Claro que foi "cada tiro cada melro", neste clássico do Dragão. Claro que, nas circunstâncias do jogo, em cada uma delas, os astros estiveram sempre todos alinhados para o Porto. Mas nada disso relativiza aquilo que foi a absoluta nulidade da exibição do Benfica, e a estrondosa goleada (0-5) com que saiu esta noite do Dragão.
Não sei se foi o "adeus" definitivo ao campeonato. Mas sei que, a jogar assim - nunca caiu tão baixo como hoje, mas há muito que a equipa não dá garantias - o bi-campeonato nunca passará de sonho. E, francamente, cada vez mais me convenço que, se um treinador, com os melhores jogadores não for capaz de construir a melhor equipa, alguma coisa está errada.
É que a derrota dói. E a goleada dói ainda mais. Mas a recorrente incapcidade do Benfica em se superiorizar aos principais rivais em algum dia haveria de acabar desta forma. Que tudo isto aconteça em cima do 120º aniversário do Glorioso apenas dá mais cor à dor.
Luz cheia - mais de 62 mil - como é já habitual. A transbordar. De festa, fervor e paixão!
Sem medos, nem tremideiras. Roger Schemidt deu o mote, como que a anunciar que isso é passado. "Neres e Di Maria são compatíveis" - tinha anunciado. Se são compatíveis, é para já. Sem medo!
A Luz gostou. Gostou dos dois desequilibradores nas duas alas, e gostou da mensagem de coragem que se lia na constituição da equipa. Com Neres e Di Maria no onze, Schemidt dizia que não tinha medo. E a mensagem parecia passar para o relvado, transportada pelos jogadores.
Mas esgotou-se rapidamente. Em poucos minutos. Foi "sol de pouca dura". Nem cinco minutos durou. Devia ser muito pesada, os jogadores não a conseguiram carregar mais tempo. E o Porto começou a parecer que queria mandar naquilo tudo. E como quando uns mandam os outros baixam as orelhas, os jogadores do Benfica começaram a baixá-las. Não deu bem para perceber se chegaram a ficar assustados, mas lá que deu para perceber que "baixaram as orelhas", deu.
Aproximava-se a primeira parte do meio quando o Fábio Cardoso, aspirante a Pepe, mas ainda sem a sua impunidade, foi (bem, indiscutivelmente!) expulso por, sem pernas para Neres, a caminho da baliza do Diogo Costa, o mandar abaixo, sem dó nem piedade.
Só por isso, por passarem a jogar contra 10, se não chegou a perceber se os jogadores do Benfica estavam mesmo a ficar assustados. Mas percebeu-se que não estavam inspirados. A equipa poderia não ter medo, o problema é que não tinha mais nada. Não tinha velocidade. Não tinha intensidade. Não tinha coragem. E parecia até não ter lá grande vontade. A expulsão galvanizou mais (ainda mais!) as bancadas que os jogadores. A inspiração, essa, sobrou apenas para Trubin.
E que bem-vinda que é!
Não é que o guarda-redes do Benfica - a quem impuseram a necessidade de ter de provar tudo - estivesse a ser sujeito a muito trabalho. Mas fez - e bem - o que teve para fazer. Com duas intervenções - uma arrojada e corajosa saída aos pés do Taremi; e uma grande defesa a desviar o remate de Pepê, já perto do intervalo, quando o Porto já deveria estar reduzido a nove jogadores - impediu que corresse mal o que realmente poderia ter corrido mal.
Do lado do Benfica apenas uma oportunidade e meia de golo. A meia de Di Maria, quando o chapéu ao guarda-redes do Porto saiu ligeiramente por cima, logo no primeiro minuto, quando os jogadores ainda carregavam a coragem que Roger Shemidt lhe tinha posto às costas; e aquele lance pouco depois da meia hora, quando Neres fugiu pela esquerda, e o Diogo Costa defendeu o remate prensado, na mancha, para se levantar e afastar, com uma vistosa palmada, a bola que, no ressalto, ia a pingar para dentro da baliza. E, logo a seguir, uma escapada de Rafa pela direita, depois de ganhar em velocidade a David Carmo, acabando travado em falta quando se isolava. Num lance muito idêntico ao que acabara na expulsão do Fábio Cardoso. Tanto que o Soares Dias, desta vez no VAR, não teve dúvidas em dizê-lo ao árbitro João Pinheiro, que apenas sancionara com livre e amarelo. Que confirmaria, contrariando a opinião do insuspeito Soares Dias, depois de consultar as imagens.
