Terminou a Vuelta, em Madrid, num contra-relógio de cerca de 25 quilómetros, onde o suíço Stefan Kung foi o mais rápido com 26´e 28´´, menos 31 segundos que Roglic, que foi segundo, mas ganhou pela quarta vez esta grande competição.
Foi uma competição aberta, com muitas fugas, e a grande maioria delas bem sucedidas, mas nem por isso foi de grande espectáculo. Verdadeiramente espectacular foi Wout van Aert, até que uma queda o obrigou a desistir, na 16.ª etapa, quando seguia na frente da corrida a caminho dos Lagos de Covadonga, era virtualmente vencedor da classificação por pontos, e liderava ainda a classificação da montanha. Mas também Pablo Castrillo, que ninguém conhecia e brilhou na alta montanha.
Roglic ganhou, igualou as quatro "Vueltas" de Roberto Heras - ultrapassando Alberto Contador e Tony Rominger -, foi o indiscutivelmente o melhor, mas nunca foi absolutamente dominador e autoritário. Aqueles 5 minutos para Ben O'Connor, cavados naquela sexta etapa que o australiano da AG2 R ganhou com 7 minutos de vantagem, levaram 13 dias a superar. Apenas na antepenúltima etapa, na chegada a Moncalvillo, na sua terceira vitória, e na única verdadeira prestação colectiva da Red Bull, Primoz Roglic recuperou a liderança depois de sucessivos pequenos ganhos. Pelo meio teve ainda de recuperar de uma penalização de 20 segundos, na etapa da subida ao Cuitu Negru quando, tendo optado por mudar de bicicleta (para uma mais apropriada à escalada, que de nada lhe valeu), aproveitou depois descaradamente o cone de ar do carro da equipa para recuperar o terreno perdido na operação.
Aconteceram anormalidades que deixaram de fora João Almeida, Lennert van Eetvelt e Daniel Martinez (como a maioria da equipa da Red Bull, por intoxicação alimentar no penúltimo dia). Sobram sete. Desses, Roglic foi primeiro, Ben O´Connor, segundo, Carapaz quarto, Mikel Landa oitavo, e Carlos Rodriguez décimo. E apenas dois falharam essa expectativa: Sepp Kuss, o vencedor do ano passado e a grande decepção desta Vuelta (fazer as três grandes voltas a competir, como fez em 2023, traz factura a pagar no ano seguinte) na 14ª posição; e Adam Yates, também com uma prestação decepcionante, mesmo ganhando uma etapa, na 12ª.
De fora vieram Enric Mas, de que já aqui falara, que fechou o pódio, fora das minhas expectativas, mas dentro das anormalidades. Mattias Skjelmose (LIDL - Trek) foi quinto, e primeiro da juventude. David Gaudu (Groupama - FDJ) foi sexto, e a surpresa positiva, pelo protagonismo que teve na corrida. Florian Lipowitz (Red Bull - Bora - Hansgrohe) foi sétimo, e segundo da juventude. E Pavel Sivakov o 9º, e melhor da UAE Team Emirates, que ficou literalmente aos papéis depois de perder o João Almeida.
Os australianos J Vine, da UAE - 1º classificado da montanha -, e Kaden Groves - 1º da classificação da montanha - limitaram-se a herdar as respectivas camisolas com o abandono do sensacional Wout van Aert.
Ia o Tour na quarta etapa na última vez que aqui o trouxe, não imaginando então que, feita História na anterior, com a primeira vitória do africano Girmay, se voltaria a fazer logo na seguinte, com a vitória de Cavendish em Saint Voulbas.
A 35ª no Tour, com que bateu o record de Merckx, que havia igualado, que há muito perseguia e que era o seu único objectivo para esta última participação na prova, projectada para o ano passado, mas reconsiderada depois do abandono a que então fora forçado.
Foi depois tempo dos sprinters - que não mais do velho corredor britânico - e especialmente de Girmay, o africano da Eritreia que corre pela equipa do Intermarché, que ganhou mais duas etapas (na oitava), e hoje mesmo (na 12ª), que lhe dá já uma grande vantagem, porventura decisiva, na liderança da classificação por pontos. Na camisola verde, que não mais despiu desde essa quarta etapa.
Mas também do primeiro dos dois contra-relógios da prova, na quinta etapa, que Remco Evenepoel venceu, com 12 segundos de vantagem sobre Pogacar, ainda e sempre de amarelo. Onde João Almeida foi oitavo, com mais 57 segundos, subindo então para sexto na geral.
