Santana Lopes recua 24 anos para repetir Figueira 1997. Ensaia a pose, ensaia os passos, mas não resulta... O glamour já não é o mesmo. E sem glamour, Santana também não.
Falta-lhe glamour. Falta-lhe um partido. Falta-lhe a Cinha... Falta-lhe também se calhar também um bocadinho de sentido de orientação. Mas só se for mesmo um bocadinho...
Santana Lopes tem-se na conta de pop star da direita portuguesa a quem os deuses da fama nunca regateiam os holofotes e os grandes planos. A vaidade que o leva a esse auto-convencimento faz lembrar a fábula da rã, com uma pequena e decisiva diferença: é que rodeia-se de gente que, ao contrário das rãs, lhe responde sempre que sim... Por isso ainda não rebentou. E, mesmo que sempre aos trambolhões, lá se vai aguentando por aí... É esta a sua história.
Desta vez, insuflado pela cobertura mediática do primeiro congresso do partido que criou só para si, vem propor uma coligação com o partido que acabou de abandonar... Num mundo com a decência moral do de La Fontaine, desta vez rebentaria mesmo!
Ainda vamos ter tempo, da próxima vez que se voltar a candidatar à liderança do seu PPD/PSD, de ouvir o Pedro repetir que nunca quis sair. E muito menos criar um partido novo para dar cabo daquele que sempre foi o seu. Tão seu ...
... O "Público" "diz" hoje que o ministro Vieira da Silva guardou na gaveta o relatório da auditoria à Santa Casa da Mersericórdia de Lisboa, particularmente negativo para a gestão de Santana Lopes.
Segundo o jornal, o relatório apresentava uma longa lista de irregularidades e denunciava pressões e condicionamento do trabalho dos auditores. De tal forma que o ministro achou que não seria muito conveniente homologá-lo - note-se bem, homologá-lo não é divugá-lo - antes das eleições internas do PSD.
Bloco central é isto, não é outra coisa. A outra coisa? Só por cima do cadáver de todos os Santana Lopes!
E o regime é isto, para que fique bem entendido...
De repente - já lá vão uns meses, é certo, mas foi de repente, logo que se começaram a perfilar para disputar a sucessão -, Santana Lopes e Rui Rio passaram de ferozes críticos a fervorosos apoiantes de Passos Coelho.
Quem os ouve agora nem percebe por que se estão a candidatar para o substituir. Se, como dizem, Passos Coelho fez tudo tão bem, por que é que não continua?
No entanto, como ainda ontem, no debate na TVI, fizeram ambos gala de nos voltar a lembrar, com citações e recortes de jornais, que qualquer deles andou a desancar em Passos Coelho durante todo o consulado da sua liderança. Não lhe pouparam nenhuma!
É curioso que Santana Lopes - que, como se sabe, é tipo de grande à vontade e de pequena vergonha, coisa a que vulgarmente chamamos lata -, quando o seu adversário concluiu (das poucas vezes em que o deixou concluir o que quer que fosse) um rolde recortes de jornais com provas das acusações que fizera ao ainda líder do partido, lhe tenha perguntado quando é que isso ocorrera. E que tenha ficado sem resposta, metendo a viola no saco, quando Rui Rio, voltando aos recortes, enunciou 2009, 2010, 2011, 2013, 2015...
Não sabemos, se calhar nunca saberemos se, quando durante todos estes anos criticaram tão asperamente Passos Coelho, como agora fazem questão de lembrar um ao outro, qualquer deles, ou ambos, estavam em frontal oposição às suas opções políticas ou simplesmente a colocar-se no sítio que consideravam certo para lhe disputar o lugar. O que sabemos é que as coisas lhes saíram furadas. Passos auto-destruiu-se, mas o seu poder no partido, que tanto trabalho lhe dera a construir, manteve-se intacto. É ele que continua a dominar o aparelho de um partido que cada vez mais se parece com os clubes de futebol, até nas lógicas de poder.
É por isso que Santana Lopes e Rui Rio, nas tintas para a honestidade intelectual, estão hoje tão de acordo na exaltação de Passos Coelho. E é também por isso que, ganhe qual deles ganhar, será sempre um líder de curto prazo. Que fará as malas lá para finais de Outubro do próximo ano.
Já não nos bastava que as televisões pagassem a uma catrefada de tipos para tratarem da vidinha. Uns a destilar veneno da bola, outros a lamber as feridas, outros a limparem as nódoas, ou outros a fazerem-se a Belém. Faltava ainda pagar a alguém para apresentar a sua própria candidatura à liderança do partido, com uma hora para arranque de campanha. Com partnaire e tudo!
Já não falta. Estas televisões dão para tudo. E não querem que lhes falte nada!
A candidatura de Santana Lopes à liderança do PSD é a maior demonstração da lástima em que Passos Coelho deixou o partido.
Santana Lopes não tem, como os gatos, sete vidas. Julga que as tem, tenta convencer toda a gente que as tem, mas não tem. O apoio do aparelho partidário, depois de tão rapidamente se terem esgotado as poucas reservas de que dispunha, o inexplicável conforto da mão do presidente Marcelo, e um certo histerismo mediático, poderão até chegar para convencer os militantes a entregar-lhe de novo o partido. Mas não lhe dão uma nova vida. Nem a ele, nem ao partido!
Marcelo almoçou com Santana Lopes. Quis falar sobre o sistema financeiro. Estava ansioso por falar com Santana Lopes sobre bancos, é bom de ver. Nem podia ser outra coisa...
Marcelo é sempre Marcelo. Nunca conseguirá deixar de o ser, por muito que jure que o Presidente da República não pode, nem deve, interferir nos partidos. O Presidente não deve, mas Marcelo pode!
Santana Lopes anunciou que não é candidato à Presidência da República. E eu a pensar que só se anunciavam candidaturas...
Pensava mal, já percebi. Tanto que - acredito agora - não será o único a fazê-lo. Seguir-se-ão outros... Espero é que sejam mais sensatos na justificação, para não deixarem a ideia que primeiro respondem a um arrebatador chamamento interior, e só depois caem na real dos seus deveres e das suas responsabilidades... Pelos vistos só agora, depois de um arrebatamento de vários meses, Santana Lopes deu conta dos seus "deveres enquanto Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa" e das suas "responsabilidades profissionais"...
Há pessoas que para se manterem vivas precisam que se fale delas todos os dias... Pedro Santana Lopes é uma delas, pouco se importando que seja para dizer bem ou para dizer mal. É preciso é falem dele. É uma questão de sobrevivência...
E em sobrevivência é ele especialista. Um dia destes ainda será o presidente nacional da protecção civil, se é que isso existe.
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