O Porto poderia, e deveria - pareceu-me - ficar reduzido a nove jogadores a um pouco mais de 10 minutos do intervalo. Aí, ao intervalo, só havia uma certeza - não era esperança, era mesmo certeza: a segunda parte tinha de ser completamente diferente!
E foi. Roger Schemidt não mexeu no onze, mas foi outra equipa que regressou dos balneários. Foi o Benfica, a jogar à Benfica, sem permitir ao Porto disfarçar que estava a jogar com menos um. Foi para cima deles e não os largou. Empurrou o Porto lá para trás, e sufocou.
As oportunidades de golo iam-se sucedendo. Claras, umas atrás das outras. O Porto não conseguia sair daqueles 20 metros à frente da baliza do Diogo Costa, que ia adiando o golo. Só nos primeiros 12 minutos da segunda parte, Musa falhou um golo feito, Kokçu atirou ao poste, Diogo Costa "roubou" o golo a Neres, isolado depois de passar pelo João Mário (o defesa portista) e de deixar o Zé Pedro (o central que entrou com a expulsão, substituindo o Romário Baró (a surpresa do Sérgio Conceição) sentado na relva, e o remate de Otamendi à malha lateral.
Em pouco mais de 10 minutos, três grandes oportunidades de golo. O golo tardaria ainda mais 10 minutos. Obra de Neres e Di Maria, os dois. Juntos. E compatíveis. Já com Cabral em campo, acabadinho de entrar para substituir Musa.
A Luz explodiu em festa. E o Benfica não levantou o pé. Logo a seguir o (excelente) remate de Otamendi, com o guarda-redes batido, saiu a rasar o poste.
O Porto, que na segunda parte fez um único remate, fraco e ao lado, tentou sair do sufoco e o Sérgio Conceição decidiu apostar nos últimos 10 minutos, lançando Ivan Jaime, o filho, Francisco e o Gonçalo Borges. Mas a circulação de bola do Benfica não lhes permitiu outra coisa que não fosse aumentar-lhes a frustração.
E sabe-se como aquela gente lida mal com a frustração ...
É uma vitória importante. É sempre importante ganhar. Mais ainda ganhar ao Porto. Mas é uma vitória que sabe a pouco. Um só golo, em seis ou sete oportunidades, é pouco!
O jogo chegava aos 90 minutos, e o Porto estava a perder com o Arouca, no Dragão. Como em dois dos três jogos anteriores para este campeonato "do vale tudo". À quarta, quinta ou sexta, já nem sei quantas foram as vezes que Taremi se mandou para o chão dentro da área, o árbitro assinalou finalmente o penálti procurado de todas as formas ao longo de todo o jogo. Viu-se logo que não passava de mais uma trapacice, que o VAR não poderia deixar passar.
Vimos todos. Viram todos. Os dois bancos portistas - um junto ao relvado e junto à tribuna do Dragão - mais pareciam a sala do VAR na Cidade do Futebol, com dezenas de olhos permanentemente postos nos ecrãs. Tantos ou mais que na sala mais famosa disto a que se chama futebol em Portugal. Toda aquela gente lá em cima viu. Como viram todos os que lá estavam em baixo. No banco que legítimo, ali ao lado do equipamento a que o árbitro teria de se dirigir.
O resto é conhecido. Quando o árbitro lá chegou o equipamento não funcionava e, conforme estabelecido nos regulamentos, a comunicação teve de se fazer por via telefónica. Soube-se, já hoje pelo comunicado do Conselho de Arbitragem, que o equipamento deixou de funcionar por ter deixado de funcionar a tomada eléctrica que o alimentava.
