A situação era insustentável: uma equipa destroçada, à deriva de desaire em desaire, que em nada acredita. E em quem ninguém acredita!
O treinador – Paulo Sérgio – mais que um erro de casting, era o descrédito vestido de fato de treino. Há muito no mais instável dos equilíbrios à beira do ridículo sofreria um empurrão de um adjunto com tanto de anónimo quanto de deprimente. O resto foi feito por uns escoceses de terceira linha…
“A direcção da SAD que se chegue à frente”, dizia já em plena queda ao mais profundo dos infernos, mas ainda em jeito de ultimato.
E tiveram de se chegar à frente, não lhes restava outra alternativa!
Só que, gente extraordinária como é, ainda lhes restava uma via aberta para a asneira: o director geral, contratado há dois meses para revolucionar todo o edifício do futebol, passa a treinador!
No futebol também há Natal. Já o inverso não é verdadeiro: No Natal (não) há futebol!
Em Portugal, ao contrário de Inglaterra, onde o dia de Natal – o chamado boxing day – assume a expressão máxima do futebol como espectáculo de família, o futebol mete mesmo férias. Logo que começa a cheirar a filhós ou a bolo-rei é vê-los a partir… Para o Brasil, para a Argentina, já é para todos os destinos da América do Sul. Nos aeroportos a azáfama é grande! Maior só mesmo no regresso, quando aos regressados se juntam mais uns quantos que, pela chamada janela de Inverno, vêm alimentar sonhos de uns e matar os de outros!
As férias tornam-se sempre num marco. Sejam elas quais forem há sempre um antes e um depois de férias. É assim na actividade escolar, é assim na actividade económica e, claro, é assim no futebol. Por isso o Natal é mesmo um marco mais importante do que o final da primeira volta, que acontece umas semanas depois. De resto, e estando cumprida a 14ª jornada da I Liga, portanto a uma desse marco que assinala exactamente o meio da prova, não se compreende muito bem que não tenha sido feito um esforço para acertar os dois calendários. Se não se faz esse esforço é mesmo para não retira ao Natal o papel principal. São os treinadores que não chegam ao Natal… São os campeões encontrados no Natal… E ninguém fala no treinador que não chega ao fim da primeira volta. Nem do campeão da primeira volta!
Este ano os treinadores resistiram bem ao Natal. Mas tudo tem uma explicação.
No Sporting, apesar da crise crónica, o Paulo Sérgio lá se foi aguentando. Dificilmente poderia ser de outra forma: já tinham pago ao Guimarães para o trazer; voltar a pagar para o mandar passar o Natal a casa era despesa a mais. Mas não foi por isso que deixaram de assinalar esta quadra: se no ano passado fora assinalada com a chegada de um novo treinador (o hoje comentador televisivo Carlos Carvalhal) este ano, na impossibilidade de repetir a cena, chega um director geral. É tudo em grande. Não fazem a coisa por menos: um director geral – José Peyroteu Couceiro – para cima de um director desportivo!
Não há Natal sem Jesus. E sem Jesus não há salvação, quem o diz é Pinto da Costa. Por isso no Benfica o treinador teria sempre de chegar ao Natal, por muito que as coisas estivessem complicadas. Como estiveram… Quem não chegou ao Natal foi a águia, a Vitória. Que é bem pior que perder um treinador, mesmo que se chame Jesus. Treinador é fácil de substituir, há logo mais de 100 a apertar o nó da gravata e a esticar o pescoço. É rei morto rei posto! Águias é que não há por aí à mão…E aqui que ninguém nos ouve, com a qualidade do futebol apresentado este ano, a melhor parte do espectáculo era mesmo, em grande parte das vezes, o voo da Vitória. Raramente televisionado, o que constituía fortíssimo atractivo à presença na Luz!
O treinador do Porto é normalmente menos vulnerável ao Natal. Quando o é é-o logo em dose dupla. Ou tripla! Para o Porto Natal joga mais com campeão. É mais dado a isso de campeão no Natal!
No FCP é assim: ou é ou não é, não há cá meias tintas. As coisas são tão bem feitas que produzem resultados imediatos. Nem sequer a curto prazo, é logo: tiro e queda! Veja-se bem: esta época à 4ª jornada já estava tudo arrumado. Nove pontos de avanço permitiram-lhe gerir as outras dez jornadas nas calmas – um penalti aqui outro acolá – e chegar ao Natal com oito. Bem dizia o Pinto da Costa que no ano passado se distraíram…
Quando em futebolês se fala em losango não se está a falar daquele polígono quadrilátero a que também chamamos rombo. Fala-se, como nunca se tinha falado, de sistema táctico. Da disposição táctica dos jogadores em campo ou, na linguagem futebolesa mais elaborada de Luís de Freitas Lobo, da construção da casa táctica da equipa ou do habitat táctico-posicional dos jogadores.
