Rui Costa ganhou, na chegada a Gap, a etapa de hoje do Tour, a 16ª. Integrou a fuga do dia, num grupo de perto de vinte corredores e, na altura certa, lançou o ataque certo. E certeiro!
Depois do acidente de sexta-feira, e do descalabro de domingo, Rui Costa teria de mudar rapidamente a agulha. Sem aspirações na classificação geral, uma vitória numa etapa - numa equipa que ainda não vencera nenhuma - passava a ser o objectivo. E já não havia muito tempo, nem sobravam oportunidades para isso. Era hoje, numa etapa que, não sendo de alta montanha, era de montanha. Uma montanha que teve espectacularidade no ataque de Rui Costa, mas também nos ataques de Contador, qua atacava ali o segundo lugar, se bem que tivesse sido Froome, de novo sozinho, a responder. De tal forma que viriam ambos a cair, já na descida para a meta, e a terem de cooperar ambos para recolar ao grupo dos primeiros da geral, que chegaria doze minutos depois do Rui Costa.
Tinha de ser hoje. E foi. E não certamente por ter sido ali, também em Gap, que o outro português do pelotão - o Sérgio Paulinho de quem nunca se ouve falar - ganhou em 2010. Mas pode bem ter sido por ontem, no dia de descanso, ter sido dado como o ciclista mais popular do pelotão. Popularidade - disse-se - medida pelo número de cartas de incentivo que recebe. Estranha - ou talvez não - esta forma de medir a popularidade... Certo é que a popularidade também ajuda a empurrar. Não é só a noblesse que oblige!
O Tour despediu-se dos Pirenéus, que mais não fizeram que confirmar os Alpes e a superioridade de Bradley Wiggins e Chris Froome e da sua equipa, a Sky. E confirmar ainda que entre os dois ingleses é o segundo quem está melhor, como ainda hoje ficou provado, quando Froome esperou várias vezes pelo seu chefe de fila na última subida do dia, inclusivamente deitando fora a vitória na etapa, que sobrou para Alejandro Valverde por escassos 19 segundos. Tivesse Froome seguido seu ritmo, sem outras preocupações, e o espanhol teria sido apanhado antes de cortar a meta em Peyragudes.
A dupla jornada de alta montanha pirenaica, para além de confirmar este domínio britânico, confirmou todos os restantes jovens de que aqui se falou da última vez. E confirmou as desgraças de Cadel Evans, longe de confirmar a vitória do ano passado – em que Wiggins se viu obrigado a desistir, logo no início, vítima de uma das muitas e frequentes quedas que invariavelmente marcam a primeira semana desta prova – e de Frank Schleck, este mesmo afastado antes de subir ao Tourmalet. E pela pior das razões: teste positivo no controlo anti-doping. Sem que antes tivesse oportunidade de confirmar a condição de favorito que injustificadamente – a sua participação no Tour nem estava sequer prevista e resultou de uma imposição provocada pela ausência forçado do irmão - lhe era atribuída.
À falta de outra dimensão do espectáculo – porque uns estão ausentes, pelas deficientes condições do australiano e do luxemburguês e porque a Sky não permite veleidades a ninguém (o italiano Nibaldi voltou a tentar, mas na hora da verdade nem sequer conseguiu acompanhar os dois ingleses) – surgem alguns heróis. Nos Pirenéus o protagonismo maior coube a Thomas Voeckler (na foto), um francês que parece ter mau feitio mas que é um ciclista desconcertante. No ano passado andou 10 dias de amarelo, lutando pela manutenção desse símbolo de forma verdadeiramente heróica. Perdê-lo-ia na montanha. Desta vez foi em plenas montanhas dos Pirenéus que brilhou: venceu duas etapas e desatou a ganhar metas de montanha, a ponto de, vindo em branco dos Alpes, ter aí conquistado os pontos que lhe garantem já o troféu de melhor trepador deste Tour.
Os portugueses também aproveitaram os Pirenéus para dar nas vistas. Sérgio Paulinho e Rui Costa entraram em fugas, chegaram a andar na frente e a deixar a ideia de poderiam ganhar uma etapa. O Sérgio ainda conseguiu ser terceiro numa dessas oportunidades e o Rui Costa – que se queixava que o pelotão não o deixava fugir – teve hoje a sua melhor oportunidade. Andou no grupo da frente, onde tinha mais dois colegas de equipa sem que disso tirasse qualquer vantagem. Atacou e isolou-se, sendo depois de alcançado pelo seu colega Alejandro Valverde. Estranhamente não seguiram juntos, dividindo esforços, com o espanhol a deixá-lo para trás quando faltavam 30 quilómetros para a meta, onde chegaria no trigésimo segundo lugar, com 7 minutos de atraso para o seu colega de equipa (?) e vencedor da etapa. Porque Froome foi leal colega de equipa de Wiggins!
Assim não admira que tenha sido Miguel Relvas o português com maior destaque nos Pirenéus!
Se depois dos Alpes se percebia que seria um inglês a ganhar (pela primeira vez) o Tour, agora já se sabe que será Wiggins. Mas não deixaria de ser irónico que, depois de tudo o que tem acontecido para que seja assim, Froome ganhasse os pouco mais de dois minutos a Wiggins no contra-relógio do próximo sábado. Porque aí ninguém tem de esperar por ninguém!
Mas contra-relógio é à medida do seu chefe de fila… a rolar. Se fosse a subir… seria bonito. Lá isso seria!
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