A décima quinta etapa, corrida hoje entre Pamplona e Lekunberri, fechava a segunda semana da Vuelta. Mas não era isso que a tornava desejada pelos adeptos portugueses do ciclismo. Era porque, acreditávamos, tinha um traçado - de altos e baixos, numa espécie de montanha russa - à medida de Rui Costa, o campeão português no ocaso da carreira, e esquecido pelos feitos de João Almeida.
Há 10 anos fez História. Foi campeão do mundo. Ganhou a Volta à Suíça e ganhou duas etapas no Tour. À porta dos 37 anos, ia em 10 sem resultados à altura do seu estatuto de grande do ciclismo mundial. Havia como que uma certeza que esta etapa estava marcada na sua agenda como a etapa a ganhar.
Ontem havia entrado na fuga certa, donde tinha saído o recital de Evenepoel. Quando abdicou deixara logo a ideia de ter sido um ensaio para hoje. E que teria decidido reservar as forças justamente para hoje. E assim foi. Agarrou a fuga do dia, de novo com o campeão belga empenhado em continuar a demonstrar que o Tourmalet não passou de um acidente em que o ciclismo é fértil. Já perto da meta, mas nem tão perto assim, saiu para a vitória, levando o espanhol Buitrago na roda. Só quis isso mesmo o espanhol. Não cooperou, apesar dos apelos do Rui Costa, e esse desafio fez com que o alemão Leonard Kamna, o mais rápido, e por isso mais perigoso adversário, se lhes juntasse, já à entrada do último quilómetro. Repetiu-se, agora a três, o que já tinha acontecido com o espanhol. Se antes se mediam a dois, agora mediam-se a três. E isso ia dando mau resultado, já que o grupo de Evenepoel se aproximava a olhos vistos.
Rui Costa sentiu o perigo e deu uma sapatada. Os outros dois reagiram, e foi o suficiente para a evitar a chegada do grupo, e chegarem os três aos últimos metros. Buitrago, com mais dificuldades de ponta final, foi o primeiro a atacar. O alemão respondeu, e parecia ter barrado o caminho ao corredor português. Mas Rui Costa guinou para a direita e encontrou o buraco para, em cima da meta, por meia roda, ganhar.
Voltar a ganhar, 10 anos depois numa grande volta. E voltar a lembrar ao mundo o seu nome. Ainda grande!
E pronto, desceu o pano sobre o 110º Tour. Nos Campos Elísios, como habitualmente. Mas como não será para o ano, com Paris por conta dos Jogos Olímpicos.
Na meta, Meeus fechou uns milímetros à frente do compatriota Philipsen, o rei dos sprints, e camisola verde, e do neerlandês Dylan Groenewegen, em terceiro.
Com o prémio da montanha ontem arrumado, todas as classificações estavam já todas fechadas. No pódio, com Vinguegaard de amarelo, e Pogacar de branco (juventude) ficou Adam Yates. Por lá passaram ainda Philipsen, com a camisola verde (dos pontos) e Giccone, com a das bolinhas vermelhas (da montanha). E todos os colegas de Vingegaard na Jumbo, que ganhou por equipas.
Todos, não. Faltou Van Aert, o mais espectacular deste Tour. São muitas as imagens que dele ficam, porque ele esteve em todo o lado. Uma, no entanto, ficará gravada na memória de todos os que viram. Conta-se rapidamente: subiam-se as montanhas do Monte Branco e Van Aert terminava o seu trabalho na frente. Ficou para trás, e chegou mesmo a parar em cima da bicicleta, acabando amparado por um espectador, e desapareceu das câmaras. Para a frente do grupo passou Raphal Majca, o companheiro de Pogacar para impor o ritmo que colocasse Vingegaard em dificuldades. De repente, vindo não se sabe de onde, Van Aert estava ao seu lado, a voltar a pegar na corrida e a acabar (literalmente) com Majca, deixando Pogacar sem qualquer ajuda.
