O ministro Manuel Castro Almeida declarou "que se o PS vier declarar que reconhece ao Governo condições para executar o seu programa, se declarar que se considera satisfeito com os esclarecimentos dados e que retira a comissão parlamentar de inquérito, acho que há condições para a moção de confiança poder ser retirada".
Logo no governo alguém percebeu o despudor do trade off. E como já tinham percebido o pânico que vai no PS (ele é Adão e Silva, ele é Medina, ele é até Seguro), veio o ministro Leitão Amaro dizer que não senhor, que a a moção de confiança é irreversível, e que única forma que o PS tem de evitar eleições é votá-la favoravelmente.
Entretanto, nas primeiras páginas dos jornais de hoje, "Montenegro omite obras no duplex à Câmara Municipal de Lisboa" (CM); Governo acelera PPP em cinco hospitais (Público); "Governo de Montenegro viola lei do registo de interesses" (DN), "Montenegro infringiu regras de declaração de rendimentos" (Visão).
Isto não é uma crise política. Essa dura há anos. É uma crise esquizofrénica!
"O Conselho de Estado é o órgão político de consulta do Presidente da República, por ele presidido", e por ele exclusivamente convocado, a que "compete pronunciar-se sobre um conjunto de actos da responsabilidade do Presidente da República. Deve também aconselhá-lo, no exercício das suas funções, sempre que ele assim o solicite" - assim, tal e qual, no site da Presidência da República.
Na sequência de uma rixa entre famílias de etnia cigana, em Viseu, que resultou numa morte, André Ventura entendeu solicitar ao Presidente da República que convocasse esse órgão político para nele lhe solicitar o seu aconselhamento sobre o "estado de insegurança brutal" no país.
Para dar sequência à solicitação o Presidente da República entendeu remetê-laaos restantes Conselheiros de Estado, para transmitirem o que tivessem por conveniente.
Marcelo é Presidente da República vai para 10 anos, entrou já no último ano de mandato. É professor catedrático de Direito. Encarna a mais experimentada e sagaz personagem política da República.
Há duas hipóteses:
- Uma é que Marcelo passe por um tal estado de desorientação que tenha perdido por completo o conhecimento, a lucidez e o discernimento;
- Outra é que não se importe nada de fazer esta figura para - também ele - não ficar de fora da agenda que André Ventura domina, nem passar ao lado das percepções por ela impostas.
Três dias depois da fuga dos cinco presos perigosos de Alcoentre, o governo continua sem dizer nada sobre o assunto, a não ser que a Ministra da Justiça falaria hoje.
O presidente Marcelo, que dantes não deixava nada sem comentário - "bom" ... se fosse uma coisa desta gravidade eram recados e ameaças para uma hora de directos -, percebeu que, com o governo calado, teria de dizer alguma coisa. E então disse que a Ministra da Justiça não tinha nada que dizer e que achava muito bem que o governo não dissesse nada.
Como isto tudo mudou!
Entretanto a Ministra ainda não falou, mas o Director Geral dos Serviços Prisionais já lhe entregou o Relatório e o pedido de demissão. Aceite. Aceites, ambos!
Na Madeira vamos tendo um governo sem programa, sem orçamento, mas com um chefe inamovível. Por cá, pelo continente, André Ventura não tem vergonha nenhuma da forma como "inquiriu" (na Comissão Parlamentar de Inquérito) a mãe das gémeas brasileiras. Marques Mendes diz que o "Dr Nuno", ao não dizer nada, continua a criar problemas ao pai, Marcelo. Que, nada mais dizendo disso, diz que as "poucas vergonhas" das escutas, e das violações do segredo de justiça, serão resolvidas com a reforma da Justiça, remetendo uma questão de "simples vergonha" para as calendas das reformas. Já não se adiam reformas, adiam-se os problemas de simples aplicação da lei para as sempre inexecuíveis reformas.
E Cristiano Ronaldo continua a dividir. E a extremar, com "haters" de um lado e, do outro, os "haters dos "haters".
Nem sei quem é mais extremista. Para os "haters dos haters" já vale tudo: um passe - uma assistência, a quinta em seis participações, que iguala o record de Poborsky, numa única - uma carícia numa criança, ou a recepção a invasões de campo para a selfie a preceito. Para os "haters" o passe só aconteceu por ter pensado que estava fora de jogo, e tanta invasão de campo, num território de competência como o alemão, só pode ser manobra da toda poderosa "Nike", o patrocinador da selecção alemã, da portuguesa ... e de Cristiano Ronaldo.
