Ainda ninguém percebeu nada do que se passou naquelas 36 horas que mediaram entre o momento em que Prigozhin pôs uma coluna de 400 viaturas de guerra a caminho de Moscovo, no sábado, e aqueloutro, a meio de domingo, mais de mil quilómetros de estrada depois, e a apenas 200 do destino, em que, para evitar derramamento de sangue - estranha preocupação de uma criatura destas - pôs fim à marcha, rendido às negociações de Lukashenko.
Se calhar não há muito para perceber. Ali nada bate certo. Nem nada é que o que querem que pareça que seja. Afinal, o que se percebe é que o poder militar da Rússia se esgota num botão. Que a Putin basta o medo que o botão mete. E que Prigozhin haverá, mais dia menos dia, de lançar a mão à moleta de uma porta, pegar numa chávena de chá, ficar ao alcance da ponta de um chapéu, ou abeirar-se de uma janela num qualquer quinto andar.
O que estava a acontecer na Rússia deixou de estar, a 200 quilómetros de Moscovo. E foi como se nada tivesse acontecido. Mas aconteceu - a criatura não matou o criador, mas deixou-o em mau estado.
Putin sai mais fraco. E ainda mais desacreditado. Yevgeny Prigozhin ... perdeu o negócio, que não a ambição. Para já terá apenas ganho uma reforma dourada no albergue do Lukashenko. Outra criatura.
Depois de muito falar, Yevgeny Prigozhin está a mexer-se. A caminho de Moscovo, diz-se.
Do líder do Grupo Vagner nada de bom há a esperar. Independentemente do sucesso desta sua aventura a caminho de Moscovo, uma coisa parece certa: nada vai continuar como está. A começar pela guerra na Ucrânia. Que Prigozhin declara inaceitável, e exclusivamente assente na mentira do Kremlin e na ambição da nomenklatura militar russa.
A rota de colisão com Putin parece estabelecida. Se é para levar a sério, não é ainda uma certeza. Certeza é que Prigozhin não é melhor, por muito que muitos o achem útil.
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