No final da sua entrevista de ontem a José Alberto Carvalho e Pedro Guerreiro, na TVI e na CNN P, António Costa não escondia um ar triunfal. Tinha-lhe corrido bem, mais uma vez. Desarmara os entrevistadores, e acabara mesmo a aplicar o seu manhoso "killer intint" manhoso a Pedro Guerreiro, atirando-lhe que não havia truques.
Mas há. E voltou a haver. E mesmo que tenha ficado convencido que "cortou rabos e orelhas" (perdoem-me os dois lados das touradas, mas é a expressão que me parece melhor traduzir a situação), não conseguiu convencer ninguém do contrário.
O ponto central da entrevista, e da sua argumentação, foi, como não podia deixar de ser, o das pensões. Até porque é aí, nesse espectro social, que estão os votos. Que tem bem agarrados, e não quer perder.
O truque, com a meia pensão em Outubro, e o resto em aumentos no próximo ano, para perfazer a dita reposição das perdas com a inflação, era uma medida de de política de finanças públicas. Ou mesmo exclusivamente orçamental, distribuindo o "extraordinário aumento das pensões" - anunciado ainda há menos de três meses para a casa dos 8% - pelos orçamentos deste ano, com grande folga, e do próximo. E anulando-lhe o efeito para os anos futuros.
Descoberto o truque, António Costa arranjou outro. E veio ontem dizer que o truque não era truque. Que não era uma habilidade orçamental, mas sim uma questão de responsabilidade, e uma inatacável medida de sustentabilidade da Segurança Social. Até pode ser verdade que a aplicação da lei em vigor para a actualização das pensões implicasse, como afirmou, reduzir para metade - de 26 para 13 anos - a garantia de pensões futuras. Mas, sem que isso esteja documentado - e não está - deixa de ser credível e passa a ser visto como mais um truque.
Sério e credível teria sido se, desde o primeiro anúncio, tivesse dito que aquela era a forma possível para responder à "extraordinária" inflação deste ano, e que, em vez de incumprir a lei, teria de a alterar. Sério e credível teria sido dizer que, mesmo que "extraordinária", os efeitos desta inflação perduram no futuro, ao contrário da actualização futura das pensões. Que a inflação até poderá regressar aos níveis anteriores, mas os preços que ditou permanecem. E que o patamar em que permanecem já não é o mesmo em que ficam as pensões.
Despediu-se dos entrevistadores em ar de vitória, com um sorriso de orelha a orelha. Mas isso foi apenas mais um truque. É como o Taremi, por mais voltas que dê, já não consegue convencer ninguém que não esteja sempre a "mandar-se para a piscina".
Ontem, na primeira edição do CNN Portugal Summit, questionado sobre a viabilidade do aumento geral dos salários em 20% nos próximos quatro anos, lançado há uns dias pelo primeiro-ministro, com o objectivo de Portugal atingir, nesse período, a média europeia dos salários no PIB, Mário Centeno, o governador do Banco de Portugal, respondeu com a História. Que esse tinha sido já o crescimento dos salários nos últimos quatro anos. Na primeira fila da plateia, António Costa acenava que sim com a cabeça.
Ainda ninguém percebeu, nem António Costa esclareceu, se esse aumento de 20% que lançou como desafio seria medido em salários reais ou nominais. O que já toda a gente percebeu é que, se for em salários nominais, é neste momento altamente provável que nem chegue para cobrir a inflação. Circunstância em que, em vez de aumentarem, os salários continuarão a cair. Mas aquela tirada de Centeno, que pelo abanar da cabeça, soou a música ao primeiro-ministro, embalou-o para, logo a seguir, proclamar que não compreendia a polémica levantada por aquele desafio, já que era público que isso apenas correspondia ao que já tinha sido conseguido, sem reparar que, sendo assim, a sua proposta não tinha nada de desafiante. Que o desafio que lançara ao país não era desafio nenhum, mas simples bazófia.
A edição de 2022 do “Estado da Nação”, o relatório da anual da Fundação José Neves sobre o estado da educação, do emprego e das competências em Portugal, acabada de sair, conclui que “numa década, o salário médio dos portugueses apenas aumentou para os menos qualificados”. Que o salário real dos portugueses entre 2011 e 2019 caiu 11% nos licenciados e 3% para os que têm o ensino secundário. E apenas aumentou, na ordem dos 5%, para os trabalhadores com o ensino básico, "muito por força do aumento do salário mínimo".
Estes dados tratados cientificamente transmitem a realidade do país, e não só não conferem, como contrariam a revelação de Mário Centeno, que embalou o primeiro-ministro para a contradição do penúltimo parágrafo.