Não se sabe porquê. Mas nem é preciso ser adivinho para saber que foi propositadamente desligada para que as imagens que todos viram não fossem vistas pelo árbitro.
Sabe-se, e não se sabia, pelo mesmo comunicado, que o "plano B" do sistema foi accionado em poucos minutos, e que a comunicação com a Cidade do Futebol foi restabelecida em poucos minutos. E estranha-se, por isso, que novo penálti, mais uma vez criado na batota de Taremi, não tenha voltado a ser objecto de intervenção do VAR. Nem isso nem o golo do empate, aos 22 minutos da compensação que era de 17, com fortes suspeitas de fora de jogo de Evanilson, o marcador.
Tal como no inventado penálti redentor do jogo anterior, em Vila do Conde, sem qualquer imagem que o legitimasse, também aqui não houve imagens. Nem linhas.
Em quatro jogos o Porto já jogou cinco. Nesse quinto jogo adicional somou 7 dos 10 pontos que tem na classificação. Mas não se fala nada disso. Fala-se que o Porto quer a anulação do jogo. Já não lhes basta que os jogos apenas acabem quando o resultado lhes interessar. Agora querem mesmo repetir os jogos que nem assim consigam ganhar. Querem jogar 6 jogos em quatro jornadas. Ou os que forem necessários para ganhar.
Fala-se, e arregimenta-se o exército ao serviço para falar da reversão de um penálti inexistente por telemóvel. Mas não se fala de batota. Da batota instalada há mais de 40 anos no futebol em Portugal, e cada vez mais despudorada. Que, mesmo que cada vez também mais amadora, continua impune!
É por isso, e para isso, que o topo da pirâmide desta coisa é o que é.
O Benfica ganhou a Supertaça. Dizem que é o primeiro título da época, e metem-no na contabilidade de "alhos e bugalhos" ao lado dos campeonatos nacionais. Se é assim, que assim seja.
Mais importante que o título é, e continuará a ser a vitória sobre o Porto. Todas são importantes mas, estas, no arranque da época, são marcantes. Marcam muito do que aí há-de vir como, de resto, está demonstrado. Esta, neste início de época, depois de uma pré-época que não foi igual à última. E que na realidade, em particular pelos dois jogos perdidos, com o Burnley e com o Feyonoord, antagonistas com muitos pontos em comum com o que é o estilo do Porto, não augurava nada de bom para o confronto de hoje.
O onze escalado por Roger Schemidt para subir ao relvado do "elefante branco" de Aveiro, não ajudava muito a suplantar aquele estado de espírito meio depressivo que se apossara dos benfiquistas. Sem Gonçalo Ramos, o treinador do Benfica optou por entrar a jogar sem ponta de lança, e associou-se essa decisão ao "clássico" medo de defrontar o Porto. O medo que os portistas fazem gala de propagandear.
Depois do jogo, e depois daquela segunda parte em que o Benfica "engoliu" o Porto, a ideia de "medo" caiu por terra. Em boa verdade, já na primeira parte, houve razões para desfazer essa ideia. É certo que o Benfica abdicou então do seu futebol de circulação, de primeiro toque e velocidade. Mas os jogadores foram à luta, foram bravos e nunca revelaram medo. Não foram menos intensos, não fugiram aos duelos e nunca se esconderam do jogo. E só faz isso quem não tem medo!
A primeira foi um "clássico", dentro do clássico. O Porto entrou com tudo para meter medo, no seu registo habitual nestes jogos do clássico. Intensidade, pressão em todas as zonas do campo, e sobre o árbitro, às vezes um pouco de bom futebol e, sempre, a manha. E os truques batoteiros.