Faltou Van Aert porque há três dias foi embora, para assistir ao nascimento do seu segundo filho. Como tinha avisado desde o início.
Espectacular, até nisto!
Espectacular não foi o desempenho dos corredores portugueses. Pelo contrário, foi bem discreto. Rúben Guerreiro foi o que mais deu nas vistas, mas acabou fora da corrida, vítima daquela queda colectiva na 14ª etapa, que provocou a neutralização de meia hora. Nelson Oliveira (53º, a 3 horas e 8 minutos de Vinguegaard) e Rui Costa (67º, com mais 30 minutos) ainda chegaram a integrar uma fuga, mas sempre sem qualquer impacto. Na realidade, só hoje, nas últimas voltas (de 7 quilómetros) aos Campos Elísios, se conseguiu ver o Nelson naquela fuga a três que acabou fracassada já na última volta, à beira do último quilómetro.
A notícia da demissão de Jorge Jesus surgiu logo pela manhã. Que o treino, o primeiro desde o jogo da última quinta-feira no Dragão, foi cancelado e que os jogadores regressaram às suas casas, não há dúvidas. As câmaras das televisões mostraram-no. Do resto, oficialmente, ainda nada se sabe. Sabe-se que Rui Costa chegou ao Seixal às 10 horas, o que, se não disser muito, diz que é tarde para o que se vive no Benfica.
E sabe-se que, se hoje é, finalmente, o dia do adeus definitivo de Jorge Jesus ao Benfica, é também o primeiro dia do resto da presidência de Rui Costa. É o dia em que - só não vê quem não quer ver, mais uma vez - Rui Costa deixa à mostra que não tem capacidade de liderança para ser Presidente do Benfica. Não há líder sem capacidade de decisão. Um líder pode não ter grandes competências, nunca pode é não ser capaz de decidir!
Rui Costa foi um dos maiores jogadores de futebol da História, com uma carreira ao mais alto nível. E está há uma dúzia de anos na estrutura directiva do Benfica, os últimos dos quais em declarada preparação para assumir a presidência natural do clube. Percebeu - tinha de perceber! -o rumo de destruição em que caiu futebol da equipa. E dispôs-se a simplesmente assistir. Com toda a experiência de jogador e dirigente, e perante a realidade da equipa e do treinador, sabia, como todos sabíamos, que, se dependesse dos jogadores, Jorge Jesus já lá não estaria há muito. Ao permitir que estes dois jogos com o Porto do final de ano se transformassem na decisão do futuro do treinador, Rui Costa entregava nas mãos dos jogadores a decisão que só a ele cabia. Bastava-lhe jogar como jogaram o primeiro dos dois jogos no Dragão. E, se não bastasse o primeiro, haveria ainda um segundo para fazer o mesmo. Depois, ao não intervir no que se seguiu ao jogo de quinta-feira passada, deixou nas mãos de Jorge Jesus a decisão que nunca tomou.
Para um líder, uma não decisão é sempre muito pior que uma má decisão. A não decisão de Rui Costa resultou no achincalhamento do Benfica. No campo, na última quinta-feira no Dragão. E na praça pública, com um inacreditável encontro público do treinador com os dirigentes do Flamengo, a dois dias de um jogo decisivo. E com uma equipa toda uma semana sem treinar entre dois jogos que decidem uma época!
Disto, nunca mais Rui Costa se vai libertar. E o Benfica, sabe-se lá quando ...
Os benfiquistas percebem que há muito não há um projecto para o futebol. E que esse projecto só é possível depois de uma completa vassourada nos técnicos, nos dirigentes e até no balneário. E que isso só se faz com capacidade de decisão e liderança indiscutível, atributos que Rui Costa acaba de mostrar que não possui.
Os sócios do Benfica deram hoje expressão à grandeza do clube, com uma grande afluência às urnas para a eleição do seu Presidente, que bateu todos os recordes de participação eleitoral.
