FUTEBOLÊS#110 PRIMEIRO POSTE
Por Eduardo Louro
Os postes fazem parte da baliza. Cada uma tem dois e, ao contrário da inseparável trave – que tanto lhe chamam trave, como travessa, travessão ou barra – respondem sempre e só pelo nome de poste.
Tempos houve em que eram de madeira, bem facetados, uns paralelepípedos longuilíneos. Outros, quando a bola se jogava nas ruas, em que nem passavam a barreira do virtual, quando quaisquer duas pequenas pedras davam para assinalar os dois únicos limites físicos de uma baliza, com postes e barra virtuais, imaginados a partir daquelas duas pedras. São, de há uns tempos a esta parte, em tubos metálicos redondos. Pintados de branco, como sempre…
Nada disto tem, em futebolês, especial relevância. Não é a isso que se dedica nem é com isso que se preocupa. Os postes estão lá para realizar a sua função, o que, para o futebolês é perfeitamente secundário!
O que para o futebolês é fundamental é perceber que, numa bola parada ofensiva, é decisivo colocar alguém ao primeiro poste que possa desviar a bola para um companheiro que entre ao segundo poste. Porque, assim, desposiciona a defesa adversária, irremediavelmente batida pelo desvio ao primeiro poste! Ou que, a defender um canto, não se deve descurar a cobertura ao primeiro poste. Ou mesmo a ambos, com um jogador bem encostado a cada um deles!
Ou ainda que, se o atacante está descaído para a direita, deve tentar colocar a bola no segundo poste. Porque o guarda-redes adversário terá a preocupação de tapar ao primeiro poste: quer dizer, por ali ela não passa. Neste caso ao segundo poste também se chama poste mais distante, sendo que o mais próximo é o primeiro poste!
Naturalmente que o mais fácil é rematar ao primeiro poste. Apenas os mais dotados conseguem, com êxito, rematar ao segundo poste. Através da trivela ou da folha seca porque, de outra forma, o mais certo é a bola acabar por sair mais perto da linha lateral do que do segundo poste.
Curiosamente estes dois postes deixam de ser o primeiro e o segundo para passarem simplesmente a ser o direito ou o esquerdo quando a referência é o seu mais fiel companheiro: o guarda-redes. Ninguém convive tão de perto com os postes como o guarda-redes, há ali uma intimidade óbvia e cumplicidades evidentes que constituirão razão suficiente para um tratamento diferenciado. Daí que, quando a referência é o guarda-redes, a bola não sai ao lado do segundo poste. Nem entrou junto ao primeiro poste. A bola saiu ao lado do poste direito do guarda-redes, ou entrou junto ao poste esquerdo…
Se a bola vai ao poste, e se afasta das redes, é o romance entre o poste e o guarda-redes na sua maior exaltação. Já se do poste ela ressalta para dentro da baliza, alguma coisa de errado se terá passado entre ambos. Mas, em qualquer dos casos, a bola bateu no poste … direito. Ou no esquerdo. Nunca no primeiro ou no segundo poste!
Alguma coisa de errado se terá também passado à volta do jogo deste fim-de-semana entre o Feirense e o Benfica. Consta que o Feirense, para maximizar a receita do jogo e aproveitar da melhor forma o autêntico abono de família que são as visitas do Benfica, solicitou à Liga que o jogo se realizasse em Aveiro onde, de resto, a equipa tem jogado por ter o seu estádio em obras. Consta que a Liga não aceitou essa pretensão do clube de Vila da Feira, coisa que terá algo de errado. Ou que não se percebe. Ou que talvez se perceba de dermos ouvidos a um boato que por aí circula: que alguém terá oferecido ao Feirense o montante de compensação da receita. O que até explicaria os exorbitantes mais de 25 euros que cada adepto do Benfica terá de desembolsar para assistir ao jogo…
Enfim, outros postes… E outros romances!