O árbitro, Luís Godinho, foi o costume destes jogos. Também um clássico. Cedo começou a distribuir amarelos sobre os jogadores do Benfica, por dá cá aquela palha. Três seguidinhos. Para o outro lado ... nada. Zaidu entrava como queria às pernas de Bah (foi assistido pela equipa médica, e quase que teve ser substituído) e de Di Maria. E nem falta era assinalada. Curiosamente, só quando o árbitro começou também a brindar os jogadores do Porto com o cartão amarelo, o comentador da RTP passou a achar que ele estava a usar de critério muito apertado, e que poderia vir a estragar o jogo. Um "clássico", também!
Mais escandaloso ainda seria aquele fora de jogo assinalado a Rafa quando já seguia isolado para a baliza de Diogo Costa. Mandam as regras que o árbitro deixe seguir a jogada, assinalando-o - bem ou mal - apenas quando ela for concluída. Se a conclusão resultar em golo, então a decisão caberá ao VAR. O árbitro assistente levantou logo a bandeira, e Luís Godinho apitou de imediato, matando ali a jogada. Rafa, viu-se pela repetição, estava em posição legal. Ou, já perto do intervalo, quando o Eustáquio domina a bola com a mão, mesmo de frente para o árbitro assistente do lado direito do ataque portista, e ... nada. Deu canto para o Porto.
O "clássico" nos seus clássicos. O que fugia ao "clássico" era a forma como o Benfica, mesmo fora do seu registo, ia revertendo o clássico. E, muito à custa da rotação e abnegação de João Neves, e da categoria extra de Di Maria, equilibrando um jogo que os portistas só verdadeiramente conseguiram desequilibrar nos primeiros quinze a vinte minutos.
Ao intervalo Roger Schmidt mudou tudo, mudando apenas dois jogadores amarelados. Tirou João Mário, amarelado e atropelado pelo jogo, para entrar Musa. E Ristic por Jurasék, mudando Aursenes para a ala esquerda. E o Benfica passou a apresentar o seu modelo de futebol, e tomou conta do jogo. Pressão alta, circulação de bola em poucos toques, dinâmica e velocidade. E o Porto afundou-se naquela torrente de futebol, com largos minutos sem sequer conseguir sair do seu meio campo.
Os golos, de Di Maria, primeiro, ao esgotar o primeiro quarto de hora, e de Musa, sete minutos depois, resultaram desse futebol. E foram colheita parca para tamanha superioridade, e para tantas oportunidades criadas.
Roger Schemidt foi mexendo na equipa, dando prioridade aos amarelados mais expostos - Kokçu e João Neves (por Florentino e Chiquinho) - mantendo-a no alto nível de qualidade atingido, que ia fazendo vibrar os adeptos nas bancadas, entoando os dispensáveis, mas compreensíveis, olés.
Os restantes "clássicos" do jogo continuavam lá. Mas impotentes para travar a avalanche benfiquista. Luís Godinho continuou com a sua dualidade de critérios - então já nada apertados - poupando o segundo amarelo a Pepe, a Zaidu, a Grujich, a Marcano... E fazendo-se de morto quando Pepe - outro "clássico" - descarregou a raiva pelo joelho nas costas de Jurasék, ao minuto 90. Foi acordado pelo VAR, e lá teve de lhe mostrar o vermelho que há tanto tempo tardava.
Logo a seguir, mais um "clássico". Gonçalo Borges domina a bola com a mão e deixa-a para Galeno rematar para dentro da baliza (seria um grande golo!). Os quatro árbitros em campo, estavam todos a dormir, exactamente como no idêntico movimento de Eustáquio. O VAR teve de os acordar, e o Sérgio Conceição não gostou. Estava a gostar de os ver a dormir, e tomou para si o sobressalto.
Foi expulso pela enésima vez. Mais um "clássico". Mas desta refinou a arruaça. Recusou sair. Que não saía dali de maneira nenhuma. Nunca visto! Como nunca visto acabar a obrigar Luís Godinho a ir falar com ele, ordem que enviou por Marcano. No fim, não falou. Nem deixou ninguém falar. O último "clássico"?
Não. Pepe e Sérgio Conceição fizeram questão de não sair do campo sem o fazerem a provocar os adeptos benfiquistas!
