Ruído e ansiedade
A ansiedade está de regresso, de mão dada com o aumento dos números diários de novas infecções e de óbitos com Covid, e com a notícia que a quinta vaga está aí, a ensombrar mais um Natal,
Sabemos que os números são o que são, mas não são os que eram. E sabemos que a ansiedade nunca é boa companheira. Sabendo estas duas coisas seria bom que soubéssemos três outras, bem simples: quem, como e onde. Quem é atingido pelas novas infecções, em que circunstâncias, e onde acontecem. E quem está a morrer - segmento etário, e se há ou não outras co-morbilidades.
Despejar números sem os fazer acompanhar dessa informação complementar não me parece, nesta altura, grande coisa. Como não é grande coisa falar-se do regresso a medidas que bem conhecemos - mesmo que algumas delas nunca tenham exactamente deixado de ser generalizadamente usadas, como o uso de máscara na rua, por exemplo, e que por isso nem representem sequer um regresso - peditório a que o Presidente Marcelo é, como habitualmente, dos primeiros a chegar.
E com tal assertividade que passa logo para o "estado de emergência". Acha que não precisará de o utilizar, mas lá vai dizendo que o pode fazer, e que nem a dissolução da Assembleia da República o impedirá, o que nem sequer será exactamente da mais óbvia constitucionalidade.
O país, que deveria nesta altura estar orgulhoso dos seus 86% de vacinados, um exemplo na Europa e no mundo, precisa é de perceber por onde está agora a passar a pandemia. Não precisa de alarmismo nem de ansiedade. Precisa que a entrada de bares, discotecas, espaços de eventos e espectáculos seja efectivamente vedada a quem não esteja vacinado, ou a testar negativo. Precisa que nas chegadas aos aeroportos haja controlo efectivo da situação da cada passageiro. E, francamente, falar de uso obrigatório de máscara na rua, quando a maioria das pessoas a continua a usar por sua própria iniciativa, e nada dizer sobre o uso obrigatório - e em condições de eficácia, não como adereço de pescoço - nos estádios de futebol, como se viu ainda no jogo da selecção no Estádio da Luz, só serve para aumentar o ruído.