Se, em ambos os jogos de ontem, as coisas só se resolveram no desempate por penáltis, nos hoje tudo se decidiu nos 90 minutos, sem sequer necessidade de prolongamento.
No França - Inglaterra, um grande, grande jogo de futebol, porque Harry Kane falhou o penálti. Que foi o segundo a favor dos ingleses - assinalado porque, naquela que foi uma das piores arbitragem deste mundial, houve mais dois por assinalar, e ainda outro a favor dos franceses -, e restabeleceria a igualdade a dois golos, se tivesse sido convertido. Não foi assim, e a França acabou por ganhar um jogo em que não foi superior, e prosseguir a caminho para a revalidação do título mundial.
No jogo de Portugal porque Marrocos marcou um golo e não sofreu nenhum. Ainda ninguém lhe conseguiu marcar um golo, e percebeu-se que também não seria hoje a selecção portuguesa a consegui-lo.
A equipa marroquina não fez nada que não se esperasse. E nem o facto de vir de um jogo com prolongamento, nem de ter perdido para este jogo dois dos defesas titulares, alteraram o que quer que fosse. Por isso a selecção portuguesa não teve motivos para qualquer surpresa, e teria que saber o que tinha a fazer.
Não sabia, e esse é o problema. Que não é de agora, mas de sempre. Não tendo feito o trabalho de casa, começou por copiar o que a Espanha tinha feito. Se não tinha resultado para a Espanha, que até o faz melhor, era garantido que não resultaria!
Entusiasmei-me, como creio que toda a gente, com aquela exibição e aquela goleada do jogo com a Suíça. Mas comecei por dizer que os problemas da selecção não se esgotavam nos de Ronaldo. Que, antes, depois e durante, havia os que vinham da ideia de jogo do seleccionador.
Nesse jogo - aparentemente com o problema Ronaldo mitigado - o primeiro golo surgiu, mais que na primeira oportunidade, na primeira chegada à baliza. O adversário precisou de procurar o resultado e abriu espaços. Com espaço os jogadores portugueses jogam como na rua. É o tal futebol de rua, que não precisa de treinador.
No futebol de alta competição, e num campeonato do mundo, isso não existe. Aconteceu com a Suíça, e sabe-se lá se não poderia até ter voltado a acontecer hoje com Marrocos se, no arranque do jogo, aos 4 minutos, Bounou, a abrir logo com uma enorme defesa, não tivesse negado o golo a João Félix. Mas isso era se os milagres não habitassem também território de Alá!
Não falta à selecção portuguesa apenas ritmo, ideias de jogo trabalhadas e consolidadas, e mentalidade para enfrentar a adversidade. Falta tudo de que se faz uma equipa. Falta liderança. E falta estratégia. Para cada jogo, mas mais ainda para todo o edifício da selecção nacional, uma teia de interesses sempre em conflito com o objectivo desportivo. Que deveria ser o seu único e inegociável interesse.
Por isso esta eliminação aos pés de Marrocos só surpreende, e choca, porque se seguiu àquele jogo com a Suíça. Se olharmos bem para os outros três jogos - Gana, Uruguai e Coreia -, ou até mais para trás, nas derrotas, quando bastava o empate, com a Sérvia, para a fase se apuramento, ou com a Espanha, no afastamento da Liga das Nações, não há muito por onde surpreender.
E basta olharmos para três dados estatísticos do jogo para ser maior o choque pela exibição que pelo resultado: com 73% de posse bola, a selecção portuguesa rematou 12 vezes, apenas em 3 delas acertou na baliza; com apenas 27% de bola, os marroquinos remataram 9 vezes - pouco menos - e as mesmas 3 na baliza. O guarda-redes Bounou defendeu os três que lhe apareceram pela baliza, com três grandes defesas. O Diogo Costa sofreu o golo logo no primeiro remate.
