Fernando Ulrich voltou ao “ai aguenta …aguenta”. Desta vez para dizer que, se a Grécia aguentou uma quebra de 25% no PIB, Portugal também o aguenta. Que, se os sem abrigo aguentam as respectivas condições de vida, qualquer português as aguenta, também!
Não se aguenta esta gente…
O presidente da RTP, em entrevista à própria, disse que era necessário despedir trabalhadores. Quantos? Não sabe, não tem ainda o estudo que lho diga!
Mas sabe que a empresa tem trabalhadores a mais. E que o ministro Relvas disse que a reestruturação seria dolorosa. E que isso queria dizer despedimentos!
Não me surpreende que haja gente a mais na RTP. Se ao longo destes anos todos foi um dos albergues preferidos para a rapaziada do centrão, é mais que provável que por lá esteja mais gente que o necessário. O que me surpreende é que o seu Presidente fale em despedimentos sem que saiba do que está a falar. Apenas em sintonia com a dolorosa profecia de Relvas. Que, mais que uma profecia, é um castigo: como não vos privatizo, despeço-vos. Vão ver como dói!
Não se aguenta, não…
Marques Mendes, falando da remodelação, disse que, a sério, só depois das eleições autárquicas, onde o governo levará uma tareia das antigas. Que é sempre assim, que é normal um governo em funções ser sempre penalizado em eleições! Quer ele dizer - e sabe do que fala - que não há governo capaz de governar a contento de quem o elege, de acordo com o que promete. Que nunca há governos sérios. Que tem de ser assim…
Que é assim, já há muito o sabemos. Que esta gente não tenha vergonha de o dizer, é que já não se aguenta…
Está à vista de todos que os problemas da RTP são tecnológicos. Só alguém mesmo estúpido é que não consegue perceber que a RTP precisa de um parceiro tecnológico que nem de pão para a boca. Que um plano de reestruturação da RTP obriga a um parceiro tecnológico!
E pronto: lá terá Miguel Relvas que permanecer no governo. Pelo menos até encontrar tão fundamental e tão decisivo parceiro para a RTP!
Palavras para quê? É um artista portugês. É Relvas igual a si próprio... No seu melhor!
Ontem, no Parlamento, Vítor Gaspar teve mais uma das suas habituais prestações. Para além de voltar a falar dos impostos como se neles não tivesse qualquer responsabilidade, e de se transformar os falhanços rotundos e grosseiros das suas previsões em acertos raramente vistos em tempo de recessão, salientou os verdadeiros mas escassos aspectos positivos: a descida dos juros da dívida pública, a redução do défice primário e … o aumento da credibilidade do país.
Se a descida das taxas de juro da dívida pública nos mercados secundários e a redução do défice primário são dados objectivos e factos provados, o aumento da credibilidade externa do país já o não é. Não há nada que a meça, apenas se poderá concluir a partir de dados e indicadores que possam apontar nesse sentido. O comportamento das taxas de juro até poderá ser um deles, mas só isso!
Mas quando um jornal como o El País diz que o governo está a vender Portugal e se refere, da forma que o faz, aos processos das privatizações recentes, como a da EDP, ou em curso, como as da TAP e da RTP, não há razão nenhuma para avaliar em alta a credibilidade do governo. Que é quem precisamente faz a do país!
António Borges, o chefe de vendas que Passos Coelho contratou para vender Portugal, e que vai assumindo sem qualquer constrangimento o papel de maior odioso de todos os agentes políticos do poder, lançou o tema da semana.
Quando se pensava que na agenda política sobressairiam os dados económicos do primeiro semestre divulgados pelo INE - que não só comprovam a falência total do programa da troika e da acção deste governo que, nascido da esperança, acaba por confirmar a de todo improvável proeza de ser ainda pior que o anterior – e a confirmação final do adeus ao cumprimento do défice, por alma de quem se enterrou a economia portuguesa e se destruiu a classe média, eis que surge a privatização da RTP a dominar as primeiras páginas e a tomar conta dos comentários nas televisões.
Quando o tal senhor, que não sendo ministro mas que é o executivo mor do governo, revelou aquilo a que chamou solução atraente – eu diria mais, é uma solução muito mais que atraente: é um negócio sem risco para o investidor, como foi o da EDP e como são todos os que este senhor engendrar, porque ele não existe para outra coisa – pensei que aquilo não passaria de uma brincadeira para que se não falasse daqueles resultados. Pensei que o governo tinha todo o interesse em tapar aqueles resultados e entreter a opinião pública com outras coisas, até porque a troika chega já amanhã e haverá de servir de amortecedor.
Em alternativa poderia ser que se tratasse de um balão de ensaio: um tipo que não tem nada a perder – creio que na consideração e no respeito dos portugueses já perdeu tudo o que tinha para perder – lança o barro à parede e logo se vê como corre. Porque, evidentemente, ninguém acredita que uma coisa destas fosse lançada por António Borges sem que estivesse cozinhada no governo!
