Ponto final com reticências
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Foto daqui: https://saalmeida.wordpress.com/tag/comunicacao-social/
A violência gera violência. É sempre assim!
É condenável, a violência. Tudo deveria acontecer, apenas e só, no domínio do combate das ideias. O problema é quando elas não comparecem a jogo, e são substituídas pela mentira organizada, pela provocação e pelo insulto. O problema é quando o espaço que deveria ser o do combate de ideias, é substituído pelo da chafurdice imunda. Aí o combate não tem regras. Aí mandam os porcos.
O que ontem aconteceu em Setúbal é condenável. Foi condenado por todos os candidatos, à excepção, ao que se disse, de Marcelo. E foi amplamente divulgado pela comunicação social. Arremesso de pedras, dizem uns. De objectos, dizem outros. A diferença poderá não importar muito, mas é diferente.
Como diferente foi o eco dado pela mesma comunicação social à violência intimidatória sobre os próprios jornalistas, que aconteceu em Guimarães. Houve carros amassados e com vidros partidos. Mas não houve violência, apenas hostilização a jornalistas. A própria reportagem da RTP no local limitou-se à imperceptível nota final que, à chegada ao carro, não tinham pára-brisas. Sem uma imagem, se calhar porque também já não tinham câmara.
O Chega, a campanha, os capangas e os portugueses de bem de Ventura que se movimentam nas malhas do crime não geram violência. Apenas hostilidade!
A comunicação social sempre lhe achou graça. Deu-lhe palco e colo, e trouxe-o até aqui.
Conhecemos a receita do discurso político do André Ventura: mentir, mentir permanente e sucessivamente, desdizer-se, é capaz de meter na mesma frase uma coisa e o seu contrário, e fazer do insulto forma de expressão, tudo isto bem misturado em muita e imunda chafurdice.
É uma receita que dispensa o ingrediente principal - as ideias. Não há um pensamento, não há uma ideia, não há um fio condutor... É capaz de dizer coisas em que nem ele próprio acredita, e está já convencido que aquilo resulta, que com essa receita consegue fazer "as papas e os bolos" com que "se enganam os tolos".
A reportagem do Pedro Coelho, da SIC, emitida na terça-feira da semana passada e na passada segunda-feira, mostra mais. Mostra como está rodeado de criminosos, enquanto divide os portugueses entre portugueses bem e criminosos, que só podem estar na prisão, em perpétua. Ou executados pela aplicação da pena de morte.
Ficou ontem a saber-se ainda que, para Ventura, não há só portugueses de bem e criminosos. Também há avôs bêbados. O Portugal de Ventura, educado como Salazar no seminário, de quem parece contemporâneo, como se o tempo tivesse parado, é composto de portugueses de bem, criminosos e avôs bêbados. Ao mundo de Ventura acrescenta-se Trump, Bolsonaro e Marine Le Pen, tudo gente de bem, com provas dadas...
Os números (infectados, internados e mortes) da pandemia não param de crescer, atingindo a cada dia níveis nunca antes imagináveis. Para já só num deles vemos limite - no dos internados. Esse não irá continuar a subir, porque já bateu no tecto.
A opinião pública começa a ficar a sensibilizada para a tragédia, não que tenha mudado muita coisa na comunicação, mas porque praticamente toda a gente sente já doença no seu espaço de relação mais próximo. Mas não são ainda muitos os que têm uma verdadeira noção da tragédia que se está a viver nos nossos hospitais. Já não havia espaço para receber mais ninguém, nem para depositar cadáveres. Agora já nem há morfina para aliviar o sofrimento de uma das mais violentas mortes. Face aos escassos meios disponíveis é cada vez mais baixa a linha etária que marca a decisão de investir ou desinvestir no salvamento de uma vida.
É assim que as coisas estão. Sim, e é por causa do Natal. Hoje já não restam dúvidas. Enfermarias cheias com pessoas que, todas sem excepção, contam uma "história de Natal".
Entretanto também o Presidente da República está infectado. Ou não. Num teste não está, noutro já está, noutro volta a estar, e noutro volta a não estar. Esperemos que não esteja, e que, se estiver, recupere rapidamente.
A campanha eleitoral está praticamente suspensa. As eleições é que não. Lá continuam marcadas para o próximo dia 24, quando os especialistas apontam para 20 mil novas infecções por dia, um número inimaginável há poucos dias.
Não sei o que é preciso fazer para adiar as eleições. Não tenho dúvidas é que não se deviam realizar nesta altura, e que alguma coisa tem ser possível fazer. Realizá-las é certamente um atentado à saúde pública, à democracia ou a ambas. Os cidadãos responsáveis são confrontados entre o dever de ficar em casa e o de votar. E a responsabilidade de ficar em casa, nas condições actuais, sobrepôe-se à de votar.
