Que o preço dos combustíveis em Portugal é dos dos mais altos da Europa, todos sabemos e sentimos. E sentimo-lo como nunca o sentimos, a ponto do governo vir finalmente dizer que o mercado funciona em oligopólio, e que irá intervir para fixar margens máximas no negócio.
O funcionamento em oligopólio é uma evidência. Basta nas auto-estradas olhar para as placas informativas dos preços, mas também fora delas. A diferença é que nas auto-estradas elas sucedem-se, e permitem-nos olhar e ver uma, ainda com a imagem da anterior fresquinha. Pois ... os preços são todos iguais. E aumentam sempre ao mesmo tempo.
A concorrência é uma treta que ninguém se preocupa em sequer disfarçar. A prática de preços concertados é ilegal, mas ninguém se preocupa nada com isso.
Quando o governo, ontem, anunciou essa intenção de limitar as margens dos players deste mercado deu-se uma coisa curiosa. A Apetro, a associação das petrolíferas, veio logo dizer que ninguém lhe pode mexer no queijo e, não desmentindo que as margens têm subido, como finalmente um estudo da Entidade Nacional para o Setor Energético (ENSE) demonstrou, defendeu-se com a queda da procura. Se vendem menos, têm que compensar essa quebra com o aumento das margens. E podem ... porque - lá está - o oligopólio permite-lho.
Já a ANARECA, a associação dos revendedores, diz que não. Que não há aumento nenhum das margens, que os preços sobem porque o preço do petróleo sobre nos mercados internacionais, quando sabemos que os preços estão ao nível mais alto de 2012, e o preço do petróleo a cerca de metade do de então.
O curioso nem é tanto que a ANARECA não tenha reparado nesse absurdo. Curioso é mesmo esta inversão de papéis, é estar tudo ao contrário. Que a os distribuidores falassem de margens e os produtores dos preços internacionais do petróleo, mal ou bem, a gente ainda percebia. O contrário, como aconteceu, é que não dá para perceber.
Numa coisa estão no entanto ambas de acordo - é que a culpa é dos impostos. Que no preço de cada litro há 60 cêntimos de impostos. Também sabíamos. Mas também sabemos que esses impostos são os mesmo desde o início do ano, e os preços subiram 40%.
Ou em duas. Também estão de acordo em continuar a fazer o querem dos preços porque quem paga é sempre o mesmo. E tem por hábito não refilar!
Em Itália, onde só ontem morreram 133 pessoas infectadas pelo Covid-19, os jogos de futebol disputam-se à porta fechada, como sucedeu no Juventus - Inter de ontem, um dos mais importantes do campeonato italiano. E a Lombardia está fechada ao exterior, com 16 milhões de pessoas impedidas de sair da região.
Por todo o mundo todos os negócios vão gradualmente parando. Cancelam-se feiras, viagens, transportes... Cancelam-se todos os grandes acontecimentos desportivos.
Os países produtores de petróleo ensaiaram um acordo para baixar a produção, e assim conterem os danos da descida de preços por esmagamento da procura. A coisa não correu bem e saiu tudo ao contrário, com a Arábia Saudita, o maior produtor mundial, a abrir uma guerra de preços com a Rússia, e a anunciar aumentar a produção e inundar o mercado. E os preços a caírem com estrondo. Já está nos 30 dólares por barril, e só vai parar nos vinte.
Petróleo a 20 dólares. Pode parecer uma boa notícia, mas não é. É péssima. Poucos, muito poucos, são os países produtores que sobrevivem a esse preço. Imagine-se o que daí poderá vir...
Pois é. Isto vai muito para além de escolas fechadas, de proibição de visitas a hospitais, lares de idosos e prisões ou de um Presidente da República fechado em casa. Isto é o caos a aproximar-se a alta velocidade!
Agora, que os saldos também chegaram ao do petróleo, é que dizem?
Já se vê, com esta é que Passos Coelho não contava. Já sabia há um ano, mas quis também guardar o petróleo para as eleições... Não imaginaria é que estivesse agora ao preço da uva mijona... Mas nada de desanimar, daqui até às eleições os preços ainda podem subir. Ou podem até os ingleses decidir-se a dizer onde é que está mesmo esse petróleo todo!
Não é só pelo choque de ver Xanana Gusmão entrar de mãos dadas com Obiang. Nem só por ter sido dada posse antes da adesão ter sido ter sido votada. Não é por Cavaco Silva ter recusado aplaudir essa adesão, e ter reservado os aplausos para o regresso da Guiné-Bissau, com toda a carga de cinismo que isso até possa ter. Nem é pelo mesmo Cavaco, como de resto outras cabeças pensantes que provavelmente existem para lhe dar cobertura, achar que as ditaduras não devem ser isoladas. Que essa é a forma de as perpetuar, e integrá-las na comunidade internacional, de pleno direito mesmo que continuem a negar o direito, a melhor forma de as combater. Nem sequer pela ausência – não sei se hipócrita se estratégica – de Dilma Roussef e José Eduardo dos Santos. Nem por outras tantas razões que já aqui tinham sido adiantadas…
A adesão da Guiné Equatorial à CPLP, hoje formalizada na cimeira de Dili, é acima de tudo chocante por, logo ali, sem Dilma Roussef e José Eduardo dos Santos mas também sem meias tintas, terem avançado para a constituição de um consórcio do petróleo.
Portugal não tem petróleo, mas tem líderes...
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