Nas estórias das FPF´s há sempre uma estória de Fernando Santos a passar a perna a Paulo Bento. Já no campo é mais o inverso!
Depois de Paulo Sousa lhe ter passado a perna, parece que esta FPF (do P de Polaca) acredita mesmo que os treinadores portugueses são melhores a fintar que os jogadores.
A convocatória do novo seleccionador nacional de futebol surpreendeu meio mundo. Terá indignado um quarto e agradado a outro quarto…
É uma convocatória alargada – 24 jogadores – como se tratasse de uma convocatória para uma fase final, e isso, como primeira convocatória deste seleccionador, compreende-se perfeitamente. E explicará que comporte seis jogadores do Sporting – uma das surpresas, que indignará muita gente e agradará aos sportinguistas –, algumas estreias – José Fonte e Ivo Pinto – que não cabem exactamente no conceito de renovação, que de todo não serve de mote nem alimenta a convocatória, e muitos regressos.
Foquemo-nos nos regressos, em boa verdade, a par das mais que justificadas ausências do Miguel Veloso, do Raul Meireles, do João Pereira ou do Eduardo, o mais picante da convocatória. E deixemos de lado o regresso de Eliseu, que o simples facto de estar a jogar no Benfica torna normal, para nos determos nos de Dany, Quaresma, Tiago e Ricardo Carvalho, que desde logo terão, no mínimo, soado a murros no estômago do Paulo Bento.
Destes, o regresso de Quaresma acabará por ser o mais pacífico. Traduz uma opção política, natural também numa primeira convocatória. É dar mais uma oportunidade ao Quaresma, para que dela ele faça o que entender, e assim resolver um problema que tem sido sempre incómodo. Se o jogador a agarrar está tudo resolvido. Se a deitar fora também!
Por isso se percebe. E se justifica!
O de Dany justifica-se perfeitamente porque é neste momento um dos melhores 10 que por aí andam, mesmo que, recorde-se, nunca tenha atingido na selecção o alto nível que apresenta no seu clube. Para além disso percebia-se claramente que só o mau feitio de Paulo Bento o mantinha afastado da selecção, onde tanta falta fez no Brasil.
O afastamento de Tiago da selecção não tem nada a ver com Paulo Bento. O mesmo não se pode dizer por não ter regressado, que não pode deixar de ser levado a débito do mau feitio do ex-seleccionador. Toda a gente percebeu, e o próprio Tiago ainda primeiro que todos, que há quatro anos atrás a sua carreira dava todos os sinais de ter entrado na sua decisiva fase descendente. Deixara de ser titular na selecção e terá entendido que, a ter de deixar a selecção, sairia pelo seu pé. Uma decisão legítima!
É nesta altura, e não noutra qualquer, como o anterior seleccionador deixou que se confundisse, e como muita gente tenta confundir, que Paulo Bento o tenta demover dessa decisão, com as tais deslocações a Madrid. Só que Simeone não mudou apenas a vida do Atlético de Madrid, mudou também a de Tiago. Não lhe deu um novo fôlego, deu-lhe uma nova vida tornando-o, depois dos 30, num jogador como nunca antes tinha sido. Com esta nova realidade o Tiago estava evidentemente disposto a regressar, disso deu por diversas vezes sinal, e a selecção só tinha evidentemente a ganhar com o seu regresso. Mas aí já o seleccionador punha o seu mau feitio acima dos interesses da selecção.
O regresso de Tiago, mais que justificado, é a mais merecida bofetada em Paulo Bento!
É diferente o regresso do Ricardo Carvalho, por muito que o mesmo mau feitio possa ter sido responsável pela irreflectida atitude do jogador. Nenhuma condenação pode ser eterna, por isso não há prisão perpétua em Portugal. O que neste caso deveria ter sido amplamente divulgado, e não o foi, era o castigo aplicado pela FPF pelo comportamento de grave indisciplina do Ricardo Carvalho. Um, dois ou três anos de castigo, fosse lá o que fosse, estaria já cumprido. O jogador teria pago pelo seu erro e, mesmo aos 36 anos, estaria em condições de ser convocado. Estranho é que só hoje se tenha sabido que o jogador foi castigado por um ano!
Entendia-se que Paulo Bento nunca o convocasse, tinha com ele um problema pessoal que ia para além do castigo aplicado. Da mesma forma que se entende que Fernando Santos não tenha qualquer objecção à sua convocação. Que provavelmente justificará por política de pacificação!
