Vítor Bento bateu com a porta e foi-se embora, de mãos a abanar, não se cansa a imprensa de salientar, como se o normal navida real,não seja – e deva ser – isso, quando alguém sai ao fim de dois meses.
Não é no entanto esse o ponto. Por agora o ponto é que Vítor Bento foi embora e, percebemos todos rapidamente que fez um grande favor ao governador Carlos Costa. Porque, como explicou o próprio demissionário, era oportuno que fosse substituído por alguém alinhado com o accionista.
O motivo do desalinhamento é, obviamente – tão óbvio quanto a forma como surgiu e foi divulgada a pressa –, a urgência súbita na venda do banco. Vítor Bento sabe, como todos sabemos, que vender à pressa é sempre sinónimo de vender mal. E sabendo isso, mesmo que sem recorrer à parodiada rábula de Seguro(qual é a pressa? …qual é a pressa?), não percebe qual é a pressa!
A pressa, esta pressa, é apenas mais um traço do calendário político que, percebe-se agora com toda a clareza, sempre marcou o maior escândalo financeiro do país, agravando-lhe as consequências. Foi a agenda política – do governo e da troika, não sobra hoje qualquer dúvida – que fez com que a bomba, descoberta no final de 2013, fosse atirada para a frente, para vir a cair já depois dasaída limpa. É a agenda política que agora impõe a venda à pressa, para que o governo se desfaça, antes das eleições, do incómodo embrulho que também criou.
São os interesses políticos a sobreporem-se a todos os outros, sempre com os piores resultados. Sabendo-se que os actos mais danosos cometidos pela administração Espírito Santo aconteceram durante o corrente ano, e especialmente no segundo trimestre, ao que diz o próprio Banco de Portugal, fica a saber-se que teriam sido evitados se o interesse nacional se tivesse sobreposto ao interesse político de esconder o problema até à saída do programa da troika, a tal data épica, histórica, que Paulo Portas comparou ao 1º de Dezembro de 1640.
Encerraram no final da semana as inscrições de simpatizantes nos cadernos eleitorais para as primárias do PS, com números que se não forem surpreendentes não andarão lá muito longe. As notícias indicam que tenham adquirido capacidade eleitoral cerca de 150 mil simpatizantes que, com os 90 mil militantes, constituem o universo de cerca de 240 mil portugueses que vai decidir a disputa dos Antónios.
Depois de terem faltado quatro meses, já só faltam agora duas semanas. E o que para António Costa parecia favas contadas parece agora um rabo difícil de esfolar, o que explica bem o empurrão de quatro meses que Seguro quis dar nesta data.
Com as eleições para as Federações Distritais ficou a saber-se que, pelos militantes, Seguro ganharia. Por poucos (o resultado foi de 10 contra 9 a favor de Costa - mas pode até ser invertido porque as eleiçoes de Leiria, ganhas por Costa, foram inpugnadas e parece que serão repetidas - mas o somatório geral de votos foi favorável a Seguro), mas ganharia, o que parece confirmar a tese do domínio do aparelho. A ideia que paira é que Costa ganhará no universo dos simpatizantes, mas é só isso: uma ideia que anda no ar.
Mesmo que não pareça em causa a convicção generalizada de que Costa virá a ganhar, é hoje praticamente aceite que resultado será muito mais apertado do que o que se previa. Seguro conquistou espaço nestes meses porque foi picado, e depois de picado passou a revelar uma energia e uma acutilãncia que ninguém lhe reconheceu na oposição ao governo que, curiosamente, continuou a não fazer sem que por isso fosse penalizado. Mas, acima de tudo, Seguro ganhou com uma estratégia dual de vitimização e sacanice. Vestindo sistematicamente a pele de vítima, Seguro conquistou os corações mais sensíveis, nem que para isso tivesse e de lançar mão do seu lado mais sacana que, por sua vez, cativa ainda as mentes mais preversas. Para ilustrar esta estratégia nada melhor que o filme que acaba de fazer chegar à campanha: ele, coitadinho, planta e cuida com todo carinho um cravo que cresce, vermelho e lindo, para o vilão Costa chegar e abusivamente cortar e pôr ao peito. É de sacana!
Costa, por si, mas especialmente pelas companhias, também lhe deu um impulso significtativo, que só não será decisivo porque é atenuado pela crónica memória curta dos portugueses. É que, em cada sessão de campanha, lá estão as câmaras, impiedosas, a mostrar o que de pior o PS tem. Fosse outra a memória das pessoas e aquelas caras, de que há apenas quatro anos toda a gente se queria ver livre, bastariam para enterrar de uma só vez as aspirações todas de António Costa.
