Na ordem do dia está a notícia que o governo aprovou, ontem, as novas regras de reforma antecipada, que permitem que os trabalhadores com longas carreiras contributivas possam ter acesso à reforma sem qualquer penalização. As condições, pelo que percebi, são simples: mínimo de 60 anos de idade e de 46 de contribuições.
O primeiro-ministro foi á RTP para ser entrevistado por dois jornalistas - o António José Teixeira e o André Macedo - que, pelos vistos, integram agora a estação pública. Se não for assim, não se percebe.
A entrevista correu-lhe bem, pareceu-me. É, como se sabe, suficientemente tarimbado para que não lhe corresse bem. E também já não há por aí jornalistas suficientemente capazes para o atrapalhar... E deve ter abandonado os estúdios satisfeito, convencido que tudo tinha corrido bem.
O que não lhe deve ter passado pela cabeça é que a RTP da Ana Lourenço (ok. Eu mudo: a Ana Lourenço da RTP) chamaria a brigada "pafista" do Observador, ainda com um reforço cedido pelo Dr Balsemão, para durante uma hora lhe darem cabo da entrevista. Escolhidos a dedo: José Manuel Fernandes, Helena Garrido, David Dinis e João Garcia!
Ontem à noite, no meio de uns zapings, dei com um desses programas de futebol falado, na RTP. Na 3, como agora se chama à que dantes se chamava Informação, depois de já ter sido N, mais de Norte que de Notícias...
Achei estranho que, em cima dos acontecimentos de Paris, com o mundo em choque, e num fim de semana que, de futebol, apenas tinha tido o jogo da selecção - como se sabe coisa pouco dada a este tipo de programas, que vivem da exploração da ignorância e da exacerbação da clubite - a direcção de programas da RTP achasse aceitável colocar em campo o seu Trio de Ataque. Passados que foram os primeiros instantes em declarações de circunstância á volta dos acontecimentos de Paris, o pivot apressou-se a abrir as hostilidades: Carrillo, era o tema!
E lá se mandaram aquelas três alminhas ao ataque, que nem gatos a bofes. Envolvido numa leitura, não ouvi uma única palavra do que disseram. Mas, ainda com as primeiras páginas dos jornais desportivos de véspera na cabeça, não queria deixar de ver até onde haveria de chegar a coragem de prolongar uma coisa daquelas.
Não chegou longe. Pouco tempo depois alguém se lembrou de os mandar calar, e de repente aquilo acabou, com o pivot, contrariadíssimo e perante o espanto do trio de atacantes, em especial do que desloca de Lisboa e pernoita no Porto, a dizer que os acontecimentos justificavam que se ficasse por ali.
E foi então que resolvi revisitar, e olhar com mais atenção, aquelas primeiras páginas dos jornais desportivos de sábado. Sugiro-lhe, caro leitor, que faça o mesmo, na mesma fonte, mas agora fixando-se apenas nos nossos.
Havia ali qualquer coisa a dizer-me que "isto anda tudo ligado": a verdade é que no programa interrompido só se falava de Carrillo!
E quando me aprestava para a aplaudir a decisão - mesmo que tardia e a más horas - de alguém que mande na estação pública, lá tive eu de voltar atrás para reconhecer que, em comunicação, o Sporting de Bruno de Carvalho não brinca...
Estava tudo a correr tão bem... De peito cheio, embalado pela a prestação de ontem frente ao rival, Costa estava imparável. A entrevista corria às mil maravilhas, sem dificudades de qualquer ordem, sem percalços nem obstáculos... Só que de repente, sem que ninguém conseguisse perceber por quê, perante uma pergunta mais áspera, António Costa abana.
Treme, mas espera-se que se recomponha. Com a confiança em alta, traquejado, outra coisa não é de esperar, mesmo que o Vítor Gonçalves avance com uma ou outra eventualmente mais tendenciosa. Ficaremos sempre sem saber se foi aquele abanão que encorajou o entevistador da RTP a avançar, ou se aquela era a inabalável sequência que tinha preparada para a entrevista. O que sabemos é que acto contínuo Costa caiu mesmo. Mais que perder o controlo, perdeu as estribeiras!
Deitou tudo a perder, e de repente perdeu a crista da onda para nela se embrulhar sem mais vir à superfície... Poderá porventura ter perdido quase tudo o que ontem ganhara, e só não foi pior porque o Vítor Gonçalves até não é mau rapaz. Recuou, não quis fazer sangue. Mas podia ter feito!
Assistimos ontem - já hoje, em bom rigor - à despedida do Nuno Artur Silva do Eixo do Mal. Que concebeu e moderou até hoje, com a descrição e o brilhantismo que são a sua imagem de marca.
Surpreendentemente foi convidado para a nova administração da RTP. Não menos surpreendentemente aceitou!
Nem sempre mentes brilhantes e criativas dão executivos por aí além. Mas a verdade é que só donde há se pode tirar... E do Nuno Artur há muito para tirar. Desta vez as expectativas são altas!
De Poiares Maduro já ouvimos tudo... Na maior parte das vezes, disparates...