Foi tempo, no domingo, de uma etapa - a nona - de grande grau de dificulade, com 14 troços em gravilha, a modernidade que substitui as velhas etapas nos pavés. E do primeiro dia de descanso, na segunda-feira.
Ontem, no maciço central, correu-se a 11ª etapa, entre Évaux-les-Bains-Le Lioran (211.0 km) toda ela de montanha... e louca. Onde a formação da Emirates fez forte investimento, quiçá com o objectivo de arrumar com o Tour logo ali, ainda antes dos Pirenéus. E dos Alpes. E do contra-relógio final, na chegada a Nice.
Fruto desse investimento ou - talvez melhor - para o justificar, Pogacar atacou na antepenúltima subida, ainda a 32 quilómetros da meta. Ninguém lhe conseguiu responder, e foi amealhando segundos de vantagem. Chegaram a ser mais de quarenta. Mas de repente fraquejou - provavelmente, pelo que se viu no final da etapa, a comer desenfreadamente, e também porque fora possível perceber o desespero com a pedira apoio ao carro que nunca chegou - por, novamente, falha na alimentação. E a perseguição de Vingegaard, a princípio feita com Roglic, que caiu na descida e ficou para trás, acabou por resultar na penúltima subida. Pogacar ainda foi primeiro nessa meta de montanha - o que lhe valeria a liderança também na classificação da montanha - mas foi já ao sprint, com o vencedor dos dois últimos Tours a parecer desinteressado de o disputar.
A partir daí fizeram as descidas, e as duas últimas subidas, a par. E em evidente colaboração para cavar a diferença para os restantes, em especial para Evenepoel e Roglic, até próximo da meta. Diferença que, com a meta à vista e a vitória na etapa para decidir, acabaram por queimar e deixar cair para meros 25 segundos.
Não foi só aí que se percebeu que a estratégia da equipa ruíra à falta de condição física de Pogacar. Foi na própria discussão da vitória, quando Vingegaard, que normalmente perderia sempre no sprint para o rival, mesmo que sempre na frente, e em condição desvantajosa para o sprint final, arrancou para a meta e ganhou (na foto).
Fora assim - com um erro no capítulo alimentar, e com erros na estratégia de ataque - que, no ano passado, Pogacar fora derrotado. Ontem, porventura pela sua condição decorrente da grave queda no País Basco, Vingegaard apenas ganhou a etapa. Não ganhou tempo, mas ganhou força mental. E está ainda por saber o o que isso possa vir a valer lá mais para a frente.
Evenepoel e Roglic perderam apenas os referidos 25 segundos, mantendo-os segundo e quarto na geral. João Almeida voltou a fazer uma etapa ao seu (alto) nível. Foi sexto, subiu ao quinto lugar, por troca com o Carlos Rodriguez, e com o bónus de ver o colega Ayuso afundar-se, e cair para o nono lugar da classificação.
Hoje subiu a quarto. Porque, a 10 quilómetros da meta, o infeliz (já ontem caíra, sozinho, naquela última descida) Roglic viu-se envolvido numa queda das grandes, e cortou a meta com cerca de 2,5 minutos de atraso, e um ombro esfacelado. Se estiver em condições de amanhã se apresentar à partida, dificilmente Roglic terá agora possibilidades de disputar um lugar no pódio.
Os Pirenéus vêm aí, já depois de amanhã. E desconfio que terão muito para contar.
A 18ª etapa da Vuelta, hoje corrida pelas montanhas das Astúrias, era a última de alta montanha. Das três que faltam apenas a de sábado, a penúltima, uma daquelas tipo montanha russa de que Rui Costa gosta, poderá alterar, e ainda assim muito pouco, do pouco que pode mudar na classificação.
Sendo uma etapa de elevado grau de dificuldade, e tendo praticamente decidido a Vuelta, foi mais que uma etapa de confirmação da classe de Evenepoel, que entrou em fuga 12 quilómetros depois da partida, correu na frente os restantes 167, deixou para trás quem quis, e quando quis, ganhou as três classificações de montanha e garantiu a respectiva camisola, e chegou isolado à meta, com quase 5 minutos de vantagem para o segundo (Caruso) e 10 para os principais da classificação geral. Foi uma lição de vida!