Como se ouvíssemos Seguro: fica-te mal António... fica-te mal teres essa gente ao teu lado!
Depois da mudança de treinador, do fecho do mercado (as entradas de Akturkoglu e Amdouni, e a saída de Marcos Leonardo foram mesmo o último suspiro à janela), do regresso dos jogadores das selecções - esta paragem, com outra já dentro de um mês, é um absurdo -, e daquele episódio deprimente com que alguém que não tem noção (quem não tem a noção do tempo, não consegue ter a noção de nada) quis fazer prova de vida, o Benfica regressou à Luz. Que voltou a encher-se, como sempre, mas desta vez com a esperança renovada.
Com apenas dois dias para preparar o jogo, Bruno Lage manteve toda a linha defensiva. A partir daí apenas Florentino - a desempenhar sozinho a função de cobertura no meio campo -, Di Maria e Pavlidis se mantiveram na equipa. Kokçu e Rollheiser jogaram nas funções de construção, e Akturkoglu entrou directamente na equipa para completar, na esquerda, o trio de ataque.
O ambiente das bancadas era de entusiasmo, do maior que se viu nos últimos largos tempos. Foi sobre esse entusiasmo que, logo aos 20 segundos, o golo do Santa Clara caiu que nem um balde de gelo.
Não havia pior maneira de começar. A primeira vez que um jogador do Benfica tocou na bola foi para a tocar no círculo central, donde os jogadores da equipa açoriana tinham acabado de a tocar no pontapé de saída. Atrasaram-na para o guarda-redes, que a chutou para a frente. Otamendi, num movimento digno de um juvenil, falhou o corte e a bola ficou ali à frente do avançado do Santa Clara, bastando a Vinicius dar-lhe um toque para a fazer passar por cima de Trubin.
Se, por tudo o que acontecera nos últimos dias e semanas, a tarefa dos jogadores do Benfica já não era fácil, com este arranque de jogo - era o golo, mas era ainda consequência de um erro tremendo do capitão - ficava ainda mais complicada.
A equipa reagiu, mas as coisas não saíam bem. Via-se que a equipa procurava outra dinâmica - Bruno Lage tinha dito que mais importante que o sistema era a dinâmica - mas a ansiedade dos jogadores, e também naturalmente a falta de treino, levavam a uma sucessão de passes falhados, mesmo de baixo risco, que emperrava qualquer dinâmica. Há uma ou duas semanas, as bancadas reagiriam com assobios. Hoje estavam incondicionalmente com a equipa, e isso foi fundamental.
Se o colectivo não funcionava, se o jogo associativo se ia perdendo nos passes falhados e na oposição do adversário que, apanhando-se a ganhar, não saía lá de trás, tiveram que ser as individualidades a tentar resolver. Normalmente isso não funciona, mas hoje foi a forma da equipa se ir recompondo, passar a dominar o jogo, criar oportunidades para marcar. Ter marcado na primeira -antes Pavlidis vestiu-se de Gyokeres, mas não foi feliz no remate - também ajudou. Tranquilizou os jogadores e deu-lhes a confiança necessária para que as coisas passassem a correr melhor.
O primeiro golo, o do empate, resultou claramente da qualidade individual de Kokçu (passe picado para ultrapassar a densa linha defensiva contrária) e do estreante e seu compatriota Arkturkoglu, a desmarcar-se e marcar com um toque de classe. Seis minutos depois, aos 34, no primeiro canto do desafio, consumava-se a reviravolta.
Foi o primeiro golo de canto da equipa que mais cantos tem no campeonato. Percebeu-se o trabalho que antes se percebia não existir: canto curto, cruzamento rigoroso de Di Maria para o segundo poste, donde Otamendi assistiu, de cabeça para o golo de Florentino, de rompante no lado contrário.
Era o segundo golo, em duas oportunidades. Só a partir daí o Benfica passou a criar oportunidades sem concretizar em golo. Também o Santa Clara criou então a sua segunda oportunidade de golo, num remate ao poste direito da baliza de Trubin.
Ao terceiro canto, logo no arranque da segunda parte, num cabeceamento de António Silva, o Benfica fez o terceiro. Se já dominava completamente o jogo, com o terceiro golo, jogadores e adeptos sentiram que já nada impediria a vitória. O resultado acabou por se fechar com o espectacular golo de Di Maria, ainda antes de atingido o primeiro quarto de hora da segunda parte, num coeficiente de aproveitamento na ordem dos 40%.