A abstenção, que já seria elevadíssima pelo rumo que as coisas eleitorais por cá tomaram há muito tempo, é agora de todo incontrolável. A probabilidade de ter um Presidente da República eleito por menos de um quarto dos portugueses é enorme. E o risco de ser produzido um resultado eleitoral completamente desfasado do sentimento da maioria dos cidadãos é hoje perigosamente alto.
Não consigo perceber que ninguém perceba que está a acrescentar tragédia à tragédia.
Hoje é dia de regressos. À escola, ao trabalho... Começa até a presidência portuguesa da União Europeia, nestas presidências semestrais rotativas. O ano começa verdadeiramente hoje, mesmo que já leve três dias passados.
E não se pode dizer que tenha começado bem, o que também não surpreende muito.
Começou com a inacreditável "estória" que tem como personagem principal o procurador José Guerra, que o governo português quis que fosse o representante português na nova Procuradoria Europeia. Quis tanto que resolveu inventar no seu currículo, atribuindo-lhe feitos que ele próprio dizia não serem bem assim, que é o que verdadeiramente faz desta uma "estória" inacreditável. Estamos habituados a que toda gente aldrabe no currículo, mesmo sabendo que são apanhados logo a seguir. Que seja o governo - uma Direcção Geral, um Ministério, seja lá o que for - a aldrabar o currículo de um seu funcionário para parecer melhor lá fora, é que é novidade.
Começou com os debates na televisão dos candidatos presidenciais. Com pouco debate, mas o suficiente para percebermos muita coisa. Por exemplo que o André Ventura também aí segue as pisadas de Trump, não debate coisa nenhuma, apenas grita e manipula.
E começou com sondagens. Para as presidenciais, que dão o candidato da extrema-direita a discutir o terceiro lugar com João Ferreira, o candidato do PCP. E para eventuais legislativas, onde o CDS desaparece, com 0,3% de intenções de voto.
O Chicão entendeu fazer queixa à ERC ... Sempre a mesma coisa: mata-se o mensageiro. Afinal, de novo, só mesmo o ano...
Aí estão as primeiras sondagens a sério para as eleições presidenciais, daqui a pouco mais de um mês. Sem surpresas, não há um único resultado que não esteja alinhado com aquilo que é a sensibilidade comum.
Os 68% de intenções voto em Marcelo estão dentro das expectativas, provavelmente no seu limite superior. A dúvida será se ainda tem margem de progressão para se chegar ao resultado canhão de Mário Soares em 1991. Não me parece que tenha, como disse parece-me que este resultado estará já no limite superior daquilo que é expectável.
Os 5% de Marisa Matias e de João Ferreira também não surpreendem. Não que os candidatos não possam valer mais - e João Ferreira, o mais bem preparado a seguir ao Presidente recandidato, vale claramente mais - mas porque esta ideia de candidaturas meramente partidárias é chão que já deu uvas. O eleitorado é cada mais volátil, e não aprecia que os partidos se envolvam desta forma numas eleições que são unipessoais. Não surpreendem ainda porque os de João Ferreira não andam assim tão longe do actual potencial eleitoral do PCP. E os de Marisa Matias são provavelmente o mais fiel barómetro da volatilidade do eleitorado do Bloco de Esquerda. O Bloco tanto pode valer 10 a 12% numa conjuntura favorável, em que tudo corra bem e seja bem feito, como metade em circunstâncias contrárias. Como é claramente a conjuntura política actual, e como é o caso da incompreensível repetição da candidatura de Marisa Matias, um déjà vu que não tem nada de novo para acrescentar.
Resta assim a disputa pelo segundo lugar, para já de Ana Gomes, com 13% das intenções de voto, com com o aliciante de saber se, a confirmar-se a 24 de Janeiro, André Ventura, agora apenas com 8%, vai cumprir a promessa de se demitir da liderança do Chega. Desconfiamos que não, que ensaiará mais uma manobra de diversão para não cumprir coisa nenhuma dizendo que tudo cumpre, mas será sempre mais bonito ficarmos com certezas do que com desconfianças.
Perante este cenário dir-se-ia que a esquerda se deveria unir à volta da candidata Ana Gomes (se outras razões não houvesse até para desmascarar Andé Ventura), e que o PCP e o Bloco deveriam abdicar das suas candidaturas. Não creio que haja grandes condições para isso. A figura de Ana Gomes, o seu populismo, o seu discurso, e a sua imagem pouco institucional, por uma lado, e a forma desastrada como está a conduzir a campanha, por outro, tornam muito difícil a marcha-atrás dos dois partidos.
E simplesmente desmascarar André Ventura, o único que sai sempre a ganhar desta campanha, não constituirá motivação suficiente. Já o medo do resultado de Marisa Matias poderá levar o Bloco de Esquerda a dar esse passo sozinho. Também porque, dos dois, será o que menos anti-corpos encontra em Ana Gomes.