Casa cheia na Luz para o clássico, à 27ª jornada. E cheia de crença, com mais de 60 mil a vibrar nas bancadas, convencidos que o 38 estava já ali, ao virar da esquina.
O jogo da passada semana em Vila do Conde não deixara de mostrar que a forma da equipa não era a mesma de há semanas atrás, antes da paragem para as selecções. Sempre de má memória nesta época de exibições empolgantes. Mas, na Luz, a memória que contava era a das últimas exibições que lá se tinham visto. E essas justificavam todo aquele entusiasmo, que desde bem cedo se sentia ao redor do Estádio. É que, antes de o encherem, os benfiquistas encheram tudo ali à volta.
Frente a frente estavam um Benfica demolidor, e um Porto titubeante, separados por 10 pontos na classificação. Um Benfica convincente, afirmativo e exuberante, e um Porto que vinha de exibições fraquinhas e resultados apertados, frequentemente melhores que as prestações dentro de campo. Mas um Porto que à custa da crença e do querer, mas também de estratégia competitiva, consegue quase sempre atingir níveis de extras de competitividade nos clássicos, e em especial nos jogos com o Benfica.
E, no apito, o inevitável Artur Soares Dias. Invariavelmente habilidoso, cedo incendiou a Luz. Começou logo aos 2 minutos, quando António Silva, depois de ser assistido após um "chapadão" de Taremi, teve de sair do campo e de esperar "uma eternidade" pela autorização para reentrar, enquanto o Porto ia construindo sucessivas jogadas de ataque. Depois foi o amarelo a Florentino, logo a seguir, condicionando-o logo de início.
O Porto entrou pressionante. Ao contrário, o Benfica abdicou da pressão e da decisão de mandar no jogo, para se deixar ficar a ver. E marcou na primeira vez que chegou à baliza de Diogo Costa,logo aos 9 minutos. Mas nem o golo - de Gonçalo Ramos, que acabou até creditado como auto-golo, porque a bola acabou de seguir da barra para dentro da baliza depois de bater na nuca do guarda-redes portista - disfarçou as primeiras indicações que o jogo ia dando. Na Luz, o golo era de Gonçalo Ramos, e catapultava-o para liderança dos marcadores. E era a confirmação de todo aquele ambiente de festa. O resto não interessava para nada.
Mas interessava. A jogar daquela forma, falhando nas decisões e falhando passes ia entregando o jogo ao Porto. Ao jogar daquela forma, com a desinspiração generalizada, mas mais acentuada ainda em Rafa e Grimaldo, e com Gonçalo Ramos muitas vezes atrás da linha da defesa adversária, a impedir melhores decisões ao portador da bola, a equipa não tinha dinâmica, empastava o jogo e permitia que facilmente os jogadores do Porto cortassem as linhas de passe. Como se tudo isso não fosse suficientemente mau, os jogadores faltavam aos duelos, e deixavam o Porto ganhar as todas as segundas bolas.
E foi assim ... Foi assim que o Porto chegou ao empate no golo de Uribe, em cima do minuto 45. E que só não passou para a frente ainda antes do intervalo porque, nos últimos dos seis minutos de compensação da primeira parte, o golo foi anulado a Galeno por fora de jogo. De 6 centímetros.
Não podia ser assim a segunda parte. Mas foi. E quando o Porto fez o que o Benfica havia feito na primeira parte, marcando no mesmo minuto 9 - numa jogada em que toda a defesa falhou, incluindo Odysseas que, apesar do remate de Taremi ter saído muito chegado ao seu poste direito, pareceu que poderia ter feito melhor - percebeu-se que o Benfica de hoje não dava para ganhar ao Porto.
Poderia não haver muito a fazer para alterar esse cenário. Quem ainda não tinha percebido percebeu que o plantel não tem profundidade para alterações desse tipo. Mas na verdade Roger Schemidt também não fez nada para o alterar, e afundou-se com a equipa.