Veremos se lhe dará a titularidade. Apostaria que não!
Não é o despedimento de Paulo Bento, seja lá qual for a indemnização, que causa surpresa. Surpresa foi a renovação do seu contrato a pouco mais de um mês do Mundial, como surpresa é que no futebol nacional se continuem a fazer contratos só com direitos, nada de deveres, nada de objectivos a cumprir… À vontade do freguês…
Maior surpresa é que Paulo Bento seja despedido pelos mesmos que, duas semanas antes, lhe tinham reforçado os poderes, colocando-o no topo da pirâmide das selecções…
Surpresa - ou talvez não - é também que já se fale de Vítor Pereira… Depois queixem-se!
Depois, muito depois, dois meses depois, da escandalosa participação no campeonato do mundo do Brasil, Fernando Gomes concluiu que houve incompetência sem incompetentes. Quando descobriu que não há incompetência sem incompetentes enterrou-se no ridículo e afastou o médico dos índices de suspeição lesional. Agora é bem capaz de encontrar outro incompetente, sem perceber que a incompetência é tanto maior quanto mais forem os incompetentes. E que a incompetência é máxima quando todos são incompetentes…
Perder em casa o primeiro jogo de uma fase de apuramento com a Albânia, que até agora apenas tinha ganho dois jogos – a selecção de Jorge Mendes e Paulo Bento, sob a bênção de Fernando Gomes, foi a terceira a cometer a proeza de perder com a Albânia – é incompetência máxima!
Sim, Sr Dr Fernando Gomes, nós sabemos que foi com muito engenho e arte que chegou a essa que é uma das mais apetecíveis cadeiras que por aí andam, mas isso não é competência. São habilidades, são teias que se tecem à volta de interesses instalados, esses sim, competentes em auto-defesa. Não se engane, porque a nós não nos engana…
Há pouco tempo atrás a selecção da Albânia, treinada por um italiano, chegava a Portugal e colocava dez jogadores à frente do guarda-redes, ali bem dentro da grande área. E até podia nem perder, como sucedeu uma vez, há seis anos, no apuramento para o mundial da África do Sul, quando logrou sair com um empate de Braga. Hoje, a mesma selecção da Albânia - a mais fraca do grupo de apuramento e das mais fracas da Europa -, treinada por um italiano, chega a Portugal e joga no campo todo, disputa o jogo em cada palmo de terreno, e discute cada factor do jogo, incluindo a posse de bola...
Não interessa o resultado, nem vem para o caso o que, assim, a Albânia levou do jogo. Interessa apenas dizer que isto mostra claramente que a selecção nacional não tem jogadores, não tem treinador e não tem futebol, e que isso deixou de ser um segredo bem guardado!
Hoje é público e notório, sabe-se em todo o lado, até na Albânia, que, independentemente dos jogadores que há ou não há, com ou sem Cristiano Ronaldo, a selecção nacional bateu no fundo, deitou fora todo o prestígio acumulado nas duas últimas décadas e não impõe respeito a ninguém. Parece-me que isso, mesmo que não tenha percebido que a equipa não jogou nada, até o teimoso Paulo Bento percebeu...
Quando o apuramento para o Brasil estava em dúvida – e isso aconteceu durante muito tempo, porque cedo a selecção começou a desperdiçar pontos e só tarde, no segundo jogo do paly-off na Suécia, o assegurou – toda a gente dizia que seria impensável um campeonato do mundo, no Brasil, sem a selecção portuguesa. Pelo peso que o futebol português (já ou ainda?) tem, por ser no Brasil, o romântico país irmão mas, acima de tudo, por Cristiano Ronaldo…
Hoje, com a selecção portuguesa já afastada, com um desempenho pior que medíocre, pode concluir-se que não faz lá falta nenhuma. Não faz, como não fez… Não acrescentou nada ao campeonato do mundo e retirou muito a si própria. E não só...