Se calhar é por isso hoje já não se liga nada ao que diz aquele que foi um homem respeitado e prestigiado que chegou ao governo para substituir Relvas. E por isso ele pode continuar, hirto e firme, na sua espiral do disparate. Para negar o óbvio, e até natural, neste estado de coisas - o governo sempre mandou na RTP, e quando criou o tal Conselho Geral (e "independente") da RTP continuou a mandar, só que por interposta(s) pessoa(s) -, Poiares Maduro diz que o Bloco de Esquerda tem mais influência no órgão que criou para mandar na RTP que o governo.
Só que começa a ficar muito difícil alimentar a espiral... A fasquia do disparate está agora muito alta mesmo!
Confesso que, quando foi conhecida a notícia, pensei que a decisão da RTP de negociar os direitos de transmissão dos jogos de futebol da Liga dos Campeões tivesse sido partilhada com o governo. Por isso achei – e disso aqui dei nota – completamente disparatada aquela tirada do Presidente do Conselho de Administração da RTP (CA da RTP), Alberto da Ponte, quando disse tratar-se de uma decisão editorial com a qual nada teria a ver. Não era, nem obviamente podia ser!
Percebeu-se logo a seguir que o governo estava contra essa negociação. E não foi sequer pela tutela, foi pelo ministro Marques Guedes, o da pasta política do governo. Só depois se chegaram à frente outros ministros, entre os quais Poiares Maduro, o da tutela, e só depois surgiu o tal Conselho Geral Independente da RTP, a bacia em que, depois das trapalhadas do costume, Passos Coelho quer lavar as mãos. Que, Conselho será certamente… Geral será ou não, mas nem aquece nem arrefece…Independente é que toda a gente vê que não!
Poucos prediriam, no entanto, que viesse a acabar numa guerra aberta que culminasse na destituição CA da RTP. E que no meio dessa guerra viéssemos a saber que, afinal, ainda a 31 de Outubro, há apenas um mês, o governo teria incluído no contrato de concessão uma cláusula que prevê que a grelha da RTP1 inclua a "transmissão de eventos que sejam objecto de interesse generalizado do público", designadamente jogos de futebol da Liga dos Campeões, "devendo a concessionária posicionar-se no sentido de adquirir os respectivos direitos televisivos (…) desde que tal aquisição se enquadra nos seus limites orçamentais”.
Mais do que dizer que o CA da RTP estaria legitimado para efectuar esse negócio – até porque sempre vincou que tinha cabimento orçamental, o que o governo nunca contestou – isto parece querer dizer muitas outras coisas. Uma delas é, claramente, que o governo está a assumir as dores das televisões privadas. Não há outra explicação: há um mês o governo entendia que a RTP deveria negociar a transmissão dos jogos. A única alteração foi os concorrentes privados queixarem-se disso!
Não é por acaso que o governo não usa qualquer argumento económico, orçamental ou estratégico, para se fixar em “irreparáveis quebras de confiança”. Que a grande acusação é o CA da RTP não ter informado antecipadamente. Não será também por acaso que só se fala nos 18 milhões (que afinal são 15) da compra, sem que ninguém fale dos proveitos e na margem de contribuição do negócio.
A ideia que fica é que o governo, incompetente como é, só se lembrou da sua matriz ideológica quando os privados, para mamar, choraram!
A RTP, que havia abandonado a disputa pelas transmissões de futebol em 2012 em obediência a princípios de rigor orçamental impostos pelo governo, regressa em força três anos depois. O governo é o mesmo, as exigências de contenção que se colocam à estação pública são as mesmas... Há aqui qualquer coisa que não se percebe!
Não se consegue perceber que a RTP, para transmitir os jogos da liga dos campeões nos próximos 3 anos, tenha avançado com uma proposta de 18 milhões de euros, bem acima do respectivo valor de mercado. 40% acima, ao que diz a concorrência!
Então um negócio destes é uma questão editorial? Mas está tudo maluco? Ou será que isto é uma mensagem subliminar do governo, com uma mistura de marketing da cerveja, cozinhada ente Alberto da ponte e Pires de Lima, para que os portugueses acreditem mesmo nos milagres que propagandeiam?
Ouvi por aí que o Direito de Antena do PS, passado na RTP no dia das mentiras - para o efeito aproveitado com toda a oportunidade - foi visto por mais de um milhão de portugueses, número deveras surpreendente para um simples espaço de propaganda partidária.
Um grande share, digno de um grande programa. Que na verdade é!
Ali há apenas uma única manipulação - a que coloca a promessa lado a lado com a realidade. A partir daí é a verdade que fala, nua e crua. A verdade da mentira desavergonhada em que vivemos!
O PS fez serviço público de televisão. Que a RTP foi obrigada a transmitir...
Não há dúvida que o governo só conhece uma receita. Tem sempre um único caminho, nunca tem - nem precisa - de plano B. Seja qual for o problema o governo resolve-o sempre da mesma e da única maneira que conhece: indo ao bolso dos cidadãos!
Anda há este tempo todo às voltas com a RTP: ora se privatiza, ora se cede exploração, ora se fecham não sei quantos canais… Ora sai mais uma comissão para estudar o serviço público, ora sai mais um plano de reestruturação…
No fim, com Relvas ou com Maduro, tudo se resolve como sempre tudo se resolve: aumenta-se a taxa audiovisual e pronto, não se fala mais nisso!
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