Foi, antes de mais, uma lição de ciclismo de Evenepoel. Mas também uma lição de vida. Esteve para abandonar depois da "catástrofe" do Tourmalet. Disse que foi a mulher que lhe pediu que não o fizesse e, por ela, continuou. E voltou a dar espectáculo como nenhum outro, e a ganhar. Ontem parecia ter desaparecido, depois de ter entrado em mais um fuga. Não desapareceu, apenas percebeu que não valia a pena investir nela. Que não era a certa, e mais valia resguardar-se para hoje. Para ganhar pela terceira vez, e demonstrar que é, física e mentalmente, um campeão.
Mas foi acima de tudo uma lição de vida de Vingegaard. A novela da Jumbo, com Kuss, Vingegaard e Roglic como personagens, tem aqui sido bastamente relatada. Quando, ontem, a juntar ao que já se passara na véspera, depois de deixar a liderança de Kuss presa apenas por 8 segundos, Vingegaard disse que gostaria que o seu companheiro ganhasse a Vuelta, a declaração soou ao mais vil da hipocrisia. Kuss só não acabara de perder a "vermelha" por ter tido a ajuda de Mikel Landa, e por em cima da meta o ter passado para assegurar os pontos da bonificação pelo terceiro lugar. Pediu desculpa ao corredor espanhol, disse-lhe que tinha vergonha do que acabara de lhe fazer, mas que a isso tinha sido obrigado pelos colegas de equipa.
É difícil intrepretar de outra forma aquela declaração do vencedor do Tour. Mas é possível acreditar que se arrependeu. Mas também que a direcção da equipa, porventura com receios de danos de imagem, tenha sido obrigada a reconhecer que os ataques de Roglic e Vingegaard a Kus passavam a ser intoleráveis.
Fosse pelo que fosse, a verdade é que, hoje, o campeão dinamarquês redimiu-se. A apenas 8 segundos do seu colega de equipa, hoje teve tudo para lhe ganhar essa diferença e até muito mais. E renunciou sempre. Na última subida, nos últimos 4 quilómetros, a mais de 10 minutos de Evenepoel, o grupo dos primeiros estava reduzido a seis corredores. Eles os três, e ainda os espanhóis Ayuso, Mikel Landa e Enric Mas, os três a disputar o quarto lugar da geral, separados por 30 segundos.
Todos atacaram, para se atacarem. A cada ataque de cada um deles, bastaria a Vingegaard responder para deixar Kuss para trás. Nunca o fez. Pelo contrário manteve o ritmo, impediu as tentações de Roglic, segurou sempre Kuss e acabou sempre a anular as tentativas dos espanhóis. Mas fez mais: nos últimos metros abrandou e deixou que os outros cinco se fizessem à meta, entregando 9 segundos ao seu colega. Para lhe dar a tranquilidade de 17 segundos de vantagem na liderança!
Não tenho a certeza que tenha sido bonito, mas foi o final feliz de uma novela que não estava a ser bonita. E Kuss vai certamente ganhar a Vuelta. Como merece. Como é justo. Não é o ciclista mais forte desta Vuelta, onde só faltou Pogacar para estarem todos os melhores do mundo. Evenepoel - traído pela súbita quebra no Tourmalet, mas isso é ciclismo -, Roglic e Vinguegaard, são mais fortes. Sem dúvida. Mas, por tudo o que tem feito por eles ao longo de anos, Kuss merecia a gratidão que tardou em ser demonstrada.
E só não consigo dizer que foi bonito porque Jonas Vingegaard deu, mas quis mostrar que estava a dar. Bonito é dar sem exibir. Já Roglic, nem isso.
João Almeida hoje não esteve nos melhores dias. Descolou do grupo dos primeiros ainda na penúltima subida, para depois fazer o que já é habitual - ir recuperando lugares. Perdeu cerca de 1 minuto, um pouco menos, para os seis primeiros. E manteve naturalmente o 9º lugar na geral, de onde dificilmente sairá.
Tinha aqui escrito que Vingegaard e Roglic aguardariam ansiosamente um ataque de Ayuso, o quarto da geral e o primeiro fora da Jumbo para, nas últimas altas montanhas desta semana final, atacarem a liderança de Kuss. Queria com isso dizer que tinha por certo que ambos queriam ganhar a Vuelta, mas que, nem eles, nem a direcção da Jumbo, teriam "lata" para atacar directamente o colega. O fiel escudeiro que tanto tem trabalhado para as suas vitórias, e que inesperadamente vira chegar a sua vez de ganhar.
