Depois de ter feito chegar o relatório final da auditoria da Ernst & Young à Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo vai hoje ser ouvido na Assembleia da República. E já fez saber que não se pode meter tudo no mesmo saco, nem que é má gente, toda a gente que passou pela Caixa.
É verdade. Nem tudo é má gente, mas tudo é gente dos partidos do arco do governo. Tudo é gente cujo atributo fundamental era o da cor política. Mesmo que, muitas vezes, numa espécie de Tratado de Tordesilhas, a cor contrária à do governo.
O actual presidente da Caixa é do PSD, como se sabe. Acredito - não sei é se acreditamos todos - que a escolha de Paulo Macedo pelo governo do PS não tem nada a ver com essa lógica de partilha partidária. Mas não deixa de ser irónico!
A Pátria tem um novo salvador: Paulo Macedo. Começou há uns anos com algumas reticências... Algumas hesitações e depois algumas exigências, mas depois vestiu-lhe a pele e não a larga mais...
Agora acreditamos mesmo que salva a Pátria. Dentro da Caixa!
Os ministros deste governo vão perdendo, uns atrás dos outros, o ar sério. E também o ar de sério!
Muitos há que há muito deixamos de levar a sério, embora devêssemos. O último é mesmo o ministro da saúde!
Acreditavamos tranquilamente que ele andava a fazero que tinha de ser feito. Sempre com a ameaça de perdermos o nosso Serviço Nacional de Saúde a pairar como uma espada sobre as nossas cabeças, acreditávamos que era ele o homem certo para fazer o que tinha de ser feito. Acrescia a boa imagem que trazia da anterior passagem pela administração fiscal e, não negligenciável nestas coisas, a de ter trocado o ordenado de administrador do BCP pelo de ministro.
Tudo razões para o levarmos a sério. E se não para um ar sério, pelo menos para o ar de sério!
Mas até a sua vez já chegou. A onda do disparate tomou de tal forma conta do governo que nem este ministro se salva.
Diz-se que mentiu nos números dos partos na Maternidade Alfredo da Costa, mas isso, todos mentem. Agora, quando as pessoas deixam de ir às urgências por falta de dinheiro, quando faltam os medicamentos para tratar doentes com cancro, quando as baixas médicas são cortadas, quando a fome atravessa o país, com crianças a chegar à escola sem saber o que é o pequeno-almoço dessa manhã ou o jantar da véspera, ele lembra-se de proibir os pais de fumar no carro onde levem as suas crianças. E de colocar “advertências mais explícitas nas embalagens que mostrem e exemplifiquem as consequências do tabagismo na saúde”.
Mas será que o ministro acha que os pais fumam dentro do carro onde levam os filhos? Se não fumam em lado nenhum, nem sequer em casa, fumam dentro do carro?
E será que está realmente convencido que o que tem de mais urgente e importante entre mãos são mesmo os avisos nas embalagens de tabaco? Não chegam os que existem? E onde é que arranja espaço para mais?
Passou-se… Andou a fumar coisas esquisitas! E sem mensagens de aviso na embalagem…
Aí está o novo governo! Um novo governo que também é um governo novo (de gente nova) e com algumas, ou mesmo muitas, surpresas. Escolhi quatro – e não sei se lhes chame surpresas se polémicas: estas quatro!
Começo pelas senhoras – primeiro as senhoras, que são apenas duas – e por Assunção Cristas. Não que seja exactamente uma surpresa, porque sabendo-se que faz parte do núcleo duro de Paulo Portas seria de esperar que o líder a requisitasse para o governo. Também o facto de ser claramente uma estrela em ascensão, com reconhecidos méritos patenteados particularmente no Parlamento, diluirá o factor surpresa. Mas surpresa mesmo é a pasta que lhe calhou em sorte: uma pasta de mixed feelings que leva a agricultura à cabeça (terá sido a fórmula encontrada para satisfazer a reivindicação de Paulo Portas) que acaba por congregar todos os sectores mais desprotegidos da nossa actividade económica.
Passando aos cavalheiros surge Paulo Macedo: um nome de que se vinha falando pelo que, também aqui, a surpresa/polémica vem agarrada à pasta. Ninguém se lembraria do quadro do BCP (agora administrador) que teve uma passagem marcante pela Direcção Geral dos Impostos para o Ministério da Saúde, mas são mesmos os resultados aí obtidos que acabam por justificar esta escolha de Passos Coelho. Está fora dos lóbis que se movimentam nesta área e tem um rótulo de reformador, e só isso já basta para esbater a eventual polémica.
Álvaro Santos Pereira é mesmo uma surpresa: uma surpresa no mega Ministério da Economia que poderá vir a ser polémica. É o segundo mais jovem, depois de Assunção Cristas, e um académico – muito prestigiado e, sem dúvida, um dos grandes talentos do país - fora, como tantos outros (vem de Vancouver, no Canadá) que tem dado a cara por opções económicas altamente polémicas. Por ele, por exemplo, a tal major reduction da Taxa Social Única que tanta polémica levantou na campanha eleitoral e que a tudo se prestou, é mesmo substancial: 10 ou 15 pontos! Há mais, muitas mais opções polémicas: basta esperar para ver!
Por último, Vítor Gaspar, talvez o menos conhecido de todos para o grande público, mas também de méritos indiscutíveis. Chega com dois handicaps que, curiosamente, abordei aqui em dois dos últimos textos sobre a constituição do governo: o primeiro terá a ver com o facto de não ter sido primeira escolha (Vítor Bento, o nome que aqui se adiantara, não aceitou), e o segundo com a falta de peso político, o tal factor que também aqui apresentei como determinante. Nada que, a meu ver, seja agora relevante. Para além de inquestionável competência Vítor Gaspar goza de grande prestígio pessoal e profissional em Bruxelas: na Comissão Europeia e no Banco Central Europeu. E conhece como poucos aqueles corredores. Nas actuais circunstâncias do país e da governação esta é uma mais valia que ultrapassa, em muito, o handicap da sua leveza política.
Para além das suas características individuais, e do brilhantismo de cada um, estas são também caras que acentuam o lado liberal deste governo. Para o bem e para o mal, goste-se ou não!
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