O IL não quis participar da maioria que haverá de suportar o governo de Miguel Albuquerque na Madeira. Não era problema, ainda havia o PAN. E anunciou-se o acordo com quem nunca se concorda...
Pior. Com parte dele. Pior ainda - com a parte que o não pode assinar.
É a Lei de Murphy também aplicada à política. E a Miguel Albuquerque. E, porque para isso se pôs a jeito, a Luís Montenegro.
Está mesmo a correr mal. Primeiro, Miguel Albuquerque anunciou que não governaria se não obtivesse a maioria absoluta nas eleições. Depois, já não era nada disso que tinha dito, mas apenas que só governaria em maioria. E que essa já estava garantida. De tal forma que apresentaria o governo até ao fim da semana.
Bom ... querem ver que o Chega - com quem nada de nada ... porque não fazia falta - ainda vai afinal fazer falta?
Há gente a quem nunca bastam os problemas que já têm. Têm sempre que arranjar mais. Não estarão todos no PSD, mas há por lá gente dessa que chega...
PS e PSD dividiram o poder ao longo dos últimos (quase) 50 anos, naquilo que se poderá chamar de alternância preguiçosa. Nunca precisaram de fazer grande coisa para recuperar o poder perdido. Ele vinha-lhes sempre cair no colo!
Cada um fazia os seus disparates, à vez. Quando o "pagode" se cansava dos abusos e disparates de um, partia para o outro, já esquecido e perdoado. Assim se foi fazendo a democracia portuguesa, assim foi estagnando o país, alimentado a fundos europeus, e assim se foi afunilando o regime, transformado numa panela de pressão sem válvulas de escape.
PS e PSD deveriam, há muito, ter percebido para onde estavam a levar o regime e o país. Mas não, não perceberam, e agiram sempre como sempre, distribuindo poder e "tachos" pela clientela que alimentam, para que dela se alimentem, engrossada a cada fornada de "jotinhas" famintos e sequiosos. Está-lhes na massa do sangue. Está-lhes na génese.
O PSD sentiu-o - com o surgimento da IL, do lado de dentro do regime, e do Chega, do lado de fora, como abcesso - mas não o percebeu, achando que o desaparecimento do CDS não era problema seu. O PS, pelo contrário, não só não sentiu nada disso, como até se iludiu com a vantagem que daí retirava.
Por isso, o PS apenas continuou a fazer o que lhe está na massa do sangue. E chegou a este ponto, acabando por estourar uma maioria absoluta em menos de um ano. E por isso o PSD acha que voltou a chegar-lhe a vez. Sem voltar a precisar de fazer nada. Sem sequer ter a casa arrumada, e menos ainda quem seja capaz de a arrumar.
Por isso ... Cavaco. Quem melhor que Cavaco para fingir que está tudo na mesma?
Passos Coelho e Marcelo voltaram a cruzar-se. E quando se cruzam, o sebastianismo agita-se.
Aqui há uns meses - em Outubro, se não estou em erro - tinham-se encontrado numa homenagem a Agustina Bessa-Luís, e o Presidente não quis perder a oportunidade: “o país pode e deve esperar muito do seu contributo no futuro”. Voltaram a encontrar-se no início da semana, no Grémio Literário, na comemoração do décimo aniversário de uma desconhecida organização, a que chamam Senado, mas que não tem senadores. Tem jovens, cerca de 200, de vários partidos e sensibilidades de direita.
Desta vez Passos falou, e foi quanto bastou para o Presidente exaltar os seus princípios, valores e apreciações ... e o seu futuro. Outra vez. Só que, desta, para Marcelo o futuro é agora. Tão agora que mandou fixar a data: "fixem esta data - 27 de Fevereiro". A data em que Passos anunciou o futuro na forma de "horizonte político".
Marcelo não tem ilusões. Conhece bem o estado a que o PSD chegou. E, lá no fundo, acredita que só o criador pode parar a criatura!
Bem pode Luís Montenegro experimentar os mais arrojados exercícios de contorcionismo para se desviar das perguntas sobre coligações com o Chega, como o RAP ainda ontem mostrou no seu "Isto é gozar com quem trabalha". Bem pode meter os pés pelas mãos com respostas que não respondem. Bem pode jogar com palavras para encontrar respostas claras sem a clareza do "sim" ou do "não"...