Quando digo que se fala do losango como nunca se tinha falado de outro sistema táctico faço-o com toda a propriedade: creio que nunca outro sistema foi tão badalado, mas também nunca outro sistema fora apresentado desta forma, com recurso a este tipo de imagem e terminologia.
Uma rápida espreitadela pela História das tácticas do futebol mostra-nos isso mesmo (não, não é o famoso “o futebol é isso mesmo”, máxima do politicamente correcto em futebolês que serve de resposta a tudo o que se não sabe responder).
Creio que não estarei errado se disser que tudo começou com o WM – pelo menos não tenho conhecimento de referências a sistemas tácticos anteriores – que tem a particularidade de, como o losango, recorrer a uma imagem para traduzir o desenho arquitectónico da casa táctica: 2 defesas, então chamados, à inglesa, de backs, identificados nas duas bases inferiores do W, 3 médios, identificados nas três pontas superiores do mesmo W, e cinco avançados, sendo dois extremos (pontas superiores do M) com os restantes três (base inferior do M) no meio – dois interiores (o esquerdo e o direito) e o avançado centro.
Era o futebol dos anos 40 do século passado, todo mandado para frente: apenas dois defesas e cinco avançados. São os anos gloriosos do Sporting dos cinco violinos – os cinco avançados que ficaram na história do Sporting e do futebol nacional.
Depois passou-se à imagem numérica para identificar o sistema. Utilizando esta forma de representação o WM teria sido o 2x3x5. É quando surge, já nos anos 50 e durante boa parte da década de 60, o 4x2x4: reforço da defesa, agora a quatro, pouca importância do meio campo, com apenas dois jogadores, e quatro avançados, mantendo os mesmos dois extremos bem agarrados à linha, perdendo-se os dois interiores e passando a dois avançados centro. São os tempos gloriosos do Benfica de sessenta, donde emerge um famoso quarteto (José Augusto, Torres, Eusébio e Simões), que domina em Portugal e na Europa, com cinco presenças na final da Taça dos Campeões Europeus. E da mais brilhante de todas as selecções nacionais: a de 66!
A partir daqui assiste-se ao reforço dos cuidados defensivos e a um crescimento demográfico no meio do campo. No 4x3x3 que surge nos finais da década de 60 (excelentemente interpretado pela selecção do Brasil no Mundial do México de 1970) e vem até à actualidade - evidentemente que com múltiplas nuances de alas e trincos. Ou nos actuais 4x4x2, 4x2x3x1 e … losango!
O problema é que o losango é uma simplificação. Transmite-nos uma imagem geométrica, em vez de um alinhamento de algarismos em forma de factores de multiplicação, mas não representa mais que uma variante do 4x4x2. Pois é, a imagem do rombo aplica-se apenas ao desenho do quarteto do meio campo: um médio defensivo atrás, o 6, dois no meio (sem alas) e um 10 à frente! Daí que a verdadeira designação do sistema seja o 4x4x2 em losango, que se traduziria em (veja-se a confusão) 4x1x2x1x2.O talque no Sporting de Paulo Bento, tal a dependência, mais parecia cocaína. Dizia-se que o Sporting era losangodependente!
Daí que a Academia de Alcochete agora mais pareça uma clínica de desintoxicação, para cortar definitivamente com aquela dependência. O Paulo Sérgio, coitado, passa as noites a sonhar com o maldito losango e a tentar inventar novos sistemas. Numa destas até inventou um que metia um pinheiro… Como cidadão responsável andava, como todos nós, preocupado os incêndios que destroem a maior mancha de pinheiros da Europa. Mas, como profissional responsável, não dormia às voltas com os muitos sistemas tácticos que pretende implementar na equipa em simultâneo, para matar de vez o losango e surpreender finalmente os adversários. Epronto, lá veio um com pinheiro…
O Costinha bem lhe explica que não pode ser, que os pinheiros arderam todos e que os poucos que resistiram estão pela hora da morte. Mas nem assim ele tira o pinheiro da cabeça! E já avisou que no Natal não quer ser enganado. Quer mesmo um pinheiro, não é dessas árvores de natal de plástico que os ecologistas agora nos querem impingir!
PS A selecção inicia hoje os jogos de apuramento para o euro 2012. O que é que a gente pode dizer? Parafrasear o Queiroz? Não, é muita ordinarice…
É mais um anglicismo! Daqueles que pouco dão nas vistas mas que não deixam de o ser. Não se trata, como toda a gente sabe, de um complemento de identificação. Até porque esse é universalmente apresentado pela abreviatura mr, comum ao mister e ao monsieur, para cobrir toda a cultura europeia dominante dos séculos XIX e XX.