A primeira vitória do Benfica é essa participação, que inequivocamente reforça a legitimidade do presidente eleito. Os votos já estarão contados, e Rui Costa será eleito presidente do Sport Lisboa e Benfica com uma esmagadora vantagem (mais de 85% dos votos, tanto quanto já se anuncia) sobre Francisco Benitez, o seu único adversário.
Noutras circunstâncias este seria um momento de sonho dos benfiquistas. Ter na Presidência um ídolo, um jogador de futebol da expressão que Rui Costa atingiu, é a aspiração máxima de qualquer massa associativa. Pode haver grandes figuras, de grande prestígio pessoal, e de méritos indiscutivelmente reconhecidos, mas ... um jogador do clube, um daqueles que aplaudimos no estádio, que nos fez vibrar e que nos deu alegrias inesquecíveis, é outra coisa. Ninguém se lhe chega.
É raro. É muito raro um ídolo do clube ter condições para aí chegar. Tão raro que não há exemplos disso pelo mundo fora, com uma única excepção - o Bayern. E mesmo assim num quadro que não é exactamente o do Benfica, desde logo porque a Alemanha não é Portugal. Em Portugal, ao contrário da Alemanha e eventualmente mais dois ou três países, não é fácil encontrar jogadores de futebol de inquestionável ligação ao clube com perfil (e não é inocente a escolha do termo) para lhes serem reconhecidas condições para o exercício do mais alto cargo de um grande clube.
Rui Costa, se não for caso único, não anda lá muito longe. Poder-se-á falar de outro, lá para a invicta. Que até poderá vir a chegar lá, mas se tudo for escrutinado, ver-se-á que é bem diferente. Rui Costa teve tudo. Chegou criança ao clube, e lá fez o seu percurso. Não o fez todo, saiu e passou os melhores anos da sua brilhante carreira desportiva com outras camisolas. Conhecem-se as razões, e sabe-se como elas terão sido independentes da sua vontade. Mas foi sempre um benfiquista, como sabemos que o são muitos outros que partiram. E que também querem, ou quiseram volta. E fez depois um percurso para, chegado o momento, estar preparado.
O problema está aí, nesse percurso. Que, de natural, de passo certo, acabou manchado. Por mero azar, por falta de prudência ou de experiência, ou por falta de coragem. E é isso que faz com que a sua expressiva vitória de hoje não seja o climax. E que a expressiva maioria que conquistou não seja a unanimidade.
Luís Filipe Vieira, que tinha todo o direito de se apresentar a votar no acto eleitoral de hoje, e de se expressar, na televisão do clube ou onde quer que fosse, decidiu avivar a mancha de Rui Costa.
Quero crer que o Presidente Rui Costa tem consciência dessa mancha e que vai tratar de a limpar. E que vai honrar o Benfica. E, se não for pedir muito, peço-lhe que corte com o passado e devolva a transparência e a dignidade perdidas. E que nos traga vitórias, com o cavalheirismo e a elegância do Benfica dos anos 60, 70 e 80, um Benfica imaculado e ambicioso. E tão grande como a sua grandeza!.
Na prisão, Luís Filipe Vieira suspendeu o mandato. Poucas horas depois, Rui Costa assumiu a presidência do Benfica. Quase que dá para dizer que não há fome que não dê em fartura - o Benfica, que há tanto tempo não tem presidente, tem agora dois: um com mandato suspenso, e outro com o mandato apropriado.
É estranho, mas também não seria de esperar que fosse agora que acabassem as coisas estranhas no Benfica.
Vieira não foi capaz de, nem nestas circunstâncias, ter o pinguinho de dignidade de renunciar ao mandato. Nem de dar o mínimo dos sinais de que, no fim de tudo, ainda lhe tenha sobrado uma resteasinha de pudor. Ou um mínimo de respeito pela Instituição, como ele gostava de dizer, para não lhe complicar ainda mais a vida.
