Quando se esperaria que os parceiros sociais se mostrassem perocupados com todas as crises que estarngulam o país, para o que nem precisavam sequer de grande imaginação, ficamos a saber que os representantes dos patrões estão afinal preocupados é com o quadro político.
Vasco de Melo, da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, receia que a nova maioria possa pôr em causa "os consensos adquiridos nestes últimos anos". Não são menores, bem antes pelo contrário, as preocupações de António Saraiva, o presidente da CIP, com atual quadro político. Podia ter-se ficado pela oposição declarada a qualquer reversibilidade na legisalção laboral que o anterior governo e a troika lhe entregaram. Percebia-se... Mas diabolizar publicamente o Bloco de Esquerda é que já é do diabo. Declarar-se atacado por um partido "que tem sobre a iniciativa privada e os empresários uma leitura de diabolização" é mesmo coisa do diabo. E de política baixa, que não pode ser para levar a sério... Deveria esperava-se mais qualquer coizinha. Assim é poucochinho...
Faz hoje 5 anos que Portugal pediu ajuda externa ou, dito de outro modo, se entregou às mãos da troika. O que veio a seguir já sabemos... A dívida é maior, muito maior, os bancos são menos e piores. Como nós, afinal. Somos menos, grande parte foi embora, e provavelmente piores. Certo é que, se não somos, estamos. Pior. Ainda.
Ainda não sabemos quem são os portugueses - e as portuguesas - entre a fina flor da vigarice mundial nos papéis do Panamá. Mas sabemos que por cá, com ou sem recurso a offshores, mais dois destacados membros da Polícia Judiciária cederam à corrupção, e passaram para o lado de lá, ao serviço do narcotráfico, que diziam combater. Não são os primeiros, nem serão os últimos. A boa notícia é que foram apanhados. A má não é notícia, é preocupação: e quantos não são?
Preocupantes são também as declarações do Governador do Banco de Portugal, ontem na Comissão Parlamentar de Inquérito ao Banif: não tem culpa de nada - nunca tem culpa de nada, coitado -, culpados são o governo anterior - ingrato! -, a administração do banco, o BCE e a Comissão Europeia. Ele é que não. Não tem culpa, porque não tem poderes... Coitado. Outra vez...
Acho que ninguém em Portugal tem dúvidas sobre o interesse do país em manter um grande banco público. Pode até haver quem se esteja a chegar à frente e a levantar o dedo, mas isso isso é apenas um impulso irreflectido de mentes liberais mais empedernidas. Depois de tudo por que temos passado, e com o BES bem fresquinho na memória - tão fresquinho que até já andamos todos a fazer contas a quanto é que desta vez nos vai tocar (agora sim, é que se justificaria o tal simulador, que há uma semana tiveram tanta pressa em disponibilizar no site das finanças) -, não há alminha que, por mais enraizada que estivesse a ideia na sua cabeça, ache que a Caixa Geral de Depósitos deva ser privada.
E no entanto, mesmo assim, o primeiro-ministro não pensa noutra coisa. Sabemos que é uma ideia antiga, e sabemos que é um sujeito teimoso.
Argumenta - não argumenta, evidentemente, põe o seu exército de escribas e pensadores a intoxicar a opinião pública, porque é essa a receita de sempre - que os bancos privados, ao contrário do banco público, já devolveram, em parte ou na totalidade, os montantes da ajuda financeira que receberam através daquelas obrigações com aquele nome meio mal cheiroso, as CoCo bonds. Mas não diz, nem diz para dizerem, que o banco público não está em atraso com nenhum reembolso. Nem que a banca privada procedeu aumentos de capital para efectuar esses reembolsos, isto é, teve acesso a capital não remunerado para substituir capital altamente remunerado. Coisa para que o accionista da Caixa, que o sujeito precisamente representa, não está disponível. Nem diz que, assim, sem acesso a capital accionista, aqueles 900 milhões de euros das CoCo bonds são importantes para os rácios de capital da Caixa. E que, se calhar, é por isso e não por qualquer problema de liquidez, que a Caixa não procedeu ao reembolso antecipado, com fizeram ou estão a fazer os banco privados.
