O secretário de Estado do Ordenamento do Território, Hernâni Dias, já membro do governo, criou duas empresas que podem beneficiar com a nova Lei dos Solos, da tutela do Ministério a que pertence. E, como é fácil de perceber pela própria designação da Secretaria de Estado, das suas próprias funções governamentais.
É grave, claro que é. Mais, ainda, é que Montenegro não tenha uma palavra, ou uma acção, sobre o caso. Que deixe seguir a marcha, mandando às urtigas a ética e a moral que na oposição sempre apregoou. Ou que não perceba, ou finja não perceber, que não tem, nem ele nem já ninguém - já todos esgotaram os créditos todos -, espaço para proteger e defender os seus à margem dos princípios.
Todos. Até os que pudessem estar mesmo convencidos que seria o Chega a limpar isto. Depois das malas do deputado Miguel Arruda, e de tudo o que se tem sucedido, desses já não há. Só restam os da fé. Podem até continuar a ser muitos, mas apenas e só por fé!
Todos, menos o Almirante. Esse - claro! - esfrega as mãos de contente com isto tudo. Nunca nada é mau para todos!
As presidenciais começam a mexer, e os motores a aquecer. O Tó Zé Seguro deu à costa, dez anos depois, e diz que sim, que vai a jogo. Não convence muita gente, há os que preferem o Centeno. Que não diz, mas também vai a jogo. E ainda poderá surgir Guterres, que as coisas não lhe estão a correr pelo melhor lá por Nova Iorque.
O Marques Mendes há anos que prepara a coisa, seguindo à risca o road map de Marcelo. E o Santana Lopes, já se sabe, é danado para a brincadeira.
No meio disto tudo está o almirante Gouveia e Melo, conhecido por ter posto na ordem uma campanha de vacinação. E como o que a malta gosta é de quem os ponha na ordem, as sondagens dão-no já por imbatível.
Não se lhe conhece uma ideia. Se calhar não tem mesmo uma sequer. É lamentável - dir-se-á - que se possa eleger um Presidente da República sem se lhe conhecer uma ideia. Ser militar também não será dos mais saudáveis sinais. Não sei é se isto diz mais sobres os portugueses se sobre todos os outros candidatos já perfilados.
Ainda não há muito tempo dizia-se que António Costa canibalizara o PSD, que lhe invadira o terreno e o secara com a ocupação do centro. Agora, diz-se o contrário. Montenegro faz o que Costa fez!
Há pouco tempo Montenegro chamava a isso propaganda. Agora copia tudo, e chama-lhe "governar para os portugueses".
Há pouco tempo, Costa fazia tudo para antecipar eleições. Agora, Montenegro faz o mesmo.
Nem se sabe bem quem faz melhor. Fazem o mesmo, e exactamente da mesma forma.
É alternância, sem dúvida. Não é, também sem qualquer dúvida, alternativa.
Apenas fazem o mesmo - ou até pior - convencendo o pagode que é melhor. E como o conseguem não há alternativa. Apenas alternância!
Esperava-se - com tudo o que de contingencial marca as competições olímpicas - que o ouro pudesse ter chegado ontem, com Pedro Pichardo a entrar na curtíssima lista dos atletas com duas medalhas de ouro em dois Jogos consecutivos. Ou hoje, com o super campeão Fernando Pimenta que, apesar de tudo ter feito para a conseguir, não conseguiu evitar um dia infeliz, e acabou em sexto.
Não se esperava - até porque se antes da quinta-feira passada ninguém sabia o que era o Omnium, e poucos saberiam quem era Iuri Leitão, hoje ninguém sabia o que é a Madison - que fossem Iuri Leitão e Rui Oliveira, e o ciclismo de pista, a conquistarem a primeira medalha de ouro para Portugal. Destes Jogos Olímpicos, mas também de uma modalidade que não o atletismo.
Com quatro medalhas Portugal igualou o melhor resultado da História, obtido nas últimas olimpíadas - Tóquio 2020 - disputadas em 2021 (Ouro para Pedro Pichardo, no triplo salto, como na prata de Patrícia Mamona, e bronze de Jorge Fonseca, no judo, e Fernando Pimenta, na canoagem. Melhorou-o ligeiramente, trocando bronze por prata. Mas continua muito longe do desempenho médio dos seus pares europeus, e na cauda da União Europeia.
Apenas o Luxemburgo, Chipre, Malta e os países bálticos não fazem melhor que Portugal. As culpas são múltiplas, e históricas. A mais fácil, e que não choca ninguém, é a do futebol. Este é um país que só liga ao futebol!
O balanço das medalhas está fechado. O desta realidade está por fechar. Ou até por abrir.
A expressão surgiu no espaço do comentário político, que alimenta uma larga casta de políticos, jornalistas e espécies afins, e rapidamente se tornou "mainstreaming". "Resolver os problemas das vidas das pessoas” entrou no léxico da política que está na moda.