Bem pode fazer estes números todos ...se, depois, recorre ao mesmo discurso do Chega. Sem tirar, nem pôr!
Dá para perceber que a estratégia de Montenegro é não ir dizendo o que faz, para ir dizendo o que o Chega diz. É o mesmo contorcionismo de palavras, mas com a vantagem de ir habituando as pessoas. Quando se olhar para o PSD "feito num 8" já ninguém fica surpreendido!
Montenegro é, evidentemente, dessa gente de elevada estatura, digna de ser levada a sério. Daquela a que aqui chamamos gente extraordinária.
Talvez não tenha suscitado tanto interesse como era habitual, mas este quadragésimo Congresso do PSD, não deixou de ocupar o lugar central no espaço mediático deste fim-de-semana. Claro que as directas, ao retirarem aos últimos congressos a suspense da eleição do líder e os jogos de bastidores que lhe abrilhantavam o cartaz, roubaram-lhe a carga maior do espectáculo. Mesmo assim ainda se pode continuar a dizer desta o que se diz da outra - "não há festa como esta".
Montenegro disse e desdisse-se. Disse - esforçou-se por isso - que trazia uma agenda social, que iria combater os baixos salários dos portugueses, desdizendo que "baixar os custos do trabalho foi a reforma que ficou por fazer" pelo seu executivo de referência, do excelso Passos Coelho, o seu ponto no palco da liderança parlamentar do governo que foi para além da troika. Deu "um chega para lá" ao seu antigo companheiro das lides passistas, dizendo-se "nada de políticas xenófobas", e que nunca encabeçaria um Governo que as tolerasse, mas contradizendo-se nos acordos que se farão “quando e se necessários”. Quer dizer, quando e se precisar do Chega para ser poder, bem longe do claro “não” de Jorge Moreira da Silva na disputa das directas.
O resto foi construir e transmitir a ideia de um partido unido à sua volta, para a qual chamou os possíveis adversários que contam, depois de dar os "rioístas" por mortos, o "rioísmo" por enterrado e o "passismo" por ressuscitado. E foi mesmo desta celebração pascal que se fez a festa maior no defunto Pavilhão Rosa Mota, reencarnado Super Bock Arena. Como foi bonito e enternecedor ver aqueles abraços esfuziantes e aqueles sorrisos abertos, de felicidade de orelha a orelha, em velhos rostos sisudos, como se o país tivesse acabado de renascer das trevas. E toda aquela gente saída do inferno a acabar de entrar no eterno paraíso celestial!
Lamenta-se o país e o PSD do fraco entusiasmo que as eleições internas do partido no passado fim-de-semana suscitaram. No país e no PSD.
E, claro, lamenta-se a fraca participação eleitoral dos militantes. A vitória eleitoral de Luís Montenegro, tendo sido expressiva, com mais de 70%, e com mais 11.972 votos que Jorge Moreira da Silva, resultou da votação de apenas cerca de 17 mil militantes.
Vem agora a saber-se que, mesmo nesse número de votantes, muitos são eleitores fantasmas. Que votaram em Luís Montenegro!
Conta o "Observador" que em Castelo de Paiva, onde Jorge Moreira da Silva não tinha qualquer delegado na mesa, com 108 militantes, votaram 105. Todos em Luís Montenegro; zero - nenhum - em Jorge Moreira da Silva. Até aqui tudo bem - haveria apenas 3 militantes que não tinham votado, e os que votaram podiam todos ter votado no candidato vencedor. Só que o jornal garante que falou com dezenas de militantes e que muitos lhe confirmaram que não tinham ido votar: uns por estarem fora nesse sábado; outros porque estavam com covid.
Em Vimioso, no concelho de Bragança, conta o "Público", houve pessoas que pretenderam votar sem apresentar o respectivo cartão de cidadão. Aí, já com a candidatura de Jorge Moreira da Silva representada na mesa, essas pessoas foram barradas, vindo a apurar-se que os nomes por que se identificavam correspondiam a emigrantes, ausentes da terra.
Pode lamentar-se o desinteresse por estas eleições no PSD. Mas, mais - muito mias - que a fraca participação eleitoral dos militantes do PSD, há que lamentar estes exemplos de batota e caciquismo. Bem nos lembramos do tempo em que os mortos votavam ...