Ora aqui está um dia cheio de notícias. São notícias do país a arder às mãos de criminosos incendiários. É a do início do julgamento de oito portugueses acusados de terrorismo ao serviço do Daesh - mesmo que apenas se saiba do paradeiro de dois, e que apenas um compareça em tribunal -, no primeiro caso de terrorismo islâmico julgado em Portugal. É a da retoma das chamadas "reuniões do Infarmed", para avaliação do estado da pandemia que não abranda, relegando expressões como primeira e segunda vaga para meras questões de semântica, agora que o regresso às aulas agita ainda mais as consciências de cientistas, políticos e autoridades sanitárias. É a notícia da confirmação da candidatura de Ana Gomes ás presidenciais de Janeiro...
Seria esta certamente a notícia do dia, não fosse a notícia de Marcelo Rebelo de Sousa não ser notícia. Pode ser sintomático, ou até premonitório (não sei de quê), que Marcelo, que está sempre à frente de microfones e de câmaras de filmar, não seja notícia no dia em que Ana Gomes diz que vai a jogo.
Marcelo, como se sabe, é o candidato que ainda não é candidato. E por isso não podia reagir. Já Ventura, o candidato que já é candidato, reagiu de imediato e bem à sua maneira: se tiver menos votos que a depravada Ana Gomes, o símbolo (do mal) das minorias, corta os... Nada, demite-se do partido. Outra vez.
A candidatura de Ana Gomes vai mexer com muita coisa, não fosse ela um elefante numa loja de cristais... Atravessa todo o cenário eleitoral das presidenciais. Atinge e divide universo eleitoral do PS, e com isso o de Marcelo. Mas também o de Marisa Matias, já confirmada, de novo como candidata do BE, e o do ainda desconhecido, mas garantido, candidato do PCP. E o do próprio Ventura, na medida em que também representa uma alternativa ao voto de protesto.
Não admira que tenha saltado logo. O que pode surpreender é que a fanfarronice com que antes falava em ser o próximo Presidente da República, se tenha transformado na modéstia de ganhar à Ana Gomes.
Enquanto cada vez menos fala de recandidatura, Marcelo cada vez faz mais por ela. Já quase não faz outra coisa, mesmo.
E faz bem. Faz bem no sentido do saber fazer, não no sentido do dever fazer. Porque ele sabem fazer bem estas coisas. Como poucos, como ninguém mesmo.
Completaram-se ontem quatro anos da sua presidência, e António Costa deu-lhe os parabéns. Por isso e pelo resultado negativo no teste ao coronavírus a que se submeteu. António Costa também sabe como estas coisas se fazem... Mas Marcelo é professor!
Aproveitou os parabéns de Costa, não lhe ligando nenhuma, e aproveitou tudo o resto a partir da clausura de uma inédita e mediática quarentena, numa entrevista via Facetime, a Miguel Sousa Tavares, no telejornal da TVI. Com aquela saída no aniversário do "Publico", na semana passada, dos inícios de legislaturas que mais parecem fins de ciclo, a mais certeira das suas certeiras tiradas, e com esta entrevista de ontem, Marcelo lançou o sprint para a recandidatura.
Está lançado e, venha quem vier, já demonstrou que não vai facilitar.
Faz título de capa nos jornais, corre nas redes sociais ... e é uma séria tentativa da oposição interna do PS entalar António Costa.
Devo dizer que sou de opinião que Ana Gomes poderia ser uma boa candidata às presidenciais. Seria garantia certa de animação da campanha e, acima de tudo, não deixaria exclusivamente nas mãos do populismo de direita, em particular, o tema da corrupção. Não tenho grandes dúvidas que nunca seria uma boa presidenta, mas isso são contas de outro rosário!
Mas, como ela própria deixou claro na entrevista ao Vítor Gonçalves (uma no cravo, outra na ferradura) que ontem passou na RTP, não será a candidata socialista às próximas presidenciais. Não que não quisesse - percebeu-se que a ideia era do seu profundo agrado - mas porque, como referiu expressamente, António Costa nunca o permitiria.
Estando completamente fora de causa que Ana Gomes possa ser a candidata socialista às próximas presidenciais, não está no entanto minimamente em causa que possa ser candidata. Basta que António Costa, como evidentemente pretende, e como é do seu particular interesse estratégico, apoie a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa. Expressa ou implicitamente.
É por isso que, do ponto de vista da oposição interna a António Costa, lançar Ana Gomes é uma jogada de mestre, ou não muito longe disso. Até porque, na lista dos promotores da ideia, é tão natural ver o meu conterrâneo Daniel Adrião, como extraordinário e anti-natura ver o de Francisco Assis!
Diz hoje o jornal i que André Ventura prepara candidatura a Belém. É bem capaz de ser verdade, e não é sequer grande surpresa. A exposição mediática que uma candidatura presidencial sempre promove não é negligenciável. É mais uma oportunidade para lavrar terreno fértil para o populismo que personifica e para o terrorismo verbal que adoptou como forma de fazer política. E para germinarem as ideias que não tem (não tem uma única ideia estruturada), mas que toda a gente acha que tem.
É uma espécie de "mais uma voltinha, mais uma viagem"...
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