Estão confirmados mais dois candidatos às presidenciais. Marques Mendes, há uma dúzia de anos a tratar do assunto na televisão que vende presidentes, e correspondendo ao apelo seu partido, anunciou-se ontem no sítio do costume. E Mariana Leitão, escolhida e anunciada na Convenção da IL, que decorreu no fim-de-semana sem surpresas, e a vitoriar Rui Rocha.
Confirmados - pelos próprios - são agora três. André Ventura já se tinha feito anunciar candidato pelo seu partido, pouco importando agora se o partido é alguma coisa mais que ele próprio.
O PS anda à nora. Tinha, e tem ainda, candidatos a mais. Chegaram a ser pelo menos quatro, e desses apenas Mário Centeno se retirou pelo próprio pé. Artur Santos Silva foi arrastado no afastamento do costismo, e resta-lhe ir fazendo umas provas de vida, à sua peculiar maneira. Restam os Antónios, Seguro e Vitorino. No próximo fim-de-semana o partido irá anunciar a sua escolha.
O Bloco de Esquerda também já anunciou que apresentará um candidato próprio. Tal como o PCP, como sempre tem feito.
A vocação dos partidos realiza-se na plenitude nas eleições legislativas. É aí que neles se esgotam as candidaturas. Têm também o papel muito relevante nas autárquicas, mas aí já não gozam da exclusividade. Há outras formas de candidatura.
Nas candidaturas presidenciais a Constituição - e o regime - não lhes reconhece qualquer tipo de intervenção. Resultam exclusivamente da expressa vontade do candidato. Os partidos simplesmente não são para aqui chamados.
Quando - todos os estudos de opinião o indicam - é notório que entraram em perda de influência social, de capacidade de mediação entre o eleitorado e as instituições, e de credibilidade, é estranho que os partidos políticos não percebam que, ao imporem as suas próprias candidaturas presidenciais, saem a perder na sua missão e prejudicam os candidatos. E é mesmo perturbador que este enviesamento seja transversal a todos os partidos. Todos, da direita à esquerda. Dos fundadores do regime aos que chegaram depois. Dos que se revêm no regime aos que o afrontam.
Dizem os analistas do regime que as sondagens que sucessivamente vêm dando a vitória ao candidato que ainda nem assumiu a candidatura não passam de um exercício, e que não é sério levá-las a sério.
Pelo contrário - não é sério é não as levar a sério. É grave, e politicamente irresponsável, não concluir que esses resultados deixam a percepção que o regime não tem um candidato para apresentar com estatuto e credibilidade capaz de fazer frente ao almirante Gouveia e Melo.
Vivemos no mundo das percepções. Depois de instalada a percepção, não há volta a dar-lhe. Bem podem arguir que o homem ainda não teve que dizer nada. Que não se lhe conhece uma ideia. Ou que será trucidado nos debates televisivos. Instalada a percepção, a Gouveia e Melo bastará estar calado e quieto para ganhar. E até à primeira volta!
O MAAP — Movimento de Apoio do Almirante à Presidência -, que os maçons estão a lançar, é bem parecido com isso. Se há os apoios indesejáveis, que têm tudo para funcionar ao contrário, este é certamente um deles.
As presidenciais começam a mexer, e os motores a aquecer. O Tó Zé Seguro deu à costa, dez anos depois, e diz que sim, que vai a jogo. Não convence muita gente, há os que preferem o Centeno. Que não diz, mas também vai a jogo. E ainda poderá surgir Guterres, que as coisas não lhe estão a correr pelo melhor lá por Nova Iorque.
O Marques Mendes há anos que prepara a coisa, seguindo à risca o road map de Marcelo. E o Santana Lopes, já se sabe, é danado para a brincadeira.
No meio disto tudo está o almirante Gouveia e Melo, conhecido por ter posto na ordem uma campanha de vacinação. E como o que a malta gosta é de quem os ponha na ordem, as sondagens dão-no já por imbatível.
Não se lhe conhece uma ideia. Se calhar não tem mesmo uma sequer. É lamentável - dir-se-á - que se possa eleger um Presidente da República sem se lhe conhecer uma ideia. Ser militar também não será dos mais saudáveis sinais. Não sei é se isto diz mais sobres os portugueses se sobre todos os outros candidatos já perfilados.
“Se um dia perceber que com uma candidatura à Presidência da República serei útil ao país tomo essa decisão”.
Não. Não é Marques Mendes a chegar-se para a fila da frente. É Marques Mendes a confessar que também ele acredita, e sempre acreditou, que as televisões fazem presidentes.
O problema são as cópias. Desconfia-se sempre da cópia. E mais ainda de quem copia!
Diz-nos hoje o "Expresso" que "Marques Mendes avalia a candidatura a Belém". Diz "avalia" porque não pode dizer outra coisa. Para não dizer que vem sendo replicado, à risca, o modelo "totoloto" de Marcelo - "é fácil, é barato e dá milhões".
É "fácil" - não custa nada, é só preparar meia dúzia de "bitaites" e juntar-lhe no fim uns livros, uma vez por semana. Mais que "barato", é de borla. E ainda lhe pagam. "Milhões", se fizermos as contas aos milhares que lhe pagam em cada semana pelas centenas de semanas de ecrã. E "dá" - garante - "milhões" de votos!
A notícia tem ainda outra "nuance" - acrescenta que também Ana Gomes está a fazer a mesma avaliação.
Para limpar a água do capote (do grupo) o "Expresso" recorre ao português e, em particular, ao verbo "avaliar". Mas também à geometria - às paralelas - para estabelecer uma linha paralela (entre o comentário televisivo e as candidaturas), onde o paralelismo não existe. De todo!
Ana Gomes, já foi candidata às últimas presidenciais. E até já Marcelo a lançou para nova candidatura. Não tem, nem o figurino, nem o espaço, nem o tempo, de antena que é dado a Marques Mendes. Nem nada que se pareça: ele, entre o senatorial e marca comercial; ela, num de "Maria vai com as outras". Ele na SIC generalista, em horário nobre; ela, no canal de notícias, noite dentro. Ele há anos, desde que Marcelo deixou a cadeira vaga, mais de meia hora por semana; ela, há poucos meses, meia dúzia de minutos.
Não sabemos se a "Impresa" de Pinto Balsemão faz presidentes. Sabemos é que não quer que se saiba que os quer fazer!
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