Pelo pouco que foi dado a perceber nesta disputa eleitoral, havia alguma diferença de ideias entre os dois candidatos que disputaram a liderança do PSD. A grande diferença, essa, e que Jorge Moreira da Silva não quis explorar, era mesmo de pessoas. De perfil, de carácter e de comportamento, que estas notícias apenas confirmam e reforçam.
Luís Montenegro bem pode anunciar-se candidato a primeiro-ministro. Pode ser, basta que dure quatro anos, e chegue às próximas eleições legislativas. Mas ninguém acredita muito que seja uma pessoa destas a levar o PSD de volta ao governo. É que não há só fantasmas nos eleitores!
Luís Montenegro, o velho candidato à liderança do PSD que se faz passar por novo, com promessas de resgatar o partido das trevas, de ganhar as Europeias, que é o que aí vem, e as legislativas que ainda chegarão antes, porque o outro há querer ir para Bruxelas, e o outro outro já disse que assim havia eleições, não podia ter começado melhor: "O meu passado chama-se Passos, o passado de Costa chama-se Sócrates"!
Pobre PSD ... Até aqui tinha líderes sem futuro; agora sai-lhe um sem passado sequer.
O PSD, dividido ao meio nas eleições internas de há duas semanas, depois de quatro anos com cada um para seu lado, surgiu agora em Congresso unido como nunca. Já ninguém apoia ninguém que não seja Rui Rio.
É o que faz o cheiro a poder. Um cheiro que entrou intenso em Santa Maria da Feira, trazido pela aragem das sondagens. Essas mesmas, as - há tão pouco tempo - malditas sondagens. E não qualquer outra coisa.
Não uma mensagem forte, e muito menos propostas empolgantes. Nem outras, na verdade não surgiu uma única proposta para apresentar aos eleitores. Mas é assim a nossa democracia. Não precisamos de propostas, até porque não estamos habituados a que sejam levadas muito a sério. Basta-nos que o poder apodreça nas mãos de quem o tem, e que comece a espalhar mau cheiro. Que cheira ao mais requintado perfume a quem só está à espera que esse cheiro se aproxime.
Tem sido sempre assim. E assim vai continuar a ser a nossa alternância democrática.
Quando o poder apodrece basta agarrá-lo, e o balão enche mesmo com qualquer coisa que não tenha sentido, como Costa ter de dizer se viabiliza um governo do PSD se não ganhar as eleições, quando já disse que se vai embora se não as ganhar.
E no entanto é esta a ideia mais forte que do Congresso saiu para fazer vida na campanha!
Rui Rio voltou a ganhar as eleições internas no PSD. Pela terceira vez consecutiva, e sempre, mais décima menos décima, dentro dos mesmos números. É quem mais vezes ganhou o Partido, mas sempre partido ao meio.
Diz-se que á vitória do Povo do partido contra as élites, e talvez assim seja. Mas é aí que começa o problema do PSD. O povo, sem elites, tem um problema de projecto..
Mais que um problema de estratégia, Rui Rio terá um problema de quadros. Tem o povo do partido consigo, mas olha à volta e não vê quadros que lhe sustentem um credível projecto de poder. E por isso o projecto de Rui Rio terá alguma dificuldade em levantar voo. E mesmo que o consiga dificilmente dará para grandes voos. Mesmo que o poder dê asas...
O PSD já não é apenas o mais português Partido de Portugal. É o mais partido de Portugal!
Rui Rio vai a jogo, anunciou ontem Salvador Malheiro, o seu fiel escudeiro, apontando desde logo a uma vitória sobre os "caciques".
Se calhar não foi a melhor maneira de Rio fazer as coisas, mas isso também não é de estranhar. Normalmente é assim, nunca escolhe a melhor maneira. Nem a mais simples.
Podia ter sido ele próprio a anunciá-lo. E podia até tê-lo feito de imediato, sem tabus. Teria sido um sinal de força e de determinação. Não quis assim, e lá terá as suas razões, mesmo que a razão as desconheça.
Mas que Salvador Malheiro, precisamente ele - himself, lui même - a anuncie falando de caciques e de caciquismo, que Rui Rio vai à luta para lhes dar uma tareia, só não nos deixa de boca aberta porque já nada nos espanta.
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