Numa falha grave, a segunda, depois da do jogo com o Gana, porventura a deixar a nu a "verdura" escondida. Faltou-lhe determinação na saída ao cruzamento, mas acima de tudo avaliou mal toda a situação. Optou por tentar agarrar a bola com as duas mãos, em vez de a interceptar a punho e, o avançado marroquino En - Nesyri - a saltar sem oposição de Rúben Dias, que terá entendido que a sua intervenção na disputa da bola iria obstaculizar a acção do Diogo Costa, em condições de chegar primeiro à bola - chegou com a cabeça bem primeiro, e bem mais alto, que o guarda-redes com as mãos.
Mas apenas mais um incidente de jogo. Que pouca importância tem no meio de tudo o que envolve esta participação portuguesa. Do contrato com o seleccionador, que é uma empresa, lá por coisas de impostos, onde a FPF, que até tem "utilidade pública", se mete; às novelas da entourage de Cristiano Ronaldo. Da estrutura de comunicação da FPF, do que brifa e não brifa ao treinador, ou do que deixa ou não dizer; aos jogadores que não regressam todos a Lisboa, porque por lá ficam uns tantos de férias...
Os dois jogos do primeiro dia dos quartos de final deste Campeonato do Mundo tiveram de tudo - futebol de grande riqueza táctica, emoção até ao fim, golos mesmo no fim, do jogo ou do prolongamento e, por fim, tudo a decidir-se nos penáltis.
O Brasil foi surpreendentemente eliminado pela Croácia, uma selecção que tem vindo a crescer na competição, até chegar a este jogo em condições para o discutir. Pelo que mostravam estas selecções há pouco mais de uma semana, a Croácia estava destinada a não passar de um adversário cómodo para o super favorito Brasil. Hoje, foi o que se viu.
E viu-se a selecção croata a anular os alas do Brasil, Vinicius e Rafinha, secando logo a maior fonte de futebol da equipa de Tite. Sem nada a brotar das alas, Richarlison secava, e Paquetá e Neymar batiam de frente com a defesa croata.
Depois, quando recuperavam a bola, lá estava o eterno Modric, a quem os 37 anos não pesam. O maestro que continua a comandar - e de que maneira! - todo o futebol croata.
Quando a balança desequilibrava em favor dos brasileiros, lá atrás, aparecia um tal Livakovic na baliza. Sempre no caminho da bola, sempre intransponível... como que a normalizar 0-0 no fim dos 90 minutos.
Prolongamento e penáltis é música para os croatas. A primeira oportunidade, como de resto já tinha sucedido no jogo, até pertenceu à selecção da Croácia, mas foi Neymar quem desembrulhou aquilo tudo. Pegou na bola lá atrás, entregue pelo Marquinhos, ali ao lado, e foi por aí fora. Escolheu o Rodrigo para uma primeira tabela, e o Paquetá para a segunda, e lá continuou direitinho ao Livakovic, para o deixar deitado no chão e meter a bola na baliza. Bem por alto, não fosse ainda alguma perna aparecer para estragar aquela obra de arte.
Estava esgotado o minuto extra de compensação da primeira parte do prolongamento quando Neymar quebrou o enguiço.
Pensar isso - que quebrado o enguiço, era só continuar que mais golos ainda viriam - foi provavelmente fatal para os brasileiros. Porque, acabar por sofrer o empate num contra-ataque a 3 minutos dos 120, não é a coisa fácil de entender num jogo destes.
E nos penáltis lá estava o tal Livakovic. Só não defendeu os de Casemiro e de Pedro, os únicos que converteram, e o de Marquinhos, que foi ao poste. Nem deu tempo para Neymar marcar o seu penálti...
É grande o mérito da Croácia neste apuramento para as meias-finais (pelo segundo campeonato consecutivo). O maior é que não teve medo. Nunca teve medo de jogar contra o Brasil, nem de o desafiar.
No jogo entre a Argentina e os Países Baixos não teve menos táctica, mas teve mais medo. Normalmente diz que um jogo é muito táctico quando as equipas têm medo uma da outra. Houve muito disso neste jogo.
Também a selecção de Van-Gaal, que tem andado sempre longe de maravilhar, e se valeu muito do factor sorte, como por aqui se tem dito, tem vindo a crescer. Mas está longe da qualidade, individual e colectiva da Argentina.
Que marcou pouco depois da meia hora - Messi inventou o golo para Molina marcar - mas, ainda assim, continuou com medo. E incapaz de assumir o jogo em consonância com a sua qualidade.
