Aquele fim de tarde fazia daquela sexta-feira um dia diferente.
Acabara de enviar para Londres os últimos relatórios mensais e, pela primeira vez em muitos meses, nada havia que a deixasse agarrada àquela secretária por mais tempo. Noutras vezes arranjava sempre desculpa para ficar. Nem que tivesse que inventar trabalho!
Também isso tornava diferente aquele fim de tarde …
Júlia é, aos 34 anos, top executive de uma multinacional de entretenimento, com notável capacidade de trabalho e enorme dedicação à empresa, que transformou em primeira opção de vida. Não admira, o trabalho garante-lhe o que de melhor espera da vida: remuneração confortável e deslocações constantes pelos vários cantos do mundo. Dá-lhe dinheiro e mundo, o mundo que nunca tivera. E poder, o poder que sempre procurara…
Retira o blaser Twist Storytailors que lhe alivia o ar executivo e lhe acentua o toque cosmopolita e veste-o por cima da camisa Manege, da mesma griffe. Pega na Louis Vuitton e sai do gabinete, decidida, em direcção à portaria, como se soubesse bem ao que e para onde ia. Não sabia!
Mas não desceu ao piso do parque de estacionamento para pegar no carro. Saiu e atravessou a pé as três ruas até uma esplanada à beira-rio, emoldurada pelo sol, já baixo. Escolheu uma mesa donde podia ver o sol a procurar o colo do rio, mas também o largo corredor de acesso que acabara de percorrer. Dali podia assistir ao lento curvar do sol sobre o rio, como que projectando timidamente a boca para um beijo de ardente paixão. Mas também apreciar o movimento das pessoas que entram e saem, observá-las mais ou menos discretamente…
A simples constatação destes súbitos e improváveis focos de interesse surpreendiam-na. Não era dada a observar as pessoas, isso não lhe interessava. Não se envolvia com ninguém. Muito menos era dada a romantismos de pôr-do-sol.
Tinha o que queria da vida, era independente e bem sucedida. Nunca fora dada a romances! Na adolescência, o corpo escanzelado e sem formas e a cicatriz labial não a ajudavam nada na aproximação aos rapazes. Afastavam-na dos rapazes e aproximavam-na dos livros. Encontrou na escola, e nos padrões de alto rendimento que desenvolveu, a forma de afirmação que taparia a entrada a tudo o que fosse trauma ou frustração. Habituou-se a ser a melhor e a viver para isso: na escola, na faculdade e no trabalho. Foi tanto assim que não percebeu que o seu corpo foi ganhando formas e o seu rosto beleza. Que até a cicatriz desaparecera e era agora um must sexy…
Voltou com o copo do gin tónico à boca, como que querendo bruscamente interromper o destino daquele desfile introspectivo. O sol caía já nos braços do rio, enrolados num beijo que a enchia de inveja. Olhou à volta como que procurando um olhar com que se cruzasse. Nada… Nem um olhar perdido!
Sentia-se pela primeira vez sozinha. O amargo tomou-lhe conta da boca! Não era do gin, que ainda segundos antes tão bem lhe soubera: era o sabor da solidão que, como nunca, experimentava pela primeira vez.
De repente, saída da entranha mais profunda do seu ser, surgia alguém: virou-se e, surpreendida, encontrava-se de frente consigo própria.
Jurou que nunca mais se deixaria só. Tirou o espelho da mala e olhou-se como se estivesse a ver-se pela primeira vez: olhos doces e lábios finos - a que a discreta cicatriz da fenda labial acrescenta invulgar sensualidade – e uma força insuspeita, toda ela coragem e determinação…
A formação e a qualificação profissional mantêm-se na primeira linha dos desafios que se colocam à economia portuguesa e à nossa sociedade em geral. A par do investimento em I&D, o investimento na qualificação profissional dos portugueses continua a justificar prioridade máxima no quadro da economia nacional.
Não é novidade que os nossos deficits de produtividade e de competitividade resultam, para além de alguns factores de rigidez que se chocam com os novos conceitos de mobilidade e flexibilidade, da insuficiente qualificação dos nossos recursos humanos. Consequência, em primeira análise, do sistema de educação mas também de hesitações e equívocos no paradigma da formação profissional.
