VOLTA A PORTUGAL (IV)
Por Eduardo Louro
David Blanco será o vencedor da Volta a Portugal, pela quinta vez. Feito único na História, e previsível!
Depois da Serra da Estrela, com os dez primeiros separados por pouco mais de um minuto, e com David Blanco e Hugo Sabido, os dois primeiros, separados por oito segundos – ditados pela bonificação de 10 segundos do espanhol mais português do pelotão pela sua vitória na etapa de ontem - seria o contra-relógio de hoje a fazer a diferença. E fez: os dez primeiros são os mesmos que já o eram, mas o décimo ficou já a bem mais de 3 minutos do primeiro. E Davido Blanco, que foi hoje o quarto em Leiria – ganhou o espanhol Alejandro Marque, do Tavira que, perdendo o azarado Ricardo Mestre, vencedor do ano passado e dado como o mais forte adversário para Blanco, obteve a sua primeira vitória nesta Volta – ganhou 14 segundos a Sabido, ficando agora com 22 de vantagem.
Também o pódio ficou definido e como estava, com Rui Sousa a conseguir defender o terceiro lugar que trazia da Serra, onde já garantira a título de melhor trepador. Bem como o Prémio da Juventude, confirmado hoje pelo espanhol David de la Cruz.
Para definir na etapa de consagração de amanhã ficou a camisola dos pontos, que de Sérgio Ribeiro roubara ontem ao sul-africano Van Rensbur (segundo no contra-relógio) para lha devolver hoje.
E pronto. Cai amanhã o pano sobre esta 74ª Volta a Portugal: uma volta a Portugal de D. Afonso Henriques, que não chegou a ser rei de Portugal e dos Algarves, que assim explica porque é que há uma Volta ao Algarve e uma Volta ao Alentejo: porque a Volta a Portugal não chega lá!
Uma última nota marginal mas que me impressiona particularmente e que, de alguma forma, dá conta de um Portugal que é muito diferente do de há alguns anos. Refiro-me à facilidade de expressão dos ciclistas portugueses, na generalidade!
Nas sucessivas entrevistas exprimem-se com grande à vontade, num português escorreito e, com grande lucidez, dizem coisas. Não falam, não soltam banalidades e lugares comuns: dizem! Pronunciam-se sobre fisiologia, sobre os incidentes da corrida, sobre os aspectos técnicos, tudo com a propósito. Tudo com boa fluência, sem pontapés na gramática e com um vocabulário digno!
Como é diferente do futebol… Os jogadores de futebol, que ganham milhões, deveriam pôr os olhos (e os ouvidos) nestes atletas!
Finalmente, e porque vem a propósito – também a carapuça serve aos jogadores de futebol -, quero salientar o esforço dos ciclistas espanhóis em expressarem-se em português. É corrente, e praticamente geral, nos ciclistas que integram equipas portuguesas, mas mesmo nos que representam formações espanholas. Notável!
Mais notável só a parolice dos entrevistadores da televisão portuguesa, que os entrevistam em portunhol. Mais caricato que às perguntas em portunhol eles responderem em português, é - como ainda hoje se verificou na transmissão em directo do contra-relógio – o pivô da emissão, no caso o simpático João Pedro Mendonça, proceder à dobragem. Por cima, traduzir para português a pergunta em portunhol e a resposta do ciclista espanhol ... em português. Com sotaque espanhol, mas em português puro e claro!
Enfim: às vezes parece que há uns portugueses que querem andar para a frente enquanto outros insistem em não sair do mesmo sítio. O grave é que estes sejam os que têm mais responsabilidades!