Rúben de Carvalho (1944-2019)
Sabemos que elogiar as pessoas quando morrem faz parte da nossa forma (tuga) de ser. Mesmo sobre pessoas que depois de uma vida pouco recomendável não deixam saudades, a conversa vai sempre parar a um expressivo "não era mau diabo"... "No fundo não era mau diabo"!
Não vem dessa idiossincrasia tuga esta unânime unanimidade à volta da dimensão humana e de cultura, inteligência, educação, simpatia e afabilidade de Rúben de Carvalho, que aos 74 anos ontem nos deixou. Não é fácil que alguém tão marcante e tão comprometido suscite unanimismos. Ou talvez seja a quem, num partido como o PCP, é capaz de conjugar uma inquestionável fidelidade partidária - pela qual se sacrificara e se sacrificava - com a tolerância e a liberdade do mais livre dos cidadãos.
Se calhar só isto, o enorme e multifacetado conhecimento, a enorme sensibilidade e a eloquente mundividência que nos prendia a cada "crónica da idade mídia", ou o vasto e sólido menu cultural e o brilhante raciocínio dialéctico que nos agarrava aos "radicais livres", faz de Rúben de Carvalho um caso raro de justa unanimidade nacional.