A Educação tem sido e continua a ser o grande problema do país. Falamos de analfabetismo, do abandono escolar precoce e do insucesso académico onde, com políticas vocacionadas exclusivamente para maquilhar esses índices, ainda apresentamos taxas que nos envergonham. Mas falamos, também, das muitas licenciaturas, mestrados e doutoramentos substancialmente desfasados das necessidades requeridas para a sustentação da modernização e da competitividade do país.
A formação profissional tem, em Portugal, uma história muito paralela à do processo de integração europeia. Com uma umbilical ligação a fundos comunitários.
Por razões conhecidas (a revolução industrial que não passou por aqui, o condicionamento industrial do Estado Novo, etc.) a economia portuguesa, fiel a um modelo de mão-de-obra barata e, qual ciclo vicioso, de baixa qualificação, tem-se mantido afastada das economias desenvolvidas. Por esta e outras razões (igualmente históricas, políticas, culturais e sociais) o capital humano – conceito praticamente desconhecido até há bem pouco tempo – não figurava no topo das preocupações de empresários e gestores.
Sem tradições de preocupação com a valorização dos seus recursos humanos não admira que equívocos, hesitações e mesmo negligência tenham ensombrado a história da formação profissional em Portugal.
Algo mudou entretanto. É hoje notório que, apesar de todas as dificuldades, se começa a olhar para o factor humano como o mais importante dos recursos. E a apostar na sua valorização como factor de sucesso do negócio, da empresa e do país.
A valorização dos seus recursos humanos, como factor crítico de sucesso, mas também de dignificação do trabalho e de coesão e desenvolvimento social, constitui-se, cada vez mais, como uma variável fundamental da estratégia de desenvolvimento do país. Deve constituir uma missão que a todos envolva. Empresários, porque reforçam os seus activos. E trabalhadores, porque valorizam o seu único activo.
Com iniciativa própria, numa cultura de exigência, rigor e qualidade. Sob pena de continuarmos a desperdiçar recursos, focados em rácios de fachada em vez de resultados.
Há muitos anos que em Portugal se discute a legislação laboral. É invariavelmente apresentada como factor de bloqueio do país. Bloqueia o investimento e bloqueia o desenvolvimento e, assim, hipoteca o crescimento e o futuro!
Até há alguns anos atrás esta era uma discussão fundamentalmente ideológica. Entre esquerda e direita, entre patronato e sindicatos. E se o normal era a tradição continuar a ser o que era – “patrões” e direita a reclamarem liberalização e sindicatos e esquerda a defenderem a manutenção da rigidez da legislação laboral – a verdade é que, em diversas ocasiões, foi possível ouvir mesmo alguns empresários de sucesso dizer que a questão laboral era um mito e que, para eles, não representava qualquer dificuldade.
Esta dialéctica foi resistindo na sociedade portuguesa e na concertação social que tem presidido à sucessiva evolução da legislação até ao recente Código de Trabalho.
Hoje, se considerarmos que as ideologias não evoluem e não se adaptam às novas realidades, a discussão não pode ser ideológica. Vivemos num mundo globalizado, num mercado aberto e concorrencial onde Portugal tem uma das legislações mais rígidas. As empresas têm que ser competitivas e, para isso, é fundamental a competitividade do factor trabalho.
E a nossa rigidez laboral não contribui para melhorar essa competitividade. Não contribui directamente, enquanto mecanismo estrangulador da flexibilidade, de reajustamentos operacionais nas empresas mas, fundamentalmente, não contribui enquanto mecanismo estruturante de mentalidades, das novas mentalidades perante as novas realidades do mundo em que vivemos.
O cidadão é levado a pensar que o seu posto de trabalho está legalmente protegido, independentemente do seu desempenho. Mas não é levado a pensar que o seu posto de trabalho só estará verdadeiramente protegido enquanto a sua empresa for competitiva. Que quando deixar de o ser tem que fechar e, fechando, adeus posto de trabalho. Não há legislação que lhe valha. A rigidez laboral não traz mais do que uma segurança aparente e enganadora.
Poderá ainda argumentar-se que a flexibilidade laboral desprotege os mais fracos na relação de trabalho, deixando-os à mercê do livre arbítrio do empregador. Porventura algumas vezes assim poderá suceder, mas nada que um poder minimamente regulador e eficaz não pudesse resolver. Acresce que, com o desenvolvimento da qualidade de gestão, hoje praticamente todas as empresas reconhecem nos seus recursos humanos o seu principal activo. Alguém acredita que as empresas não pretendem preservar os seus principais activos?
