Numa altura em que o populismo impera na maior parte do mundo há pequenas notícias que muitas vezes dizem muito.
Sabe-se que o populismo cresce sempre a partir da deterioração da relação entre governados e governantes, muito por força do enfraquecimento da qualidade dos titulares de cargos públicos e da consequente degradação do exercício do poder.
A notícia que hoje aqui trago chegou-me num dia desta semana, que ficou justamente marcada pelo primeiro debate entre os candidatos às eleições presidenciais americanas, e que se tornou numa montra exuberante do que é, e de que é capaz, o populismo.
A notícia provinha da Associated Press, e dizia que, algures na improvável Roménia, a população de Deveselu, uma vila com cerca de três mil habitantes no sul da Roménia, reelegeu com 64% dos votos o seu presidente da câmara. Não seria notícia não se desse a circunstância de as eleições se terem realizado no domingo, 20 de Setembro, e o Sr Ion Aliman – assim se chamava presidente da câmara – ter falecido na quinta-feira anterior, vítima de covid.
Sem possibilidade material de alterar os boletins de voto, o seu nome lá permanecia no dia das eleições. Diz a notícia que a caminho da assembleia de voto, a população passou pelo cemitério a depositar uma flor na campa do autarca e, chegada à urna, depositou-lhe o voto. O voto que, segundo os relatos, sentiam dever-lhe pela forma como exerceu o poder, sempre ao lado deles, e nunca contra eles.
Não valeu de muito, até porque obriga a novas eleições, mas fica a lição. E que grande lição!
Os jornais dão hoje conta de um pacote, pronto a aprovar no Parlamento que, não só agrava as sanções, como alarga os titulares de cargos públicos que não declarem todo o seu património e rendimentos. Já não são apenas os "políticos" (ministros, deputados, autarcas, candidatos à presidência da República, chefes de gabinete, executivos das direcções dos partidos, etc.) abrangidos por estas obrigações declarativas. São também os magistrados, Judiciais e do Ministério Público, ou quaisquer consultores que sejam mandatados pelo governo para negociar quaisquer activos públicos.
Mais que uma mão na decência do tratamento da coisa pública, é bem capaz de ser uma mãozinha no negócio dos notários e conservatórias. E ... tantas escrituras que aí vêm...
Há dois dias o país acordou com um novo nome de uma nova operação da Polícia Judiciária e do DIAP: "tutti frutti", foi desta vez o nome escolhido, num exercício que tem já tanto de famoso quanto de pitoresco. Mas não é, evidentemente, a criatividade ou a propriedade dos nomes escolhidos, e em particular no escolhido para esta investigação, que é relevante.
A operação envolveu buscas em escritórios de advogados, autarquias, sociedades e instalações partidárias em todo o país. E nos dois principais partidos políticos do regime, mas atingiu com especial incidência Lisboa e o PSD. Em causa estão suspeitas de crimes diversos, em particular o de corrupção, praticados por indivíduos ligados às estruturas partidárias no âmbito do poder autárquico e, tanto quanto se soube pelos nomes entretanto conhecidos, no caso do PSD, está envolvida gente proveniente das estruturas da juventude partidária que tem vindo a construir as suas redes.
Quer isto dizer que, nos partidos do regime, renovação não rima com regeneração. Que os nomes conhecidos do velho caciquismo passam, mas atrás deles vem novos nomes desconhecidos prontos a manter o sistema cacique e a rede de corrupção em perfeitas condições de funcionamento, porventura ainda mais refinadas.
É isto que desacredita, corrói e mata a democracia. São as práticas criminosas na política, na administração da coisa pública, que destroem as instituições e a democracia para, no seu lugar, surgirem movimentos inorgânicos e populistas que, a pretexto de as combater, visam apenas atentar contra os valores fundamentais da democracia e da condição humana.
Os partidos políticos são, ninguém tenha dúvidas, as instituições básicas da democracia. O combate ao caciquismo, ao compadrio e ao crime é decisivo para os salvar. E para travar os movimentos populistas anti-sistema que estão a tomar conta das democracias ocidentais, em particular na Europa. E que só não chegaram ainda ao nosso país porque não somos propriamente um povo de mobilização fácil. Para o bem, mas também para o mal!
Que a "tutti frutti" seja bem-sucedida. Levada até ao fim, e o princípio da regeneração da democracia que temos que salvar.
Consta que o secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, recebe 360 euros líquidos por ter declarado residir em Tavira. Mas que na realidade mora em Cascais, e que esse subsídio lhe dá para pagar a casa do Algarve, essa sim em Tavira.
Não há volta a dar. Nem a geringonça é capaz de acabar com estas coisas...
Acho sempre alguma graça a esta gente graúda da política que tem a lata de vir a público dizer que não tem nada a ver com empresas de que são sócios. Parecem aquele tipo de pessoas que dantes surgiam nos concursos de televisão sem nunca terem enviado os cupões. Eram sempre outros que os tinham enviado em seu nome...
As sociedades existem, e existem mesmo para aquilo que parece, ali, o que parece, é. Eles são sócios, mas nunca sabem de nada. No caso de Marques Mendes - vejam bem - até pensava que a empresa tinha fechado.
São mesmo sócios especiais. Tão especiais que até acham que as sua empresas podem fechar sem que eles saibam!
