Desconfio que até os mais distraídos, e os mais crentes, já perceberam que já chega de CHEGA. Que o limite não é o céu, e que, pelo contrário, o Partido de André Ventura já só faz caminho no comboio descendente - tudo á gargalhada, todos á janela, todos em grande reinação ...
André Ventura foi capaz de fazer o seu projecto político pessoal crescer vertiginosamente em pouco tempo. Seria difícil fazer de um projecto pessoal um partido, e virtualmente impossível mantê-lo sozinho.
Um projecto político pessoal basta-se de um bom actor, que saiba manipular exponenciar emoções. Um partido político precisa de muito mais. E precisa acima de tudo de pessoas qualificadas, de quadros.
O projecto político de André Ventura é pessoal. E uni-pessoal. Não tem mais ninguém. Por isso agarra tudo o que venha à rede, sendo que convoca quem queira aparecer, e que quer aparecer quem não tem por onde se mostrar.
E por isso não surpreende que um roube malas nos aeroportos, e aproveite até portes mais baratos da Assembleia da República para vender o produto do roubo. Que outro, muito marialva e ainda muito mais macho, seja apanhado em relações homossexuais pagas com um menor. Ou que não faltem deputados - quase um quinto deles - acusados de crimes como roubo, imigração ilegal, falsificação de documentos, ou desobediência.
Estão confirmados mais dois candidatos às presidenciais. Marques Mendes, há uma dúzia de anos a tratar do assunto na televisão que vende presidentes, e correspondendo ao apelo seu partido, anunciou-se ontem no sítio do costume. E Mariana Leitão, escolhida e anunciada na Convenção da IL, que decorreu no fim-de-semana sem surpresas, e a vitoriar Rui Rocha.
Confirmados - pelos próprios - são agora três. André Ventura já se tinha feito anunciar candidato pelo seu partido, pouco importando agora se o partido é alguma coisa mais que ele próprio.
O PS anda à nora. Tinha, e tem ainda, candidatos a mais. Chegaram a ser pelo menos quatro, e desses apenas Mário Centeno se retirou pelo próprio pé. Artur Santos Silva foi arrastado no afastamento do costismo, e resta-lhe ir fazendo umas provas de vida, à sua peculiar maneira. Restam os Antónios, Seguro e Vitorino. No próximo fim-de-semana o partido irá anunciar a sua escolha.
O Bloco de Esquerda também já anunciou que apresentará um candidato próprio. Tal como o PCP, como sempre tem feito.
A vocação dos partidos realiza-se na plenitude nas eleições legislativas. É aí que neles se esgotam as candidaturas. Têm também o papel muito relevante nas autárquicas, mas aí já não gozam da exclusividade. Há outras formas de candidatura.
Nas candidaturas presidenciais a Constituição - e o regime - não lhes reconhece qualquer tipo de intervenção. Resultam exclusivamente da expressa vontade do candidato. Os partidos simplesmente não são para aqui chamados.
Quando - todos os estudos de opinião o indicam - é notório que entraram em perda de influência social, de capacidade de mediação entre o eleitorado e as instituições, e de credibilidade, é estranho que os partidos políticos não percebam que, ao imporem as suas próprias candidaturas presidenciais, saem a perder na sua missão e prejudicam os candidatos. E é mesmo perturbador que este enviesamento seja transversal a todos os partidos. Todos, da direita à esquerda. Dos fundadores do regime aos que chegaram depois. Dos que se revêm no regime aos que o afrontam.
Dizem os analistas do regime que as sondagens que sucessivamente vêm dando a vitória ao candidato que ainda nem assumiu a candidatura não passam de um exercício, e que não é sério levá-las a sério.
Pelo contrário - não é sério é não as levar a sério. É grave, e politicamente irresponsável, não concluir que esses resultados deixam a percepção que o regime não tem um candidato para apresentar com estatuto e credibilidade capaz de fazer frente ao almirante Gouveia e Melo.
Vivemos no mundo das percepções. Depois de instalada a percepção, não há volta a dar-lhe. Bem podem arguir que o homem ainda não teve que dizer nada. Que não se lhe conhece uma ideia. Ou que será trucidado nos debates televisivos. Instalada a percepção, a Gouveia e Melo bastará estar calado e quieto para ganhar. E até à primeira volta!
Encontramos frequentemente no sistema partidário português justificação para todos os males de que enferma o regime, que damos por esgotado e bloqueado. Se falamos de abstenção, a culpa é dos partidos. Se falamos de corrupção, a culpa... de quem haveria de ser? Não há renovação da classe política e, a culpa é, evidentemente, dos partidos políticos... Que usurparam o regime e dele dispõem ao serviço exclusivo das suas parasitárias clientelas.
