Os CTT têm vindo a perder lucros desde que foram privatizados. Os de 2017 cairam para menos de metade dos do ano anterior. Ao contrário - e ao contrário de tudo, quer mesmo dizer, contra tudo - os dividendos sobem para o dobro. Ou seja, quanto menos lucros tem, mais lucros os CTT distribuem pelos accionistas.
E não se pense que é a primeira vez que isto acontece. Não é. Já em 2016, com muito menos lucros que no ano anterior, a administração dos CTT distribuíra mais do que os que tinha realizado. É bem provável que já estejam a distribuir lucros anteriores à privatização. O que acaba por explicar mais uma privatização do novo professor catedrático que, na altura, ninguém entendeu...
Em todas as últimas privatizações, todas as administrações das empresas objecto de privatização estiveram invariavelmente de acordo com o modelo de privatização escolhido pelo governo. Em todas as últimas privatizações, as administrações das empresas objecto de privatização asseguraram a sua continuidade na gestão das empresas privatizadas...
O novo governo, na sua primeira reunião em conselho de ministros, tomou a primeira decisão. Claro que a primeira decisão de um novo governo, em novo ciclo, que vai dar a volta a isto, é de alto valor simbólico. E exemplar, porque o governo sabe bem que não há uma segunda oportunidade para criar uma boa primeira impressão!
Vai daí e, a primeira decisão do novo governo, é ... a privatização dos CTT. Impressionante. Surpreendente!
Perguntarão os mais cépticos: e foi só isso? Não fizeram mais nada no primeiro conselho de ministros de Portas?
Respondo: fizeram. Decidiram ainda o texto da moção de confiança...
É o subsídio de férias, que o governo não paga. E que não deixou de aproveitar para mais confusão e mais trapalhada… Mais uma oportunidade para malhar nos funcionários públicos, e mais uma oportunidade para provar que é o espírito punitivo e não o reformista que o move.
Depois do chumbo, pelo Tribunal Constitucional, do corte do subsídio de férias o governo nem hesitou em trocar o subsídio de férias pelo de Natal, que estava a ser pago em duodécimos. Em vez de repor o pagamento do subsídio de férias, em Junho como a lei estabelece, resolveu meter os pés pelas mãos. Poderia ter dito que não pagava porque não há dinheiro, mas não. Porque logo grande parte da administração pública – quase toda a administração local e ainda o governo regional dos Açores – garantiu ter liquidez e, por isso, a intenção de o pagar, Passos Coelho fez questão de dizer que não era problema de dinheiro. Que era, agora, um problema de lei: não há lei que permita fazer o pagamento. Não há nem é preciso que haja porque, como logo adiantou, não há problema nenhum: o subsídio de férias está a ser pago em duodécimos e o de Natal será pago em Novembro. Como habitual, como sempre…
Curioso é que no mesmo dia em que garante não pagar o subsídio de férias – porque não há lei – garanta ir já a correr fazer uma lei - que não há – para lhe permitir a requisição civil dos professores.
Depois de tudo o que tem feito aos professores o governo admirou-se e achou inaceitável que tivessem marcado a greve para os dias dos exames. Apetece perguntar: estavam à espera de quê?
Depois, não teve a mínima preocupação em gerir o assunto. Preferiu partir para o braço de ferro, sem sequer tentar qualquer alternativa. Nem a última, que seria o adiamento dos exames. Depois de tudo o que tem feito aos professores, o braço de ferro é, certamente, a saída menos aconselhada. Vai correr mal, nem pode ser de outra forma!
Curioso é também que tudo isto se passa no mesmo dia em que o governo declara que o problema dos swaps com o JP Morgan está ultrapassado. O banco americano que se havia recusado a renegociar os famosos swaps, e que tinha mesmo decidido avançar com o assunto para tribunal, mas que, estranhissimamente, tinha sido escolhido pelo governo para consultor da privatização dos CTT.
Um governo de rins flexíveis para a banca – nacional e internacional – mas duríssimo de rins para os portugueses.
Forte com os fracos e fraco com os fortes?
Sim, mas mais do que isso: um governo para quem a pimenta no rabinho dos portugueses é refresco!
Depois admiram-se de não poderem sair à rua…
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