Bruno Lage ainda chamou a jogo Amdouni (Rollheiser), Prestiani (Di Maria), Schjelderup (Arkturkoglu), e Cabral (Pavlidis). E bem. Sem ser no último minuto, e todos com tempo e oportunidade de mostrar que podem também ser titulares.
Bruno Lage tinha referido que a dinâmica importa mais que o sistema. Com dois dias de trabalho já foi possível ver que a equipa foi mais dinâmica. E - parece-me - é possível esperar que o treino trará as rotinas e dinâmicas de um futebol entusiasmante por que há muito aguardamos. E para a reviravolta!
Ao que se vai sabendo pelos jornais de hoje, Marques Mendes não terá tirado ontem grandes coelhos da cartola, daquelas coisas que faz questão que se saiba que só ele sabe e que nós sabemos que nem ele deveria saber, e que até preferíamos saber por outras vias mais covencionais.
Depois de na semana passada ter revelado que o o Novo Banco é para vender todo, de uma só vez e de imediato - uma das "circunstâncias que se alterararam profundamente", e que levaram à demissão de Vítor Bento - desta vez o que a imprensa, sempre ávida das revelações do comentador bufo, salienta é a crítica de Marques Mendes à actuação do governo nos desenvolvimentos que se vão conhecendo no Novo Banco.
"É muito feio o que o governo está a fazer" - diz ele. É, mas é muito feio há muito tempo, não é apenas de agora. O governo sempre quis dar o ar de quem não tem nada a ver com aquilo. Com aquilo tudo, desde os crimes praticados que levaram à destruição de um terço do sistema financeiro nacional, à solução negociada com a comissão europeia que, em vez dos anunciados banco bom e banco mau, criou dois bancos maus, passando pelo meio pelo crime de lesa pátria, o maior atentado ao instituto da confiança que foi o aumento de capital.
O governo quer fingir que aparece de mãos limpas nisto tudo, mas tem-nas cada vez mais sujas. Não se sabe se os ziguezagues de Carlos Costa em todo este processo são ziguezagues do governador do Banco de Portugal ou do governo. Mas é muito fácil de perceber que, mesmo que sejam exclusivamente do Banco Central, ao governo exigia-se que lhe corrigisse a trajectória, e nunca que andasse a tentar passar entre os pingos da chuva!
Não bastava tudo o que já se conhece. Não bastava a mácula inapagável de um Banco bom que, ficando - ao que nos disseram, sem que ninguém pedisse para explicar melhor - com tudo do que do BES era bom, deixando para o mau tudo o que era mau precisa, logo à cabeça, de quase 5 mil milhões de euros. Ainda era preciso que já ninguém se entendesse, que em apenas um mês o Banco de Portugal, cada vez mais enterrado neste lamaçal, se pusesse de candeias às avessas com a administração que escolheu…
Isto continua cheio de histórias mal contadas… E vai correr mal, muito mal!
Não sei se ainda alguém se lembra que a lei que despenaliza a morte medicamente assistida foi aprovada no Parlamento, promulgada pelo Presidente da República e publicada em Diário da República há mais de um ano.
Não sei se alguém se lembra que, antes, já a Assembleia da República tinha aprovado por cinco vezes - cinco -, e por larga maioria, versões da lei sobre a mesma despenalização. Duas foram objecto de veto político do Presidente da República, Marcelo. Outras tantas foram paradas pelo Tribunal Constitucional. Umas e outras exigiram ao poder legislativo sucessivas revisões e clarificações até chegar à versão final, aprovada pelo Parlamento há ano e meio, com todas as revisões, todas as clarificações, e todos os acertos que possibilitassem, por fim, a promulgação pelo Presidente da República.
Resultou de um dos mais participados debates na sociedade portuguesa, e provavelmente do mais criterioso processo legislativo da democracia portuguesa. Ainda assim, a chamada lei da eutanásia, continua a não existir. Tudo se mantém como se não tivesse sido amplamente discutida, maioritariamente consensualizada, e criteriosamente posta em Lei. Como se não existisse, nem nada tivesse acontecido.
Porque lhe falta a regulamentação, aquele apêndice legislativo que dá sempre muito jeito para atrasar a entrada em vigor da Lei. O que dá muito jeito a quem não a quer aplicar.
Não se compreende que, ao anterior governo, nove meses não tenha sido tempo suficiente para regulamentar e fazer entrar a lei em vigor. Como não foi certamente por falta de tempo, só pode ter sido por um dos muitos anacronismos que o apoquentaram. Já que o actual continue a protelar essa regulamentação é fácil de compreender: o CDS está lá, e nem quer ouvir falar do assunto. E sabe-se como o CDS não precisa de vencer nada para obter vencimentos de causa...