Logo a seguir ao golo, trocou Florentino por Neres. Que começou por trazer alguma coisa ao jogo, mas pouco. Depressa foi engolido pela espiral de desacerto de toda a equipa. E só voltou a mexer muito tarde, aos 87 minutos, para trocar Rafa por Musa, para uns minutos finais de, finalmente, alguma agressividade. Que não deram para nada, a não ser para deixar a ideia que, se pelo menos essa intensidade final tivesse chegado bem mais cedo, o jogo poderia ser bem diferente.
Quando as coisas não correm bem há que querer. Que lutar. Hoje, sem a qualidade e os automatismos de há poucas semanas, o Benfica - jogadores e treinador - conformou-se e abdicou de outras as armas para lutar pelo resultado.
Não é fácil que esta derrota - e esta paupérrima exibição, ao nível, se não mesmo pior, da de Braga - não deixem marcas. Para já, para o jogo com o Inter. Se este eclipse não se der por "extinto" na próxima terça-feira, para que a equipa retome os padrões da época, tudo se pode complicar.
É que a margem de 7 pontos esgota-se numa derrota e dois empates. Bastam dois ou três jogos a este nível para se repetir a história que já conhecemos por duas vezes nos últimos anos.
O Porto levou um banho de bola do Rio Ave, no Dragão. Pepe agrediu um adversário dentro da sua área, e mandou-se para o chão agarrado à cara. O árbitro assinalou falta contra o Rio Ave. A Sport TV não voltou a mostrar imagens do lance. O VAR não viu nada.
Mais tarde, um jogador do Rio Ave, Hernâni, antigo jogador do Porto, recebeu a bola no peito, dentro da área portista, sozinho. O árbitro parou a jogada e assinalou mão ao jogador do Rio Ave. O VAR não podia intervir, e a Sport TV não queria mostrar.
Um corte a varrer, que em Pepe é imperial, num jogador do Rio Ave é falta e amarelo.
O Porto marcou no último segundo da primeira parte, na única oportunidade de golo de que dispôs. E chegou, para ganhar mais um jogo em que não jogou nada. Passado, grande parte, a "queimar tempo", e que acabou em "chutão" para onde estavam virados.
Para "Luís Feito Bobo", nada a apontar. Só a "naõseiquantésima" vitória do Porto. E o papel que Sérgio Conceição mandou para dentro de campo, e que dele saiu para que ninguém soubesse o que dizia. A não ser "Luís Feito Bobo"... E o melhor em campo foi Eustáquio.
No fim, nada de especial de passou. Sérgio Conceição não cuspiu em ninguém, a vitória foi justíssima, e estava feliz e bem disposto. Como Luís Freire, encantado com a exibição da sua equipa, que teria eventualmente merecido o empate. E sem nada de que se queixar.
É assim. É isto o futebol em Portugal. Com tudo alinhado na forma do costume. Há mais de quarenta anos!
O Benfica voltou a ganhar no Dragão e, sendo muito cedo - esta é apenas a décima jornada -, deu um passo importante rumo ao há tanto adiado 38.
Os primeiros instantes do jogo deram a indicação de um Benfica descomplexado, e pronto a discuti-lo sem medos nem receios. Passados esses primeiros minutos começou a surgir a esperada pressão alta do Porto, e como ela os primeiros passes falhados do meio campo benfiquista. Os primeiros dos muitos, de mais mesmo, que marcaram hoje o seu futebol. E o Porto conheceu então o único período de superioridade no jogo.
Foram cerca de 10 minutos, os últimos do primeiro quarto de hora, que se esgotaria com a única ocasião de golo, negado por Vlachodimos, numa defesa extraordinária.
A partir daí o Benfica passou a equilibrar o jogo e, depois da expulsão de Eustáquio, aos 27 minutos, a superiorizar-se em todos capítulos do jogo. E mereceria ter saído para o intervalo na frente do marcador, depois de duas ou três boas oportunidades de golo criadas, em especial aqueles dois remates aos ferros - Aursnes ao poste, e Rafa à barra.
