Como se esperava, a indignação, e logo depois a violência, saíram à rua na Catalunha, pouco depois de serem conhecidas as condenações aos líderes independentistas catalães. A ferida voltou a ser aberta!
A sentença que atingiu pesadamente as caras do referendo, com penas comparativamente bem mais pesadas que as sentenciadas no julgamento do golpe franquista de 1981, e que a direita espanhola, ainda assim, acha leve, prossegue apenas o trilho da humilhação que Madrid traçou para a Catalunha a seguir ao referendo.
Pedro Sanchez poderia ter arrepiado caminho, e ter evitado a reabertura desta ferida sangrenta que corrói a Espanha. Não se poderá dizer que tivesse tido condições para resolver os problemas das autonomias, e em particular da Catalunha. A instabilidade governativa em que Rajoy deixou a Espanha, já em consequência desses problemas, que se precipitaram no referendo e nos acontecimentos que lhe sucederam, há dois anos, e a incapacidade de Sanchez formar um governo no quadro do cenário eleitoral que se lhe seguiu, nunca terá permitido as condições para seriamente enfrentar o problema. Mas poderia ter mantido a ferida reservada, em vez de a escancarar e de a reabrir ao escarafuncho. Poderia ter proclamado o indulto, como Rajoy poderia há dois anos ter encontrado outras respostas para o referendo, permitindo-o inclusivamente.
Não o fez. Optou por ceder à pressão da extrema-direita e por permanecer enredado na teia de contradições que o PSOE vem tecendo nos últimos largos anos.
Nunca se deve substimar a inabilidade e a incompetência política. Ao conseguir de uma figura como Carles Puidgemont fazer um herói, Rajoy é a prova provada deste ensinamento.
Não viria grande mal ao mundo se a sua incompetência se limitasse a fazer heróis improváveis. O problema é que não se fica por aí!
Depois de ter contribuído decisivamente para empurrar a questão catalã para um beco sem saída, Mariano Rajoy decidiu lançar a bomba atómica sobre uma Catalunha encurralada. Já não tinha por onde fugir mas... da bomba atómica não há como fugir, mesmo que que haja por onde.
Optando sempre por respostas desproporcionadas, Mariano Rajoy incendiou a Catalunha. Convencido que quanto mais endurecesse a sua posição, quanto mais aproximasse a independência e os independentistas da humilhação, mais dividendos políticos retiraria, cego de oportunismo, Rajoy acabou por prestar um péssimo serviço à integridade da Espanha.
É indiscutível que alcançou uma grande vitória política. Mas é uma vitória de Pirro... Capturou o PSOE, com Pedro Sanchez completamente encostado à parede, e sem estatura nem coragem para de lá sair. Tudo correu mal para a Catalunha, sem que nada corresse bem para a Espanha... Agora sem alternativas, e mesmo com muito poucas escapatórias!
Os bancos e as grandes empresas sedeadas na Catalunha estão a anunciar (ameaçar?) deslocar as suas sedes para outras regiões de Espanha. O pontapé de saída foi dados pelos bancos, com o Sabadel na frente, logo seguido do CaixaBank, o dono do BPI e, com o Santander e o BBVA, um dos maiores bancos espanhóis. Seguem-se-lhes muitas multinacionais: a primeira foi a farmacêutica Oryzon Genomics, mas também a Nestlé, a Airbnb e a Volkswagen - com três fábricas na Catalunha - já anunciaram as suas intenções. E até algumas das maiores empresas nacionais, como a Gas Natural SDG.
A surpresa é inversamente proporcional à competência de Rajoy. Se não se pode dizer que estas notícias sejam uma grande surpresa, terá de dizer-se que são um enorme atestado da incompetência de Mariano Rajoy. Mais um, se preciso fosse!
O próprio FC Barcelona, o maior símbolo da identidade catalã, e que já se ofereceu para mediar um diálogo que reclama, não poderá deixar de passar por um dramático processo de "deslocalização".