Sou a favor da privatização da RTP, como já aqui manifestei em várias ocasiões. Que não a favor da erradicação do serviço público de rádio e televisão – que poderia ser incluído nos contratos de concessão de licenças - como igualmente aqui tenha defendido. Não é que seja, em tese, contra a existência de rádio e televisão públicas. Antes pelo contrário! Sou é contra uma estação pública de rádio e televisão em Portugal, neste país concreto governado por esta gente concreta. Que a usa para nela interferir e para nela despudoradamente acoitar clientelas à custa do nosso dinheiro!
Por isso apoiei a intenção de privatizar a RTP, logo que Passos Coelho a anunciou na campanha eleitoral. Ora, privatizar não é nada disto. Depois de comissões e mais comissões a estudar o assunto, de milhões e milhões gastos em consultores, e de um ano de voltas e reviravoltas no processo, vêm dizer-nos que há uma solução atraente: entregar a exploração da RTP a privados (e vamos a ver quem são - já todos desconfiamos!) continuando nós a pagar!
E a primeira medida do governo que não iria aumentar impostos foi … aumentar impostos. O IRS, o mais fácil a seguir ao IVA. Pois, e o IVA virá a seguir, também já sabemos!
Claro que todos sabíamos que não poderíamos continuar a viver sem aumento de impostos. Estávamos preparados. Tão preparados que este anúncio foi recebido exactamente como foi comunicado: sem dor! Porque o governo que não iria nunca desculpar-se com a pesada herança do anterior tem que atalhar medidas: o governo anterior - que garantia que a execução orçamental estava a correr bem - deixou o défice do primeiro trimestre em 7,7%, bem longe dos 5,9 exigidos pela troika.
E, no entanto, não é fácil saber que nos vão ao bolso buscar metade do subsídio de Natal (como é que isso irá ser feito? E a constituição, não conta para nada?) precisamente no dia a seguir a ficarmos a saber que a privatização da RTP fica na gaveta. Porque há uns senhores que não gostam da ideia… Um porque acha que isso baixaria a qualidade da televisão e outro porque acha que concorrência sim, mas não é preciso exagerar…
O Programa de Governo hoje dado a conhecer empurra a privatização da RTP lá mais para a frente. Para segundas núpcias!
Ouvimos o presidente não executivo da TVI – o regressado Pais do Amaral – dizer que não. Que não se pode privatizar a RTP porque – pasme-se – isso iria fazer baixar a qualidade das televisões. E ouvimos, logo a seguir, Pinto Balsemão dizer esta coisa fantástica: “… a defesa da concorrência em excesso prejudica a concorrência…” Isto porque, justificava,” …nos últimos 10 anos a publicidade baixou muito em Portugal e não haverá mercado para mais um player nesta área da televisão aberta…”
Ora bem, não é de agora que todos sabemos que os empresários em Portugal substituem muito facilmente os princípios da liberdade económica e da livre concorrência pelos seus muito particulares interesses. O que não ficamos a saber – e é mau – é em que medida é que estas veementes posições dos dois players são causa ou consequência da decisão do governo. Porque, evidentemente, é muito difícil de aceitar que esta tenha sido uma mera vitória de Paulo Portas, opositor declarado – vá lá perceber-se porquê – da inabalável decisão de Passos Coelho sufragada pelo eleitorado.
É bom que se perceba que a RTP é a empresa pública que mais dinheiro – entre dotações de capital, subsídios, indemnizações compensatórias e a taxa do audiovisual que toda a gente é obrigada a pagar na factura da electricidade - tem levado aos contribuintes.
É bom que se perceba que, quando o actual Presidente do Conselho de Administração vem – também ele, pudera – dizer que agora é que se não justifica privatizá-la porque deu, pela primeira vez, lucro, que esse facto não altera em nada o seu estatuto do mais pesado fardo do sector público empresarial que o contribuinte carrega. Até aqui, e apesar de tudo o que os contribuintes para lá carregavam, ainda conseguia acumular prejuízos que exigiam mais e mais dotações de capital.
É bom que se perceba que a RTP tem sido sempre usada como instrumento de propaganda dos poderes instituídos – de todos – e objecto de permanentes estratégias de controlo e de nomeações de comissários políticos, fazendo dela um dos principais covis de boys.
É bom que se perceba que o que os contribuintes financiam na RTP não é o serviço público de televisão – o verdadeiro serviço público poderia facilmente ser negociado e contratualizado com os operadores privados no âmbito do contrato de concessão – mas sim um enorme e desajustado quadro de recursos humanos com cerca de duas mil pessoas, muitas delas boys e outros instalados principescamente pagos.
É que, percebendo-se isto, não se percebe de que é que se está à espera para privatizar a RTP. A não ser que seja para fazer a vontade ao Dr Pinto Balsemão! E ao Dr Pais do Amaral!
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