Estava enganado. Nem Ayuso, nem qualquer outro adversário, lhes deram essa oportunidade, e precisaram de outros pretextos. E até de pretexto nenhum.
Ontem, na 16ª etapa, entre Liencres Playa e Bejes lá no alto de La Hermida, bastou a Vingegaard o pretexto de homenagear o colega Van Hooydonck, vítima nesse mesmo dia de um ataque cardíaco, seguido de despiste, quando seguia ao volante do seu carro, na Bélgica, e em crítico estado de saúde. Ganha-la-ia de qualquer forma, sem necessitar de deixar Kuss em dificuldades. Mas não. Atacou a sério, para ganhar a etapa e atacar a liderança. Ganhou mais de um minuto a Kuss e a Roglic, ficando a apenas 29 segundos da vermelha, e retirando o segundo lugar ao esloveno.
Hoje, na etapa mais dura da Vuelta, com a meta no mítico L`Angliru, já nem precisaram de pretexto algum. Simplesmente seguiam os três na frente, e iriam repetir o inédito feito do Tourmalet. Mas não. E desta vez foi Roglic. Atacou e Vinguegaard seguiu-o, deixando Kuss para trás. Era o dia do aniversário do americano, mas nem isso lhe valeu.
Valeu-lhe o espanhol Mikel Landa, um adversário da Bahrein, que se lhe juntou e o levou na roda até à meta, onde Roglic fora primeiro, sem discussão com Vingegaard (também era só o que faltava). kuss até acabou por ser terceiro, repetindo o feito da equipa no Tourmalet. Mas foi um adversário que lhe deu a prenda de anos que os colegas lhe negaram, e que lhe permitiu até manter a camisola vermelha, agora presa por apenas 8 segundos. Para Vingegaard. Para Roglic, é mais um minuto. Nada que não resolvam certamente amanhã, o último dia de alta montanha.
Dizem, da equipa, que os três gozam de liberdade total para fazerem o que quiserem na corrida. Afinal há liberdade na ditadura que a Jumbo instalou nesta Vuelta. Não há é gratidão. Nem sequer respeito.
Também na UAE não funciona essa coisa a que se chama equipa. Já se tinha visto noutras ocasiões, em muitas delas com João Almeida com razões de queixa. Hoje foi ao contrário. Foi o português, com mais uma excelente prestação - sexto na etapa, a 58 segundos de Roglic - que se esteve nas tintas para Ayuso e para Soler. O jovem espanhol ainda se aguentou. Foi nono na etapa e segurou o quarto lugar da geral, se bem que já muito apertado por Landa, a apenas 16 segundos. Soler afundou-se, e caiu de sexto, a apenas 3 minutos de Kuss, para 13º, a 22. E foi justamente à sua conta que João Almeida, a acabar a Vuelta ao seu melhor nível (Kuss deve-lhe a ele não ter perdido já ontem a liderança, pois foi ele a "dar sapatada" que reduziu a vantagem de Vingegaard) subiu a nono, e praticamente garantiu um lugar no top 10.
Ah... E Evenepoel já não é notícia. Mas ainda tem que defender amanhã o primeiro lugar da classificação da montanha.
A três dias de terminar em Paris, concluídas as etapas dos Alpes, as principais classificações da Volta a França estão definidas. É certo que o contra-relógio de sábado, na véspera da chegada aos Campos Elíseos, ainda poderá provocar alguns ajustes. Mas não mais do que isso: os 57 segundos de vantagem que Roglic tem sobre o seu compatriota Pogacar serão suficientes para ganhar o Tour deste ano.
Para trás ficaram três etapas decisivas, e todas elas espectaculares, onde os dois eslovenos continuaram a demonstrar que são os que estão mais fortes. A etapa de terça feira, depois do descanso, deu o mote para esta sequência demolidora nos Alpes.
O equatoriano Richard Carapaz, da Ineos, já liberto da ajuda a Bernal, que deu o berro justamente nesta etapa, e também já muito atrasado na geral, atacou a etapa numa fuga bem sucedida e que ganhou muito tempo ao grupo dos primeiros da classificação. O grupo em fuga foi-se diluindo, e o próprio equatoriano acabou por não resistir ao alemão Lennard Kamna, da Bora, que chegou isolado a Villard-de-Lans, pouco menos de minuto e meio antes de Carapaz, o segundo, mas com mais de 15 minutos de vantagem sobre os principais corredores do pelotão.
