A nova polémica à volta do ministro Pedro Siza Vieira é bem capaz de ser mais que um ligeiro incómodo para o governo, tanto mais quanto mais difícil é reduzi-la ao pretenso lapso.
É que, constituir na véspera de entrar para o governo, uma sociedade com o capital de 150 mil euros, reforçada de imediato com suprimentos de 200 mil euros, para não ter qualquer actividade - zero, zero de vendas, zero de custos, zero de investimento... - não é coisa fácil de explicar. Bom... fácil, até é. Se já toda a gente percebeu, nem é preciso explicar muito.
Por isso, ninguém fala. Não fala o ministro e não fala o primeiro-ministro. Que está fartinho de saber que estas coisas mal explicadas, não acabam só porque se querem dar por encerradas.
Enquanto o país real continuava a arder, o país digital foi tomado por duas polémicas daquelas que o rasgam ao meio.
Um conceituado médico, de ineludível referência, numa entrevista a um jornal também de referência, tornou públicas posições sobre a homossexualidade em termos que, se à luz da sua condição de conservador possam ser compreensíveis, serão porventura mais dificilmente aceitáveis à luz da sua condição de médico. A sua condição de médico não constitui qualquer limitação à sua liberdade de manifestar as suas convicções, mas obriga-o ao rigor da argumentação. Apenas aí, ao nível do rigor dos argumentos evocados, será objecto de censura. Só e apenas isso.
Um candidato autárquico, que uma pequena parte do país só conhecia como comentador desportivo, que os lamentáveis programas da especialidade com que as televisões o intoxicam transformam rapidamente em figuras públicas, assumiu posições racistas tendo os ciganos como alvo.
Homossexualidade e racismo não são apenas temas fracturantes que, se para uns dividem direita e esquerda, conservadores e progressistas, para outros, são aspectos básicos e fundamentais da cidadania e da civilização.
Embora no mesmo quadro de fundo, as duas polémicas que marcaram a semana constituem, no entanto, quadros completamente distintos. No primeiro estamos perante a manifestação de uma opinião pessoal, mesmo que feita de forma infeliz. No segundo, e por muito sério que o problema seja, e é, por muito que deva ser discutido, e deve, estamos no domínio do calculismo político e do recurso ao mais desprezível populismo. Só isso. Só que, aqui, isso é tudo.
Com o sorteio dos grupos para a primeira fase pode dizer-se que arrancou o Campeonato do Mundo do Brasil. Com enorme polémica, com polémica em cima da polémica que normalmente acompanha este tipo de sorteios, raramente claros…
Já há grupos, já há bola – a brasuka – mas ainda não há estádios. Exactamente, ainda há estádios por concluir, o que sendo inédito não parece polémico. Polémica há desde logo na designação dos apresentadores do espectáculo que integra o sorteio, um casal - de marido e mulher, mas não é por aí – de louros, que não de olhos azuis. Diz-se que impostos pela FIFA, de Blatter, que numa atitude racista teria excluído a mais escura tez afro-brasileira.
O centro da polémica está mesmo no coração do sorteio, na constituição dos quatro potes, de oito selecções cada. O primeiro não ofereceria grandes dúvidas, se dúvidas não houvesse na designação dos cabeças de série. Mas há: se a Bélgica, mercê de uma notável fase de apuramento - e de facto, uma grande selecção, de que muito se espera - não fará levantar grandes dúvidas, já ninguém percebe por que carga de água lá está a Suíça. No segundo pote estava o busílis da questão, porque só lá estavam sete, em vez das oito selecções. A oitava seria, de acordo com as regras que sempre vigoraram, a selecção europeia com menor classificação no ranking da FIFA – na circunstância a França. O terceiro pote não suscitaria qualquer problema e o quarto, por contraponto ao segundo, estava no olho do furacão. Ficara com nove selecções, donde uma sairia por sorteio, para completar o tal pote 2, em vez da protegida França.
Platini pretendia ainda melhor, queria mesmo que, em vez do sorteio com que Blatter brindou a sua França, fosse a Bósnia, na qualidade de debutante, a seguir directamente para esse segundo pote. Não seria nem mais nem menos escandaloso, o escândalo já estava na alteração da regra, que não servia os interesses franceses…
E lá saiu a bola do pote 4, directamente para o 2, sem mais. Para dourar a pílula não foi sequer anunciada a selecção sorteada, como que havendo qualquer coisa a esconder. Perceber-se-ia quase de imediato - sem que nunca fosse anunciado - que a fava tinha saído à Itália, e não à França, como seria escrever direito por linhas tortas. Que, agradecida, acabou por cair no grupo E, de todos claramente o mais fácil, com a Suíça – grupo que tivesse este estranho cabeça de série seria sempre o mais fácil - as Honduras e o Equador. Já à Itália cabe disputar com o Uruguai e a Inglaterra – três galos para apenas dois poleiros - e a Costa Rica, os dois lugares que asseguram a qualificação.
Também a selecção portuguesa tem pela frente tarefa bem difícil, com Alemanha – um dos principais candidatos, seria mesmo o principal se o campeonato se disputasse na Europa -, Gana, a mais poderosa selecção africana, que esteve às portas das meias-finais no último Mundial, na África do Sul, e Estados Unidos, provavelmente o adversário mais acessível. Mas também com deslocações complicadas (Salvador, Manaus e Brasília), em especial a Manaus, na Amazónia, longe de tudo mas perto do inferno, com calor e humidade pouco menos que insuportáveis.
Para que as polémicas não ficassem por aqui, o minuto de silêncio por Mandela não terá passado dos 10 segundos. E ainda um twit que antes do sorteio dava a constituição integral do grupo F, da Argentina. Ou outro que também previra que a fava do pote 2 saía à Itália!
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