Todos nos lembramos de há para aí um ano LFV ter dito que deixaria o Benfica se fosse acusado de corrupção. Pelos vistos, depois de dois dias detido, olhou bem para os indícios do que estará para ser acusado, ou pediu ao advogado que lhos lesse, e viu ou ouviu: burla qualificada, abuso de confiança, fraude fiscal, branqueamento de capitais e falsificação.
Pois, corrupção não consta. E ele, sempre cumpridor da sua palavra, concluiu então que não tinha nada que ir embora. Que lhe bastava suspender, como se preso não estivesse já suspenso.
Pelo que tenho visto há ainda benfiquistas que acham que fez muito bem. E mais ainda, pelos "carrega Rui Costa" que por aí tenho visto, que aplaudem entusiasticamente o novo presidente. São os mesmos, "os invisuais de espírito crítico" que têm achado normal tudo o que Vieira tem feito nos últimos anos do seu, mas também nosso, Benfica.
Para esses, para todos os que exaltam Rui Costa e, ao que se diz, a decisão unânime da direcção do Benfica, de não marcar eleições e assegurar a sucessão dinástica de Rui Costa, deixo as opções que o Ricardo Araújo Pereira já apontou para sustentar esta decisão:
1) Rui Costa, e os restantes membros da direcção, são cúmplices de Vieira;
2) Rui Costa, e os restantes membros da direcção, são coniventes com Vieira;
3) Rui Costa, e os restantes membros da direcção, são completos totós e nunca souberam nada do que Vieira andou a fazer.
Não me parece haver mais alternativas. Têm que escolher uma. E depois digam qual delas lhes dá mais garantias para conduzir os destinos do seu, mas também nosso, Benfica.
Resumo, não é difícil - é escolher para manter o Benfica entregue a cúmplices, a coniventes ou a incapazes!
O Benfica ganhou, finalmente. Depois de quatro jogos sem ganhar, que valeram o afastamento da luta pelo título, ganhou. Ao Famalicão, penúltimo classificado, com a pior defesa do campeonato.
Ganhou, mas não foi melhor do que tem sido. Não ganhou por ter sido melhor do que tem sido; ganhou por ter tido a pontinha de sorte que lhe tem faltado. Ganhou porque nos dois primeiros ataques fez três remates e dois golos, o segundo na recarga ao segundo remate, depois de uma grande defesa do guarda-redes do Famalicão. Tudo isto com pouco mais de um minuto de jogo jogado.
Aos seis minutos o Benfica ganhava por dois a zero, mas cinco desses seis minutos foram gastos pelo VAR a validar os golos. Nunca me tinha passado pela cabeça que o VAR também pudesse servir para isso, para uma espécie de pausa técnica a que os treinadores do futebol não podem recorrer. O que pareceu foi que Hugo Miguel, um árbitro com currículo, quis quebrar a avalanche do Benfica e dar oxigénio ao Famalicão.
Não se sabe o que teria acontecido se com aqueles dois golos tivesse acontecido o que seria normal acontecer - bola ao centro, e segue jogo. Sabe-se o que aconteceu. E o que aconteceu foi que os golos não empolgaram os jogadores. Fosse pelo gelo que VAR lhes despejou em cima, fosse porque já nada os empolga.
Porque o jogo acabou por ser o que foi, e não o que eventualmente poderia ter sido sem o saco de gelo despejado pelo VAR, acabam por não ficar grandes dúvidas que o Benfica ganhou porque teve a sorte que não tem tido. Desde logo a sorte de fazer os dois golos do jogo nos três primeiros remates. Ou, na prática, nos dois primeiros remates, dos dois primeiros ataques, nos dois primeiros minutos de jogo jogado.
Mas também porque, depois, a equipa voltou a cair na mediocridade do seu futebol, onde se foi afundando à medida que o tempo ia passando. Passes falhados, incapacidade de ligar as jogadas, perdas de bola, faltas...
Foi sendo assim, e foi mais gritantemente assim na segunda parte. O Famalicão começou a subir no terreno e a discutir o jogo a partir dos vinte minutos no relógio do jogo, e na segunda parte passou mesmo a estar por cima do jogo. E foi então, como já tinha sido nos últimos jogos, que se viu a mediocridade do futebol desta equipa do Benfica.