No mesmo palco do CNN Portugal Summit, e com a mesma embalagem, António Costa anunciou um "aumento histórico" das pensões para o próximo ano. E explicou que é o que resulta da lei, e que "a lei é para se cumprir".
A lei faz depender o aumento das pensões do crescimento do PIB e da inflação. O PIB cresceu 4,9% em 2021, o mesmo que se prevê para este ano. E a inflação é o que se vê ... Daí que, sendo "a lei é para se cumprir" - mesmo que o ministro das finanças entenda que não deva ser - António Costa anunciou um "aumento histórico".
o "ECO" faz hoje as contas e conclui que o aumento máximo, nas melhores das hipóteses, para as pensões mais baixas - abaixo dos 947 euros - atinge os 6,9%. Ou seja, o "aumento histórico" será, no máximo - nas pensões de 947 euros - de 65 euros.
A sexta final desta contagem decrescente já está. Foi com o Vitória de Setúbal, esta noite, na Luz.
O jogo começou com um golo. Rafa marcou praticamente na jogada entrada, sem que os jogadores de Setúbal tivessem tocado na bola, mais ou menos como naquela super goleada com o Nacional. Só que isso não fez o jogo fácil, nada disso. Foi mesmo um jogo difícil, que o Vitória, entre outros - mas já lá vamos - complicou bastante.
O Benfica não teve apenas uma boa entrada, teve uma primeira meia hora de muito boa qualidade, do melhor que se tem visto, com quatro ou cinco oportunidades claras para marcar. À meia hora, depois do VAR, apenas pela segunda vez, e pelos vistos sem grande vontade de repetir, o ter chamado para ver no televisor a mão de Rúben Micael que toda a gente tinha visto a olho nu, o árbitro Rui Costa assinalou o penalti que Pizzi falhou, os dados do jogo mudaram.
Os jogadores do Vitória acreditaram que aquele lance poderia ter mesmo esse efeito. E pelas bancadas da Luz devem ter passado memórias de outras ocasiões em que, nesta época, as coisas não correram bem quando isso aconteceu. Logo na primeira jornada, com o outro Vitória, o Ferreyra falhou um penalti quando o Benfica ganhava por 3-0, e o jogo acabou sofrido e em 3-2. No jogo com o Belenenses, na primeira volta, com o resultado em 0-0, foi Salvio a falhar o penalti. E o Benfica acabou por perder o jogo, e iniciar aí o primeiro ciclo de crise.
Estou com isto a tentar encontrar justificação para os injustificáveis assobios que se passaram a ouvir na Luz. Mas, por definição, o injustificável não tem justificação. Ainda na passada quinta-feira, depois de uma exibição fantástica, na parte final do jogo, com o golo dos alemães, surgiram assobios das bancadas.
Por isso aqui dizia há uma semana que era uma pena o Benfica ter mais jogos em casa que fora. Não há dúvida que os benfiquistas que acompanham os jogos fora ajudam a equipa. Muitos dos que vão à Luz, à mínima oportunidade, desajudam.
Aos 36 minutos Rafa bisou, e pensou-se que aquele golo abafava o penalti falhado. Só que três minutos depois, como sempre acontece com o Benfica, na primeira oportunidade, o adversário marcou. Os jogadores do Benfica sentiram o golo, mas sentiram muito mais o estúpido coro de assobios. A melhor coisa que podia acontecer era mesmo o intervalo.
No regresso, a entrada na segunda parte não dizia bem do intervalo. A equipa dava muito espaço, alongava o campo, com os sectores muito distantes entre si, que um Vitória com qualidade de jogo, com um futebol que não tem nada a ver com o do tempo de Lito Vidigal, soube aproveitar. E durante alguns minutos o Benfica perdeu mesmo o controlo do jogo.
Foram 10 minutos que só acabaram com aquele corte fantástico do Florentino a deixar a bola em Pizzi, que cruzou para um grande golo, a coroar mais uma grande exibição do João Félix. O 3-1, aos 56 minutos, voltou a mudar o jogo, e colocou definitivamente o Benfica no comando absoluto da partida.
Voltaram a suceder-se as oportunidades. Mesmo que só desse para mais um golo, numa grande execução de Seferovic. E voltaram, árbitro e VAR, ao registo habitual nos jogos do Benfica. Um penalti sobre Rafa - outra enorme exibição - foi transformado num livre contra o Benfica e num cartão amarelo que o afasta do próximo jogo. Sem que o VAR desse sinal de vida. Ao contrário do que, meia hora mais tarde, sucedeu num corte normal de Rúben Dias, num lance aéreo, que na queda acabou por tocar com a mão no adversário a quem ganhara a disputa da bola. Aí viu razão para o penalti que fixou o resultado final, repetindo-se o 4-2 do último jogo.