Foi usado e abusado na campanha eleitoral. Na tomada de posse do governo, ou na apresentação e discussão do seu programa. É moleta para tudo, e para todos, seja a que propósito for. E é a saída para a resposta a qualquer pergunta mais incómoda. São muito poucas, mas de vez em quando lá surge uma.
Ainda há pouco, questionado - nem sei bem a que propósito, mas tinha a ver com mais umas insistências do Ventura - sobre o “não é não”, Hugo Soares, já na qualidade de líder parlamentar do PSD, limitou-se a despejar que o que importa é "resolver os problemas das vidas das pessoas”. Não importa que problemas, nem de que vidas, nem de que pessoas.
Na verdade é apenas um novo "sound byte" que pretende fazer crer que há uma nova forma de "fazer política" que não precisa de ideias. Que o tempo das ideias já passou, esmagado pelo novo tempo do pragmatismo.
Não é assim. Este "sound byte" nega as ideias mas afirma uma ideologia. "Resolver os problemas das vidas das pessoas” é todo um manual ideológico. E nem sequer é um novo paradoxo. É bem velho, por sinal.
Tão velho que há muita gente que já não se lembra dele!
Ao rescaldo das eleições regionais nos Açores, que a AD ganhou, sem condições de prescindir do Chega, mas com condições de não o ter de levar para o governo, seguiram-se os primeiros debates nas televisões com vista para 10 de Março. Foi um dia em cheio. Mas cheio de pouca coisa. E vazio de novidades.
Na sequência dos resultados eleitorais nos Açores, que deram a Luís Montenegro a melhor prenda que poderia desejar - dizer "que não, é não" é agora o às de trunfo -, a questão era se, sem a possibilidade de José Manuel Bolieiro garantir um governo com apoio de uma maioria parlamentar sem o Chega, o PS daria alguma indicação de viabilizar a governação nas ilhas das brumas para precisamente afastar a extrema direita da esfera do poder.
E era delicada. Tanto que já se ouviam vozes antagónicas, no PS, mas mesmo dentro da "entourage" de Pedro Nuno Santos. O Chega deu uma ajuda, mas nem essa lhe valeu de muito. Depois de André Ventura ter reclamado presença no governo para apoiar Bolieiro, veio o líder regional garantir que nunca impediria uma solução governativa de direita. No PS respirou-se de alívio, mas não se terão tapado as feridas todas.
Ainda assim, Pedro Nuno Santos podia abrir os debates televisivos disfarçando esse incómodo. Mas com outros, frente a Rui Rocha, do IL. Que, por isso, ou por outras razões, não lhe correu lá muito bem. Mesmo sem que o adversário tinha sido brilhante. Nada disso.
Depois foi a vez de André Ventura e Inês Sousa Real. E foi o costume. O "patrão" do Chega falou por cima, interrompeu, fez anti-jogo, quando falou nada de acertado disse, mas ... já se sabe. Esse é o registo. E já se sabe que passa bem.
A novidade foi ficarmos a saber que André Ventura gosta de animais?
Não. Até porque nos lembramos da falecida coelhinha Acácia... A novidade foi ficarmos a saber que as forças de segurança não colocarão em causa a realização das eleições. É tranquilizador sabê-lo. Assustador foi ouvi-lo!
Li e ouvi que, finalmente, Montenegro entusiasmou as hostes. E vi por todo o lado comentadores a salientarem a prestação discursiva do tipo a que faltava sempre o "click".
Notei tanto entusiasmo que, não tendo tido nem tempo nem paciência para assistir "à festa", fui procurar saber o que de tão relevante, inovador e mobilizador teria Montenegro dito para merecer tantos elogios. Até de muitos que nunca lhe tinham encontrado uma pontinha de virtude, sempre só, e apenas, defeitos.
Admito que não tenha procurado o suficiente. Mas até me cansar apenas encontrei a fórmula de André Ventura do "tudo para todos". Tudo para os jovens, tudo para os velhos, "vouchers" para a saúde, um décimo quinto mês - sem impostos, evidentemente - creches... Tudo para todos, como André Ventura. Mas sem as contas do outro à economia paralela e à corrupção, como milagre de financiamento. E, não fossem tomá-lo pelo mesmo, negando-o: "não vamos mesmo prometer tudo a todos ..."
- "As pessoas estão fartas de promessas não cumpridas. É preciso uma nova forma de fazer política" - rematou, a concluir. como se não andássemos a ouvir isto há 50 anos.
Afinal o "tudo para todos", e a conversa fiada velha de 50 anos, bem embrulhadinho, continua a passar. E a pantominice continua a única forma de fazer política que esta gente aprecia. Também aprecia a palhaçada mas, sem pantominice, não!
Há 40 anos Paulo de Carvalho cantava que "10 anos é muito tempo". Eu, que também já achei que era muito, já acho que é pouco. Coisas da idade.
Na política, e em especial no espaço mediático da especialidade, é como cantava o Paulo de Carvalho. É muito tempo. Tanto que permite que uma "indecente e má figura" faça a "indecente e má figura" de querer fazer de um soundbite uma substancial declaração política.