Em vez disso, de sair a ganhar, saiu para o intervalo com uma carrada de amarelos para resolver. Até porque se sabia que, depois dos dois amarelos, em três minutos - quando o segundo deveria ter sido vermelho directo -, que ditaram a expulsão do jogador do Porto, naquele contexto, o segundo amarelo para cada um dos amarelados - João Mário, Bah, Enzo e Aursnes - seria uma questão de (pouco) tempo. Até porque o Porto já tinha em grande actividade todos os especialistas na pressão sobre o árbitro e nas simulações de faltas.
Avisado, Roger Schemidt deixou logo três deles no balneário. Apenas Aursnes continuou, e concluiu todo o jogo. E bem, com uma grande exibição.
A expulsão do Eustáquio, deixando o Porto reduzido a 10, condicionou o jogo. Mas os amarelos aos jogadores do Benfica não o condicionaram menos. Ao ficar órfão do futebol de João Mário e Enzo, o Benfica perdeu a orientação do seu futebol. E, na prática, ficou também a jogar com 10. Se Gilberto - que não esteve bem - ainda assim cumpriu, Draxler não existiu em campo. Saiu, lesionado, ao fim de 18 minutos, em que praticamente não tocou na bola. Dos três, apenas Neres, mesmo também amarelado desde cedo, teve verdadeira influência no jogo. Pelo que jogou, mas também porque, não fosse a superioridade numérica, não teria muito provavelmente entrado tão cedo.
Sérgio Conceição não fez alterações ao intervalo, e o Porto veio para defender. Com a equipa subida, mas a defender. E quando isso não fosse possível, então sim, lá atrás. E o jogo começou a correr-lhe de feição, até porque na sala de máquinas do Benfica não estavam nem Enzo, nem João Mário. As poucas ocasiões em que poderia marcar iam sendo desperdiçadas, e os jogadores começavam a acusar claro nervosismo. Viu-se em muitos deles, mas viu-se mais claramente no António - com o miúdo a acusar a perseguição que lhe foi movida nos últimos dias - e em Gilberto, que transformou um passe ao guarda-redes num remate que obrigou Vlachodimos a uma defesa complicada.
Percebia-se que se entrara numa fase do jogo em que o Porto começava a acreditar que até poderia ganhar o jogo. Percebeu-se logo a seguir que acabaria traído pela ambição. Ao adiantar-se no terreno deixava o espaço que o Benfica não tinha ainda encontrado quando só defendia. Lá atrás, ou mais à frente.
Espaço que é oxigénio do futebol de Neres e Rafa. Combinaram pela esquerda, lá surgiu finalmente o golo. Que o árbitro João Pinheiro anulou de imediato, mesmo que fosse por demais evidente que David Neres estava em jogo quando recebeu a bola, antes de a devolver para que o Rafa a rematasse para dentro da baliza. Valeu o VAR!
Nem com o golo a equipa tranquilizou. Pelas mesmas razões anteriores, mas porque, logo a seguir, Musa - que entrara por troca com Draxler - não matou o jogo, rematando por cima da barra uma bola que, a dois metros da baliza, só tinha que empurrar lá para dentro.
Sucederam-se faltas e livres nas proximidades da área do Benfica. E truques, dos habituais no Dragão. E mais amarelos... mas nunca para o Octávio. Que teria de ter sido expulso, não fosse isso uma impossibilidade.
Houve sofrimento até ao fim. Mas a bola só esteve realmente perto de entrar na baliza do Diogo Costa. Que teve ainda tempo de fazer uma defesa tão grande que até tirou a bola de dentro da sua baliza. Há VAR, mas não há tecnologia da linha de golo. Vá lá perceber-se por quê.
Claro que nestes jogos, mais que em quaisquer outros, o mais importante é ganhar. Logo a seguir, é ganhar bem. O Benfica ganhou, e ganhou bem. Não jogou bem, mas isso nunca é possível nestes jogos no Dragão. É tão impossível como o jogo acabar com imagens de fair play. Ou como Sérgio Conceição aceitar uma derrota!
O futebol em Portugal cabe todo no jogo deste fim de tarde, na Luz. Qualidade abaixo de zero, largas dezenas de faltas, jogo parado na maior parte do tempo, e "habilidades" várias. De árbitros e jogadores.