António Bagão Félix diz que o aumento de pensões "é uma medida claramente eleitoralista". É capaz até de ter razão. Mas fico sempre impressionado quando pensionistas de luxo se referem às pensões dos outros.
Não é por feitio ... É por prezar o sentido de decência. Impressiona-me mais ainda quando o pudor falta a pessoas que até tenho por decentes!
As preocupações de Maria Luís com a sustentabilidade da Segurança Social são legítimas. É coisa que a todos deve preocupar... Não é aí que está o problema. O problema é que estamos em plena campanha eleitoral, onde o governo é tudo menos anjinho. Onde o governo se sente como peixe na água... e onde não dá ponto sem nó.
O problema é que as preocupações de Maria Luís são outras. Não são tanto com a sustentabilidade da Segurança Social que, também ela, não se preocupa muito em descapitalizar. O convite que a ministra dirigiu ao PS não é, evidentemente, ingénuo. É para simplesmente desbaratar a já de si descredibilizada proposta do PS para reduzir a TSU a empregados e empregadores. É para capitalizar, mas em votos, a tão pouco sustentável proposta do PS. E é para acentuar um dos princípios básicos da frágil filosofia política deste governo: "uns contra os outros". E, com isso, acentuar que "as pessoas sabem com o que é contam da nossa parte"!
No país em que as duas primeiras figuras do Estado são pensionistas, preferem receber a pensão - ou as pensões - de reforma em vez de salário, onde a segunda figura do Estado se reformou aos 40 anos, há um governo que, nas palavras da insuspeita Manuela Ferreira Leite, persegue e é cruel com os reformados. Como uns reformados!
O governo que corta e tributa pensões de reforma como se não houvesse amanhã, que confisca pensões a quem para elas contribuiu durante uma vida, nem que para isso passe por cima da Constituição, é o mesmo governo que recusou a proposta do FMI para limitar as pensões altas – aquelas que bem se sabe de onde vêm e para onde vão - a um tecto de 5.030 euros mensais. Que pouparia qualquer coisa como 200 milhões de euros. Mas que, mais que isso, pouparia o governo à vergonha que, de todo, não tem!
Uma reformada expulsou os reformados das galerias do Parlamento. Reformada de contribuição curta (desde os 41 anos) e pensão longa (até dá para rejeitar o vencimento de direito - tal e qual a primeira figura da hierarquia do Estado) a número dois do Estado não teve vergonha de expulsar os reformados de contribuição longa e pensão curta...
Não sei se é uma questão de pudor se de telhados de vidro...
Passos Coelho deu ontem, nas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, uma canelada a Cavaco. Referindo-se às pensões, dizendo que não correspondiam às contribuições efectuadas para concluir que não pode ser inconstitucional que sejam mais tributadas que os salários, Passos bateu duas vezes em Cavaco com uma só cacetada: atingiu-o directamente na(s) sua(s) própria(s) reforma(s) – para as quais não descontou – e na sua decisão de remeter o Orçamento para fiscalização sucessiva do Tribunal Constitucional.
Cavaco merece isto e muito mais, mas esta é uma leitura suave das palavras de Passos Coelho, uma leitura própria de Marcelo, também ele interessado em dar-lhe umas bicadas. Porque, podendo ter atingido Cavaco, o que Passos fez - e quis fazer – foi, a partir de uma matéria que sabia tornar-se popular, desvalorizar a Constituição e os limites constitucionais às suas ideias. O que fez foi manipular uma realidade para meter no mesmo saco coisas que não se podem misturar.
Para ser sério Passos não pode tratar da mesma forma o que é diferente. E é diferente, completamente diferente, uma pensão de reforma que resulta directamente de uma vida de contribuição – e essa é a condição normal dos cidadãos normais – e uma pensão de reforma abusiva, como todas as que decorrem do exercício de funções políticas directas e indirectas, sendo estas ainda mais escandalosas, como as do Banco de Portugal e de outras instituições públicas.
Pensões verdadeiramente escandalosas e ilegítimas – venham de entidades públicas ou mesmo de privadas, como é o exemplo de Jardim Gonçalves – só têm que ser tratadas à luz do abuso que representam. Não podem nunca ser abusivamente usadas para justificar o autêntico assalto ao pensionista comum que Passos Coelho e Vítor Gaspar perpetram neste orçamento.
Não param de meter os pés pelas mãos. Mas sempre com má-fé!
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