A coligação no poder apresentou ontem o programa eleitoral. Com pompa, muita pompa... Dada a circunstância - em cima das férias, fora de tempo de discussão - nada mais prentendia que pompa.
Podia, mesmo assim, a coligação ser mais comedida na charlatanice?
Recorro ao velho slogan publicitário: Poder, podia... Mas não era a mesma coisa!
No meio de tanta aldrabice, a sem vergonha tinha ainda de chegar à ameaça com as agências de rating?
Tinha. Porque é aí, já em pleno território do absurdo, na fronteira com a loucura, que a charlatanice atinge o climax da conclusão no tal slogan publicitário.
Era o que faltava... Era o que faltava no discurso charlatão. Já não falta!
O que falta - e a falta que lhes faz - é que as agências de rating assinem por baixo o discurso dos milagres dos charlatães. Não assinam por baixo, não caucionam e mantêm o país no lixo, donde não não saiu como ainda se atascou mais...
É tal a vertigem que ja nem conseguem parar, para pensar. E acabam por se espetar, com estrondo: para ameaçarem com o papão das agências de rating não conseguem esconder que afinal o país é - continua - lixo, sem nada a ver com o que apregoam.
Não me passaria pela cabeça que Passos Coelho tivesse lido isto. Menos ainda que viesse dar-lhe resposta tão pronta... Logo aqui, em Leiria. E logo poucas horas depois ... Já nem sei se não terá vindo de propósito.
Exactamente: Passos explicou por que não está preocupado em apresentar programas... Nem medidas... Nem ideias... Não há pressa, tranquilizou os seus apoiantes de Leiria. E através deles todo o país...
"As pessoas sabem com o que é contam da nossa parte". Também me parece!
São 122 páginas – poderiam ser bem menos, como ainda agora poderíamos ter aprendido com aqueles senhores que cá estiveram – que, à luz das obrigações contratualizadas com a União Europeia e o FMI, apontam, de uma maneira que me parece séria e sem cedências eleitoralistas, que agora seriam completamente disparatadas, um caminho para Portugal nos próximos anos.
Sabemos que o comum dos portugueses não lê os programas eleitorais e que as campanhas se desenvolvem a partir de meros spins e sound bytes centrados numa ou noutra ideia que, muitas das vezes, nem sequer encontramos em nenhuma parte do programa. Se, lá bem no fundo, as pessoas não os lêem é porque não estão para isso - têm mais que fazer, mesmo que não tenham – é sempre fácil dizer que não se interessam porque não vale a pena. Porque nada daquilo é para cumprir: promessas, só promessas de que estão todos fartos!
Acho que este é também o tempo de fazer um esforço para desatarmos este nó - mais um - que estrangula a nossa democracia. A gravidade do momento que atravessamos justifica o nosso empenhamento na participação cívica e democrática: a começar por aí, por dar atenção aos programas dos partidos!
Sócrates, que domina bem todas a s variáveis do marketing político, sabe disso: que as pessoas não se dão ao trabalho de ler os programas eleitorais. Por isso apresentou o seu antes e à revelia do programa da troika, com o único objectivo de fazer passar a ideia de que esse mais não seria que o seu PEC 4. E reclamava a apresentação do programa eleitoral PSD para dele retirar um ou dois pontos que a sua máquina de propaganda se encarregaria de formatar à sua medida e martelar ritmadamente, como só eles sabem fazer. Como já estão a fazer!
O acontecimento político do fim-de-semana não é, porém, a apresentação do programa eleitoral do PSD. Nem tão pouco a convenção do Bloco. É a inequívoca declaração de Pedro Passos Coelho de que não haveria bloco central: nem ele estará com o PS no governo nem o PS estará com ele no governo!
Quando toda a gente se tem mostrado tão empenhada nos mais amplos consensos e nos mais maioritários dos governos, que eu aqui tenho permanentemente condenado, é bom que venha alguém dizer que isso não vale. Que perceba que com isso não se pretende outra coisa que desculpabilizar quem tem a responsabilidade de trazer o país até aqui. Que diga claramente e sem ambiguidades que o eleitorado tem a responsabilidade de fazer escolhas e de punir quem tem de ser punido!
Quem nos conduziu à mais baixa média crescimento económico dos últimos 90 anos, à maior dívida pública (em função do PIB) dos últimos 160 anos, à maior dívida externa dos últimos 120 anos; ao maior desemprego dos últimos 80 anos e à segunda maior vaga de emigração da nossa História, já que não pode – como merecia - ser criminalmente responsabilizado, não pode deixar de ser exemplarmente punido nas urnas. Quem mentiu e continua a mentir, a manipular e a tratar Portugal e os portugueses como se tudo isto não passasse de um jogo, tem que ser afastado do governo. Não pode ter perdão!
As reclamadas convergência, unidade, maiorias e unanimidades são apenas esponjas que pretendem apagar toda esta desgraça que é a herança de Sócrates!
PPC veio dizer claramente que não contem com ele para isso. E eu aplaudo!
Acompanhe-nos
Pesquisar
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.