O que está em causa são pois os “maus” trabalhadores. E, para estes, a única forma de os proteger é tentar transformá-los em bons trabalhadores. Responsáveis, interessados e produtivos. Formá-los e reciclá-los.
Não há economias com pleno emprego. A capacidade de emprego das economias é mais ou menos limitada. O desemprego é uma variável macroeconómica incontornável. Grave, para uma sociedade, é quando o desemprego é preenchido por pessoas que foram objecto de grande investimento em educação e formação. É quando esse investimento não tem retorno. É quando o investimento não é estimulado e se não cria mais emprego.
Um mercado de trabalho marcado pela rigidez é um mercado fechado, que deixa de fora muita gente capaz e onde os mais jovens sentem enormes dificuldades para entrar. Preserva, até ao limite da capacidade de resistência de muitas empresas, o emprego dos seus mas perpetua o desemprego dos outros. Permite a ilusão de um emprego garantido e impede ou, pelo menos, limita a preocupação dos trabalhadores com a sua própria formação, o seu próprio desenvolvimento e a sua própria produtividade.
A competitividade das empresas interessa aos seus accionistas, aos seus trabalhadores e a toda a sociedade. É pois algo de convergente e não tão dialéctico quanto fomos admitindo no passado.
A flexibilidade laboral não desata todos os nós que estrangulam a nossa economia mas contribuirá fortemente, através da valorização e responsabilização dos cidadãos, para transformar, dinamizar e enriquecer a nossa sociedade. E, pasme-se, para a tornar mais justa!
Os nossos governos, e em particular o último, fizeram uma grande aposta na internacionalização das empresas nacionais, com diversos programas e milhões de euros envolvidos nessa estratégia.
Sempre tive algumas dúvidas sobre tal estratégia. Acho indiscutíveis as vantagens para a economia portuguesa do investimento das empresas nacionais no estrangeiro quando focado numa estratégia de afirmação dos seus produtos nos mercados internacionais. Por isso entendo que serão de apoiar os investimentos em distribuição e marketing, aqueles que permitam acompanhar de mais perto o cliente e o seu produto. E acho discutíveis as vantagens para a economia nacional de todos os outros tipos de investimento no exterior que não se relacionem directamente com a criação de valor no país.
Por isso, apoiar a internacionalização das empresas “tout court”, apenas para colocar uma bandeirinha pelo mundo fora, sem entender o que corresponde ao interesse da economia nacional ou apenas ao interesse particular (de empresas ou de grupos), no actual contexto, é muito questionável.
Chegou-me na semana passada às mãos um estudo publicado em Setembro, da autoria de três professores do meu ISEG – Miguel Fonseca, António Mendonça e José Passos –, que conclui que “o investimento directo português no estrangeiro tem impacto negativo nas exportações”. Este estudo analisou e correlacionou exportações e investimento em 18 países entre 1996 e 2007 e conclui que apenas em Angola (16%) e em Espanha (apenas 1%) se verificou crescimento nas exportações. Em todos os restantes 16 as exportações caíram.
Estas conclusões, e realçando que as duas excepções vêm de países especiais – parece claro e inequívoco que Angola e Espanha constituem, para Portugal, mercados externos com especificidades próprias – vêm confirmar o erro daquela estratégia.
Quando precisamos de aumentar consolidadamente as nossas exportações desenvolvem-se políticas e incentivam-se estratégias com o efeito contrário. Não temos dimensão económica nem empresarial para gerar empresas multinacionais (condições desse tipo tivemo-las mas já lá vão mais de cinco séculos), pelo que dar incentivos à internacionalização das empresas sem cuidar de assegurar que contribuem para gerar exportações, é cortar o crescimento da economia nacional. A crise também se faz destas coisas!
Confesso que, ao contrário da minha filha mais velha, a Joana, que desde pequena sempre foi uma admiradora dos alemães, e com justificadíssimas razões, entre as quais a forma como souberam renascer dos imensos dramas de duas guerras mundiais consecutivas e o rigor da organização social, eu nunca fui um particular entusiasta da coisa alemã, à óbvia excepção dos seus produtos e das suas tecnologias. Aí há muito que sou o mais fanático dos alemães!