Diz-se hoje que a selecção veio de menos para mais, que fez o pior no primeiro jogo, na goleada da Alemanha. Que melhorou no segundo, no empate com os Estados Unidos, e que esteve finalmente bem no terceiro, da vitória magra e amarga contra o Gana. Não me parece, nunca me pareceu que tivesse sido isso o que se passou. Isso aconteceu apenas nos resultados, que são soberanos mas não são tudo. O pior dos três jogos foi o segundo, contra a selecção de um país que despreza tanto o futebol - e tantas outras coisas - que nem o trata pelo nome. Porque o primeiro tem um sem número de atenuantes: má preparação do jogo, adversário do melhor que há, influência decisiva da arbitragem, expulsão, com inferioridade numérica durante mais de dois terços do jogo, lesões... O segundo, não. Não tem nada disso, antes pelo contrário. Contra um adversário fraco - agora a cumprir um alto serviço ao país, dando-lhe a saber que existe algures, não sabem bem onde, um país chamado Bélgica -, e com vantagem no marcador logo aos cinco minutos, sem surpresas quanto ao estado físico, e de forma, pelo menos dos jogadores que já tinham sido utilizados e sem qualquer razão para facilitar na preparação do jogo, que depois do empate entre a Alemanha e o Gana era decisivo, a selecção portuguesa foi simplesmente cilindrada. Os americanos, que haviam ganho ao Gana simplesmente porque às vezes há milagres no futebol, que simplesmente tinham mostrado saber defender - coisa que hoje em dia qualquer equipa que não seja africana sabe fazer - logo que se viram a perder mandaram-se para cima dos portugueses. E foi um não mais parar de oportunidades, uma autêntica humilhação que só parou quando viraram o resultado. Um golo no quinto e último minuto de compensação, com que ninguém contava, salvou o resultado. Apenas isso!
No terceiro, com o Gana, Paulo Bento recorreu finalmente a outros jogadores. Também isso contribuiu para que fosse o mais bem conseguido, ou, talvez melhor, o menos mau. Mas, francamente, decisivos mesmo foram os problemas internos na selecção africana. Tivessem repetido as exibições dos dois jogos anteriores e teria sido mais um suplício. Como de resto se percebeu na breve e intermitente, mas também imediata reacção que tiveram ao golo alemão, no outro jogo.
Há muito que se percebia que era grande a probabilidade de ser assim. Porque já não temos grandes jogadores, porque se deixou de lado a formação, porque a base de recrutamento é pequena. Porque, tantas coisas que tanta gente diz...
E que são verdade, mas não são a verdade toda. Nem talvez a verdade que, agora, no imediato, mais interessa.
Como já se percebeu, o jogo que, na minha opinião, mais marcou a eliminação foi o tal com os Estados Unidos. No texto que então aqui publiquei não me pareceu oportuno escrever tudo o que me ia na alma, e por isso ilustrei-o com um fotografia que hoje aqui repito. Ali estão Fernando Gomes, o líder da Federação, o seleccionador Paulo Bento e Cristiano Ronaldo, todos reunidos à volta do ícon. Parece-me simbólico. E sugestivo!
Porque a idolatria iconográfica à volta de Cristiano Ronaldo foi prejudicial. É estrategicamente inaceitável que domine, como dominou, a selecção nacional. E revela as fragilidades de liderança na Federação e na selecção. O mediatismo do craque português, a sua dimensão universal, e a sua condição de figura incontornável do showbiz internacional, não podem ser transferidos para o seio de uma equipa. Têm o seu espaço, mas é outro!
Mas o descalabro da selecção tem também a ver com o jogador fantástico que é Cristiano Ronaldo. E tudo começa por não perceber o papel da selecção nacional no seu sucesso desportivo. Talvez ainda seja um súper atleta, mas não é, nem nunca foi, um súper homem. E por isso não pode passar um ano de campeonato do mundo obcecado por recordes individuais. Tem que optar: ou abdica de um ou outro, ou abdica de aparecer em grande forma no maior palco do futebol mundial. Sabe-se qual é a escolha dos seus principais concorrentes!
Mas não se fica apenas por aí. Cristiano não foi apenas um jogador que chegou a este mundial em condições inaceitáveis para o seu estatuto. Falhou ainda, porque é o capitão de equipa, na liderança da equipa. Mostrou não ser o líder dentro do campo, não saber agarrar a equipa e impedi-la de se afundar. Mas também mostrou não o saber ser fora de campo, sendo o primeiro a atirar a toalha, a desvalorizar a equipa e os colegas. Mostrou-se acima de tudo e de todos, como nunca se lhe tinha visto. Falou quando não devia e calou-se deselegantemente quando devia falar. A cereja no topo deste bolo intragável surgiu quando, na qualidade de homem do jogo da despedida, apareceu na sala de imprensa para uma simples declaração, sem direito a perguntas mas, coisa estranha, com direito a exibir um boné de publicidade à sua própria marca.
