Primeiro foi António Costa a ser confirmado Presidente Conselho Europeu. Depois, anteontem, foi Roberta Metsola a ser reeleita na Presidência do Parlamento Europeu. Hoje, foi Ursula Von der Leyen a ser confirmada para mais cinco anos de mandato à frente da Comissão Europeia. Ambas do PPE, e ambas com votação expressiva, o que fez o "establishment" respirar de alívio.
Todos se entenderam, ninguém roeu a corda, e está completa a distribuição do poder na União Europeia. António Costa, é afinal o único a chegar de novo. Mas é como se não fosse.
O primeiro-ministro húngaro, o fascistoide Viktor Orbán, tem feito tudo o que lhe dá na real gana sem provocar grandes incómodos na UE.
Orbán, e o Fidesz, o partido de extrema-direita que lidera e integra o Partido Popular Europeu, tem podido fazer dos fascismo uma bandeira. Aboliu a separação de poderes, e permitiu-se abater o Estado de Direito num país membro da UE, levantou muros num espaço livre de fronteiras, perseguiu imigrantes (mas também emigrantes) e declarou o racismo e a xenofobia pilares dos seus princípios políticos.
Nada que incomodasse ninguém na Comissão Europeia. Nada que fizesse esboçar o mais leve protesto a qualquer partido da direita europeia, incluindo naturalmente os nossos PSD e CDS, reunidos no Partido Popular Europeu (PPE).
De repente, tudo mudou. O PPE não se conforma, avisa Orbán que assim não pode continuar e ameaça mesmo expulsar o Fidesz. Paulo Rangel afinal há muito que em silêncio não tolerava o fascistoide, e até o CDS acha Orbán intolerável. Bastou que Orbán espalhasse por toda a Hungria uns cartazes a atacar pessoalmente Jean Claude Juncker, o Presidente da Comissão Europeia que é também o líder do Partido Popular Europeu!
Ainda se se lembrassem de Bertolt Brecht...
"Primeiro levaram os negros, mas não me importei com isso. Não era negro..."
O PCP votou contra a sanção à Hungria que o Parlamento Europeu aprovou esta quarta-feira, numa medida inédita e tida por indispensável para travar o desrespeito de Orban, e do seu governo, pelas regras da UE sobre democracia, direitos civis e corrupção.
Fica-nos a ideia que, perdido na História, o PCP se agarra à Geografia. É capaz de ter razão, o mais conservador dos partidos políticos em Portugal. Bem vistas as coisas, só a geografia não muda. O leste é sempre leste!
Carlos Moedas foi hoje ouvido no Parlamento Europeu, numa espécie de prestação de provas, na condição de comissário europeu indigitado. Provas - nesse sentido - tanto mais necessárias quanto, pela evidente falta de peso político, o parlamento desconfiava da sua preparação para a função.
Saiu-se bem, dizem. Apresentou-se como um produto do fenómeno de mobilidade social ascendente, imagem de marca da democracia europeia, o que é sempre bonito, e fez a sua mais surpreendente revelação quando disse que esteve muitas vezes em desacordo com a troika.
A surpresa - ninguém nunca deu por nada, antes pelo contrário, alinhou sempre pela ala mais dura do governo, na linha da frente da defesa da troika - deixou de ser surpresa quando se percebeu que, antes, o próprio Parlamento tinha criticado fortemente a intervenção da troika no nosso país. É sempre a mesma coisa: o que é preciso é saber dançar certinho ao som da música de cada momento. Acertar com a música...E isso aprende-se facilmente por Wall Street e pela City...
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