Em causa está, evidentemente, o Estado de Direito. Como hoje bem recorda um manifesto assinado por 250 personalidades de várias latitudes profissionais, sociais e políticas.
O assunto entrou na "ordem do dia", e o governo teve de dizer alguma coisa. E disse!
Que não irá regulamentar o diploma sem que o Tribunal Constitucional se pronuncie sobre os pedidos de fiscalização sucessiva (um entregue há quase um ano por um grupo de deputados do PSD, e outro pela Provedora de Justiça). Mais valia ter dito que se tinha esquecido, e que um dia destes iria pensar no assunto.
É que assim apenas está a dizer que o Estado de Direito Democrático é para apregoar, mas não para funcionar. E que, ilegítima e ilegalmente, vai protelar a aplicação da Lei - se não mesmo "rasgá-la" - até quando quiser.
Ilegitimamente porque contraria a vontade expressa da maioria, e confirmada por mais quatro vezes.
Ilegalmente porque os pedidos de fiscalização sucessiva ao Tribunal Constitucional não têm efeitos suspensivos da lei.
Até quando quiser porque não há prazos fixados para os juízes se pronunciarem sobre os pedidos de fiscalização sucessiva. E pode sempre forjar, na esfera dos interesses que integra, os pedidos de fiscalização sucessiva que forem necessários.
É lastimável, mas é assim que somos governados em democracia. Como seria, se não fosse?
Mais previsível que a notícia da saída de Paulo Bento da selecção, só a notícia de que Marinho Pinto deu um pontapé no cu do Partido da Terra para fundar o seu próprio partido.
Para nós já foi a 11 de Setembro, no nine eleven, que Kamala Harris mostrou que Trump não tem que ser uma fatalidade. Como o destino. Para eles, para os americanos que seguiram o debate de Filadélfia através das câmaras da ABC, ainda foi a 10 - nine ten.
Eles, e nós, vimos a "sova" de Kamala ao Donald. Vimos como basta competência, decência e sanidade mental para saltar para um cavalo em corrida, que tinha despejado o cavaleiro, montá-lo, alcançar o adversário embalado na frente... e ganhar.
Isso é o que viu, quem viu. Quem não viu só vai ver o que hoje vai aparecer nas redes sociais. Cada um dos lados tem os seus especialistas, sendo que os de Trump são mais especializados na especialidade. E é isso que vai ficar!
Quer isto dizer que a tareia de Kamala a Trump no debate desta noite não será assim tão decisiva?
Sim. Quer dizer isso mesmo. Hoje, quando passam 23 anos sobre o nine eleven, que mudou a forma de olhar para o mundo, as pessoas estão formatadas para viver das - e pelas - redes sociais. A realidade virtual prevalece sobre os factos!
Afinal o pé conteve-se um pouco, e não voltou a fugir assim tanto para o chinelo. E a roupa suja desta vez ficou em casa...
Fez bem António José Seguro em arrepiar caminho. E em emendar a mão e segurar o pé... E fez bem António Costa em preparar-se um bocadinho, depois de perceber que a coisa ontem não tinha mesmo corrido bem...
Não deu para ficarmos exactamente descansados. Ninguém, no seu perfeito juízo, pode ter ficado convencido que o país têm ali quem lhe resolva os problemas, mas - verdade seja dita - também não ficou mais desiludido do que já estava. Como as coisas estão, serviços mínimos, já não é mau de todo...
No mais obscuro dos negócios do Estado – o dos submarinos –, na véspera da entrada em incumprimento de um dos contratos de contrapartidas, um ministro – Álvaro Santos pereira – alarga o prazo contratual e evita, assim e in extremis, o incumprimento do fornecedor que, entretanto, respondia já em Tribunal por outros incumprimentos. Questionado no Parlamento sobre essa decisão, o ministro defende-se dizendo que essa revisão do contrato estava suportada por um Parecer Jurídico contratado a uma sociedade de advogados (PLMJ), assinado por Nuno Morais Sarmento - por acaso, era membro do governo que tinha comprado os submarinos - e emitido três semanas depois de assinada a alteração ao contrato. Quer dizer o ministro Álvaro não pediu um Parecer para fundamentar a sua decisão. Não, primeiro assinou o contrato e depois foi pagar para que lhe fosse dada cobertura…
Vamos por partes: (1) negócio dos submarinos; (2) perdão de um incumprimento, a incumpridor sucessivo, com prejuízo do Estado; (3) mentir ao Parlamento; (4) violação do princípio da independência; (5) compadrio; (6) desperdício de dinheiros públicos. Seis em um. Pelo menos, porque à pouca vergonha já ninguém liga!
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