Paulo Bento não fica mal na fotografia apenas pelas convocações, por contar sempre com os mesmos, independentemente do estado de forma e, até, dessa coisa nova que aprendemos nesta semana chamada índices de suspeição lesional. Não se percebe que, não havendo pontas de lança ou avançados-centro de qualidade minimamente aceitável, ele queime três lugares da convocatória com três specimens como os que levou. Nem se percebe a insistência até à exaustão em Veloso e Meireles. Mas, pior que tudo isso, foi deixar cair aquela imagem de impoluto. Deixa agora perceber que cede a interesses, sejam eles de jogadores, de directores ou de outros agentes que se movimentam no futebol profissional. Declarou-se responsável por tudo o que envolveu a preparação da selecção, mas não se vê como a estadia prolongada nos Estados Unidos não corresponda a cedência a interesses. Ou os treinos abertos no Brasil. Ou a súbita titularidade do Eduardo, retirada logo que arranjou novo contrato. Ou até a lesão de Rui Patrício, que mais não pareceu que uma encomenda de Alvalade, um pouco na linha das convocações, dos portistas Licá e Josué, no início da época, em contra-mão com o seu conservadorismo convocatório.
Por último a estrutura federativa, personalizada no presidente Fernando Gomes. Em vez de uma estrutura profissioanlizada, com competências específicas para as diferentes valências do negócio, a Federação dedicou-se ao compadrio. A distribuir lugares como se de tachos de trate, seja para pagar favores seja para obedecer a lobbies.
As caras da estrutura federativa são, para além do presidente, o vice Humberto Coelho e o director João Pinto. Sabe-se que o lobby dos jogadores de futebol reclama sempre protagonismo na organização do futebol português, mas a verdade é que raramente se lhe reconhecem atributos que lhes garantam especiais competências para o efeito. Lá está o João Pinto, sem que sequer se saiba o que lá anda a fazer. De quando em vez ouve-se, mas é para debitar lugares comuns que dizem nada, levando toda a gente a pensar que está lá porque tem uns problemas pessoais para resolver. Qualquer dia - se não chegou já - chega a vez do Vítor Baía...
Humberto Coelho foi um extraordinário jogador de futebol. Depois foi durante pouco tempo treinador de segunda linha e, de repente, chegou a seleccionador nacional. Teve a seu cargo o melhor conjunto de jogadores que Portugal já conheceu, e com eles, com pouco ou muito mérito, fez a melhor selecção nacional de sempre, que brilhou no euro-2000, na Holanda e na Bélgica. Depois, mais nada... E pelo discurso percebe-se mesmo que mais nada. Lugares comuns, nada mais... E quando sai daí é disparate, do grosso. Como se viu na conferência de imprensa desta semana, onde se percebeu que naquela estrutura não há liderança, nem estratégia, nem nada por onde alguma coisa dessas pudesse passar. Viu-se, sim, fazer o discurso da derrota, lavar os cestos - e alguma roupa suja - quando a vindima ainda prometia.
A FPF está (mal) habituada às receitas da presença consecutiva nas fases finais das grandes competições permitida pela aposta na formação dos primeiros vinte dos últimos trinta anos. A actual direcção - e também a anterior - está sentada em cima de um saco de dinheiro, e acha que isso basta. Por isso não precisa de quem pense no futebol, até porque se alguém começar a fazê-lo vai dar-lhe cabo da tranquilidade. E isso é muito desconfortável!
Aí estão os convocados para o Brasil. De fora – de fora dos trinta pré-convocados, naturalmente – ficaram o guarda-redes Anthony Lopes, os defesas Antunes e Rolando, André Gomes e João Mário, do meio campo e, da frente, Ivan Cavaleiro e Quaresma.
Entre os que vão, lá estão Hugo Almeida. Porque sim, e não por outra razão qualquer. E, claro, Hélder Postiga, porque Paulo Bento não passa sem ele. E Nani, vá lá saber-se porquê. E Vieirinha, por quem Paulo Bento é perdido de amores. E Rafa, porque não sendo Paulo Bento muito dado a surpresas, às vezes acha que surpreende…Cinco, são os cinco que há alguma dificuldade em explicar …Tanta como em explicar porque fora dos trinta já havia ficado Danny e Adrien!
