Foi hoje conhecido o Relatório preliminar da Comissão Parlamentar de Inquèrito (CPI) ao BES. Para já, do que se percebeu, parece confirmar-se a ideia, que já vinha das audições, que esta CPI corta com o que é a história das comissões parlamentares, que invariavelmente produziam relatórios à medida dos interesses da maioria vigente. A história diz-nos exactamente isso, que os interesses de facção ficavam sempre à frente da verdade!
Não quer isto dizer que esperemos a atribuição de grandes culpas ao governo. Não esperamos nem grandes, nem pequenas... Nem as que realmente tem, que já percebemos que serão diluídas nas do Banco de Portugal. Mas não tem nada a ver com a pouca vergonha a que já assistimos!
Faz algumas recomendações. Recomenda ao Banco de Portugal, e ao bom e ao mau banco, que encontrem uma solução para o papel comercial que atinge tanta gente, e que tanta agitação traz para a rua. Esperemos que o texto final, a ser conhecido lá para o final do mês, faça mais algumas. Ao Ministério Público, por exemplo... Só para evitar que se repitam filmes que já vimos, com outros actores conhecidos como Oliveira e Costa, Dias Loureiro, João Rendeiro...
Chegaram ao fim as audições, que não os trabalhos, da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao BES. Ao longo de quatro meses passou pelo Parlamento muita da até há pouco incontestada elite nacional que, entre omissões, mentiras e verdades, permitiu aos portugueses perceber muito do que foi a queda de um dos maiores, e provavelmente do mais emblemático, dos bancos nacionais.
Sempre muito desconfiados – e com muitas razões para isso – desta vez os portugueses foram acreditando nesta CPI. O bom desempenho de muitos dos deputados ia entrando pelas casas dos portugueses; e os media faziam o resto, dando nota da manifesta competência e seriedade do trabalho dos deputados, geralmente bem preparados. Os próprios membros da comissão mais pareciam isso mesmo, membros, juntos por uma causa, que deputados empenhados na luta política, adversários de todos os dias.
Só que, acabadas as audições, segue-se o Relatório que terá de apurar responsabilidades. E aí tudo muda. A causa deixa de ser uma para que cada um passe a ter a sua. Para os deputados da maioria a responsabilidade esgota-se em Ricardo Salgado; governo e Banco de Portugal só fizeram o bem. E nada mais!
Para a oposição, governo e Banco de Portugal até poderão não ter tanta responsabilidade quanto Ricardo Salgado, mas andará por lá perto!
E lá se vão os méritos da comissão. E lá vai esta CPI para o mesmo saco de toda as outras, subvertendo a realidade, truncando verdades e confundindo em vez de esclarecer. E no entanto, por tudo o que vimos e ouvimos, nenhum de nós, comuns mortais, tem qualquer dificuldade em perceber o óbvio. E se é óbvio que na destruição do GES a responsabilidade cabe exclusivamente a Ricardo Salgado, e na sua pessoa á família que dominava o grupo, não é menos óbvio que, no colapso do BES, as responsabilidades têm que ser partilhadas entre Ricardo Salgado, o Banco de Portugal, o governo e até a troika.
Para chegar e essa conclusão não é sequer indispensável o testemunho de Fernando Ulrich, se calhar, entre todos os que por lá passaram, o único a dizer a verdade e só a verdade. Mas ajudou a perceber que durante um ano inteiro fora possível ao Banco de Portugal, ao Governo e à troika salvar o BES. Ao permitirem que Ricardo Salgado continuasse à frente do BES, a somar incumprimentos e alargar os danos, tornaram-se obviamente responsáveis pelo que sucedeu. Mas ao aprovar aquele aumento de capital, ao prometer que não iam deixar cair o banco, incluindo ao próprio Salgado, como agora se provou, e ao anunciar que o BES não era o GES, que estava protegido e que tinha almofadas, o Banco de Portugal e o governo deixam as suas impressões digitais bem marcadas na responsabilidade pela destruição que o BES arrastou.
Isto toda a gente percebeu. É inegável, e não se vê como possa ser apagado do Relatório final sem ferir de morte mais uma CPI!
Vá lá que não se refira à medida de resolução, imposta pelo BCE. E que não refira que vem na linha de abdicação da soberania nacional que constitui a matriz do governo… Mais, não!
Claro que não poderia encerrar este tema sem uma referência a Mariana Mortágua, a deputada do BE elevada à categoria de estrela. Hoje mesmo apresentada assim, como uma estrela, no Bloomberg... Por mim, sem lhe negar os méritos, fico-me pela fotografia!
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