Foi preciso que a CEO da TAP fosse ao Parlamento para o ex-ministro Pedro Nuno Santos "reconstruir a fita do tempo" e lembrar-se que, afinal, teve conhecimento da indemnização à tal senhora. A tal que, depois de receber os 500 mil euros, ele nomeou para o topo da gestão da NAV.
Não tivesse a senhora Christine Ourmiéres-Widener ido à Assembleia da República dizer que o accionista tinha sido informado, e que tinha autorizado a indemnização, e Pedro Nuno Santos ainda continuaria sem dela ter tido conhecimento, e até a achar inaceitável, e de bradar aos céus, que uma empresa que vive com com dinheiro do contribuinte, e com o que cortou nos salários dos trabalhadores, possa dar 500 mil euros a alguém.
Se é sobre esta coluna vertebral que se ergue a esperança do PS, venha ela do lado direito ou do esquerdo, estamos entendidos...
Nas emissões desportivas da rádio era - creio que ainda é - comum a chamada ronda pelos estádios onde estavam a decorrer os jogos de futebol, com o pivot ao comando da emissão a lançar aos repórteres no terreno a sacramental pergunta: "tempo e resultado"?
Nesta altura a resposta seria: Medina 10 - Pedro Nuno 0. Estamos no intervalo!
Em tempo de intervalo, havia - creio que ainda haja - um breve comentário à primeira parte e ao resultado. E de perspectivas para a segunda parte.
Nesta altura, no comentário, poder-se-ia ouvir que a primeira correu nas bases lançadas pela teoria da conspiração e que o resultado corresponde ao que se passou em campo. Mas com um alerta para o jogo estar apenas no intervalo. E que se espera um jogo completamente diferente para a segunda parte.
Pedro Nuno Santos tem no banco jogadores que podem alterar ainda o resultado final, que já estão em exercícios de aquecimento. Estamos a ouvi-los dizer que Medina fez batota com aquela escolha da Secretária de Estado, que aquilo não foi jogo limpo, que o jogo ainda não acabou e que, agora, há que ir para cima dele.
É isso. O jogo ainda não acabou, mas já não tem como acabar bem.
Outra coisa são as "trapalhadas". E já são "trapalhadas" a mais!
Mas há "trapalhadas" e "trapalhadas". As de Santana Lopes, e as de António Costa, em comum só têm a trapalhada.
Há já por aí muita gente a reclamar de Marcelo a receita de Sampaio para as "trapalhadas". Só que isso é mais uma trapalhada. Não é que Marcelo não gostasse de a usar. Bem gostaria. Corressem outros ventos ali para a São Caetano à Lapa e outro galo cantaria. Mas não pode. Não pode porque a oposição que existe, e a que verdadeiramente sairia a ganhar, lançaria o país na ingovernabilidade que abriria a caixa de pandora.
Marcelo pode até ser umas vezes imprudente, e outras até leviano, mas não é irresponsável. E, de António Costa, não serei eu o primeiro a dizer que nasceu com o dito cujo virado para a lua. De tal forma que, por mais asneiras que faça, qualquer ameaça se transforma logo em oportunidade.
Já sobre Fernando Medina o melhor é esperar pelos próximos capítulos. Ou pela segunda parte, que aí vem ...
E se Fernando Medina, conhecedor de toda a história da senhora Alexandra Reis através da sua própria mulher - directora jurídica da TAP até Março, donde saiu no mês que seguiu ao da senhora de lá ter saído com meio milhão de euros no bolso, por quem todo o processo naturalmente teria de passar -, a tivesse nomeado apenas para que viesse a ser conhecido um caso que, de outra forma, nunca chegaria ao conhecimento público?
E se Fernando Medina tivesse escolhido Alexandra Reis para sua Secretária de Estado para liquidar de vez Pedro Nuno Santos?
Não. Isto não cabe no domínio das teorias da conspiração. É apenas ficção mal amanhada de quem já viu um porco a andar de bicicleta na política portuguesa...