Jogando no campo todo, o Famalicão - penúltimo classificado e a pior defesa do campeonato, repito - deixava espaço para os jogadores do Benfica imporem a sua suposta superioridade técnica. Mas o que se viu foi uma completa incapacidade para aproveitar esses espaços, falhando sucessivamente as transições ofensivas. Uma, apenas uma, foi concluída. Mas mais valia que o não tivesse sido - Darwin, numa chocante falta de classe (ou será apenas de confiança?), a dois metros da baliza, completamente escancarada, atirou para as nuvens.
E só não foi a única oportunidade de golo do Benfica na segunda parte porque, já mesmo no fim, o guarda-redes famalicense fez uma grande defesa, a remate de Everton. O cheiro a golo morou sempre na baliza de Vlachodimos, onde o golo não surgiu porque - lá está - a sorte desta vez, ao contrário das outras, não virou costas. Foram cinco as oportunidades que o Famalicão construiu. Quatro na segunda parte. A primeira tinha levado a bola ao poste, ainda antes da meia hora de jogo.
Cinco oportunidades. Cinco! Ainda se não tinha visto tal coisa na Luz .
Jorge Jesus resume tudo isto ao covid. Claro que não se pode ignorar o seu efeito devastador na equipa. E menos se pode ignorar que aconteceu, e a dimensão com que aconteceu, depois do jogo no Dragão. É um facto, e factos são factos. Não se pode é justificar o estado a que o futebol do Benfica chegou dessa maneira, até porque o eclipse da equipa já vinha de trás.
Já Otamendi, o capitão e que até marcou hoje o seu primeiro golo de águia ao peito, tem outra opinião. E falou de compromisso, de empenho e de partir para outra, mudar de rumo.
Não, mister. Não é tudo culpa da covid. A catástrofe que se abateu dobre o Benfica é mais da sua responsabilidade do que da covid. E mais ainda de Vieira e de Rui Costa do que sua.
Ontem estava a ver o banho de bola do City ao Liverpool e, extasiado com a classe de João Cancelo e Bernardo Silva, com a imponência de Rúben Dias e com a categoria e segurança de Ederson, via que, ali, numa das duas ou três melhores equipas do mundo, estavam quatro que saíram do Seixal. Quase meia equipa. Daí o pensamento saltou-me para a selecção nacional, e numa das melhores selecções do mundo, conto mais três ou quatro - João Felix, Gonçalo Guedes, Nelson Semedo, André Gomes... Espreitou para grandes equipas europeias - nisto do futebol a Europa é o mundo, o resto é paisagem - e lá estavam Oblak, Witsel, Cristante, Lindelof, Matic, Raúl Jimenez, Di Maria...
Só aqui estão quinze. só nos últimos anos. Dir-me-ão: pois, mas era impossível segurá-los. Não seria possível segurá-los todos, admito, mas não era impossível segurar boa parte deles. Não ter jogadores deste nível, nem os largos milhares de milhões de euros que eles renderam, é que não deveria ser possível. Mas é a realidade.
Pior só olhar para essa realidade e perceber que disso já não há mais. Já não há no Seixal, nem há já departamento de scouting para os ir buscar fora.
Sim, é esta a obra feita de Vieira. É este o legado de Vieira, Rui Costa, Jesus e Jorge Mendes... Sem jogadores, sem dinheiro, sem rumo. E sem honra!
E ao segundo dia nos Pirinéus subiu-se o Tourmalet. Mítico, mas sem grande coisa para dar, o terramoto tinha sido ontem. Mesmo assim deu para continuar a empurrar Nibali pela classifcação abaixo, já fora dos dez primeiros. E para Joaquim Rodriguez, o eterno favorito da segunda vaga de candidatos, da Katusha, de José Azevedo, se afundar nas profundezas da classificação. E para o adeus de Rui Costa...