Chegou ao segundo já à entrada do último quarto de hora, num penálti "caído do céu" que Messi transformou facilmente em golo. Tudo aquilo mais lhes parecia uma dádiva celeste...
Que os deuses lhe cobrariam, com dois golos do recém entrado Weghorst: o primeiro, menos de dez minutos depois; e o segundo, no último lance da partida, no mais estranho livre alguma vez visto, que ficará para sempre na História dos Mundiais.
Só no prolongamento a Argentina, com medo - novamente medo - dos penáltis, procuraria finalmente afirmar a superioridade do seu futebol. Desperdiçou algumas oportunidades de ganhar então o jogo, a última no remate de Enzo Fernandez, no poste.
Nos penáltis, Emiliano Martínez, ao defender dois, resolveu. E deixou sem consequências o que o Enzo falhou!
Neste jogo dos oitavos de final da Taça de Portugal, na Amadora, no velho José Gomes, com o restaurado Estrela, meio filho, meio irmão, do Sintra Futebol Club, mas herdeiro do velho Estrela da Amadora, o Benfica apresentou uma equipa alternativa. Dos mais frequentes titulares, apenas Tarabt surgiu no onze. De resto tudo gente que habitualmente não calça!
Na primeira parte as coisas não resultaram. O onze em campo imitou bem o que de pior tem feito o onze habitual, com alguma exibições individuais ao nível do deplorável. Nuno Tavares, Samaris, Chiquinho, para não dizer mais, estiveram a um nível intolerável. Mas nenhum dos restantes esteve perto do que deveria ser aceitável para quem veste aquela camisola.
Daí que rapidamente os jogadores do Estrela, do terceiro escalão do futebol nacional, tivessem percebido que aquelas camisolas não assustavam ninguém e, passados os primeiros dez minutos, passaram a dividir o jogo.
Aproximava-se já o final da primeira parte quando o Benfica chegou ao golo. Ironicamente por Chiquinho, numa recarga depois de uma grande defesa do guarda-redes adversário a remate de Seferovic. Antes disso praticamente só uma grande perdida de Pedrinho, o que a melhor nível se exibiu até à sua substituição, pouco depois da hora de jogo.
A segunda parte foi diferente. Com os mesmos jogadores, a equipa surgiu completamente transformada, francamente para melhor. Samaris subiu particularmente de rendimento e Pedrinho chegou a momentos de brilhantismo. O resultado começou a engordar e só acabou nos quatro golos porque o desperdício foi grande.
Nos últimos vinte minutos Jorge Jesus começou a lançar no jogo alguns dos jogadores mais utilizados na equipa principal (Waldchmidt, Weigel, Rafa e Grimaldo) provavelmente com a ideia lhes dar ritmo, sem cansar, para o clássico de sexta-feira, no Dragão.
No fim ficam na retina algumas boas movimentações, daquelas que não enganam, de Gonçalo Ramos - retirado muito cedo do jogo, foi o primeiro a sair para entrar... Ferreyra -, e muita qualidade de Pedrinho. Mas também Todibo, na estreia, revelou grande qualidade no trato da bola. Provavelmente com um adversário superior não poderá dar largas à sua exuberância nesse capitulo, e poderão ser-lhe exigidas outras competências que hoje não lhe foram requeridas. Mas jogar bem à bola é sempre bom indicador.
E fica o apuraamento para os quartos de final. Onde o Sporting já não está, eliminado na Madeira, pelo Marítimo. E onde está também o Porto, porque, também na Madeira, mas contra o Nacional, se apurou à custa de mais uma arbitragem escandalosa. Que expulsou (segundo amarelo) um defesa do Nacional quando acabara de virar o resultado para 2-1, a meia hora do fim, que nem falta fez. Que evitou o segundo amarelo a dois jogadores do Porto (Zaidu e Taremi) em situações claras de punição disciplinar e, que, não fosse isto pouco, validou o golo do empate, em cima do minuto 90, iniciado num lance de mão de Taremi, lançando o Porto, com 11 em vez de 9, para o prolongamento de 30 minutos contra uma equipa que jogou mais de uma hora com um jogador a menos, e mal expulso.
