O famoso logótipo que o Governo de António Costa encomendara ao atelier de Eduardo Aires - e que Luís Montenegro, como primeira medida do governo retirou, não lhe permitindo mais que seis meses de vida, para repor as quinas e os castelos, - no espaço de um mês arrecadou dois prémios.
Quando, ontem, se voltou a ver na página oficial do governo, pensou-se que, fosse por tanto prémio, ou por tanto entusiasmo no apoio à candidatura de António Costa à Presidência do Conselho Europeu, Montenegro tivesse decidido repo-lo.
Assinala-se hoje mais um aniversário do regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, data que, mais que o agora descartado 5 de Outubro, vem nos últimos tempos sendo aproveitada para iniciativas – se não cada vez mais convincentes, cada vez mais convencidas – de exaltação monárquica.
Os ventos correm-lhe, de resto, de feição: uma democracia cada vez menos democrática, cada vez mais degradada, a gravíssima crise social que o país atravessa, a crise institucional, a crise de valores, de ética e de moral e, the last but not the least, um presidente que caiu no fundo… Tudo a convergir num ciclone que empurra como nunca as ideias monárquicas!
Dentro dessa linha surge hoje o manifesto “Instaurar a Democracia, Restaurar a Monarquia” subscrito por 18 ilustres monárquicos, entre os quais gente que me merece o maior respeito e admiração como, por exemplo, Gonçalo Ribeiro Teles - o primeiro subscritor - ou Miguel Esteves Cardoso. Ali dão conta do “preocupante enfraquecer das estruturas democráticas”, da “visível delapidação dos valores morais na política”, do “estado caótico da nossa justiça”, e da “ameaça de perda de soberania”, tudo problemas que a simples entrega da chefia do Estado a um rei resolveria. Um rei que, no seu entendimento, tem uma legitimidade inquestionável: a legitimidade de quem é “eleito pela história”!
Os monárquicos entendem que nós não temos que eleger qualquer chefe de Estado. Isso cabe à história!
A mim custa-me ver pessoas que admiro e respeito defender este tipo de coisas. Mas parece-me que seria bem mais compreensivo se visse que o seu putativo rei, o tal eleito pela história, era uma personalidade de uma dimensão superior, um personagem de uma craveira única, de uma dimensão humana e intelectual verdadeiramente digna da missão histórica que o trouxe ao mundo. Mas, dizem eles, esta missão caberia a D. Duarte de Bragança, “único e legítimo pretendente ao trono português”…
É por isso que, mesmo com chefes de Estado que não mereçam o meu voto – como já tantas vezes aconteceu -, mesmo sendo o mais crítico dos críticos do actual Presidente da República, prefiro sempre um chefe de Estado eleito por mim e pelos meus concidadãos a um determinado por uma consanguinidade qualquer. Ou eleitopela história, como eles dizem!
Comemoramos hoje 100 anos de República. Ou será que comemoramos os 100 anos da implantação da República?
Há quem entenda que não se justifica comemorar 100 anos de República. Quer dizer, há quem entenda que a História de Portugal nos últimos 100 anos de regime republicano não nos trouxe motivos de comemoração. A primeira República foi desastrosa: instabilidade política e governativa, degradação contínua das finanças públicas, desastrada e sofrida participação na Guerra, golpes, traições e perseguições. Aos seus próprios heróis, como o herói da Rotunda: Machado dos Santos, assassinado em 1921. Desembocaria na mais duradoura ditadura europeia do século, quase 50 anos de ditadura no chamado Estado Novo, na óptica da maioria dos historiadores um longo intervalo na República, retomada apenas em 25 de Abril de 1974. A segunda República, para os mesmos historiadores!
Os resultados que hoje conhecemos não são dignos de muito coisa. Muito menos de comemoração!
Pois eu entendo que comemoramos hoje os 100 anos do movimento republicano de 5 de Outubro. Da revolução da Rotunda!
Aí encontraremos realmente motivos de comemoração: os símbolos nacionais, os valores da rés pública, o ideal democrático, a cidadania, a separação da Igreja do Estado, a ideia da educação como pilar do desenvolvimento da sociedade…
Sim, vale a pena comemorarmos esta data que, com a de 25 de Abril, representam as duas mais importantes datas do século XX da nossa História. E como permanecem actuais os seus valores, 100 anos depois!
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