Mas pronto, a partir de agora são estes os nossos:
Guarda-redes: Beto (Sevilha), Eduardo (Sp. Braga) e Rui Patrício (Sporting); Defesas: André Almeida (Benfica), Bruno Alves (Fenerbahçe), Fábio Coentrão (Real Madrid), João Pereira (Valência), Neto (Zenit), Pepe (Real Madrid), Ricardo Costa (Valência) Médios: João Moutinho (Mónaco), Miguel Veloso (D. Kiev), Raul Meireles (Fenerbahçe), Rúben Amorim (Benfica) e William Carvalho (Sporting); Avançados: Cristiano Ronaldo (Real Madrid), Éder (Sp. Braga), Hélder Postiga (Lazio), Hugo Almeida (Besiktas), Nani (Manchester United), Rafa (SC Braga), Varela (FC Porto) e Vieirinha (Wolfsburgo).
A partir do momento, há muitos anos atrás, em que os Gato Fedorento deixaram Paulo Bento em paz, a sua falta de jeito para a conversa passou a passar despercebida. Até nisso se vê a grandeza de Jorge Jesus: não lhe bastou fazer de Vítor Pereira um treinador campeão, até fez de Paulo Bento um bom comunicador…
Pode não ter jeito, mas também não tem muita sorte... Ao contrário do Bruno Alves, a quem sobra jeito sem que lhe falte a sorte: o jeito para a impunidade e a sorte para partir os adversários!
A turma de Paulo Bento lá regressou às vitórias, depois de cinco jogos sem lhe tomar o gosto. Foi no distante Azerbaijão, em Baku perante a sua bem fraquinha selecção nacional.
A exibição do seleccionado português foi também ela fraquinha, na linha daquilo que se tem vindo a ver. Não atingiu a displicência do último jogo em Israel, mas confirmou, perante uma equipa do mais baixo escalão europeu, que não tem categoria para estar entre os melhores. Como ainda ontem, frente ao Brasil, em Londres, a selecção russa deixara bem claro!
Sem Cristiano Ronaldo, castigado por ter visto o segundo amarelo na passada sexta-feira em Telaviv, e sem Nani, lesionado, que também já falhara o último jogo, Paulo Bento manteve o sistema e apostou na novidade Vieirinha e no regressado Danny para as alas. Com resultados distintos: Vieirinha, pela direita, foi sempre um ala activo e dinâmico, e foi mesmo o melhor jogador da equipa; o Danny não é um ala, e não rende nessa posição, como está mais que demonstrado – a bola fica-lhe sempre para trás, ele não corre com a bola é a bola que corre com ele – e foge sistematicamente para o meio, que é o seu habitat natural. Como, não se percebendo bem porquê, Fábio Coentrão durante grande parte do tempo não subiu, a equipa nacional, como se não bastassem todas as grandes limitações, ficou desasada, sem asa esquerda.
As substituições – Danny por Varela, esse sim, apesar de pouco menos que desastrado, um ala, e Raúl Meireles (mais um jogo nulo) por Hugo Almeida - efectuadas já depois da hora de jogo e quando o adversário jogava com menos um, deram à equipa ala esquerda que não tinha, com o Coentrão finalmente a subir e a criar desequilíbrios, e um jogador de área: o Hugo Almeida – é certo – mas sempre é melhor que nada. Nada, justamente o que é Postiga. Como Meireles e Veloso, que continuou em campo sem que ninguém - nem mesmo ele - soubesse muito bem para quê.
Claro que, ganhar, especialmente quando já ninguém se lembrava muito bem do que isso era, é bom. Foi por dois, com um mínimo de competência teria sido por quatro ou cinco, mas é uma vitória que não esconde nada. Está tudo bem à vista!
Conseguindo, primeiro segurar e depois melhorar o segundo lugar – este ainda é o pior de todos os segundos - é a vez de começar a olhar para o que se passa nessa segunda posição de cada grupo. E então encontramos motivos suficientes para nos assustarmos com outro défice: o de categoria na equipa de Paulo Bento!
Se um nos empurra para fora do euro este pode barrar-nos a entrada do mundial. Está difícil, isto de vistos para o Brasil...
A selecção nacional foi afastada da final do campeonato da Europa, no desempate por grandes penalidades. Que é sempre uma questão de sorte e de azar…
Na circunstância da suerte espanhola no decisivo remate de Fabregas, quando a bola, do poste, segue para dentro da baliza; e do azar português, quando a bola rematada por Bruno Alves, da barra segue para fora!
