Euro 2020 - O relógio suíço espanhol
Em S. Petresburgo Espanha e Suíça abriram os jogos dos quartos de final. Depois da surpreendente eliminação da França, e apesar disso, a Suíça não parecia ter grandes possibilidades de impedir a presença da Espanha nas meias-finais. E no entanto esteve tão perto disso…
Os espanhóis apresentaram-se com o seu futebol habitual, certinho, a fazerem tudo bem feito. E cedo chegaram ao golo, que tem sido sempre a sua maior dificuldade. E ainda por cima com sorte, a bola rematada por Jordi Alba não entraria na baliza se não tivesse para lá sido encaminhada pelo defesa suíço, Denis Zakaria, a fazer o décimo auto-golo deste Europeu. Um recorde!
Tomaram conta do jogo, com o seu futebol tipo relógio … suíço. Os suíços não tinham relógio, nem bola, que era o que mais lhe importaria. Corriam atrás dela e dos jogadores espanhóis, que não a largavam.
Mas também não voltariam a marcar, nem sequer a criar grandes situações para isso. É que este relógio suíço em que se transformou o futebol desta Espanha de Luís Henrique, é mesmo isso. Certinho, sempre no mesmo tic-tac - não confundir com tiki taka, que isso era outra coisa, que Xavi e Iniesta levaram quando se retiraram - monocórdico e inconsequente. Falta-lhe rasgo e velocidade. Principalmente mudanças de velocidade, coisas que partam a louça toda, que provoquem distúrbios na organização das equipas adversárias.
E assim é relativamente fácil aos adversários resistirem àquele futebol, e depois aproveitarem um erro qualquer - há sempre erros a acontecerem, mesmo que sejam poucos - para lhes trocarem as voltas ao resultado. Tem sido demasiado assim nesta competição, onde os espanhóis apenas ganharam um jogo no tempo regulamentar, e foi à Eslováquia.
Hoje voltou a ser assim, e uma hora depois de terem sofrido o golo que marcaram na própria baliza, os helvéticos empataram. Desta vez não foi o guarda-redes, foram os dois centrais: Laporte e Pau Torres foram ambos à mesma bola, um cortou-a contra o outro e ela sobrou para Shaquiri fazer o golo.
Ia a segunda parte a meio, os espanhóis tinham ainda muito tempo para voltar a acertar o relógio do resultado. Não seria muito difícil, e menos ainda porque poucos minutos depois, Freuler, o possante centro campista suíço, que era um dos que mais corria atrás da bola e dos espanhóis, foi expulso. Nem assim, com um a menos, as coisas passaram a ser mais difíceis para os suíços. Porque a roja jogava exactamente da mesma forma certinha, rodando o jogo, circulando a bola, mas sempre ao mesmo ritmo, à mesma velocidade.
Os jogadores da Suíça não saíam da sua área, nem precisavam. Bastava-lhes esperar lá pela bola, e voltar a entregá-la para voltar a esperar por ela. E assim sucessivamente. Durante os vinte minutos finais da partida e os mais os trinta e tal do prolongamento. Quando assim não era, lá estava Sommer, certamente um dos melhores guarda-redes deste Europeu.
E lá vieram os penaltis, com tudo para correr mal à Espanha. Tinha falhado todos - e já tinham sido muitos - os que tivera para marcar. E do outro lado estava um guarda-redes super inspirado e moralizado pela excelente exibição que acabara de fazer. E jogadores que tinham eliminado a França dessa maneira, convertendo cinco em cinco.
Para que a tempestade fosse perfeita, chamado a marcar o primeiro penalti, Busquets falhou, atirou ao poste. E Granavovic. logo a seguir, marcou o primeiro da Suíça. Só que foi o único a acetar nas redes. Até deu para Rodri voltar a falhar, e a Espanha apurar-se convertendo apenas três pontapés!
E a verdade é que a Espanha chega às meias-finais sem convencer ninguém. Mas lá está, e o importante é lá estar. Sem lá chegar não se chega a lado nenhum!