Com estes trunfos, com a provável quebra de 25 a 30% no PIB da Catalunha e a estimada duplicação da taxa de desemprego, de resto até já anunciadas pelo próprio ministro da economia, se outras razões não houvesse - e até havia, e bem fortes, como a corrupção na generalitat que se esconde por trás do referendo - numa campanha normal, democrática e sem incidentes, o triunfo do independentismo seria muito pouco provável.
Ao não perceber isto, e partir para um confronto onde só tinha a perder, Rajoy confirmou-se um político incompente, radical e politicamente cego. Também sem surpresa!
O radicalismo e a cegueira política de Rajoy não se limitou a espalhar pelo mundo imagens que envergonham a Espanha. Fez mais, muito mais, ao dar ao independentismo catalão a absurda expressão de 90%.
Rajoy não se quis limitar a inverter a relação de forças, quis dar ao separatismo uma expressão avassaladora. A partir de agora, com ou sem validade, legítima ou ilegitimamente, só há um dado objectivo, e esse tem as impressões digitais de Mariano Rajoy: 90% dos catalães desejam a independência!
Como tudo indicava, a Espanha de Rajoy está irremediavelmente a precipitar-se para o caos e para a desagregação. Pretender transformar um problema político numa questão jurídica foi o erro de que Rajoy não se livrará mais.
A Constituição espanhola não é diferente da Constituição de qualquer outro país do mundo. É, primeiro e antes de tudo, um manual político. No século XXI, na Europa, não é possível resolver problemas políticos com repressão, rusgas e prisões. Só Rajoy, e uns tantos que por aí andam com a mesma cegueira política, não percebe isso!
Em Espanha, o PP de Rajoy, dos negócios e das negociatas, ganhou as eleições. Não se sabe de que lhe serve, mas para já serviu para fazer de conta que ganhou alguma coisa. Não se sabe bem o quê.
Nada que se não tivesse passado com os seus amigos cá deste lado. Passos Coelho, que não teve uma palavra para dizer aos portugueses sobre o Banif que nos deixou, já correu a dizer que espera bem que os espanhóis deixem governar quem ganhou as eleições. Sobre o Banif é que... nada. Empurrou para a frente a atabalhoada Maria Luís e escondeu-se atrás dela.
A TVI, há precisamente uma semana, com uma notícia falsa, apressou o afundanço do Banif. E com isso deixou-o mais enfraquecido e mais vulnerável no processo de venda que estava em curso e sob forte pressão de calendário. Não se sabe que proveito disso terá tirado o Santander, mas sabe-se que o banco espanhol ficou com o lombo limpinho do Banif, com activos acima da dezena milhar de milhões de euros, por uns meros 150 milhões. Do resto, de tudo o resto, mandaram-nos a factura. E sabe-se que a TVI é detida pela espanhola PRISA que, por sua vez, é participada pelo Santander.
Se calhar estas coisas não têm nada a ver umas com as outras... E de Espanha só vêm mesmo bons ventos!
Em Espanha não se sabe no que dá. Se fosse por cá, Rajoy tinha garantida a maioria absoluta... Mas também já havia meio mundo a dizer que aquele puñetazo tinha sido encomendado...
Veja-se só o que rendeu a Marinha Grande, que comparada com Pontevedra é uma brincadeira de crianças.
E não, não é só uma questão de ângulo fotográfico. É a diferença entre um murro que poderá não ter passado de um encontrão, e um puñetazo cheio de estilo. Podemos não ter as aptidões pugilísticas dos nuestros hermanos, mas somos bem melhores na representação!
O líder do Syriza, em reunião interna do partido – saliente-se: em contexto eminentemente interno de um partido – disse o que todos os jornais noticiaram, que por isso foi público e notório, e que toda a gente percebeu. Que tinha havido um eixo formado pelos governos de Portugal e Espanha que “por motivos políticos óbvios, tentara levar a Grécia para o lado, para o abismo durante todas as negociações”.
Quais virgens ofendidas, os dois governos ibéricos juntaram-se para, em carta conjunta, se queixarem às instituições europeias. Tão ofendidos, tão ofendidos mais não fizeram que confirmar que o eixo existe. Os motivos e os fins da sua existência, esses, nem precisam de confirmação…
Mas lá que têm lata, têm!
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