O vencedor do ano passado, que há muito vinha dando sinais de não poder responder à condição de super favorito com que chegou, acabou aqui, sem honra nem glória. Terminou a etapa, mas não resistiu nem ao fracasso nem o trambolhão que levou na tabela classificativa. Acabou por sair pela porta mais pequena que um ciclista conhece: a desistência pelo peso da derrota.
Seguiu-se a etapa mais dura desta edição, a 17ª, entre Méribel e La Roche-Sur-Foron, em altitudes superiores aos dois mil metros, chegando mesmo aos 2400 no Col de la Loze, com rampas com mais de 20% de inclinação. Era a etapa dos colombianos. E foi, mas não a dos de maior nomeada. Foi a etapa de Miguel Angel Lopez (Astana), mais um jovem, que foi o mais rápido a acelerar do grupo dos favoritos não só para obter a vitória, mas também para chegar a terceiro na classificação geral. E foi a etapa da confirmação dos dois eslovenos, com Roglic a superiorizar-se a Pogacar - que acabaria por conquistar a camisola das bolas vermelhas, de melhor trepador - na disputa do segundo lugar na etapa, e a ganhar-lhe, com a bonificação, mais 15 segundos, fixando a diferença actual nos já referidos 57 segundos.
Hoje, na despedida dos Alpes, mais uma etapa com grande animação, num percurso de constante “sobe e desce”. Vingou uma fuga de 32 ciclistas, mas no fim só dois lograram sucesso: Kwiatkowski, e Carapaz, companheiros na Ineos, que cortaram a meta abraçados, com equatoriano a abdicar da vitória que perseguia há três dias para a oferecer ao seu colega polaco a sua primeira vitória no Tour. Roglic foi quarto, logo seguido de ... Pogacar, que acabou por perder para Carapaz a liderança já definitiva da montanha. E tem a vitória à distância dos 35 quilómetros do contra-relógio de sábado.
O pódio também parece definido, com Roglic, Pogacar e Miguel Angel Lopez. Muito embora não seja de descartar a hipótese de, no contra-relógio, o australiano Richie Porte ganhar ao colombiano os quase dois minutos que o separam do terceiro lugar.
Bem lá no alto das montanhas do Jura, onde o Tour nunca tinha chegado, a provar que nem só de Pirinéus e Alpes se fazem as grandes montanhas da Volta a França, conclui-se hoje com a 15ª etapa, entre Lyon e o Grand Colombier.
Foi uma segunda semana intensa, e com muita histórias, que fará a História do Tour deste ano.Foram seis etapas, onde apenas as duas primeiras foram decididas ao sprint, e ganhas por dois dos melhores desta edição: Sam Bennet, na primeira, a décima, e Cabel Ewan na seguinte. No resto foram fugas bem sucedidas, com vitória dos suíços Mark Hirschi (12ª) e Kragh Andersen (ontem, que se adiantou já muito próximo da meta); ou montanha, anteontem (13ª, ganha pelo colombiano Daniel Martinez) e hoje, provavelmente a etapa-rainha da prova, que deixou muita coisa para contar.
A etapa 13, anteontem, entre Châtel-Guyon e Puy Mary Cantal, já mexeu bem na tabela classificativa, com o miúdo Pogacar, o esloveno da Emirates, a subir do 7º lugar que trouxera dos Pirinéus para segundo. E com Romain Bardet, que era quarto, a sair dos 10 primeiros. Saber-se-ia depois que o francês fora mais uma vítima das incontornáveis quedas, sendo-lhe diagnosticada uma comoção cerebral já depois de concluir a etapa, pelo que já não alinhou à partida para a de ontem. Mais uma grande baixa no Tour.
A etapa de hoje, de grande dureza, foi de confirmação das suspeitas que andavam no ar. Suspeitava-se que os dois eslovenos, Pogacar, da Emirates, e Roglic, da Jumbo, eram os corredores mais fortes do pelotão. Que o colombiano Bernal estava longe de capaz de capaz de igualar os grandes feitos do ano passado, e que o também colombiano Quintana não estava muito melhor do que nos últimos anos, e longe, portanto, de poder recuperar tudo o que prometera em meados da última década.
Pogacar voltou a ganhar, seguido do seu compatriota Roglic, como há precisamente uma semana, na despedida dos Pirinéus. E Bernal "estoirou", e caiu pela classificação abaixo com grande estrondo. É agora 14º, a oito minutos e meio de Roglic. Quintana, dos corredores em prova a vítima maior das quedas, com pensos e ligaduras por todo o lado, também cedeu. Mas bem menos que o seu jovem compatriota, e é agora 9º, a cinco minutos do esloveno que vai de amarelo.