Mas não se passa nada. Nunca se passa nada nestas coisas...
Estamos a meio da primeira pausa no campeonato do mundo, na ponte dos oitavos para os quartos de final da competição.
São oito as selecções que partem agora, já a partir de amanhã, para as grandes decisões. De fora estão os que não passarão de uma pequena nota de rodapé na História deste mundial, mesmo que sejam nomes grandes da História. E de outras histórias... De fora estão grandes jogadores, com Cristiano Ronaldo e Messi á cabeça. Sem grande surpresa.
Nas oito selecções apuradas apenas duas são grandes nomes do futebol mundial. À excepção da França e do Brasil, as grandes selecções estão fora. A Itália não chegou sequer a pôr lá os pés, a Alemanha foi o escândalo da primeira fase, e a Argentina, a Espanha e até Portugal, pela sua condição de campeão europeu, são as vítimas mais sonantes dos oitavos de final.
Brasil e França não são apenas os dois nomes maiores ainda em competição. São claramente as duas mais fortes equipas da prova e, em condições normais - a França não terá grande dificuldade em desenvencilhar-se do Uruguai do nosso descontentamento, e o Brasil, mesmo defrontando a terceira melhor equipa em prova, a Bélgica, não deixará de fazer valer o seu favoritismo -, protagonizarão uma final antecipada nas meias-finais. Uma delas terá de se contentar com o terceiro lugar.
Bafejadas pela sorte das circunstâncias - lembrar que a Bélgica foi penalizada por ter ganho à Inglaterra e, com o pleno de vitórias, ter ganho o grupo - do outro lado do alinhamento estão as restantes quatro selecções, onde a Croácia, um dos melhores projectos de jogo da competição, e a Inglaterra, a subir de produção e em clara rotura com o british kick and rush, são as equipas mais capazes. Uma delas será finalista. A Rússia? Às vezes há milagres, como bem sabemos.
Não há Ronaldo nem Messsi, mas há Cavani (espera-se que possa recuperar), Neymar (a ter que rebolar menos) e Mbappé (o jogador da póxima década), o trio atacante do PSG. E Coutinho, e Hazard. E Willian, e Modric e Pogba. E percebe-se que será essa final antecipada a decidir o melhor do mundial. Se não mesmo o melhor do mundo!
Dominaram a actualidade dos últimos dias. Uns porque surpreenderam - e ameaçam - o mundo ao bater com a porta na cara da Europa. Outros porque ameaçavam mudá-la, com as eleições que afinal não mudaram nada - deixaram tudo cada vez menos na mesma. Hoje fizeram jus ao protagonismo destes dias, e foram ambas porta fora ...
A Espanha, juntando ao adeus a França o adeus ao ciclo de sucesso que iniciara há oito anos, e de que começou a despedir-se já há dois, no Brasil. Foi bom - dois campeonatos da Europa e um do mundo - mas acabou-se. Acabou-se - ironia do destino - às mãos da Itália, que clilndrara na final do último europeu, que atingiu - lembramo-nos bem - afastando a selecção portuguesa, nos penaltis (o deles bateu no poste e entrou, o nosso bateu na barra e saiu). Ficou demosntrado que já não justificava a condição de súper favorita de que gozava, na companhia da Alemanha e da França.
Não foi hoje cilindrada pelo adversário que há quatro anos esmagou. Mas não faltou muito, se calhar só faltaram os números. De resto esteve lá tudo, na imensa superoridade italiana que pôs a nu que esta Espanha, para além de um grande guarda-redes, vive já apenas de dois jogadores. De Iniesta - que já não se livra da tremenda injustiça que vai ser arrumar as botas sem uma bola de ouro (assim mesmo, o título é esse, sem a parolice dessa coisa do "melhor do mundo") - já órfão de Xavi, e vítima de uma condição física que Del Bosque não se preocupou em preservar; e David Silva, que hoje cedo desistiu de remar sozinho contra a maré italiana.
