O novo governo, na sua primeira reunião em conselho de ministros, tomou a primeira decisão. Claro que a primeira decisão de um novo governo, em novo ciclo, que vai dar a volta a isto, é de alto valor simbólico. E exemplar, porque o governo sabe bem que não há uma segunda oportunidade para criar uma boa primeira impressão!
Vai daí e, a primeira decisão do novo governo, é ... a privatização dos CTT. Impressionante. Surpreendente!
Perguntarão os mais cépticos: e foi só isso? Não fizeram mais nada no primeiro conselho de ministros de Portas?
Respondo: fizeram. Decidiram ainda o texto da moção de confiança...
A reunião extraordinária (e informal) do conselho de ministros deste domingo faz lembrar as sucessivas cimeiras europeias.
Anunciada como a reunião onde o governo iria tratar (finalmente) das reformas estruturais que haveriam de tirar o país deste marasmo - desta paralisia sem luz ao fundo do túnel - e marcar uma nova época, e de um novo discurso donde, para dar lugar a esperança e rumo, seria definitivamente riscada a palavra austeridade, esta domingueira reunião extraordinária e sem gravata criou no país fortes expectativas. Exactamente como nas cimeiras da UE, sempre decisivas, sempre a última oportunidade que se não deixaria fugir!
Se havia semelhanças nas expectativas, para não as frustrar – as semelhanças, evidentemente – também as conclusões teriam de estar no tom. No mesmo tom! Que é como quem diz, zero. Nada. Nadinha!
Ouvimos o ministro Miguel Relvas dizer que “o governo fez a avaliação das reformas estruturais que Portugal necessita que sejam levadas a cabo para que possamos criar condições em termos de competitividade”. Ou ainda que é necessário reforçar a “articulação entre o Estado e a economia e a criação de mecanismos de confiança que permitam que a economia portuguesa cresça”
Mas isto, e muito mais, todos sabemos que Miguel Relvas é capaz de dizer em qualquer momento, todos os dias ou mesmo todas as horas. Isto é nada, é o vazio do discurso político que estamos fartos de ouvir. Para dizer isto não era necessário estar o governo reunido 11 horas num domingo. Pode até dar jeito como instrumento de marketing – isto é que é um governo com vontade de trabalhar, ao domingo e tudo… - mas soa a falso. Porque, sendo estas as conclusões, ou não fizeram nenhum ou não fazem a mínima ideia do que estiveram a fazer, que dá no mesmo!
Não há ponta de substância. Como não a há quando diz que, com as reformas estruturais, “pensamos ser possível combater a maior praga com que a economia portuguesa está confrontada, que é o desemprego”. Mas pior: para que este ar de mangas arregaçadas tivesse uma sustentação mínima, alguma coisa teria que estar à vista através do Orçamento Geral do Estado recentemente aprovado.
E infelizmente não está! Lá apenas brilha a austeridade em todo o seu esplendor. Bom, há sempre a possibilidade das reformas estruturais estarem lá traduzidas por cortes. E da competitividade por redução de salários e aumento de dias e horas de trabalho…
Arregaçar as mangas para cruzar os braços, é o que é!
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