As medidas anunciadas no final da semana pelo Ministro das Finanças, mais a Ministra da Presidência e mais a Ministra do Trabalho e Segurança Social, e menos a Ministra da Agricultura, contra a inflação e as suas consequências nos rendimentos - boas, más ou assim-assim, para o caso não importa - foram arrasadas pela oposição. Da direita à esquerda.
"É pouco, e tarde de mais" - dizem. Só que, desta vez, e depois do "retiro de reconciliação nupcial" nas Caraíbas - como lhe chamou o Ricardo Araújo Pereira -, o Presidente Marcelo calou de imediato a sua gente, sentenciando que "são bem tomadas no momento adequado".
Mas se, nesta altura, esta declaração, dá sinais que o retiro nas Caraíbas, com noite extra no Luxemburgo, fez bem ao casal desavindo, o que dizer do que desdisse Marcelo sobre a "maioria requentada" e as fraquezas e cansaços de Costa, agora já cheio de genica e em plena forma?
Poderia dizer-se que, no "bem bom", os casais são assim e esquecem todas as "facadinhas". Poderia também dizer-se que há casais assim - que nas costas dizem tudo e, cara a cara, já dizem que não disseram nada. Ou que há relações que se alimentam de pimenta...
Mas poderá ainda não ser nada disso, e ser apenas o Presidente a ser o Marcelo de "uma no cravo, outra na ferradura". Ou o cata-vento que o outro lhe chamou, aqui há uns anos...
É até capaz de ter razão, que é uma lei "cartaz"- "aquelas leis que aparecem a proclamar determinados princípios programáticos, mas a ideia de base não é que passem à prática". Mas não deixa de ser curioso que a tenha morto apenas depois daquela "aparição" de Cavaco, numa daquelas provas de vida a que nos tem habituado, em que aparece sempre como se nada ele tenha a ver com nada.
O Presidente Marcelo tinha dito que responderia hoje a todas as questões que têm marcado estes últimos dias. Reportava-se à entrevista que tinha agendada para esta noite à RTP e ao "Público".
Dado que na entrevista Marcelo foi igual a Marcelo, isto é, sem tirar nem pôr, um comentador político, e dado que, no âmbito da política geral, não disse nada que tenha vindo a dizer, nem que acrescentasse o que quer que seja ao que é conhecido, com bicadas ao governo, talvez agora um bocado mais severas, e com a inevitável menção específica a Fernando Medina, há muito na sua mira, como é sabido, não há novidades. Nem grandes nem pequenas.
Percebeu-se que não dá crédito a Luís Montenegro. Mais ainda por nem o seu nome ter referido. E passou como cão por vinha vindimada sobre o "laboratório" dos Açores, onde os tubos de ensaio estão a rebentar com tanto estrondo que mais parece mais um sismo na região.
Sobre a posição do Conferência Episcopal, já lá vai quase uma semana, sobre os abusos sexuais, manifestou-se preocupado, não deixou dúvidas na condenação: Foi uma “desilusão”; a Igreja ficou “aquém das suas responsabilidades”; é "incompreensível”. Mas continua a não deixar de ser estranho, tratando-se de Marcelo, que tenha precisado de uma entrevista formal, uma semana depois, para se referir a um assunto que, evidentemente, o preocupou.
Já quanto ao relatório da IGF, que levou à decapitação da administração da TAP, foi diferente. Disse que o Governo resolveu “à portuguesa”. Mas ele também: varreu para debaixo do tapete exactamente tudo do que pior "à portuguesa" aconteceu naquele processo.
Passaram quatro dias sobre a trágica posição da Conferência Episcopal Portuguesa, e três sobre as declarações do Cardeal Patriarca, sobre os abusos sexuais na Igreja, que a deixaram sem perdão, nem salvação. E do Presidente Marcelo, sempre pronto a comentar sobre tudo em cima da hora, nem uma palavra...
Passaram 24 horas sobre a divulgação do Relatório da Inspecção Geral de Finanças, que declara a nulidade do acto ("despedimento" e indemnização) patrocinado por um daqueles escritórios de advogados pagos a peso de ouro, especializados em piruetas para acomodar as pretensões de quem lhe paga, e em sacar dinheiro ao Estado. E do Presidente Marcelo, sempre pronto a comentar sobre tudo em cima da hora, nem uma palavra...
Das duas, uma: ou o Presidente Marcelo está em estado de choque, e ficou sem palavras; ou, como se trata, respectivamente, da Igreja, e do seu irmão, a exemplo dos direitos humanos no Catar, isso agora não interessa nada, é preciso é andar para a frente.
Haveria ainda uma terceira hipótese - o Presidente Marcelo decidiu-se finalmente pela contenção, e deixou-se de comentar, a todas as horas, tudo o que acontece todos as horas. Mas, não sei porquê, essa não me parece...
Passos Coelho e Marcelo voltaram a cruzar-se. E quando se cruzam, o sebastianismo agita-se.