Vamos entrar da última semana, com os Alpes e o contra-relógio (também com uma subida acentuada), e ninguém aposta as fichas noutros que não os dois eslovenos. Roglic tem a seu favor o facto de estar num grande momento de forma. O problema é que esses momentos passam - por isso se lhes chamam momentos - e este já se prolonga há algum tempo.
E isso pode jogar a favor do miúdo de 20 anos. Inacreditável!
Não faltou animação na estapa raínha dos Pirinéus, mas no fim ficou a ideia que, afinal, não foi assim tão bom...
Esperava-se tudo desta etapa que partia do Santuário de Lourdes, ali num dos sopés daquele gigante montanhoso. Tudo o que para trás não tinha ficado resolvido teria de ficar hoje. E não foi bem assim: o que está resolvido, resolvido estava. Ou quase... Porque é quase sempre assim: quando as expectativas são demasiado altas, o bom não passa de sofrível e o excelente de suficiente.
A etapa foi bem viva, e muito mexida.Toda ela! Houve espectáculo e emoção, mas... Se calhar, numa etapa destas, colocar a meta vinte quilómetros depois do sítio onde ficava melhor, não é grande ideia. O ponto alto (literalmente), o clímax, encontrava-se no topo do L´Aubisque, mas aí só estava a meta de montanha. A da etapa estava em Laruns, 20 quilómetros depois, sempre a descer. Onde só não chegaram 10 corredores juntinhos porque, na descida, um adiantou-se um bocadinho (19 segundos) e outros dois atrasaram-se (12 segundos) outro bocadinho...
Mas uma etapa que faz perder mais de 7 minutos a Quintana - o grande perdedor do dia, talvez a ressentir-se da queda de ontem - e mais do dobro a Alejandro Valverde, não pode ser uma etapa mole.
Foram muitos os animadores, incluindo o rei da montanha, o francês Alphaville que, tendo andado muito tempo no grupo de frente, chegou à meta quase 20 minutos depois do polaco Roglic, o vencedor da etapa. E um dos vencedores do dia, ao subir ao terceiro lugar da geral. Mas Bardet e Mikel Landa fizeram tudo o que tinham a fazer para atacar os primeiros lugares, não ficaram a dever nada a ninguém.
Poderá parecer que não ganharam muito com isso, mas ganharam, e muito, em respeito e admiração. O francês seria terceiro na etapa, batido ao sprint pelo camisola amarela. E fixou-se no oitavo lugar da geral, logo atrás do colombiano: sétimo, na etapa e na geral. Que salvou "a honra do convento" da Movistar, depois do descalabro de Quintana e Valverde.
Mas - the last, not the least - esta etapa confirmou um miúdo de 21 anos como o grande ciclista da próxima década. Chama-se Bernal (na imagem) - Egan Bernal -, é colombiano, integra a equipa da Sky e, apesar da idade, é o pai de Froome. Também de Thomas, mas se hoje, mesmo perdendo o terceiro lugar, Froome não caiu desamparado pela classificação abaixo, foi apenas porque o miúdo o foi lá buscar e o rebocou montanha acima, até o levar ao grupeto dos primeiros. Aí chegado, passou para a frente e foi ele a puxar para ir buscar Bardet, que seguia lá na frente, já sem Landa, e até já sem Majka. Mesmo assim, depois de fazer isso tudo, chegou à meta logo a seguir ao grupo dos primeiros dez, pouco mais de minuto e meio depois do vencedor da etapa. E isto quer dizer duas coisas: a primeira é que, da Colômbia, continuam a chegar, todos os anos, grandes corredores para a elite do ciclismo mundial; e a segunda é que, noutra equipa, em que não tivesse de trabalhar para duas figuras como os dois britânicos, era menino para ganhar o Tour. Já e de caras!
Amanhã o contra-relógio fechará as contas finais. Os dois primeiros estão encontrados, só uma calamidade impedirá o galês de chegar, domingo, de amarelo aos Champs Elysées. E o holandês Dumoulin de ser segundo. Em aberto estará ainda o último lugar do pódio: Froome terá apenas que ganhar 13 segundos a Roglic, tarefa que há bem pouco tempo parecia fácil...
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