E a Inglaterra, mais uma vez cheia de excelentes jogadores mas sempre sem futebol, mais vítima de si própria que da sensacional Islândia, a reescrever, pouco mais de uma semana depois, a história da selecção portuguesa neste Euro 2016. Sem dúvida nenhuma que esta prestação inglesa ajuda de alguma forma a limpar a imagem que Portugal estava a deixar nesta competição. Não há mesmo comparação entre o que a selecção portuguesa - que empatou, mas mereceu ganhar - e a inglesa - que perdeu, e mereceu perder - fizeram perante este mesmo adversário.
Sem honra nem glória, mais esta passagem inglesa por mais uma fase final de grande competição. A que chegara com o soberbo e raro registo de um apuramento totalmente vitorioso.
Não deixa de ser curioso que o grupo de Portugal, tido unanimente pelo mais fraco de todos, tenha dois representantes nos quartos de final. Idêntico só o da Alemanha, com a Polónia, o nosso adversario, e o da Itália, com a Bélgica. Do grupo A resta apenas a súper protegida França. Do B, Gales, e do D (Espanha e Croácia), já não sobra ninguém!
Não há vitórias morais, em futebol. Sair de Munique da forma que o Benfica hoje saiu não é vitória nenhuma. Mas não há benfiquista que não sinta orgulho no jogo que hoje a equipa realizou frente ao Bayern.
O resultado não deixa espaço para grande optimismo para a segunda mão, de amanhã a uma semana, na Luz. Outra coisa seria se o Benfica tivesse marcado nas duas grandes oportunidades de golo que criou. Ou se o árbitro tivesse assinalado o penalti no lance em que o Lham joga a bola com a mão, impedindo o Gaitan de seguir para o golo. Mas nem por isso os benfiquistas deixam de estar optimistas, e esse é o maior tributo que podem prestar a estes extraordinários jogadores, a esta fabulosa equipa.
O jogo até começou da pior maneira que podia começar: com um golo logo no primeiro minuto. Mas foi como se nada se tivesse passado, e a equipa soube, primeiro, manter-se equilibrada, e depois equilibrar o próprio jogo.
O árbitro é que não pareceu muito interessado nesse equlíbrio. Não foi só no penalti que não quis assinalar. Foi em tudo, e ainda mais em tudo quanto mais o jogo se aproximava do fim. Nos últimos minutos a dualidade de critérios foi gritante.
A UEFA está muito interessada em ter o Bayern na final. E o Barcelona, pelo que deu para perceber no outro jogo...
Foi com enorme categoria que o Benfica afastou hoje os milionários russos comandados por André Villas Boas, onde pontificam alguns que souberam - e continuam a saber - honrar o manto sagrado que um dia vestiram, nos oitavos de final da Champions. Segue o Benfica, este sensacional Benfica, para os quartos de final da maior competição de futebol do mundo, incluído no restrito grupo dos oito melhores.
E fez isto tudo afastando precisamente o único representante do país que está em confronto directo com Portugal nas contas do ranking europeu, reforçando ainda mais esse quinto lugar, logo a seguir às crónicas superpotências do futebol europeu.
Mas vamos ao jogo, que arrancou como é costume: a entregar-se todo ao Benfica. Foi assim durante toda a primeira parte, sempre com o Benfica bem por cima, e sem que ninguém conseguisse perceber que a defesa tinha sido mais uma vez enxertada. Apenas nos últimos dez minutos o Zenit começou a ser capaz de equilibrar as coisas, tendo para isso que partir o jogo. Benfica reagiu com muita classe e quando o árbitro apitou para o fim da primeira parte, já tinha de novo o jogo sob controlo. Mas ficava uma dívida de golos, pelo menos um, por pagar...
A segunda parte foi lançada em bases diferentes. O Benfica recuou linhas, e o Zenit, ao contrário, subiu-as. E passou a pressionar bem alto.
O jogo pedia Raul Gimenez, e Rui Vitória fez-lhe a vontade. Só que, logo a seguir, um jogador russo - desta vez era mesmo russo: Zhirkov - abalroou o Nelson Semedo e foi por ali fora, com o lateral do Benfica inanimado no chão e toda a gente à espera do apito do árbitro. Só se percebeu que o árbitro húngaro Viktor Kassai, fizera mesmo vista grossa a uma falta do tamanho da Gazprom quando Hulk - tinha de ser - metia a bola dentro da baliza do fantástico Ederson.