Confesso que não me senti confortável em não encontrar outra, que não a lógica da batata, na trapalhada de ontem deste governo trapalhão. Sim, a trapalhada também tem que ter a sua lógica.
António Costa começou por dizer que “obviamente foi cometido um erro grave”, que “felizmente já foi corrigido” e "sigamos em frente".
Pedro Nuno Santos "lamentou o erro de comunicação", uma "falha na articulação e comunicação com o senhor primeiro-ministro".
Quer isto dizer que o "erro grave" não está na decisão comunicada, mas simplesmente no "erro de comunicação". Evidentemente que ninguém acredita que a decisão anunciada e subscrita por Pedro Nuno Santos - mal ou bem, o único ministro que parece capaz tomar de decisões - não estivesse validada por António Costa, e consensualizada no governo. Estava, mas não era para se saber. Faltava embalá-la com um embrulho do consenso - “não é um assunto de interesse do Governo”, mas sim de “interesse nacional" - e acrescentar-lhe o “diálogo com a oposição, especial com o principal partido da oposição".
Com o primeiro-ministro atarefado nas suas lides externas, e o ministro cá dentro a querer despachar serviço, o embrulho do consenso só servia para atrasar. Para que serve a maioria absoluta? - interrogou-se certamente Pedro Nuno Santos, esquecendo-se que a folha do “diálogo com o principal partido da oposição" era indispensável na embalagem do embrulho.
Portanto, Pedro Nuno Santos, com as suas legítimas aspirações, não se demitiria para de algum modo salvar a face de António Costa. E este não poderia correr o risco de deixar o outro à solta, e livre de dizer que apenas assumiu uma decisão tomada pelo governo, da evidente responsabilidade do primeiro-ministro. Também responsável por se ter esquecido de a deixar embrulhada e pronta.
Não ajuda muito, mas sempre dá para encontrar alguma lógica nisto.
Agora, com Montenegro em funções a partir do fim-de-semana, e provavelmente a não querer deixar-se "embrulhar", pode ser que alguém se lembre que há um aeroporto em Beja que possa servir para alguma coisa.
Os erros, mesmo que "obviamente graves" corrigem-se. Não se passa nada, e siga a dança... mesmo que com passes trocados, e pares desacertados.
Mais uma trapalhada. E já houve um governo com apoio parlamentar maioritário que caiu de trapalhada. Não é, desta vez, o caso deste. Não quer dizer que não seja na próxima. A batata da lógica fica quente, e a escaldar as mãos de António Costa. Mais ninguém lhe pega.
No novo aeroporto, em vez de levantarem e aterrarem aviões, há décadas que levantam e aterram trapalhadas. O tráfego é tão intenso que corre o risco de ficar saturado ainda antes de começar a ser construído.
A última era de ontem, antes de hoje, logo pela manhã, chegar mais uma, fresquinha.
Ontem foi publicado um despacho assinado pelo secretário de Estado das Infra-estruturas, Hugo Santos Mendes, do ministério de Pedro Nuno Santos, a determinar o aprontamento do Montijo para 2026, complementado pela construção do de Alcochete, a concluir em 2035, e ainda de mais obras na Portela, que encerraria com a abertura de Alcochete. À noite, o ministro passou pelas televisões a assumir a solução como decisão final. Finalmente!
As críticas não pararam de chover, de todos os lados. Ninguém tinha sido ouvido, e havia leis para alterar. Desde logo a que obrigava a parecer positivo dos municípios envolvidos, que há muito não estavam pelos ajustes. Era a maioria absoluta a funcionar em todo o seu esplendor, apenas uma semana depois do primeiro-ministro ter garantido no parlamento que aguardava a decisão do presidente eleito do PSD, Luís Montenegro, sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa para que houvesse “consenso nacional suficiente” tendo em vista uma decisão “final e irreversível” sobre esta matéria.