Foi isto que se passou neste clássico, e é isto que se passa no futebol que por cá acontece.
Sabia-se que este jogo podia acabar na decisão do título, na garantia matemática do apuramento do campeão desta época. Bastava ao Porto empatar na Luz, e desde bem cedo se percebeu que era exactamente isso que procurava do jogo. Ao Benfica cabia fazer tudo para ganhar o jogo. Porque é essa a exigência de sempre, e porque isso era necessário para impedir que o Porto voltasse a fazer festa na Luz.
Os maus resultados nas últimas épocas contra o Porto, esta incluída, foram sempre vistos à luz da diferença de competitividade das duas equipas. O Benfica era sempre suplantado pela garra e pela agressividade do adversário, sempre com evidentes dificuldades de resposta na disputa dos lances, fosse pela pressão do adversário sobre o portador da bola, fosse nos duelos individuais. Ficou a ideia que, neste jogo, os jogadores do Benfica quiseram enfrentar essa dificuldade. Que entraram em campo convencidos que teriam de usar as mesmas armas do adversário.
E na verdade o Benfica hoje não tinha outros argumentos e, a gosto ou a contra-gosto, teria de ser por aí que iriam discutir o jogo. E isso fez lembrar a célebre frase de Bernard Shaw: Nunca lutes com um porco; ... ficas todo sujo, e ainda por cima o porco gosta. É certo que os jogadores do Benfica lutaram até à exaustão, foram duros, não viraram a cara à luta. Mas, no fim ... o porco gosta.
E o jogo foi isso, não muito mais que isso. Sempre que o Benfica conseguia impor outro ritmo ao jogo lá vinham os mestres a mudá-lo para o lamaçal. Mais uma queda, mais um rebolar na lama, mais uma manha. E lá voltava tudo ao mesmo. Como o porco gosta.
Na única vez que conseguiu fugir à luta com o porco, teve sucesso. Houve futebol, e golo. Um grande golo, até. Só que ... não vale. Não pode valer. E então arranjam-se dois centímetros para não valer. E no fim, ao quarto minuto dos seis de compensação, já esquecidos da missão que tinham levado para o jogo, deixaram que um adversário interceptasse uma bola na sua área e corresse com ela o campo todo sem ninguém pela frente até à baliza.
Se o jogo tinha sido mau, se a lata tinha tido apenas dois centímetros, e se o empate já lhes dava direito a voltar a fazer a festa em nossa casa, o pior nem era perder o jogo. Era perdê-lo aos 90+4 com um golo ... de Zaidu!
Depois de nos termos lembrado da frase do dramaturgo irlandês, acabamos a lembrarmo-nos de um tal Kelvin.
"O futebol é isto mesmo" - é uma das mais recorrentes expressões do futebolês. E até já deu título de livro.
No passado domingo o Porto ganhou em Guimarães, com um golo na conversão de um dos dois penáltis assinalados pelo árbitro João Pinheiro, e confirmados pelo VAR, Rui Costa. Árbitro e VAR que viram nos unanimemente reconhecidos mergulhos de Taremi para a piscina razão para assinalar dois penáltis, mas já não viram qualquer falta quando o Mbemba atropelou dentro da área o central vimaranense Jorge Fernandes, partindo-lhe a clavícula. A equipa da casa teve ainda um jogador expulso,
No final do jogo, as declarações de Pepa, o treinador da equipa do clube de Guimarães presidido por um sócio do Porto, foram para exaltar o mérito de Taremi e para dizer que o Porto tinha jogado para ser campeão.
Hoje, de novo em Guimarães, na recepção ao Paços de Ferreira, que ao intervalo tinha 65% de posse de bola, a equipa de Pepa beneficiou de - não um, não dois, mas três - três penáltis, qual deles o mais discutível. E da expulsão de um adversário, logo ao segundo.
Em Portugal, o futebol é mesmo isto mesmo. Quem se portar bem não se vai dar mal!
Acompanhe-nos
Pesquisar
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.