Faltavam 20 minutos para os 90, e o golpe poderia ter sido fatal. Mas não foi, porque este Benfica tem muita categoria, mas também tem muita alma. E logo a seguir está muito perto do golo, que o guarda redes russo, quase por milagre, negou a Lindelof.
Foi necessário esperar - e sofrer - mais 10 minutos para a explosão de alegrial, com o golo do empate de Gaitan. E mais outros tantos, já com os 5 de compensação, para a apoteose final do golo de Talisca, acabadinho de entrar, certamente a pensar que já nem tocaria na bola.
Nos quartos de final, com menos espectacularidade e menos golos, imperou a lei do mais forte.
O Alemanha-França já foi aqui tratado. Não vi o Brasil-Colômbia, pelo que não sei se alguma coisa mais importante que a lesão do Neymar aí se passou. Que afastou aquele que era uma das grandes figuras deste mundial e talvez o maior pilar das aspirações brasileiras. A carga do jogador colombiana não terá certamente sido propositada. Não terá tido por objectivo partir-lhe as costelas, mas não é aceitável!
O Argentina-Bélgica teve bastantes semelhanças com o primeiro destes jogos, com os das pampas a fazerem de alemães, e os belgas de franceses. Os argentinos são, e foram sempre, melhores. Mas bem podiam não ter ganho, com os belgas a desfrutarem da sua melhor ocasião de golo nos últimos momentos do jogo.
A Argentina continua sem encantar, embora tenha vindo a melhorar a sua qualidade de jogo, continuando a ser levada às costas de Messi. E de Di Maria, que hoje se lesionou e que, tal como Neymar, está também fora do mundial.
A Bélgica voltou a confirmar que é uma equipa de compartimentos, com valores individuais de grande qualidade, atrás e à frente. A começar no guarda-redes, tem uma defesa de imensa categoria. E no entanto defende mal!
Na frente tem igualmente jogadores do melhor que se viu no Brasil. E nem por isso constrói muitas oportunidades de golo. Porque não tem – não teve – meio campo, e não tem sistema de jogo. Faz mal as transições ofensivas, e com isso não tira o melhor proveito da qualidade que tem no ataque. Mas é nas transições defensivas que é um verdadeiro desastre. Não se percebe quem fica, quem compensa nem quem transporta. E aquele Fellaini... Francamente!
O último, mesmo sem golos, foi o mais emocionante de todos os jogos dos quartos de final. Encontravam-se a surpreendente e extraordinária Costa Rica e a Holanda que, ao contrário das restantes apuradas, vem de mais para menos. Começou espectacularmente com a goleada imposta à Espanha, mas depois disso foi sempre a descer. Pela simples razão de que é uma equipa – a exemplo da portuguesa, e salvo as devidas distâncias – talhada para o contra-ataque e para o ataque rápido. Quando enfrenta adversários que não tomam a iniciativa do jogo, e tem de jogar em ataque planeado, o rendimento é outro. E bem inferior!
Esta Holanda é a capacidade de passe de Sjneider, a aceleração, velocidade, drible e diagonais de Robben, e capacidade de execução de Van Persie. Sem espaços nada feito, não funciona!
Se bem que haja sempre Robben: a alma de Robben, a encher o campo todo e… os mergulhos, às vezes a resolverem o que tudo o resto não resolveu!
Dá vontade de dizer que a selecção das Caraíbas mereceu toda s sorte que teve durante os 90 minutos do jogo e mais 30 de prolongamento, e não mereceu o azar que teve nos penaltis, acabando por morrer com os ferros com que matara a Grécia
Os holandeses tiveram três bolas na barra, mas só verdadeiramente tomaram conta do jogo nos últimos 10 minutos dos noventa e no prolongamento. Tivessem mais cedo posto em campo o empenho, e especialmente uma velocidade aceitável, e talvez não tivessem de se sujeitar aos penaltis que, pela história deste campeonato e pela extraordinária exibição – mais uma – do fantástico (será apenas guarda-redes de engate?) Navas, tinham tudo para não desejar.
