DOMINÓ EM BANHO DE SANGUE
Por Eduardo Louro
O movimento de contestação popular às ditaduras árabes do médio oriente não pára de engrossar. À medida que engrossa e avança vai deixando menos espaço à surpresa, a ponto de alguns dos regimes agora debaixo de fogo se terem apressado, numa tentativa de jogada de antecipação, a anunciar reformas, aberturas políticas e mesmo melhorias em vencimentos e pensões.
O dominó, no entanto, está em marcha. Mas agora com mais sangue, com as peças a caírem directamente em poças de sangue. Porque desapareceu o factor surpresa e os regimes foram tomando providências, a principal das quais não terá deixado de ser uma especial atenção aos militares que lhes garantem a sobrevivência.
Nos últimos dias assistimos a cenas dramáticas no Bahrein, com apelos desesperados de médicos impotentes para tratar a avalanche de feridos e estropiados que invadia os hospitais. Muitos nem sequer lá chegavam: as forças de segurança tudo faziam para impedir as ambulâncias de prestar auxílio às vítimas!
A proximidade do arranque da primeira etapa do campeonato mundial de fórmula 1, precisamente o Grande Prémio (GP) do Bahrein já no próximo dia 13, terá ajudado a aumentar a carga repressiva com vista a limpar a revolta. Depressa e em força, porque o GP não pode ficar em causa!
Na Líbia a violência tomou proporções ainda mais dramáticas. Kadhafi faz jus à sua fama de mais crápula dos ditadores daquela área do mundo. O louco e excêntrico ditador líbio, que há mais de 40 anos brinca com o Ocidente – que não só sempre lhe perdoou as travessuras como sempre lhe alimentou extravagâncias e caprichos – e rouba o seu povo, a quem condena à ignorância (tem a originalidade de proclamar que a escola não serve para coisa nenhuma, que as crianças, em vez de irem à escola, devem ser postas a trabalhar desde muito novas porque é a trabalhar que aprendem – se uma criança quer ser médico não deve ir estudar, deve ir trabalhar para um hospital que, ao fim de muitos anos, terá adquirido o conhecimento para ser médico) e à miséria.
A tudo deitou mão: polícia, exército, milícias e jagunços! E á medida que as mortes não param de crescer, vítimas de uma maré de violência sem limites, o aparelho de estado líbio começa a dar sinais de desintegração: diplomatas que se demitem e abandonam embaixadas – o embaixador em Nova Deli demitiu-se e garantiu à BBC que Kadhafi está a recorrer a mercenários estrangeiros para matar o seu povo – e, há momentos, era o próprio ministro da justiça a anunciar a demissão em protesto contra a violência repressiva empregue.