Comecei por apresentar este antagonismo emocional com a minha filha para salientar a forma como os acontecimentos pesam em função da sua proximidade com cada geração. A minha foi ainda muito marcada pelo nazismo, não tanto de forma directa mas naquilo que foi transportado para o regime em que crescemos. De modo que via aquela língua como uma coisa agressiva, quase que emitida a partir de uma boca preenchida por aquele bigodinho ridículo…Depois, confesso que no futebol, aquela coisa deles não jogarem nada mas ganharem sempre, também não contribuía nada para captar as minhas simpatias.
Enfim, mas tudo isso já ficou para trás e, agora sou, também eu, um admirador, já não só dos carros e dos equipamentos alemães, mas dos próprios alemães. E olhem que é coisa recente!
O primeiro passo foi dado através de uma estória que envolvia um alemão, um experimentado marinheiro português, uma prestimosa assistente de bordo, e a personagem principal: uma genoa. Nem vale a pena contar a estória, nem teria espaço para o fazer. Fica apenas o registo do meu primeiro momento de aproximação simpática a um alemão!
Pouco depois, dava eu próprio aqui conta de um gesto só ao alcance dos grandes cidadãos: um multimilionário alemão, Dieter Lehmkuhl de seu nome, quando o seu governo anunciava baixar os impostos, tomava a iniciativa de promover o lançamento de um imposto apenas para eles próprios, para os multimilionários. Já não era necessário mais nada para, definitivamente, me tornar num grande admirador dos alemães. Afinal isto não é possível em mais nenhuma parte do mundo!
Mas não é que na passada semana tomo conhecimento de mais um gesto nobre de uma cidadã alemã? Conta-se em poucas palavras: a senhora era gerente bancária, e geria contas de gente de baixos recursos, que muitas vezes as deixava, se bem que por pequenos montantes, a descoberto, com todas as implicações que bem conhecemos, e de gente como a do tal senhor. Então a senhora transferia destas últimas os valores necessários para que os desgraçados não fossem ainda mais desgraçados. Logo que essas contas estivessem regularizadas pelos seus titulares voltava a repor os valores nas contas mais abastadas.
Aí pensei quão injusto eu havia sido para um povo que é composto por pessoas como estas!
Mas a história não acaba aqui! Porque alguns dos ditos desgraçados, quando viram dinheiro na conta voltaram a gastá-lo, a dita senhora não conseguira repor todos os valores. Por isso, mas sem utilizar um único cêntimo em proveito próprio, agora reformada, a senhora tem de dispor da totalidade da sua reforma para ressarcir os titulares das contas mais abonadas, que não conseguira repor.
Cheguei então a pensar pedir ao tal dito senhor que lhe desse uma ajudinha, porque bem a merece!
Em Portugal temos muitas histórias parecidas… diferem é no destino dado ao dinheiro. É também essa pequena diferença que nos faz tão diferentes de um povo que merece ser admirado!
Continuo de férias. E férias, nesta altura e para quem preze o cruzamento de consciência nacional com sol e praia, é no Algarve.
Nesse Algarve de que se dizia estar às moscas e onde os estabelecimentos hoteleiros, particularmente os mais luxuosos, teriam tido necessidade de fazer saldos para atingir os níveis mínimos de ocupação.
Na verdade não senti nada disso. Nem moscas nem saldos! Mas não são os saldos que me ocuparam a mente, até porque, provavelmente, existiriam em latitudes que não teria preocupação de atingir. O que me assaltou o espírito foi perceber donde viria a ideia de que o Algarve estaria às moscas quando aquilo era o inferno de gente de sempre. Ou pior. Tenho por hábito, independentemente da zona onde me fixe, dar sempre uma voltinha por Albufeira, à noite. Pois, este Agosto e pela primeira vez, não consegui sair do carro. Tudo o que era estacionamento estava cheio!
Não foi necessário fazer um esforço mental muito grande para perceber por que razão, estando o Algarve cheio, se dizia estar às moscas. Afinal o que estava às moscas era o Allgarve! Eu explico: os bifes não vieram! Eram só tugas!
Claro que os portuguesitos não dão para encher tudo o que é infra-estrutura turística que por lá se plantou ao arrepio das mais elementares regras de planeamento e de bom senso. Mas dão para encher as ruas e os parques de estacionamento. E até dão para salvar o Algarve daquilo que seria um ano verdadeiramente catastrófico.