É por essas e por outras que por aqui se vai lembrando o que há 10 anos ia acontecendo...
Nas contas do "chico-espertismo" da dupla Costa/Medina não entrava a turbulência política criada pelo agravamento do IUC para os veículos matriculados depois de 2007.
Já circula por aí um "abaixo assinado" com perto de 300 mil assinaturas contra a medida que, obviamente, penaliza os mais desfavorecidos. O assunto é tema de "foruns" nas rádios, e foi tema também no debate quinzenal de ontem na Assembleia da República - "crueldade fiscal", chamou-lhe o líder do IL -, obrigando António Costa a mais um número de "chico-espertismo" mal amanhado. Primeiro, questionando-o: "Fazer política implica fazer escolhas. O senhor deputado tem que escolher, prefere mais 25 euros de IUC ou menos 874 euros de IRS?". Depois, dando ele próprio a resposta: [a escolha] "é muito simples". "É que eu quero baixar os impostos sobre os rendimentos do trabalho e sobre os rendimentos dos pensionistas porque quero maior justiça social em Portugal". E, depois ainda, tirando da cartola a questão ambiental: [a oposição] "tem que decidir se a emergência climática é todos os dias ou é só à segunda, quarta e sexta-feira, e já não é às terças, quintas, sábados e domingos".
Como se uma coisa fosse outra coisa...
"Fazer política é fazer escolhas". Para António Costa, "fazer política", muito mais que fazer escolhas, é fazer números destes.
Claro que não são questões ambientais e, muito menos - evidentemente pelo contrário - de justiça social, que estão por trás desta medida da Proposta de Orçamento que, manda o bom senso (que deveria fazer parte de "fazer política") deva cair na aprovação final.
Por trás estão as contas da "chico-espertice" de baixar as portagens das ex-SCUTS à custa dos que nem têm transportes públicos para se deslocar, nem dinheiro para trocar o "chasso" velho em que terão de continuar a deslocar-se.
"Contas certas" - como é seu timbre. De superavit, como o governo gosta: os 84 milhões de euros do agravamento do IUC nesses carros, superam em 12 milhões os 72 milhões de euros gastos na redução das portagens em algumas autoestradas do Interior e do Algarve!
Por trás, está ainda outro "chico-espertismo". Porquê 2007?
Porque foi em 2007 que o IUC foi criado. Até aí pagava-se o imposto de circulação, aquele selo (na altura começava a não haver vidro para tanto selo) que se colava no pára-brisas, por baixo ou por cima do do seguro e do da inspecção. E pagava-se a totalidade do ISV (imposto sobre a venda de veículos, que se mantém para os não eléctricos, como se mantém a ilegal dupla tributação com o IVA) no acto da compra, ou mais propriamente da matrícula. A partir daí passou a chamar-se IUC - o imposto único de circulação. Que não era nada único: juntava ao anterior imposto de circulação uma parte retirada ao ISV para "suavizar" o momento da compra.
Os proprietários dos carros comprados até 2007, com esta medida penalizados com subidas do imposto que podem chegar aos 400%, vão na realidade voltar a pagar um imposto o que já tinha sido pago quando o compraram. É tripla tributação!
O "chico-espertismo" está também aqui. É que a grande - imensa - maioria dos proprietários destes carros já não são os que os adquiriram em novos. A grande - imensa - maioria destes carros estão em segunda, terceira ou quarta mão. E esses não sabem nada dessa tripla tributação. Sabem apenas que o IUC que o irmão, o primo ou amigo pagam pelo "chasso" igual, com 16 anos, apenas um ano mais velho que o seu, e que até não se nota nada, é o quadruplo, o quíntuplo ou ou sêxtuplo do IUC que pagam.
Por isso Fernando Medina achou que eles não se importavam nada com isso. E se calhar não importavam... Mas há quem se importe. E isso também é "fazer política"!
O IL não quis participar da maioria que haverá de suportar o governo de Miguel Albuquerque na Madeira. Não era problema, ainda havia o PAN. E anunciou-se o acordo com quem nunca se concorda...
Pior. Com parte dele. Pior ainda - com a parte que o não pode assinar.
É a Lei de Murphy também aplicada à política. E a Miguel Albuquerque. E, porque para isso se pôs a jeito, a Luís Montenegro.
Está mesmo a correr mal. Primeiro, Miguel Albuquerque anunciou que não governaria se não obtivesse a maioria absoluta nas eleições. Depois, já não era nada disso que tinha dito, mas apenas que só governaria em maioria. E que essa já estava garantida. De tal forma que apresentaria o governo até ao fim da semana.
Bom ... querem ver que o Chega - com quem nada de nada ... porque não fazia falta - ainda vai afinal fazer falta?
Há gente a quem nunca bastam os problemas que já têm. Têm sempre que arranjar mais. Não estarão todos no PSD, mas há por lá gente dessa que chega...
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