Van Gaal não fez muito para alterar o curso dos acontecimentos. Fez duas alterações bastante tarde, a segunda (entrada do ponta de lança Huntelaar por saída do defesa português Bruno Martins, que está a caminho do Porto) já na segunda parte do prolongamento. E guardou a terceira para o último minuto do prolongamento. Insólito: trocou de guarda-redes, para os penaltis. Como já se percebia pelos exercícios de aquecimento que o guarda-redes Krul há minutos vinha fazendo à vista de toda a gente!
E resultou, defendeu dois penaltis e assegurou a qualificação da Holanda para as meias finais. Para compensar o azar das três bolas no ferro, Van Gaal teve sorte!
Com a Argentina, nas meias finais, a Holanda poderá voltar a encontrar as condições naturais ao desenvolvimento do seu jogo. Pode ser que se volte a sentir como peixe na água... Mas se há coisa que caracteriza esta Argentina de Sabella é a forma como não permite desiquilíbrios!
Era dada como uma final antecipada: a final europeia do campeonato do mundo. Final, ou não, era um jogo entre as duas melhores equipas da Europa que estão no Brasil.
A Alemanha porque é, de há um ano para cá, e mesmo que isso tivesse passado despercebido a Paulo Bento e à sua rapaziada, a melhor equipa europeia. E continuará certamente a sê-lo durante os próximos anos.
A França porque chegou ao Brasil e desatou a impressionar, forte em todos os sectores mas com um meio campo do melhor que por lá se via. Havia um pequeno se não: não tinha verdadeiramente sido posta à prova. A partir do tal grupo, e até mais de trás, podia ter ficado a ideia que a França tinha sido trazida até aos quartos de final…
Os alemães estariam previsivelmente mais desgastados, vinham, ao contrário dos franceses, de um apuramento apenas decidido no prolongamento. Mas isso não se notou, nem provocou alterações na equipa. À excepção da inclusão de Klose, pela primeira vez titular, em vez – que não no lugar – de Gotze, com Muller a jogar nas suas costas. O velho Miroslav procura ainda tornar-se no maior goleador da história em fases finais, agora que já igualou (15 golos) o brasileiro Ronaldo. Mas não foi por isso que entrou de início, terá sido para marcar terrenos e puxar a equipa para começar a pressionar mais alto.
A França, ao contrário das expectativas que apontavam para maior prudência defensiva, fez alinhar Griezmann de início, no seu trio da frente. Nem Giroud, que não tem provado e voltou a não provar quando entrou, nem outra solução mais defensiva.
E o que viu foi a Alemanha tomar conta do jogo. Com pressão alta e colocando muita gente entre as linhas adversárias, tinha mais bola e fez eclipsar o fabuloso meio campo da França, que teve de usar o pontapé longo como forma de transição, descaracterizando por completo o seu futebol.
Foi sempre assim durante a primeira parte. E só não foi assim nos primeiros vinte minutos da segunda parte, quando a França conseguiu soltar-se da teia alemã. Mais porque a Alemanha não podia manter aquela pressão durante todo o tempo do que por outra coisa qualquer.
É certo que a Alemanha ganhou apenas por um golo, que marcou num lance de bola parada. Mas a ideia que ficou foi que, se não tivesse marcado dessa forma, logo aos 13 minutos, tê-lo-ia feito noutra altura qualquer, da mesma ou de outra forma qualquer, tal foi objectivamente a superioridade alemã, o cliente habitual das meias-finais dos campeonatos do mundo que disputou os quartos de final pela 16ª vez consecutiva!
Mesmo no fim, quando, até pelas substituições efectuadas, Joachim Low tinha já dado o jogo por ganho, a França teve talvez a sua melhor oportunidade de golo. Que, a acontecer mudaria muita coisa. Menos a verdade que a Alemanha é muito superior!
Mais que cumprir-se o futebol – … e no fim ganha a Alemanha – cumpriu-se o destino desta selecção alemã, que encontra agora o Brasil na aguardada final que o sorteio trouxe para as meias-finais!
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