está atingido.
Pantominices à parte, Portugal só não ficou de fora deste programa do BCE porque há uma agência de rating, a canadiana DBRS que, ao contrário de todas as outras que contam (Fitch, Moddy´s, Standard & Poors...) classifica o rating da República Portuguesa acima de lixo, condição de acesso ao programa. Diz-se por aí que este rating desta agência canadiana já tem uns anos, e nunca foi mexido. Que é até anterior à tomada de posse deste governo!
Já eram pantomineiros. Agora ainda são excêntricos...
Nunca se mentiu tanto em Portugal, nunca nenhum outro governo manipulou tanto a realidade, nunca em Portugal um primeiro-ministro foi tão pouco sério… E não sou dos que têm memória curta, lembro-me bem de Sócrates, mesmo que muitos já o tenham esquecido e outros o queiram fazer esquecer.
Passos Coelho mente a propósito de tudo. Pensões, salários, impostos… Tudo lhe serve para a pantominice!
Então este último acórdão do Tribunal Constitucional (TC) é um filão inesgotável. A trapalhada faz parte integrante da pantominice e hoje, em plena Feita Nacional da Agricultura, em Santarém, as trapalhadas sobre o noticiado pedido de extensão do programa de resgate ao FMI eram pegadas que nem cerejas. Que não, que simplesmente o Tribunal Constitucional não esperou que o FMI fechasse o programa...
- Mas o programa de assistência não está fechado? - Perguntavam os – que eram as – jornalistas. Que sim, “minha senhora” – sempre a minha senhora a iniciar a frase de resposta – “o programa foi fechado a 17 de Maio”, mas o FMI não o fechou, o Tribunal Constitucional não esperou…
- “Um problema técnico”? – Rematava a jornalista.
- “Não minha senhora, um problema de dinheiro. É mesmo um problema de dinheiro…” Como para o FMI o programa não estava fechado…
- “Mas o programa não foi fechado a 17 de Maio”?
- “ Foi, minha senhora, mas o Tribunal Constitucional…” “... E agora temos que lhe dizer o que é que vamos fazer, porque Portugal não cumpriu com o que estava acordado…” “… E é o dinheiro, minha senhora, a última tranche não vem…”
Pois é. Já saímos do programa de assistência. Saída limpa, lembram-se? Mas para a pantominice isso não conta para nada.
Dentro de dois dias o Tesouro regressa ao mercado – onde as taxas de juro, perfeitamente indiferentes à decisão do TC, continuam a cair, porque o que conta é que o BCE na semana passada fixou um novo mínimo histórico – com bem melhores condições que as da troika. Se o país tem acesso a financiamento mais barato que o do FMI, que interesse há nessa última tranche?
O da pantominice, evidentemente!
Acompanhe-nos
Pesquisar
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.