Não faço a mínima ideia se o que por aí se fala de Luís Filipe Menezes e de Pedro Passos Coelho é simplesmente coisas de jornais, com ligação ou não à forma com a Justiça atingiu recentemente os socialistas, quer no processo Face Oculta quer no caso Maria de Lurdes Rodrigues. Não faço ideia e recuso-me a qualquer especulação sobre o assunto.
Também não meto no mesmo saco as notícias sobre o anterior presidente da Câmara de Gaia e do actual primeiro-ministro, mas não consigo deixar de notar que as reacções de cada um a essas notícias são completamente opostas.
Menezes negou com veemência as acusações que lhe são feitas. Valha isso o que valer, a verdade é que marcou uma posição!
Passos Coelho diz que não se lembra do que se passou há 15, 17 ou 18 anos, "não tem presente". E remete a investigação do caso para a Assembleia da República, o que não deixa de ser estranho. Mas, com toda a franqueza, o que não convence ninguém é que alguém possa receber 5 mil euros por mês durante 30 meses sem disso se lembrar. Mais a mais em acumulação com as funções de deputado em regime de exclusividade, e sabendo que isso era ilegal.
É muito estranho que não se lembre de nada disto. Mas é ainda mais estranho que seja essa a única resposta que tenha para dar quando o tema é Tecnoforma, que ele sabe que há muito o persegue. E que mais o irá perseguir a partir do momento em que o seu ex-patrão há apenas quatro meses dizia que ele abria as portas todas... Para um tema destes um primeiro-ministro tem que ter uma resposta na ponta da língua. E minimamente convincente!
Miguel Relvas regressou, porque “quando os ventos sopram fortes, alguns abrigam-se, outros constroem moinhos”. E ele “escolheu sempre construir moinhos”… Nenhum mistério, portanto!
O “único mistério que existe é estar ao serviço do PSD”. Ao serviço do PSD, como há muito anos está essa figura incontornável que se dá pelo nome de Zeca Mendonça que, quando alguns se abrigam, não se encolhe nem se esconde. Desata ao pontapé e … assunto arrumado!
Porque importante é arrumar com os assuntos… Até porque estar ao serviço do PSD – e do PS, aí não há linha que os separe – é construir moinhos. E de moinhos, e da maneira de para lá levar a água, sabem eles. Ocupam funções em cerca de 90% das vinte maiores empresas nacionais (PSI 20). Em 31 das 50 empresas cotadas na Bolsa encontramos 51 políticos em cargos de gestão, administração e fiscalização, e ainda mais 70 com outros e diferentes graus de envolvimento. Metade deles são ou foram ministros!
Estes são dados analisados e revelados por um estudo de Maria Teresa Bianchi, doutorada em Ciências Empresariais pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto, que conclui que 60% das empresas cotadas estão repletas de políticos bem distribuídos pelo PS e pelo PSD.
Como se tudo isso não bastasse, ainda foi notícia uma afliçãozita Jorge Sampaio nas águas de uma das praias de Lagos, que contou, também ela, com a participação dessas personagens. Não que tenha constado que o tivessem ajudado a livrar-se da corrente que contrariava a sua vontade de sair da água – aí não lhe valeram de nada – mas porque, rezava a notícia, logo que chegou à areia, desapareceu levado justamente pelos seguranças. E pronto, lá ficava toda a gente a saber que até um antigo presidente, que não faz mal a ninguém nem a quem ninguém quer fazer mal, também vai de férias para o Algarve com seguranças.
Reconheço alguma dificuldade em aplicar aos políticos, mesmo que na reforma, aquele princípio popular de quem não deve não teme. Até porque se houvesse algum que não devesse, é tanto o que todos os outros devem, que nunca daria para lhe garantir grande coisa…
Na realidade devem, e tanto, que só podem temer. Como também diz o povo, quem tem cu tem medo. E eles não têm cara, mas cu não lhes falta. Por isso demos de barato que têm de andar acompanhados por quem lhes defenda a cara que não têm, o cu que têm de sobra, e o resto da carcaça…Mas mandaria o mais elementar bom senso que não os exibissem!
Não lhes nego o direito ao quotidiano de férias do comum dos cidadãos. Mas não me parece aceitável que exerçam esse direito afrontando os outros com exibicionismos bacocos de tipos musculados com ar de agente secreto de trazer por casa.
Partilhei – não partilhei coisa nenhuma, fui obrigado a conviver com isso - o meu espaço de férias com um ministro, e nem sequer interessa identificá-lo, que se achava no direito - que, como referi, lhe não nego - de fazer tudo o que, por exemplo, eu fazia. Mas, francamente! Chegar à esplanada com quatro rapagões, que ficam ali especados… Andar no supermercado mais preocupado em olhar à volta (ou em ser visto?) do que para as prateleiras, sob o olhar dos mesmos quatro, também eles a parecerem mais interessados em ser vistos que em ver, não é fazer o que faz o cidadão comum. É outra coisa qualquer, é uma espécie de novo-riquismo que lhes retira de cara o que lhes acrescenta de cu!
“A ignorância da juventude é um espanto”. Esta era frase de um programa de humor do Jô Soares, há já muitos anos. A ignorância da juventude feita deputados da nação é um escândalo que não espanta!