Nem sempre será tudo tanto assim, mas é inegável que a cristalização da actividade política e o constante afastamento dos cidadãos da coisa pública, que está a levar ao bloqueamento do regime, tem muito a ver com o descrédito em que os partidos se deixaram cair.
Dávamos a regeneração do sistema partidário por causa perdida. Os grandes partidos do sistema, os que, para o bem e para o mal, trouxeram o país até aqui, eram intocáveis. A abstenção crescia, é certo, mas a votação expressa andava sempre por ali à volta dos mesmos.
Até que, de repente, parece que alguma coisa está a mudar e os dois partidos do centrão, que há mais de 40 anos repartem o poder, e que até há aqui recolhiam mais de 75% dos votos expressos, não representam agora mais de 50% do eleitorado que se digna a votar.
É como se, de repente, os partidos tradicionais começassem a deixar espaço que se revelasse tentador para novas formas de expressão política. E a verdade é que novos partidos começaram a nascer que nem cogumelos.
Vimo-los nas últimas eleições europeias. Faltava um, agora acabadinho de chegar. Chama-se RIR e vem pela mão do “Tino de Rans". Dir-se-ia que é para rir, mas diz que é de Reagir, Incluir e Reciclar. Um RIR forçado, cujo líder, sem se rir, acha legitimado pelos 150 mil votos que lhe valeram o sexto lugar das últimas presidenciais, em 2016.
Já para não falar de outras figurinhas que já vimos surgir nos jornais, de que o melhor é mesmo nem falar... Haja tino, porque isto não é para rir. É mesmo para chorar... Mas não de chorar por mais. Já chega. E basta!
Com a confirmação de Maria Begonha, os jotinhas socialistas deram mais um forte contributo para a descredibilização dos partidos, para a convicção de que são irreformáveis, e para a ideia que as organizações das juventudes partidárias não são mais que escolas dos vícios dos mais velhos.
É pena que nos partidos políticos ninguém perceba isto.
Ao contrário do que pretendiam, ficou a saber-se que os partidos da nossa democracia, que raramente se entendem para o quer que seja do interesse nacional, se entenderam às mil maravilhas para produzir uma lei que lhes facilitasse ainda mais a vida nestas coisas do “guito”. De uma penada os partidos puseram fim a qualquer limitação no acesso a fundos privados, e colocaram-se integralmente de fora do IVA.
Isto é, os partidos legislaram em causa própria, para que pudessem passar a receber todo dinheiro que aparecesse, viesse donde viesse. E, já que já beneficiavam de isenção de IMT, de IMI, de imposto de selo, de imposto sobre doações e sucessões, de imposto automóvel e até taxas de justiça e de custas judiciais, decidiram estender a isenção de IVA de que já gozavam à totalidade das transacções que efectuassem, deixando de entregar o IVA que cobrassem e sendo reembolsados de todo o que tivessem pago.
Para completar o ramalhete, os partidos levaram a lei a uma incursão pelo património imobiliário, colocando a hipótese de se servirem gratuitamente dos imóveis do Estado, sejam eles da administração central, das autarquias locais, do sector empresarial ou da economia social.
Tudo isto sem que ninguém soubesse de nada. Tudo isto sem actas ou qualquer outro registo. Tudo isto sem que se pudesse sequer saber quem propôs o quê, para que todos soubéssemos que sabiam bem o que estavam a fazer.
Em causa não estão apenas largos milhões de euros, o que não seria pouco. Nem a imoralidade com que usam a faca e o (nosso) queijo que seguram na mão. Em causa está a forma como se estão a escancarar as portas à corrupção porque, não haja dúvidas, exemplos de “interesseirismo”- perdoe-se-me o neologismo - e opacidade como os que estes deputados deram, são convites com passadeira vermelha para o crime e o jogo sujo.
O CDS pôs-se de fora. Votou contra, mas só soltou toda a sua indignação quando a bomba rebentou e incendiou a opinião pública. Antes disso, nada! Só então Assunção Cristas achou que era tempo de cavalgar a onda, como só ela sabe. Até aí, o partido que deu a conhecer Jacinto Leite Capelo Rego ao país, achou que não tinha nada a dizer.
Se juntarmos a este episódio os milhões de euros que o PSD recuperou de quotas em atraso, que a imprensa tem vindo a divulgar sem o mínimo sentido crítico, temos o dramático retrato do quadro partidário da nossa democracia.