Esteja descansado senhor primeiro-ministro. Não tem mais motivos de preocupação com a Caixa do que com os outros bancos. Tem razões para se preocupar com o sistema financeiro, tem sim senhor. Mas isso é outra coisa. Disso o senhor não fala...
O senhor quer apenas aproveitar todo e qualquer pretexto para chegar ao seu porto de abrigo. E neste caso é - ou era? - apenas a mais apetecida das privatizações!
O Benfica (também o Braga) está apurado para os oitavos de final da Taça, depois de eliminar o Moreirense – que eliminara o Sporting na última ronda – em Moreira de Cónegos. Ganhou o jogo por dois a zero, com o segundo – belíssima jogada iniciada em Ola John, abrilhantada por Gaitan e concluída por Cardozo – a coincidir com o último lance do jogo, depois de 60 minutos em muito bom nível com domínio completo e avassalador do jogo.
No entanto, tal como no passado domingo em Vila do Conde, há um mas!
Sabemos que, em tudo, são as últimas imagens que prevalecem. O Benfica está a permitir que as últimas imagens de cada jogo apaguem o que de bom faz durante a maior parte do jogo, deixando em muitos a ideia – errada – de que os jogos são uma coisa diferente do que na realidade são. No último jogo do campeonato, com o Rio Ave, acabou por ficar a ideia de que o resultado justo seria outro que não a vitória do Benfica. Apenas porque os últimos 10 minutos foram penosos!
Em Moreira de Cónegos correu-se o mesmo risco, apenas atenuado com o segundo golo e com o apagão – está a tornar-se um clássico das deslocações do Benfica ao Minho – que interrompeu o jogo por mais de meia hora.
Começa a ser preocupante a facilidade com que o Benfica perde o controlo dos jogos quando os adversários chegam ao último quarto de hora com um resultado desconfortável mas em aberto. Parece que equipa apenas consegue dominar e controlar os jogos em regime de ataque continuado e permanente, quando a sua proactividade atacante se casa com a passividade defensiva do adversário, agarrado a um resultado confortável. Logo que o resultado se torna desconfortável o adversário reage e a equipa treme: os passes que até aí saíam certinhos passam a ser falhados; as recepções que se não falhavam em pressão ofensiva passam a falhar-se, com ou sem pressão, em qualquer zona do campo; os adversários passam a chegar primeiro a todas as bolas e a ganhar todos os ressaltos.
A equipa – e os adeptos - não merecem passar por isto. Está a praticar um futebol de boa qualidade, ainda não chegou ao brilhantismo atingido nas épocas anteriores – nos momentos em que tudo corria bem – mas parece consolidar as alterações forçadas, reagir bem à adversidade de uma série de lesões e até já tem o capitão de volta. É um problema a resolver rapidamente: antes que dê maus resultados!
Mas deste jogo fica também a incrível actuação de Duarte Gomes: dois penaltis por assinalar (um do guarda-redes sobre o Lima e outro sobre o Luisinho), uma falta em cima da linha de grande área sobre o Bruno César transformada em cartão amarelo para o jogador do Benfica, mão leve para amarelos para os jogadores de encarnado (ridículo o amarelo a Matic) enquanto os do Moreirense tudo era permitido.
Se nos lembrarmos que isto não é novidade, nem exclusivo de Duarte Gomes, e que os quatro pontos perdidos no campeonato, que impedem o pleno e a liderança isolada, resultam do golo anulado a Cardozo na primeira jornada, com o Braga – que, curiosamente, não perde com o Benfica porque o árbitro anulou um golo limpo, e perde com o Sporting pela mesmíssima razão – e dos dois penaltis inventados em Coimbra, começa a haver sérias razões para preocupação. Não sei se mesmo maior que a dos últimos minutos destes últimos jogos!
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