Antes, o Rui Patrício – finalmente com a oportunidade de se mostrar – defendera, com grande brilho, o penalti de Xabi Alonso, hoje um dos melhores dos espanhóis. Alegria de pouca dura porque, logo a seguir, Moutinho – o jogador português que menos merecia que isto lhe acontecesse – marcou muito mal o primeiro (percebe-se, pela história recente, que Paulo Bento não tenha optado por Cristiano Ronaldo para abrir a série) dos penaltis nacionais, e permitiu a defesa de Casillas. E tinha Sérgio Ramos marcado à Panenka, esse sim, mais ou menos à Panenka!
Desconfio que, a partir deste europeu, com o impacto que esta irresponsabilidade teve na viragem do curso dos penaltis, irão multiplicar-se os Panenkas…
E, antes de tudo isso, foram 90 minutos de um jogo que esteve longe de ser sequer aceitável. Com duas equipas dominadas pelo medo, às vezes mesmo de pânico. Foi tanto o medo que ambas traíram o seu modelo de jogo, no caso português seja lá isso o que for. Porque na realidade não se percebe bem!
Foi, por isso e não só, a Espanha quem mais infidelidades cometeu. Desde logo com a introdução de Negredo, um ponta de lança com que a equipa não sabe jogar. Mas também não conseguiu impor o seu tiki taka, nem atingir os tais níveis pornográficos de posse de bola (apenas 57%) nem sequer assumir o domínio no jogo. Da selecção nacional ficou a ideia que poderia ter jogado bem melhor, que teve condições para o fazer, e que só não o fez pelo medo que revelou, que não era perspectivável na conferência de imprensa de Paulo Bento na véspera do jogo. Só não diria que se descaracterizou tanto quanto a Espanha porque jogou de forma muito semelhante à dos piores períodos dos jogos anteriores. Aos vinte minutos iniciais do jogo com a República Checa ou a boa parte do jogo com a Dinamarca, com pouco critério no passe e muito chuto para a frente, sem condições de servir os nossos dois melhores jogadores, aqueles que têm condições para desequilibrar.
Portugal perdeu uma boa oportunidade de ganhar à Espanha e de voltar à final de um campeonato da Europa. Porque a Espanha teve muito medo da selecção nacional, porque a Espanha, por via disso e pelo cansaço que evidenciou, foi bem inferior ao que se espera e exige de um campeão do mundo e da Europa. A equipa nacional não aproveitou a oportunidade que Del Bosque e os jogadores espanhóis ofereceram e limitou-se a defender bem e a controlar o jogo. O que umas vezes basta e outras não!
Quando Del Bosque corrigiu - voltou ao seu sistema alérgico a pontas de lança, e tirou do banco as armas que Portugal tinha em campo mas não sabia utilizar (alas velozes e de grande categoria como são Pedro e Navas) - acabou-se. Manteve-se a defender bem – é certo – mas perdeu o controlo do jogo.
Quando se chegou ao prolongamento o jogo já era outro. A selecção espanhola, que sempre deixara a ideia de bem mais fatigada, foi então superior. O que não deixa de ser surpreendente, porque Paulo Bento deixara as substituições para mais tarde. Tarde de mais, mas também infelizes!
Não resultaram, ao contrário das que Del Bosque fez. Que, evidentemente, também tinha no banco opções que nada têm a ver com as de Paulo Bento.
Acabamos derrotados, com honra mas sem glória, pela armada invencível. Que foi apenas espanhola, não teve - como se receou – ajuda decisiva e visível de mais ninguém. O árbitro turco não esteve sempre perfeito – o maior erro terá sido um benefício ao infractor, quando, aos 30 minutos, marcou uma falta sobre Nani quando ele, resistindo, prosseguiu em direcção à baliza ou, dez minutos antes, quando não assinalou outra sobre o mesmo Nani, o melhor da frente na primeira parte, mas a desaparecer depois - mas também não interferiu em favor dos desejos do Sr Platini.
Nem o resultado nem a exibição de hoje retiram o que quer que seja ao que Portugal fez até aqui neste euro. A selecção nacional fez um grande europeu, muito acima do que seria legítimo esperar e muito acima dos seus limites. O que não quer dizer que sejam as melhores as perspectivas que se abrem, ao contrário do que afirmou Paulo Bento no final do jogo…
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