Não. Os milhões de euros de quotas que no último mês entraram nos cofres do partido não vêm de militantes que de repente passaram a ter dinheiro e motivação para pagar anos de quotas em atraso. Segundo uma notícia do Público, em meados de Novembro apenas 28.739 dos mais de 210 mil militantes tinham as suas quotas regularizadas. Só na concelhia de Lousada do PSD, no espaço de um fim-de-semana, os militantes com direito de voto passaram de 60 para 670.
Sabe-se há muito, com a complacência de todas as instituições, que dezenas de militantes estão registados com a mesma morada, ou que avultadas somas de dinheiro, provenientes sabe-se lá de onde, que surgem do nada, regularizam de uma assentada o pagamento de quotas a milhares de militantes, muitos deles sem sequer se lembrassem que o eram.
É assim que os partidos escolhem aqueles que, depois, nos dão a escolher para governar o país.
Um dos bloqueios ao nosso desenvolvimento, porventura a mãe de todos os bloqueios, é o funcionamento, e em especial o financiamento, dos partidos. O Natal dos partidos, como tão bem lhe chamou o Alexandre Homem Cristo, cai como sopa no mel na mensagem de Natal do primeiro-ministro!
Ouvidas as declarações das delegações partidárias que ontem se deslocaram a Belém, ficamos a perceber que esta ronda para que Marcelo convocou os partidos serviu para mostrar ao país a sua própria tese: não há crise política. "As próximas eleições são as regionais dos Açores e, depois, as autárquicas do próximo ano".
Clarinho, como água: os partidos que fazem a geringonça andar garantem que não há crise ... política. Os da direita dizem que só não há crise política.
Daniel Adrião quis abanar o congresso do PS com uma proposta revolucionária para o xadrez partidário do regime. A moção que levou ao congresso era sedutora, desde logo pela própria designação: "Resgatar a democracia", num quadro de crise da democracia representativa, soava bem. Mas passou ao lado do congresso. Dela nada se ouviu. Desta moção tão prometedora, e da lista que lhe dava expressão - que acabou com 18 lugares na Comissão Política Nacional - para a História deste 21ª congresso do PS não ficará mais que a extemporânea e descabida tentativa de redenção de José Sócrates que, na intervenção de uma das integrantes da lista - Cristina Martins, se não estou em erro - roçou mesmo o patético.
Os partidos são mesmo assim. Ou isto mesmo, como se diz no futebol!
PS: Pior só mesmo as televisões. E pior ainda só mesmo a SIC, cujo repórter, enquanto na tribuna o Daniel discursava, garantia com toda a convicção: «De Daniel Adrião, o homem que apresentou uma moção contra António Costa e até concorreu a secretário-geral contra António Costa nas eleições directas, ainda não há sinal, ainda não o vimos por aqui no congresso do PS esta manhã.»
A Assembleia da República deu ontem mais um espectáculo ao país. Em causa estava o protesto pela absurda sentença da Justiça de Angola que condenou a pesadas penas de prisão os 17 jóvens angolanos.
O PS apresentou um voto de condenação. O Bloco, outro.
O CDS votou contra, provavelmente porque Paulo Portas está agora virado para os negócios. Que, como já se viu, passam por lá, por Angola. PSD também, porque agora vota contra tudo. E o PCP também, porque continua a não perceber que o mundo mudou. Continua convencido que o MPLA ainda é dos seus, que Moscovo ainda é Moscovo e que Putin é o sucessor de Brejnev.
Como se não bastasse este caldo que chumbou o voto de condenação do PS, o próprio PS viria ainda a abster-se na votação do do Bloco.
A Assembleia da República deu ontem mais um espectáculo ao país. Em causa estava o protesto pela absurda sentença da Justiça de Angola que condenou a pesadas penas de prisão os 17 jóvens angolanos.
O PS apresentou um voto de condenação. O Bloco, outro.
O CDS votou contra, provavelmente porque Paulo Portas está agora virado para os negócios. Que, como já se viu, passam por lá, por Angola. PSD também, porque agora vota contra tudo. E o PCP também, porque continua a não perceber que o mundo mudou. Continua convencido que o MPLA ainda é dos seus, que Moscovo ainda é Moscovo e que Putin é o sucessor de Brejnev.
Como se não bastasse este caldo que chumbou que o voto de condenação do PS, o próprio PS viria ainda a abster-se na votação do do Bloco.
Bonito. Apetece aplaudir...
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