Um tipo não paga impostos. Ou contribuições, para o efeito é a mesma coisa. Porque se esqueceu, porque não quis, porque não tinha dinheiro para os pagar, porque não sabia que tinha de os pagar… Whatever!
Estranho é que isto deixe de ser tão estranho quando se põem os pedros - perdão, os nomes - na estória. Quando o tipo que não cumpriu é primeiro-ministro, e se chama Pedro Passos Coelho, e o ministro que inverte as responsabilidades se chama Pedro Mota Soares!
O país vive um embuste sem paralelo na sua História. A mentira e a falta de vergonha instalaram-se há muito em Portugal e não tencionam deixar-nos.
É um presidente que está calado quando deve falar e que, quando fala, diz despudoradamente tudo e o seu contrário. É um primeiro-ministro que sabe que não há como fugir de novo resgate mas que o usa como ameaça a torto e a direito. Fosse na campanha eleitoral autárquica, como forma de chantagear e amedrontar o eleitorado, seja logo depois para pressionar o Tribunal Constitucional e todo o país. É um vice primeiro-ministro sem ponta de vergonha e de sentido de responsabilidade, de quem se espera o célebre Relatório sobre a reforma do Estado desde Fevereiro. Que traça linhas vermelhas que apaga tão rapidamente quanto torna reversível o que era irreversível. Tão rapidamente quanto é desmentido tudo o que anuncia, tão rapidamente quanto se tornam pesadelos as boas notícias que faz questão de dar.
É o desplante com que se criam e introduzem factos novos como se de realidades dogmáticas se tratasse. Como se fossem coisas há muito absorvidas e consensualizadas na sociedade portuguesa, quando não passam ou de verdades criminosamente escondidas ou de mentiras não menos criminosamente arquitectadas.
Neste fim-de-semana, antes de anunciados os negados novos cortes em pensões, o país ficou a saber que estará sujeito ao controlo e à supervisão dos credores enquanto não forem pagos 2/3 da dívida. Mas isto foi dito en passant, uma, duas, três vezes, como qualquer coisa que estaríamos fartos de saber. Pior: como qualquer coisa normal, como se pagar 2/3 da dívida seja uma coisa que esteja nas nossas mãos ali ao virar da esquina, qualquer coisa objectivável para os próximos cinco ou dez anos.
Para justificar a tributação das pensões de sobrevivência, ouvimos o ministro Pedro Mota Soares, com o maior dos desplantes, perguntar aos jornalistas que o rodeavam se achavam normal que quem tem uma pensão de 5 mil euros acumule com outra idêntica do falecido cônjuge…
É preciso ter lata. Lata para o embuste e a aldrabice, mas mais: lata para não terem vergonha de brincar connosco desta maneira.
É a velha estafada estratégia de mandar o barro à parede, particularmente cara a este governo e onde todos querem fazer o seu número. Mas, francamente: ainda não perceberam que são apenas mais tiros nos pés?
Seria assim tão difícil encontrar outra medida que produzisse o mesmo efeito de euros no corte de despesa? Têm a noção que se está a falar de 6,3 milhões de euros? Será que sabem que nós sabemos que continuam a entrar pelo governo dentro boys à tripa forra?
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