O mister é o treinador, admito que por força da ascendência inglesa no futebol. Com a influência do Brasil o treinador também já é professor.
Em Portugal, com o peso dos jogadores brasileiros – maioritários nas duas ligas profissionais – o treinador já é professor para mais jogadores do que mister.
É também a variante dos títulos a chegar ao futebol português. Se em toda a Europa um advogado ou um economista (ou um engenheiro ou um arquitecto) é Mr (mister ou monsieur) e em Portugal é doutor (ou engenheiro ou arquitecto) porque é que um treinador há-de ser mister?
Enquanto os treinadores foram feitos a partir do futebol, especialmente antigos jogadores, ou mesmo antigos jogadores frustrados, mister ia bem com a coisa. Que muda quando os treinadores começam a sair das academias: primeiro do ISEF, depois Faculdade de Motricidade Humana e posteriormente das inúmeras escolas de desporto espalhadas pelos Institutos Politécnicos. Aí surgem os professores. Mas também a guerra entre velhos e novos, entre misteres e professores!
No primeiro plano do futebol nacional os misteres ganham aos professores. Se bem que em problemas estejam todos muito equilibrados.
No Benfica, Jesus é claramente um mister. Não um gentleman, mas um mister à antiga. Um clássico! E em dificuldades!
As coisas este ano parecem não estar a correr bem. Muito por culpa própria… E não vale a pena falar de arbitragens, e de penaltis por assinalar porque, quando as coisas correm como devem correr, como foi o caso na última época, não é preciso fazer essas contas. Na época passada também ficaram penaltis por assinalar, e não era por isso que o Benfica deixava de ganhar. E de golear!
No Braga, Domingos Paciência é também um mister. Que continua a dar cartas – acaba de deixar o poderoso Sevilha com o credo na boca – e a afirmar-se como um grande treinador, por muito que em certas circunstâncias se distraia. Pode ser que, agora que lá pelo Dragão anda um tipo novo e com alguns anos pela frente, passe a andar menos distraído. Só lhe fará bem!
O jovem que está à frente do Porto não é professor, excepto para os muitos brasileiros que lá estão, porque não teve tempo de ir à escola. Parece que aos quinze anos já andaria a aprender estatística mas por conta própria. Como autodidacta! Mas também não é um mister. Se calhar é simplesmente o André!
Para o caso pouco importa. É um treinador à Porto e o resto não interessa nada! É do Porto desde pequenino, fala e provoca à Pinto da Costa, tem estrelinha e todos os méritos normalmente atribuídos aos treinadores do Dragão, em particular as simpatias das arbitragens. Quando os jogos estão complicados arranja-se sempre um penalti para os desbloquear. Daqueles que, depois, se diz que levantam polémica. Mas pouca, passa logo! E não é só por cá, ainda ontem na Bélgica foi assim! E, claro, quando há daqueles que toda a gente vê dentro da sua área, o árbitro, sempre simpático, é o único que não vê.
Com um treinador destes pouco importa se é mister ou professor!
Novo e mister – o que parecia começar a ser uma raridade – é também Paulo Sérgio, treinador do Sporting. Também ele a braços com sérios problemas – agravados com a derrota de ontem, que afasta a equipa da Europa mesmo antes de lá entrar – entre eles alguns no aparelho auditivo. Aqueles assobios vão deixar mossas. Ai vão…vão!
Mas também no aparelho respiratório, tão entalado está entre o Costinha e o Maniche!
Professor, sem sombra de dúvidas, é Carlos Queiroz, o ainda seleccionador nacional. Ou melhor, o suspenso seleccionador nacional. Uma suspensão de um mês ontem confirmada pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), depois de anunciada na véspera, ainda antes da reunião do Conselho de Disciplina da FPF que tomou a decisão! Uma suspensão por causa de uns palavrões impróprios para um professor. E que vão muito para além do vernáculo que Pinto da Costa (olha quem!) declara socialmente aceitável.
Como é a própria FPF a impedir o seleccionador de dirigir a selecção nos dois primeiros jogos de apuramento para o próximo campeonato da Europa – o que é inédito e verdadeiramente surrealista – pode concluir-se que entende que Queiroz não faz falta nenhuma.
Há muito boa gente a pensar o mesmo! Mas então por que o contratou? E por que o contratou por tanto dinheiro? E por tanto tempo?
E, com mais um processo disciplinar – agora pela cabeça do polvo – que condições restam ao professor para continuar mister da selecção nacional?
E à direcção da FPF, onde segundo o professor, está mesmo a cabeça do polvo?
Aproveitem todos para ir embora. Depressa!
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