Aqui há uns meses - em Outubro, se não estou em erro - tinham-se encontrado numa homenagem a Agustina Bessa-Luís, e o Presidente não quis perder a oportunidade: “o país pode e deve esperar muito do seu contributo no futuro”. Voltaram a encontrar-se no início da semana, no Grémio Literário, na comemoração do décimo aniversário de uma desconhecida organização, a que chamam Senado, mas que não tem senadores. Tem jovens, cerca de 200, de vários partidos e sensibilidades de direita.
Desta vez Passos falou, e foi quanto bastou para o Presidente exaltar os seus princípios, valores e apreciações ... e o seu futuro. Outra vez. Só que, desta, para Marcelo o futuro é agora. Tão agora que mandou fixar a data: "fixem esta data - 27 de Fevereiro". A data em que Passos anunciou o futuro na forma de "horizonte político".
Marcelo não tem ilusões. Conhece bem o estado a que o PSD chegou. E, lá no fundo, acredita que só o criador pode parar a criatura!
Há pouco mais de dois meses soube-se que o Presidente Marcelo recebera uma carta com uma bala, e com ameaça de morte. Tanto quanto me lembro a notícia ficava por aqui, não tendo então sido referido que o motivo era extorsão, com a exigência de um milhão de euros.
Hoje, com a notícia da detenção do suspeito da autoria, ficou a saber-se dessa exigência. E que, para agilizar procedimentos, a carta indicava o NIB para onde deveria ser transferido o dinheiro e ainda um telemóvel para facilitar o contacto.
Depois de tudo o que vamos conhecendo a cada dia que passa, já não podem restar dúvidas a ninguém que esta é mesmo uma República das bananas. E este um país verdadeiramente insólito.
Quer dizer, Costa deixou Marcelo sair do bolso onde o tinha metido e acabou enfiado no bolso que lhe entregou.
Com a sobranceria e a arrogância da maioria absoluta com que se desligou do país para se embrenhar nos equilíbrios instáveis de um PS insaciável, Costa acordou no bolso de Marcelo. Agora não tem como de lá sair!
A mensagem de Ano Novo do Presidente Marcelo foi mais um inventário - o que também é apropriado para esta altura do ano - do que uma lista de desejos. Em vez das dozes passas no salão, Marcelo foi ao "armazém" inventariar os "pecados capitais" do governo. Só contou seis - “erros de orgânica, descoordenação, fragmentação interna, inação, falta de transparência e descolagem da realidade”.
Os outros deveriam estar em zonas de mais difícil acesso...
Nas emissões desportivas da rádio era - creio que ainda é - comum a chamada ronda pelos estádios onde estavam a decorrer os jogos de futebol, com o pivot ao comando da emissão a lançar aos repórteres no terreno a sacramental pergunta: "tempo e resultado"?
Nesta altura a resposta seria: Medina 10 - Pedro Nuno 0. Estamos no intervalo!
Em tempo de intervalo, havia - creio que ainda haja - um breve comentário à primeira parte e ao resultado. E de perspectivas para a segunda parte.
Nesta altura, no comentário, poder-se-ia ouvir que a primeira correu nas bases lançadas pela teoria da conspiração e que o resultado corresponde ao que se passou em campo. Mas com um alerta para o jogo estar apenas no intervalo. E que se espera um jogo completamente diferente para a segunda parte.
Pedro Nuno Santos tem no banco jogadores que podem alterar ainda o resultado final, que já estão em exercícios de aquecimento. Estamos a ouvi-los dizer que Medina fez batota com aquela escolha da Secretária de Estado, que aquilo não foi jogo limpo, que o jogo ainda não acabou e que, agora, há que ir para cima dele.
É isso. O jogo ainda não acabou, mas já não tem como acabar bem.
Outra coisa são as "trapalhadas". E já são "trapalhadas" a mais!
Mas há "trapalhadas" e "trapalhadas". As de Santana Lopes, e as de António Costa, em comum só têm a trapalhada.
Há já por aí muita gente a reclamar de Marcelo a receita de Sampaio para as "trapalhadas". Só que isso é mais uma trapalhada. Não é que Marcelo não gostasse de a usar. Bem gostaria. Corressem outros ventos ali para a São Caetano à Lapa e outro galo cantaria. Mas não pode. Não pode porque a oposição que existe, e a que verdadeiramente sairia a ganhar, lançaria o país na ingovernabilidade que abriria a caixa de pandora.
Marcelo pode até ser umas vezes imprudente, e outras até leviano, mas não é irresponsável. E, de António Costa, não serei eu o primeiro a dizer que nasceu com o dito cujo virado para a lua. De tal forma que, por mais asneiras que faça, qualquer ameaça se transforma logo em oportunidade.
Já sobre Fernando Medina o melhor é esperar pelos próximos capítulos. Ou pela segunda parte, que aí vem ...
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