Se bem me lembro foi o ministro Manuel Pinho que teve a ideia do Allgarve. Se bem que a ideia do Algarve para os ingleses, já vem muito de trás. As cartas de restaurante em inglês, a food, os drinks e os bares ingleses, a par com o mau tratamento de que os portugueses eram objecto, como se fossem gente estranha, são já bem antigos no Algarve. Mas a ideia de Manuel Pinho, e os largos milhões gastos na sua promoção, não raramente em autênticas aberrações de marketing e de estética, apenas reforçou esse estado de coisas.
Ora isto é um erro estratégico dramático. Não é só dramático por menosprezar os portugueses que pagaram impostos para financiar essa campanha. É dramático porque se diz que o turismo é a única actividade económica viável para Portugal. É um desígnio estratégico nacional! É o nosso petróleo!
É um erro estratégico dramático porque não partiu da valorização da nossa diferença e ignorou literalmente todo o nosso potencial cultural e toda a nossa rica diversidade. Pelo contrário, apostou numa imagem de um país servil para o turista, que lhes quer oferecer aquilo que eles já têm. Que aposta nas únicas coisas que eles lá não têm – sol e praia – mas recriadas nos ambientes que lá têm. Que pega na sardinha assada e a serve com chips!
Como é óbvio ninguém sai do seu país para ir fazer turismo noutro que lhe oferece as mesmas coisas. Para isso fica em casa. Quando se sai para outros países vai-se à procura de coisas diferentes. Pois aí está: a nossa estratégia para o nosso maior desígnio não é estratégia – é sol e praias, que são apenas preciosos recursos naturais. E quem não tem estratégia para os potenciar não os merece!
Depois, quando os ingleses não vêm, o Algarve está às moscas!
Da pizza diz-se que o segredo está na massa. Da Gestão diz-se que está na flexibilidade e na agilidade.
Particularmente em tempos de crise, como os que teimam em continuar, a agilidade da gestão tornou-se num verdadeiro mito. Só as empresas com grande flexibilidade, com enorme capacidade de adaptação em tempo real à mudança conseguem vingar e atingir o sucesso.
De facto a mudança sempre teve muito de assustador. Resistir-lhe foi e continua a ser um factor de bloqueamento. Na sociedade e, inevitavelmente, nas empresas. Responder à mudança é um factor crítico de sucesso, e responder-lhe rapidamente e em força, exige enorme agilidade. Chamamos-lhe, popularmente, jogo de cintura ou também flexibilidade de rins.
Este mito da agilidade e da flexibilidade de gestão continua a tirar o sono a muitos gestores e empresários, que passam noites de autêntico pesadelo a matutar na forma de alcançar tão valioso desiderato. Pois surpreendam-se: vou dar uma ajuda.
Há já alguns anos que venho observando, em Lisboa (é em Lisboa que tudo se passa...), o mais emblemático case study de agilidade e flexibilidade na gestão de um negócio. Passa-se no Chiado e tem como protagonista uma senhora, de aparência desenrascada, seca de carnes e à volta dos 50 anos.
Está sol e a senhora apresenta-se na Rua Garrett com os dois braços carregadinhos de óculos de sol, para a senhora e para o cavalheiro, pró menino e prá menina, de todas marcas: Ray Ban, Gucci, … Mas, de repente, o céu escurece e anuncia chuva. Num ápice a senhora desaparece com os óculos de sol e reaparece, minutos depois, com os mesmos braços agora carregadinhos de chapéus-de-chuva. A chuva pára e, se volta o sol, volta ela com os seus óculos. Mas, se o sol não está voltado para emprestar ainda mais beleza ao Chiado e a chuva é substituída por uma aragem fria, a senhora, os mesmos minutos depois, está de regresso com os braços carregadinhos de luvas e cachecóis.
Delicio-me com esta demonstração de agilidade desde há uns 4 anos. Ontem decidi que era tempo de meter conversa, de ao menos lhe perguntar o nome. Não podia deixar passar mais tempo sem juntar o seu nome à minha lista de gurus de referência. Saí do parque de estacionamento (Império): o sol brilhava, o Chiado estava lindo e cheio, como sempre. Ela lá estava, ao fundo, com os braços carregados de óculos. Mas, de repente, sem sequer me darem tempo de me aproximar, umas nuvens negras taparam-no… Fica para a semana!