Ontem afinal não foi apenas um dia mau, ao contrário do que todos desejàvamos. Força Rui, força campeão. Ainda há muita coisa para ganhar. Este ano, e nos que aí vêm!
Hoje ganhou o polaco Rafal Majca, um jovem que é um grande trepador. Já brilhara no ano passado, quando foi até o vencedor da classificação da montanha, mas este ano está limitado pela condição de fiel escudeiro de Contador. Ganhou com mais de 5 minutos sobre o grupo dos favoritos, onde já não cabe Nibali mas donde não sai o americano Tejay Van Garderen, bem agarrado ao seu segundo lugar.
Depois deixar os Alpes, da etapa de transição (15ª) para os Pirinéus – com o australiano Jack Bawer e o suíço Martin Elmiger a morrerem na praia, engolidos pelo pelotão a 10 metros da meta, e nova vitória do norueguês Kristoff, da Katusha que, com Greipel a não corresponder e Kittel desaparecido em combate, passou a dominar as escassas oportunidades que o Tour tem agora para dar aos sprinters – e do segundo e último dia de descanso, correu-se hoje a primeira das três etapas pirenaicas que arrumarão a classificação final.
A notícia do dia é, no entanto, anterior e exterior à etapa. É, evidentemente, o abandono de Rui Costa, vencido pela bronquite que, conta o próprio na sua presença diária nas redes sociais, evoluiu para pneumonia. É o culminar de um Tour de que tanto se esperava, mas que tinha tudo para correr mal… A começar pela equipa!
A 16ª etapa, e primeira dos Pirinéus era, com perto de 240 quilómetros, a mais longa deste Tour, com quatro contagens de montanha de segunda, terceira e quarta categorias, e uma, a última, de grande dificuldade - a escalada de Port de Balès, com quase 12 quilómetros de alta montanha, de categoria especial, a escassos vinte quilómetros da meta. Que foi abordada por um grupo de vinte e um corredores, entre os quais o polaco Kwiatowski, o terceiro classificado da juventude, com mais de doze minutos de vantagem sobre o pelotão.
Pela montanha acima o grupo desfez-se por completo, com o jovem polaco a ser um dos primeiros a ceder, como vem sendo habitual – não se esquece como traiu aquele esforço épico e inglório de Tony Martin, na décima etapa –, sobrando na frente apenas o colombiano José Serpa, da Lampre, colega de Rui Costa de que já aqui falamos, o francês Thomas Voeckler e o australiano Michael Rogers, por esta ordem na contagem de montanha.
Lá atrás sucedeu o mesmo, e o pelotão esfrangalhou-se completamente, não resistindo ao inevitável Nibali, que desta vez se limitou a responder aos poucos ataques dos adversários. Um ou dois de Valverde, sempre bem acolitado por três colegas de equipa, e uns esticões de Pinault, que não se destinavam directamente ao líder da corrida mas, antes, ao seu compatriota Bardet, portador da camisola branca da juventude, e terceiro classificado. Tudo – e não é pouco – o que lhe interessava. O também francês Péraud, limitou-se a segui-los, completando o grupo do camisola amarela.
A louca descida de vinte quilómetros até à meta fez autênticos milagres. Por exemplo, Kwiatkowski recuperou do imenso tempo perdido na subida e chegou à meta em sétimo lugar, a apenas 36 segundos do vencedor, o australiano Rogers que também aproveitara bem a descida para ganhar a etapa, com perto de 9 minutos sobre NIbali. Ou o bielorusso Kiryenka, que depois de fraquejar na subida seria terceiro, atrás de Voeckler. Ou o americano Van Garderen, que não resistira no grupo de Nibali, ficando muito para trás para, no fim, chegar praticamente com eles.
Quem tirou grandes dividendos de tudo isto foi Kwiatkowski que, com os 9 minutos recuperados, regressou ao top ten, no nono lugar. E Péraud, que trocou tudo com o seu compatriota Bardet. Mas tudo isso está preso por apenas 36 segundos!
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