Não "batia a bota com a perdigota", mas isso já começa a não surpreender. Surpresa, que também já não surpreende, foi a reviravolta desta manhã, no comunicado publicado pelo gabinete de António Costa: “O primeiro-ministro determinou ao Ministério das Infra-estruturas e da Habitação a revogação do despacho ontem [quarta-feira] publicado sobre o novo aeroporto da região de Lisboa”... e “reafirma que a solução tem de ser negociada e consensualizada com a oposição, em particular com o principal partido da oposição e, em circunstância alguma, sem a devida informação prévia ao Presidente da República”. O remate final do comunicado, para quem pudesse ter ficado com dúvidas sobre mais um episódio da guerra aberta entre Costa e Pedro Nuno Santos, é esclarecedor: “Compete ao primeiro-ministro garantir a unidade, credibilidade e colegialidade da acção governativa..."
Agora é só esperar pela lógica demissão do ministro das Infra-estruturas. Ou, na falta dessa lógica, pela lógica exoneração de Pedro Nuno Santos pelo primeiro-ministro. Ou ainda que a lógica seja uma batata, que começa a ser a maior lógica deste governo que, tendo tudo para governar com alguma lógica de rumo, prefere prosseguir a navegação à vista, mesmo que no meio das nuvens.
Temos assistido, nos últimos dias, a uma série de escaramuças no seio do governo e do partido a que pertence. Nada que fosse grave se não tivessem por objecto dois dos maiores problemas que neste momento afectam o país. Se em causa, como vêm agora dizer vozes do governo e do partido que o sustenta, estivessem meras questões de livre opinião, próprias – e até saudáveis, acrescentaria eu – da democracia, não viria mal ao mundo. Neste caso ao país.
Só que não é assim. Os desentendimentos e os “mosquitos por cordas” surgem a propósito do avanço de focos da pandemia em Lisboa, e da (falta de) resposta dos serviços de saúde. E da TAP, ou do impasse a que chegou, afogando a sua agonia latente no sufoco geral do sector da aviação comercial.
Parece brincadeira. Mas de franco mau gosto: se há alturas e temas que não dão para brincar, são justamente estes.
Curiosamente – ou talvez não, no quadro do jogo político a que estamos habituados – no epicentro destes dois focos de tensão estão, nem mais nem menos, que os dois delfins de António Costa – Fernando Medina e Pedro Nuno Santos. E uma particular guerra pela sucessão, com cada um mais interessado em ganhar pontos para reforçar a sua clientela que noutra coisa qualquer. Pode até não ser assim, mas é assim que parece. E em política, como se sabe, o que parece, é!
É grave o que está em causa, seja pelas consequências do eventual descontrolo nos circuitos de contaminação em Lisboa, seja pelo que venha a acontecer na TAP (a decisão ontem anunciada não é solução nenhuma e apenas adia e engorda o problema), que certamente acabará em mais um pesadelo para os contribuintes. Mais grave é a leviandade com que se faz e se vai continuar a fazer política em Portugal. Que, sendo tão só tratar da coisa comum, por cá insiste-se em alimentar a perigosa ideia feita que fazer política é, e vai continuar a ser, cada um a tratar da sua coisa. Sempre muito pouco mais que a sua própria vidinha!
Os jornais de hoje saíram para as bancas traídos pela realidade. Todos optaram por encher a primeira página - dividida com o grave acidente na Madeira - com a greve dos motoristas de transportes de matérias perigosas ... Que já acabou.
Olhar para as capas dos jornais com os piores cenários de qualquer coisa que já não existe soa a estranho. E não prestigia nada a imprensa, que deixa a ideia de dar tudo por uma má notícia. Por uma certa ânsia do quanto pior, melhor.
Não fosse isso e talvez tivessem levado em conta que quando o governo saca Pedro Nuno Santos da manga para negociar não há nada que não se resolva. E depressa!
Acompanhe-nos
Pesquisar
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.