Estamos em tempo de férias, em pleno pique de Agosto, cada vez mais o mês das férias.
Muitas empresas, por cá e a exemplo do que sucede por essa Europa fora, encerram mesmo durante este período. Cada vez mais o período anual das diferentes actividades vai de Setembro a Julho, e já não tanto de Janeiro a Dezembro. Apesar de, em Portugal, os exercícios económicos continuarem a seguir o calendário anual de Janeiro a Dezembro e dos Balanços se fazerem a 31 de Dezembro de cada ano, a realidade é que deveriam fazer-se em 31 de Julho. Agosto seria riscado do calendário para todas as actividades não turísticas, e o ano iniciar-se-ia a 1 de Setembro.
O mês de Agosto é um mês de férias, de descanso, de retempero de forças. Mas também de balanço do que ficou para trás e de perspectivar o futuro, muitas das vezes com esperanças renovadas, com promessas de mudanças. De rotinas, de hábitos e de comportamentos.
Provavelmente quem se der a estes exercícios durante este mês de Agosto será levado ao desânimo porque, estamos mais uma vez, ou continuamos, mergulhados na crise.
Todos sabemos que, passados os primeiros anos de integração europeia quando, por força do nosso baixo nível de desenvolvimento e dos recursos canalizados para a nossa economia, atingimos níveis de crescimento assinaláveis, passamos sistematicamente a divergir dos padrões de crescimento global deste espaço que integramos.
Uma divergência no crescimento económico que nos tem empobrecido e deixado mais distantes dos nossos parceiros de comunidade. E que se faz sentir em muitos outros indicadores, que não exclusivamente económicos, onde desencantadamente vamos ocupando cada vez mais o fundo das tabelas.
E porquê?
A resposta é unanimemente aceite: educação e formação.
Em Portugal não temos levado a sério este desafio da educação e da formação. Pelas mais diversas razões, e apesar da enorme quantidade de recursos canalizados para estes sectores. E, no entanto, é também já consensual entre nós a importância estratégica da educação e da formação profissional enquanto vector fundamental de desenvolvimento.
Por que falhamos então este desígnio nacional?
Fundamentalmente porque ele ainda não corresponde a uma vontade colectiva. De todos e de cada um. Porque muitos de nós achamos que nada temos a ver com o assunto. Que é problema do outro. Porque o consenso estabelecido corresponde muito ao domínio do politicamente correcto e pouco ao domínio da consciência real.
Mas também porque existe uma dinâmica própria da aprendizagem da qual estamos muito afastados. Quanto mais se sabe, mais se sabe que se não sabe. Não é necessário recorrer ao filósofo para sustentar a afirmação.
Sem um sistema de educação que alimente o gosto pelo saber, que forneça as ferramentas básicas para procurar o conhecimento, não é criada uma dinâmica de aprendizagem. E, sem essa dinâmica, não é fácil assumir a responsabilidade da formação ao longo da vida. Porque é de responsabilidade que se trata. A responsabilidade de acompanhar um mundo sempre em mudança para que dele não sejamos excluídos.
*Publicado na Newsletter do I-Form em Agosto de 2008
Manter um blogue a solo não é fácil. Nem difícil. Às vezes é fácil, às vezes é difícil, depende. Depende da disponibilidade, do tempo que conseguimos roubar às nossas actividades diárias. Nas próximas duas semanas irei estar fora e sem condições para alimentar uma relação regular com o Quinta Emenda. Por isso procurei uma fórmula para manter o blogue vivo durante estas duas semanas e decidi publicar, em reposição, alguns textos publicados nos últimos tempos em diversos espaços.
É como fazem as televisões durante o Verão… Mas também como fazem muitos VIP em muitos VIB (very important blog), quando apenas replicam o que publicam nos jornais!
Seleccionei alguns textos em obediência a um critério de intemporalidade. Porque sejam temas que se mantenham actuais, ou mesmo que mostrem como, afinal, o tempo passa sobre muitos deles sem em nada os alterar. Ou porque sejam mesmo intemporais!
Estas reposições, sete ao todo, estarão devidamente identificadas e darão ainda as referências da publicação original. Mas claro que nestas duas semanas nem tudo serão reposições!
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