Para nós já foi a 11 de Setembro, no nine eleven, que Kamala Harris mostrou que Trump não tem que ser uma fatalidade. Como o destino. Para eles, para os americanos que seguiram o debate de Filadélfia através das câmaras da ABC, ainda foi a 10 - nine ten.
Eles, e nós, vimos a "sova" de Kamala ao Donald. Vimos como basta competência, decência e sanidade mental para saltar para um cavalo em corrida, que tinha despejado o cavaleiro, montá-lo, alcançar o adversário embalado na frente... e ganhar.
Isso é o que viu, quem viu. Quem não viu só vai ver o que hoje vai aparecer nas redes sociais. Cada um dos lados tem os seus especialistas, sendo que os de Trump são mais especializados na especialidade. E é isso que vai ficar!
Quer isto dizer que a tareia de Kamala a Trump no debate desta noite não será assim tão decisiva?
Sim. Quer dizer isso mesmo. Hoje, quando passam 23 anos sobre o nine eleven, que mudou a forma de olhar para o mundo, as pessoas estão formatadas para viver das - e pelas - redes sociais. A realidade virtual prevalece sobre os factos!
«Nunca lutes com um porco. Primeiro, porque ficas sempre sujo e, segundo, porque o porco gosta.» Este conhecido pensamento de Bernard Shaw foi certamente passado muitas vezes a Joe Biden pelos seus múltiplos assessores, na preparação do debate desta madrugada, o primeiro de três previstos até ao final do mês que começa amanhã, e que antecede as eleições presidenciais americanas. Mas que provavelmente será apenas o único, já que não terá ficado grande apetência pelos dois que faltariam.
Joe Biden tinha já exteriorizado este pensamento de Shaw quando afirmara: «Só espero não morder o isco de entrar numa rixa com este tipo, porque é só aí que ele se sente confortável». Sabia, como sabíamos todos, o que o esperava.
Mesmo assim não resistiu. Não seria fácil - nunca é fácil - resistir ao registo de bullying robotizado de Trump. Por isso, o mais acertado será mesmo seguir à letra o ensinamento de Shaw, e não lutar com o porco. Mesmo que o pretexto seja o baixo nível, mais que deprimente, do que foi este debate. Que não o foi.
Em plena guerra das máscaras, Trump foi apanhado por um dos seus mais usados instrumentos de guerra, o Twitter.
Na sua delirante visão da covid-19, Trump encontrou nas máscaras novos moinhos de vento alinhados contra a sua reeleição e, no país mais atingido pelo vírus, já à beira dos 100 mil mortos, transformou o uso de máscara numa questão político-ideológica. Em mais um factor de divisão dos americanos, que agora também se dividem entre os que usam e os que não usam máscara.
Andava Trump entretido de espada em riste contra as máscaras quando o Twitter entendeu reforçar as suas regras para combater a desinformação e as fake news, criando sinalizações que identificam os conteúdos como "potencialmente enganosos" e associando-lhe links para informações sobre o tema. Onde, como não poderia deixar de ser, Trump foi apanhado logo à primeira.
O governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, decidiu enviar boletins de voto por correspondência a todos os eleitores registados no Estado, como medida excepcional para a votação no contexto da pandemia. Porque isso era dar importância à pandemia que continua empenhado em desvalorizar, Trump correu a postar contra o voto por correspondência, com supostas consequências fraudulentas.
O Twitter não deixou passar sem sinalizar com a mensagem "aceda aqui a todas as informações sobre a votação por correspondência". Foi o suficiente para Trump acusar a rede social de "interferência directa nas eleições", e de "sufocar completamente a liberdade de expressão", o que ele nunca permitiria.
É esse o seu ponto de chegada. A um ponto em que nunca, nada nem ninguém o impeça de mentir, como lhe apetecer, à medida dos seus interesses ou simplesmente à dos seus delírios... Esperemos que fique pelo caminho, e nunca lá chegue!
Sem grandes novidades, o primeiro debate televisivo entre os candidatos às eleições presidenciais americanas de Novembro: Hillary Clinton - formal, institucional e conhecedora; Trump - mentiroso, arruaceiro e ignorante.
Nenhuma surpresa. A não ser que continuam empatados... Essa é que é essa!
Arrancou a convenção do Partido Republicano, em Cleveland, que irá formalizar a candiatura oficial de Donald Trump á presidência americana. Para começar, nada melhor que a própria mulher de Trump, a actual, a enésima, que ele apresentou como a futura primeira dama americana, repetir o discurso de Michelle Obama na convenção do Partido Democrático de 2008, na antecâmara da vitória eleitoral de Novembro seguinte.
Poderia ter sido por crença: "se correu bem com a outra"... E a verdade é que antiga modelo de origem balcânica - imigrante, pois claro - não esteve nada mal a dizer aquilo tudo ... Bem ensaiado, como não poderia deixar de ser. E que foi a a segunda maior novidade do primeiro dia da convenção, lá isso foi.
A primeira foi um Trump todo contente a ouvir uma imigrante a repetir um discurso de uma negra. Três em um!
Quem segue a campanha para a nomeação dos candidatos às presidenciais americanas, e se preocupa com estas coisas da democracia, aguardava o dia de ontem em Nova Iorque com grande expectativa. De New York esperamos sempre tudo, esperamos sempre que nos dê o melhor que podemos esperar. No fundo, de New York, esperamos sempre que supere as nossas mais altas expectativas. Por isso é mítica...
Mas este New York não é a nossa New York: o Estado não é a Cidade que nos esmaga o imaginário. E confirmou a tendência de outras paragens que perderam a capacidade de nos surpreender, confirmando Trump - com 70% dos votos - e Hillary Clinton - com 60% - matando de vez a esperança que os americanos conseguissem encontrar um digno sucessor de Obama. E também um sucessor digno de Obama...
Depois da miséria brasileira que vimos entrar porta dentro, esta a não é uma boa notícia para a democracia "all over the world". Escolher entre um louco extremista reacionário e o pior do stablishment político é, agora, a opção que resta aos americanos.
Ouvi ontem o Miguel Sousa Tavares (minuto 9) dizer que a campanha de Hillary Clinton vai custar 2,5 mil milhões de dólares e fiquei assustado. É assustador pensar que a democracia chegou a este ponto...Quando as campanhas atingem valores desta dimensão há fortes motivos para nos assustarmos!
Interrogamo-nos: que democracia é esta, envolta em tão brutais quantidades de dinheiro? E assustamo-nos. Eu assusto-me!
* Como se percebe não é para adjectivar o H, símbolo da campanha. Bem poderia ser, mas não é...
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