Volto ao tema de ontem porque, hoje, ficou a saber-se que o Ministério Público confirmou os 13 responsáveis pela insolvência culposa do BES, entre eles Ricardo Salgado, Amílcar Morais Pires, José Manuel Espírito Santo, Manuel Fernando Espírito Santo, José Maria Ricciardi e Joaquim Goes, alguns que, como se sabe, não tinham nada a ver com aquilo e até continuavam à frente de bancos.
A ligação desta notícia ao tema de ontem surge exactamente no ponto em que são responsáveis (responsáveis sem que sejam responsabilizados, porque nada de mal lhes vai acontecer, fiquem descansados) por ter contribuído para gerar o prejuízo total de 5,9 mil milhões de euros. Ou seja, nada de muito diferente do que, em apenas três anos, aconteceu no banco bom, no Novo Banco.
Quando, como aqui sempre se fez, se aponta o dedo ao Banco de Portugal em todo o descalabro BES/Novo Banco, os (muitos) defensores de Carlos Costa vêm logo a correr dizer que se está a ignorar o ladrão e a culpar o polícia. A partir de agora é bem possível que passem a ter mais dificuldades com esse argumento. Não sabemos se o polícia roubou tanto como o ladrão, o que sabemos é que os danos são iguais!
O Banco de Portugal acaba de confirmar que é dos americanos da Lone Star - um fundo de investimentos que já fez vários negócios em Portugal no ramo imobiliário, entre os quais a compra, logo seguida da venda, de alguns centros comerciais, e onde detém a gestão da Marina de Vilamoura – a melhor oferta para a compra do Novo Banco.
A oferta deste Fundo americano, sem tradição nem experiência no negócio bancário, mas que faz das suas margens – nas bordas ou na vizinhança do sector financeiro - o seu espaço privilegiado de manobra, é de 750 milhões de euros. Exatamente: a melhor oferta pelo que era BOM do BES, pela parte sã que o Banco de Portugal lhe arrancou para, com mais 4.900 milhões de euros de dinheiro fresco do Estado, através do Fundo de Resolução, criar num fim-de-semana o Novo Banco, é agora de 750 milhões de euros. Mas…
Mesmo assim, há um mas: Esta oferta só é válida se o Estado prestar uma garantia que cubra a avaliação da componente imobiliária do negócio. Isto é, se o imobiliário do Novo Banco – que, recordo, é a verdadeira área de negócio do Fundo – não render o valor por que está avaliado, o Estado repõe a diferença.
Não se sabe se o governo aceitará ou não esta proposta. Nem isso é agora o que mais importa. Sabe-se que isto é o melhor que o Banco de Portugal teve para apresentar. Depois de ter aceitado ser a cobaia do BCE para a experiência da resolução bancária. Depois de ter gasto centenas de milhões de euros em assessoria internacional para o negócio, e depois, por fim, de contratar Sérgio Monteiro, o Secretário de Estado dos Transportes do último governo, por um salário de 30 mil euros por mês, para vender o banco...
Sabe-se que o melhor que o Banco de Portugal conseguiu pelo banco não chega sequer para pagar o que gastou para vender. E sabe-se o que é que aconteceria a qualquer vendedor que, no final da jornada, chegasse à sua empresa com um relatório em que só o valor das suas despesas já fosse superior ao valor das vendas que realizara. E ainda a pedir uma garantia bancária para cobrir todos os riscos do negócio do seu cliente.
Mas todos sabemos que o ridículo não mata. Que não se passa nada. E que são todos bons rapazes…
O meu amigo Jorge Tomé disse ontem que lhe parecia que o Banif, a que presidira, tinha sido usado como moeda de troca. Que parecia que há muito estaria prometido ao Santander...
Não disse mais - o Jorge Tomé para além de extraordinariamente competente, é incondicionalmente institucional. Mas nós podemos especular. Ou nem tanto: apenas lembrar a velha estória dos Swaps da Maria Luís. E vem-nos à memória que a coisa com o Santander era um bocado complicada...
Moeda de troca, Jorge. Bem lembrado... Também há quem diga que uma mão lava a outra...
É verdade. Continua a haver sempre coisas novas para contar sobre o que aqui chamamos Bescândalo. Novas e cada vez mais graves!
Hoje soube-se que, afinal, de acordo as informações oficiais que constam do ‘site' da Concorrência europeia, o pedido de resolução foi feito à poderosa Direcção Geral da Concorrência Europeia (DGComp) na quarta-feira, 30 de Agosto, no próprio dia da publicação das contas do primeiro semestre do Banco, que precipitaram tudo. Muito antes portanto da decisão do Banco de Portugal ser conhecida, no domingo, 3 de Agosto, e antes das acções do banco terem sido suspensas pela CMVM, na sexta-feira, 1 de Agosto. Por feeling, sem qualquer informação institucional, como também já se sabe. E antes ainda de Marques Mendes saber e divulgar isto tudo...
Quer dizer que durante três dias se transaccionaram acções do BES com gente a saber que iriam perder todo o valor, e muita gente, sem saber de nada, a perder centenas de milhões de euros. E é mais um, em cima da imensa sucessão de escândalos em que o BES se tornou.
O governo preparou tudo. O conselho de ministros reuniu e preparou toda a legislação necessária à resolução. Mas sempre disse que não sabia de nada. Agora é ainda pior: o pedido de resolução foi enviado às instâncias europeias ainda antes disso tudo, mas ninguém sabe quem o enviou. Interrogada hoje na Assembleia da República, a ministra Maria de Lurdes Albuquerque garantiu, a lembrar os episódios dos Swaps, que os contactos do governo com Bruxelas se iniciaram no sábado, 2 de Agosto. E mandou que perguntassem à Direcção Geral de Concorrência, exactamente como o governador do Banco de Portugal, que diz que "o processo só pode ser explicado pela DGCom".
E isto, pelos vistos, é tolerável!
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