O Presidente Marcelo, no já famoso jantar de quatro horas com a imprensa estrangeira - pareceu que muito brasileira -, entre muitas coisas estranhas, falou da "reparação colonial", que deixou o país em alvoroço. Ninguém lhe perdoou, mesmo que tenha sido só a "direita mais direita" a "malhar-lhe" impiedosamente logo no dia seguinte, na sessão pública da comemoração do 25 de Abril, na Assembleia da República.
O tema está há muito na "ordem do dia" internacional. Mas, sabe-se, em Portugal é diferente. O colonialismo português foi diferente, e mesmo tendo sido o último "a fechar", e com uma guerra prolongada pelo meio, continua a ser diferente.
É curioso que as reacções de reclamação dos "ex-colonizados" tenham vindo, não dos países africanos, colonizados até "à última gota", mas do Brasil, a primeira ex-colónia "a saltar fora", há mais de dois séculos.
Foi-se o Brasil, mas ficou sempre o sonho brasileiro.
Grandes empresas e instituições portuguesas acabaram vítimas desse sonho nos últimos anos. A PT pagou com a vida esse sonho. Tal como a CIMPOR, se bem que aí mais vítima do sonho (do) brasileiro. O da TAP pagamo-lo nós. E nem a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa resistiu a espatifar-se toda nos encantos brasileiros. E nós a pagarmos. A Ana Jorge, que nisso até nem tivera responsabilidade nenhuma, não está a pagar nada disso. Está apenas a pagar com o emprego a, também muito portuguesa, actividade de distribuição de tachos.
Bem sei que, tudo isto somado - e para falar só do Brasil, porque em Angola também ficou a grande fatia do BES, que pagamos com língua de palmo -, não dá para pagar o ouro que de lá trouxemos há uns séculos. Mas é capaz de já não faltar assim tanto ... É capaz de bastar um "acerto de contas". E nisso normalmente somos bons!
Em Novembro do ano passado, a Procuradora-Geral da República, depois de chamada a Belém pelo Presidente Marcelo para uma misteriosa reunião, decidiu incluir no comunicado sobre as buscas realizadas no âmbito da chamada "operação influencer" um parágrafo final, dando conta da existência de uma investigação criminal autónoma contra o primeiro-ministro, de que resultaria a sua demissão. Aproveitada por Marcelo para dissolver a Assembleia da República, e convocar eleições antecipadas, que resultaram num terramoto político.
Cinco meses depois, no acórdão ontem conhecido, os desembargadores do Tribunal da Relação consideraram que os factos apresentados pelo Ministério Público (MP) não indiciam qualquer tipo de crimes por parte dos arguidos. Que o alegado “plano criminoso” defendido pelo MP, não passa de “um conjunto de meras proclamações assentes em deduções e especulações retiradas do que o MP ouviu arguidos e membros de governo falar ao telefone, proferindo afirmações vagas, genéricas e inconclusivas”.
Ou seja, 50 anos depois do golpe de Estado perpetrado pelos capitães de Abril, que abriu as portas da Revolução, o país foi alvo de outro, por acção do Ministério Público e bênção do Presidente Marcelo, que abriu outras portas, muitas das quais julgávamos fechadas para sempre.
Instado a comentar o acórdão (em Coimbra, na inauguração de um mural de homenagem a Alberto Martins e à Crise Académica de 1969 - um marco na História da luta contra a ditadura derrubada há 50 anos), Marcelo não poderia ser mais cínico: "Não vou comentar as decisões de justiça, mas repito de uma outra forma um comentário que já fiz que é mais político". "Tenho a sensação de que começa a ser mais provável haver um português no Conselho Europeu, neste próximo outono, em Bruxelas".
Cínico, Marcelo quis dizer "não se importem com isso". Que Costa até saiu a ganhar, e pode, agora que está limpo, ir descansado - já livre daquela espécie de bullying que durara desde a tomada de posse - para onde afinal queria ir. E que para o país não tem importância nenhuma que já só seja governável com a extrema direita. Importante é que tenha alguém em Bruxelas!
Não. Não é Marcelo a ser "Marcelo". Como já não fora Marcelo a ser "Marcelo" nas trapalhadas com o Dr Nuno, "maior e vacinado", no caso das gémeas brasileiras. É Marcelo a bater no fundo!
Enquanto no Parlamento se vai debatendo - debate-se pouco e "bate-se" muito, mas é assim que chama - o programa do governo, o "país político" não pára. Continuam a acontecer coisas...
A Polícia Judiciária fez buscas na C.M. Cascais por suspeitas de utilização de recursos públicos na campanha do agora ministro Miguel Pinto Luz à liderança do PSD. O presidente da Câmara, Carlos Carreiras, veio de imediato dizer que nada tinha a ver com o agora ministro, que era dele, e exclusivamente dele, toda a responsabilidade pelos contratos assinados. Tanto que, naquela altura - da pandemia - estava toda a gente em confinamento, excepto ele próprio. Porque alguém tinha de trabalhar... E assinar contratos... No caso, com uma agência de comunicação que precisamente assessorou Pinto Luz nessa campanha. Não é a assinatura do contrato que está em causa, em causa está a utilização de recursos públicos para campanhas partidárias.
Pode parecer estranho que o primeiro a levantar a voz, e a agitar a bandeira da corrupção, quando coisas destas vêm a público, esteja desta vez caladinho. Mas não é. Porque "sim, a aliança é possível".
Também poderia parecer estranho que o Presidente Marcelo se tivesse esquecido de tornar pública uma condecoração. Até porque se uma condecoração não for tornada pública de pouco serve. Mesmo aos mortos. A não ser que haja condecorações que só possam ser feitas em segredo.
A última reunião do Conselho de Ministros, presidida pela segunda vez pelo Presidente Marcelo, foi a primeira nas suas novas instalações. Mas não é esta, mesmo com os beijos e abraços de Costa e Marcelo, a lembrar os bons velhos tempos, como se nada se tivesse passado, a notícia do dia: essa é a do maior excedente orçamental da História do País.
Poderia dizer-se que é a picada final de António Costa no presente que deixa a Montenegro. O cheiro a veneno já anda no ar - mesmo com" os cofres cheios", como para aí se diz, não vai dar para o novo governo cumprir muito do que foi prometido!
Na na véspera das eleições, como sempre achando que tudo pode e que tudo lhe fica bem, Marcelo tinha mandado dizer que, não só "o não, é não", como, por ele próprio, o Chega não entraria nunca, em circunstância alguma, no Governo.
Continuando convencido "tudo pode e que tudo lhe fica bem", começou a receber os partidos para, nos termos da Constituição, os ouvir para depois indigitar o líder do mais votado para constituir governo, ainda antes de conhecidos os votos dos portugueses emigrados. Por acaso, e como é sabido desde a noite de 10 de Março, decisivos para apurar os resultados eleitorais. Os tais que darão a conhecer o partido mais votado.
Ontem foi a vez de receber em Belém precisamente o Chega. À saída, André Ventura proclamou de imediato que Marcelo lhe "negou categoricamente" colocar algum obstáculo à sua entrada para o governo.
Não confirma ter dito o que Ventura diz que lhe disse. Mas também não desmente. Também não confirma que tenha mandado dizer que não queria o Chega no governo. Mas também não desmente. Refugia-se no "não comenta", logo ele que nada deixa de comentar. Sejam declarações, notícias, hipóteses, suposições, ou efabulações...
É Marcelo cada vez mais enterrado no lodo em que transformou este seu último mandato.
Desde que é Presidente da República, e nessa função, seja em que eleições for, das autárquicas às legislativas, Marcelo encontra sempre maneira de cruzar algures, num evento qualquer ou por "mera casualidade", com o candidato do seu partido durante a respectiva campanha eleitoral. Ontem, na abertura da Bolsa de Turismo de Lisboa, uns imbecis atiraram uma lata de tinta a Montenegro, que teve de perder uma hora para tomar banho e tirar a tinta do cabelo - que não "a irritação na pele e na face" - fizeram gorar "a coincidência" e Marcelo já só encontrou Nuno Melo. E teve que se limitar a um simples "está tudo a correr bem?".
Que sim, à excepção de uma lata de tinta, respondeu o líder centrista. "Já ouvi falar" - respondeu!
E pronto. Não deu para mais. Pode ser que fique para a próxima...
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